Devoção

Nossa Senhora Rainha: memória e devoção

Você sabe por que Nossa Senhora recebe o título de Rainha? Saiba como se deu a instituição dessa festa e o que ela tem a nos ensinar.

Nossa Senhora Rainha: memória e devoção
Devoção

Nossa Senhora Rainha: memória e devoção

Você sabe por que Nossa Senhora recebe o título de Rainha? Saiba como se deu a instituição dessa festa e o que ela tem a nos ensinar.

Data da Publicação: 22/08/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica
Data da Publicação: 22/08/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica

Você sabe por que Nossa Senhora recebe o título de Rainha? Saiba como se deu a instituição dessa festa e o que ela tem a nos ensinar.

Todo ano, no dia 15 de agosto a Igreja celebra a Assunção de Nossa Senhora aos Céus. Este é um dogma da Igreja que já existia no coração dos fiéis muito tempo antes de sua proclamação. No entanto, a Virgem Maria não foi somente levada aos Céus pelo seu filho Jesus, mas foi também coroada, tornando-se Rainha do Céu e da Terra.

Neste artigo, exploraremos a origem dessa devoção a Nossa Senhora Rainha e a instituição da sua festa. Com base na Encíclica de Pio XII, vamos descobrir o significado deste título para a Virgem Maria e compreender como a humilde serva do Senhor foi glorificada pelo Deus Altíssimo.

A devoção à Nossa Senhora Rainha

A devoção a Nossa Senhora como Rainha não é apenas uma expressão de amor e respeito, mas uma profunda verdade enraizada na fé católica. Desde os primeiros séculos da Igreja, os cristãos reconheceram em Maria uma dignidade que a coloca acima de todas as criaturas. Isso porque, sendo a Mãe de Deus, Maria foi elevada a uma posição especial de honra e poder no Reino dos Céus.

Imagem de Nossa Senhora Rainha dos Anjos, na Catedral de Los Angeles. (Foto de Victor Aleman)

A Encíclica Ad Caeli Reginam lembra-nos de que essa devoção é justificada pelo fato de Maria ser a Mãe do Rei dos Reis, Jesus Cristo. Sua realeza não é de poder terreno, mas espiritual, derivada de sua íntima associação com a obra redentora de Cristo. Ao contemplarmos Maria como Rainha, somos convidados a nos aproximar dela com confiança, sabendo que, como Mãe amorosa e Rainha poderosa, ela intercede por nós junto ao seu Filho.

Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste. 1
nossa senhora rainha do caminho
Nossa Senhora do Caminho com uma coroa típica da realeza da Virgem Maria. (Foto de David Rodrigues)

A instituição da festa de Nossa Senhora Rainha

O movimento que culminou na instituição da festa de Nossa Senhora Rainha teve suas raízes no início do século XX, impulsionado por um crescente reconhecimento da realeza de Maria. A proclamação de Maria como Rainha do Universo começou a ganhar força a partir de três congressos marianos dessa época. Um grande impulso foi dado pelo Papa Pio XI, que, ao concluir o Ano Santo de 1925, proclamou a Festa de Cristo Rei. 2

Na década de 1930, uma mulher chamada Maria Desideri, em Roma, iniciou o movimento Pro Regalitate Mariae, que recolheu petições de todo o mundo em favor da instituição da festa dedicada a Nossa Senhora Rainha. Esse esforço culminou na decisão do Papa Pio XII de instituir a festa litúrgica em 1954. Pouco tempo depois, Pio XII fez um discurso em honra de Maria Rainha, seguido de uma comovente oração e da coroação da venerada imagem de Maria “Salus Populi Romani”. 2

Além disso, Pio XII tinha particular devoção a Maria Rainha. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele invocou a proteção de Nossa Senhora, que intercedeu evitando que Roma fosse devastada em uma batalha final entre alemães e aliados. Em gratidão e reconhecimento, Pio XII proclamou 1953 como o Ano Mariano e iniciou a tradição, ainda mantida até hoje, de homenagear Maria em 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição. Vatican News. “Rainha do céu e da terra: a Virgem Maria é nossa mãe.” Vatican News, 22 ago. 2018.

A tradição da Igreja já considerava Nossa Senhora Rainha

Mesmo antes da instituição da festa, a tradição da Igreja sempre considerou Maria como Rainha. Desde os primeiros séculos, os Padres da Igreja, os teólogos e os santos reconheceram a singular posição de Maria no plano divino.

Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo – o qual “reinará eternamente na casa de Jacó”, (será) “Príncipe da Paz” , “Rei dos Reis e Senhor dos senhores” –, recebeu mais que todas as outras criaturas singulares privilégios de graça. E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas. 3

A realeza de Maria está profundamente ligada ao seu papel na história da salvação. Como Mãe de Cristo, ela compartilha de sua missão redentora e, por isso, é reconhecida como Rainha. A Igreja, ao longo dos séculos, expressou essa verdade de maneira clara, através de ensinamentos, orações e devoções, sempre apontando Maria como a Rainha que nos conduz ao Reino de seu Filho.

Diego Velázquez (1599–1660), A coroação da Virgem.

Rainha na liturgia e na arte

A figura de Nossa Senhora como Rainha tem sido celebrada na liturgia e na arte ao longo dos séculos. As orações da Igreja, especialmente as que invocam Maria como Rainha, refletem essa profunda verdade. Na encíclica Ad Caeli Reginam, o Papa Pio XII menciona como a liturgia, desde tempos antigos, reserva um lugar especial para Maria, reconhecendo sua realeza em preces e cânticos.

Lê-se no Missal etíope: “Ó Maria, centro do mundo todo,… Tu és maior que os querubins de olhar penetrante, e que os serafins de seis asas… O céu e a terra estão cheios da santidade da tua glória”. O mesmo canta a liturgia da Igreja latina com a antiga e dulcíssima oração “Salve, rainha”, as alegres antífonas “Ave, ó rainha dos céus”, “Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia”, e outras que se costumam rezar em várias festas de nossa Senhora: “Colocou-se como rainha à tua direita, com vestido dourado e circundada de vários ornamentos”; “A terra e o povo cantam o teu poder, ó rainha”; “Hoje a virgem Maria sobe ao céu: alegrai-vos, porque reina com Cristo para sempre”. 4

Além disso, a arte sacra cristã, com suas representações de Maria coroada ao lado de Cristo, tem sido um meio poderoso de comunicar essa verdade ao povo fiel. Cada imagem de Maria como Rainha é um lembrete visual de sua posição única no Reino de Deus. Esses ícones e pinturas, presentes em igrejas e lares, ajudam os fiéis a meditarem sobre o papel de Maria na história da salvação e a se aproximarem dela com confiança e amor filial.

A iconografia da virgem Maria como rainha enriqueceu-se em todos os séculos com obras de arte de alto mérito, chegando até a figurar o divino Redentor no ato de cingir com brilhante coroa a cabeça da própria Mãe. 5

Em cada uma dessas manifestações – seja na devoção pessoal, na liturgia ou na arte – somos convidados a reconhecer Maria não apenas como Mãe, mas também como Rainha, que intercede por nós junto ao Rei dos Reis.

Por que podemos chamar Nossa Senhora de Rainha?

Podemos chamar Nossa Senhora de Rainha porque sua realeza é intrinsecamente ligada à sua maternidade divina. Como Mãe de Jesus Cristo, o Rei dos Reis, Maria foi elevada a uma dignidade única e singular. Sua participação especial no plano de salvação a coloca acima de todas as criaturas, conferindo-lhe o título de Rainha dos Céus e da Terra.

Filho Rei e Rainha Mãe

Como mãe de Jesus Cristo, o Rei dos Reis, Maria é reconhecida pela Igreja como Rainha, e

[…] o principal argumento em que se funda a dignidade régia de Maria é sem dúvida a maternidade divina. 6

Essa relação é claramente explicada na encíclica Ad Caeli Reginam, especialmente nos parágrafos 33 e 34, no qual o Papa Pio XII afirma que, como Cristo é Rei por natureza e por direito adquirido (A redenção), Maria, sua Mãe, participa de sua realeza. A dignidade régia de Maria não deriva de um poder terreno, mas de sua íntima associação com a missão redentora de Cristo. 7 Por essa razão, Maria é venerada como Rainha, uma honra que reflete sua cooperação singular e plena no plano de salvação.

Daqui se segue logicamente que Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. […] “Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador” 6

A cooperação da Virgem Maria na redenção

Maria é chamada de Rainha também porque cooperou de maneira singular e inigualável na obra de redenção de Cristo. Desde o momento da Anunciação até ao pé da Cruz, Maria esteve unida ao seu Filho, participando de seu sofrimento e contribuindo para a redenção da humanidade.

Maria, como nova Eva, desempenhou um papel singular ao lado do novo Adão, Cristo, no processo de redenção da humanidade. Assim como Cristo é nosso Senhor e Rei por ter nos redimido, Maria também é Rainha por sua cooperação singular nessa mesma redenção. 8

De fato “como Cristo, pelo título particular da redenção, é nosso senhor e nosso rei, assim a bem-aventurada Virgem [é senhora nossa] pelo singular concurso, prestado à nossa redenção, subministrando a sua substância e oferecendo voluntariamente por nós o Filho Jesus, desejando, pedindo e procurando de modo singular a nossa salvação” 9

A sublime dignidade

Coroa de Nossa Senhora Aparecida. (Foto: Divulgação/A12 Santuário Nacional)

Sabemos que Jesus Cristo é Rei no sentido pleno e absoluto, contudo, Maria, de maneira limitada e analógica, também participa da dignidade real devido à sua união íntima com Cristo.

Conforme explica Papa Pio XII, essa união com Cristo-Rei confere a Maria uma dignidade tão sublime que supera a excelência de todas as criaturas. 10 Além de sua associação à obra redentora de Cristo e da luta contra os inimigos da salvação, Maria recebeu uma dignidade real que lhe permite dispensar os tesouros do Reino de Deus e interceder eficazmente junto ao Filho e ao Pai. 10

Desse modo, é certo que Maria Santíssima supera em dignidade todas as criaturas e ocupa uma posição de primazia, imediatamente após seu Filho.

Rainha das mentes e vontades dos homens

Assim como Cristo reina sobre as mentes e vontades dos homens, Maria, em união com Ele, também participa dessa autoridade real. O Verbo de Deus, ao operar milagres e infundir a graça, utiliza de diversos instrumentos, como os sacramentos e os santos, para salvar as almas. De maneira semelhante, Maria, elevada à dignidade de Rainha do Céu e da Terra, foi dotada de um poder extraordinário na distribuição das graças.

Sua ação materna, em perfeita união com Cristo, assegura que suas súplicas em favor da humanidade sejam atendidas de forma eficaz, reforçando assim seu papel como Rainha não apenas no título, mas também na prática, ao cuidar e interceder por todos os homens.

Pio XII também cita Leão XIII e São Pio X, os quais afirmam que Maria recebeu um poder quase ilimitado na distribuição das graças e exerce essa missão com direito materno. 11 Dessa forma, Maria reina não apenas pelos méritos de Cristo, mas também pela graça de sua intercessão constante e poderosa junto a Deus.

O que a festa de Nossa Senhora Rainha nos ensina?

A celebração da Festa de Nossa Senhora Rainha nos convida a refletir sobre o papel singular de Maria na história da salvação. Ela nos ensina que a realeza de Maria não é apenas um título honorífico, mas uma realidade profunda, que deriva de sua união com Cristo, o Rei dos Reis.

Essa celebração lembra-nos também de que, assim como Maria cooperou plenamente com a obra redentora de seu Filho, ela continua a interceder por nós com poder e amor materno. Ao honrar Maria como Rainha, a Igreja nos recorda que, sob sua proteção, encontramos força, consolo e orientação para enfrentar as dificuldades da vida e caminhar com segurança rumo à salvação eterna.

Portanto, é uma imensa graça sabermos que temos uma Mãe a quem recorrer, uma Mãe que é Rainha e cuja missão é nos conduzir ao Reino preparado por seu Filho. Ela não poupa esforços para isso; basta que nos aproximemos dela com obediência e amor aos ensinamentos de Cristo. Ao imitarmos Maria, seremos guiados para a imitação de seu Filho.

Oração Augusta Rainha dos Céus

Augusta Rainha dos Céus, Soberana Mestra dos Anjos, Vós que desde o princípio recebeste de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, nós vos pedimos humildemente: Enviai vossas legiões celestes para que, sobre vossas ordens e por vosso poder, elas persigam os demônios, combatendo-os por toda parte, reprimindo-lhes a insolência e lançando-os no abismo. Quem é como Deus? Ó Mãe de bondade e ternura, sempre o nosso amor e a nossa esperança, a Mãe Divina, Enviai os Santos Anjos para nos defenderem e repelir para longe de nós o cruel inimigo. Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos. Amém.

Dúvidas frequentes sobre Nossa Senhora Rainha

O que celebramos na festa de Nossa Senhora Rainha?

Celebramos a dignidade de Maria como Rainha do Céu e da Terra, pela sua união com Cristo-Rei, pela sua participação na obra redentora de Cristo e pela sua intercessão junto de Deus.

Quando é a festa de Nossa Senhora Rainha em 2024?

22 de agosto.

Quando foi instituída a festa de Nossa Senhora Rainha?

Em 1954, pelo Papa Pio XII.

A memória de Nossa Senhora Rainha é um dia de preceito

Não, confira aqui quais são os dias de preceito na Igreja.

Nossa Senhora é Rainha de quê?

Nossa Senhora é 12 vezes rainha: Rainha do Céu, Rainha da Terra, Rainha dos Anjos, Rainha dos Santos, Rainha dos Apóstolos, Rainha dos Mártires, Rainha dos Confessores, Rainha das Virgens, Rainha dos Patriarcas, Rainha dos Profetas, Rainha dos Reis, Rainha da Paz.

Referências

  1. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 1[]
  2. Vatican News. “Rainha do céu e da terra: a Virgem Maria é nossa mãe.” Vatican News, 22 ago. 2018[][]
  3. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 8[]
  4. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafos 28-29[]
  5. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 31[]
  6. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 33[][]
  7. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafos 34[]
  8. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 36[]
  9. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 35[]
  10. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 37[][]
  11. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 40[]

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Você sabe por que Nossa Senhora recebe o título de Rainha? Saiba como se deu a instituição dessa festa e o que ela tem a nos ensinar.

Todo ano, no dia 15 de agosto a Igreja celebra a Assunção de Nossa Senhora aos Céus. Este é um dogma da Igreja que já existia no coração dos fiéis muito tempo antes de sua proclamação. No entanto, a Virgem Maria não foi somente levada aos Céus pelo seu filho Jesus, mas foi também coroada, tornando-se Rainha do Céu e da Terra.

Neste artigo, exploraremos a origem dessa devoção a Nossa Senhora Rainha e a instituição da sua festa. Com base na Encíclica de Pio XII, vamos descobrir o significado deste título para a Virgem Maria e compreender como a humilde serva do Senhor foi glorificada pelo Deus Altíssimo.

A devoção à Nossa Senhora Rainha

A devoção a Nossa Senhora como Rainha não é apenas uma expressão de amor e respeito, mas uma profunda verdade enraizada na fé católica. Desde os primeiros séculos da Igreja, os cristãos reconheceram em Maria uma dignidade que a coloca acima de todas as criaturas. Isso porque, sendo a Mãe de Deus, Maria foi elevada a uma posição especial de honra e poder no Reino dos Céus.

Imagem de Nossa Senhora Rainha dos Anjos, na Catedral de Los Angeles. (Foto de Victor Aleman)

A Encíclica Ad Caeli Reginam lembra-nos de que essa devoção é justificada pelo fato de Maria ser a Mãe do Rei dos Reis, Jesus Cristo. Sua realeza não é de poder terreno, mas espiritual, derivada de sua íntima associação com a obra redentora de Cristo. Ao contemplarmos Maria como Rainha, somos convidados a nos aproximar dela com confiança, sabendo que, como Mãe amorosa e Rainha poderosa, ela intercede por nós junto ao seu Filho.

Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste. 1
nossa senhora rainha do caminho
Nossa Senhora do Caminho com uma coroa típica da realeza da Virgem Maria. (Foto de David Rodrigues)

A instituição da festa de Nossa Senhora Rainha

O movimento que culminou na instituição da festa de Nossa Senhora Rainha teve suas raízes no início do século XX, impulsionado por um crescente reconhecimento da realeza de Maria. A proclamação de Maria como Rainha do Universo começou a ganhar força a partir de três congressos marianos dessa época. Um grande impulso foi dado pelo Papa Pio XI, que, ao concluir o Ano Santo de 1925, proclamou a Festa de Cristo Rei. 2

Na década de 1930, uma mulher chamada Maria Desideri, em Roma, iniciou o movimento Pro Regalitate Mariae, que recolheu petições de todo o mundo em favor da instituição da festa dedicada a Nossa Senhora Rainha. Esse esforço culminou na decisão do Papa Pio XII de instituir a festa litúrgica em 1954. Pouco tempo depois, Pio XII fez um discurso em honra de Maria Rainha, seguido de uma comovente oração e da coroação da venerada imagem de Maria “Salus Populi Romani”. 2

Além disso, Pio XII tinha particular devoção a Maria Rainha. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele invocou a proteção de Nossa Senhora, que intercedeu evitando que Roma fosse devastada em uma batalha final entre alemães e aliados. Em gratidão e reconhecimento, Pio XII proclamou 1953 como o Ano Mariano e iniciou a tradição, ainda mantida até hoje, de homenagear Maria em 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição. Vatican News. “Rainha do céu e da terra: a Virgem Maria é nossa mãe.” Vatican News, 22 ago. 2018.

A tradição da Igreja já considerava Nossa Senhora Rainha

Mesmo antes da instituição da festa, a tradição da Igreja sempre considerou Maria como Rainha. Desde os primeiros séculos, os Padres da Igreja, os teólogos e os santos reconheceram a singular posição de Maria no plano divino.

Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo – o qual “reinará eternamente na casa de Jacó”, (será) “Príncipe da Paz” , “Rei dos Reis e Senhor dos senhores” –, recebeu mais que todas as outras criaturas singulares privilégios de graça. E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas. 3

A realeza de Maria está profundamente ligada ao seu papel na história da salvação. Como Mãe de Cristo, ela compartilha de sua missão redentora e, por isso, é reconhecida como Rainha. A Igreja, ao longo dos séculos, expressou essa verdade de maneira clara, através de ensinamentos, orações e devoções, sempre apontando Maria como a Rainha que nos conduz ao Reino de seu Filho.

Diego Velázquez (1599–1660), A coroação da Virgem.

Rainha na liturgia e na arte

A figura de Nossa Senhora como Rainha tem sido celebrada na liturgia e na arte ao longo dos séculos. As orações da Igreja, especialmente as que invocam Maria como Rainha, refletem essa profunda verdade. Na encíclica Ad Caeli Reginam, o Papa Pio XII menciona como a liturgia, desde tempos antigos, reserva um lugar especial para Maria, reconhecendo sua realeza em preces e cânticos.

Lê-se no Missal etíope: “Ó Maria, centro do mundo todo,… Tu és maior que os querubins de olhar penetrante, e que os serafins de seis asas… O céu e a terra estão cheios da santidade da tua glória”. O mesmo canta a liturgia da Igreja latina com a antiga e dulcíssima oração “Salve, rainha”, as alegres antífonas “Ave, ó rainha dos céus”, “Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia”, e outras que se costumam rezar em várias festas de nossa Senhora: “Colocou-se como rainha à tua direita, com vestido dourado e circundada de vários ornamentos”; “A terra e o povo cantam o teu poder, ó rainha”; “Hoje a virgem Maria sobe ao céu: alegrai-vos, porque reina com Cristo para sempre”. 4

Além disso, a arte sacra cristã, com suas representações de Maria coroada ao lado de Cristo, tem sido um meio poderoso de comunicar essa verdade ao povo fiel. Cada imagem de Maria como Rainha é um lembrete visual de sua posição única no Reino de Deus. Esses ícones e pinturas, presentes em igrejas e lares, ajudam os fiéis a meditarem sobre o papel de Maria na história da salvação e a se aproximarem dela com confiança e amor filial.

A iconografia da virgem Maria como rainha enriqueceu-se em todos os séculos com obras de arte de alto mérito, chegando até a figurar o divino Redentor no ato de cingir com brilhante coroa a cabeça da própria Mãe. 5

Em cada uma dessas manifestações – seja na devoção pessoal, na liturgia ou na arte – somos convidados a reconhecer Maria não apenas como Mãe, mas também como Rainha, que intercede por nós junto ao Rei dos Reis.

Por que podemos chamar Nossa Senhora de Rainha?

Podemos chamar Nossa Senhora de Rainha porque sua realeza é intrinsecamente ligada à sua maternidade divina. Como Mãe de Jesus Cristo, o Rei dos Reis, Maria foi elevada a uma dignidade única e singular. Sua participação especial no plano de salvação a coloca acima de todas as criaturas, conferindo-lhe o título de Rainha dos Céus e da Terra.

Filho Rei e Rainha Mãe

Como mãe de Jesus Cristo, o Rei dos Reis, Maria é reconhecida pela Igreja como Rainha, e

[…] o principal argumento em que se funda a dignidade régia de Maria é sem dúvida a maternidade divina. 6

Essa relação é claramente explicada na encíclica Ad Caeli Reginam, especialmente nos parágrafos 33 e 34, no qual o Papa Pio XII afirma que, como Cristo é Rei por natureza e por direito adquirido (A redenção), Maria, sua Mãe, participa de sua realeza. A dignidade régia de Maria não deriva de um poder terreno, mas de sua íntima associação com a missão redentora de Cristo. 7 Por essa razão, Maria é venerada como Rainha, uma honra que reflete sua cooperação singular e plena no plano de salvação.

Daqui se segue logicamente que Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. […] “Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador” 6

A cooperação da Virgem Maria na redenção

Maria é chamada de Rainha também porque cooperou de maneira singular e inigualável na obra de redenção de Cristo. Desde o momento da Anunciação até ao pé da Cruz, Maria esteve unida ao seu Filho, participando de seu sofrimento e contribuindo para a redenção da humanidade.

Maria, como nova Eva, desempenhou um papel singular ao lado do novo Adão, Cristo, no processo de redenção da humanidade. Assim como Cristo é nosso Senhor e Rei por ter nos redimido, Maria também é Rainha por sua cooperação singular nessa mesma redenção. 8

De fato “como Cristo, pelo título particular da redenção, é nosso senhor e nosso rei, assim a bem-aventurada Virgem [é senhora nossa] pelo singular concurso, prestado à nossa redenção, subministrando a sua substância e oferecendo voluntariamente por nós o Filho Jesus, desejando, pedindo e procurando de modo singular a nossa salvação” 9

A sublime dignidade

Coroa de Nossa Senhora Aparecida. (Foto: Divulgação/A12 Santuário Nacional)

Sabemos que Jesus Cristo é Rei no sentido pleno e absoluto, contudo, Maria, de maneira limitada e analógica, também participa da dignidade real devido à sua união íntima com Cristo.

Conforme explica Papa Pio XII, essa união com Cristo-Rei confere a Maria uma dignidade tão sublime que supera a excelência de todas as criaturas. 10 Além de sua associação à obra redentora de Cristo e da luta contra os inimigos da salvação, Maria recebeu uma dignidade real que lhe permite dispensar os tesouros do Reino de Deus e interceder eficazmente junto ao Filho e ao Pai. 10

Desse modo, é certo que Maria Santíssima supera em dignidade todas as criaturas e ocupa uma posição de primazia, imediatamente após seu Filho.

Rainha das mentes e vontades dos homens

Assim como Cristo reina sobre as mentes e vontades dos homens, Maria, em união com Ele, também participa dessa autoridade real. O Verbo de Deus, ao operar milagres e infundir a graça, utiliza de diversos instrumentos, como os sacramentos e os santos, para salvar as almas. De maneira semelhante, Maria, elevada à dignidade de Rainha do Céu e da Terra, foi dotada de um poder extraordinário na distribuição das graças.

Sua ação materna, em perfeita união com Cristo, assegura que suas súplicas em favor da humanidade sejam atendidas de forma eficaz, reforçando assim seu papel como Rainha não apenas no título, mas também na prática, ao cuidar e interceder por todos os homens.

Pio XII também cita Leão XIII e São Pio X, os quais afirmam que Maria recebeu um poder quase ilimitado na distribuição das graças e exerce essa missão com direito materno. 11 Dessa forma, Maria reina não apenas pelos méritos de Cristo, mas também pela graça de sua intercessão constante e poderosa junto a Deus.

O que a festa de Nossa Senhora Rainha nos ensina?

A celebração da Festa de Nossa Senhora Rainha nos convida a refletir sobre o papel singular de Maria na história da salvação. Ela nos ensina que a realeza de Maria não é apenas um título honorífico, mas uma realidade profunda, que deriva de sua união com Cristo, o Rei dos Reis.

Essa celebração lembra-nos também de que, assim como Maria cooperou plenamente com a obra redentora de seu Filho, ela continua a interceder por nós com poder e amor materno. Ao honrar Maria como Rainha, a Igreja nos recorda que, sob sua proteção, encontramos força, consolo e orientação para enfrentar as dificuldades da vida e caminhar com segurança rumo à salvação eterna.

Portanto, é uma imensa graça sabermos que temos uma Mãe a quem recorrer, uma Mãe que é Rainha e cuja missão é nos conduzir ao Reino preparado por seu Filho. Ela não poupa esforços para isso; basta que nos aproximemos dela com obediência e amor aos ensinamentos de Cristo. Ao imitarmos Maria, seremos guiados para a imitação de seu Filho.

Oração Augusta Rainha dos Céus

Augusta Rainha dos Céus, Soberana Mestra dos Anjos, Vós que desde o princípio recebeste de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, nós vos pedimos humildemente: Enviai vossas legiões celestes para que, sobre vossas ordens e por vosso poder, elas persigam os demônios, combatendo-os por toda parte, reprimindo-lhes a insolência e lançando-os no abismo. Quem é como Deus? Ó Mãe de bondade e ternura, sempre o nosso amor e a nossa esperança, a Mãe Divina, Enviai os Santos Anjos para nos defenderem e repelir para longe de nós o cruel inimigo. Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos. Amém.

Dúvidas frequentes sobre Nossa Senhora Rainha

O que celebramos na festa de Nossa Senhora Rainha?

Celebramos a dignidade de Maria como Rainha do Céu e da Terra, pela sua união com Cristo-Rei, pela sua participação na obra redentora de Cristo e pela sua intercessão junto de Deus.

Quando é a festa de Nossa Senhora Rainha em 2024?

22 de agosto.

Quando foi instituída a festa de Nossa Senhora Rainha?

Em 1954, pelo Papa Pio XII.

A memória de Nossa Senhora Rainha é um dia de preceito

Não, confira aqui quais são os dias de preceito na Igreja.

Nossa Senhora é Rainha de quê?

Nossa Senhora é 12 vezes rainha: Rainha do Céu, Rainha da Terra, Rainha dos Anjos, Rainha dos Santos, Rainha dos Apóstolos, Rainha dos Mártires, Rainha dos Confessores, Rainha das Virgens, Rainha dos Patriarcas, Rainha dos Profetas, Rainha dos Reis, Rainha da Paz.

Referências

  1. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 1[]
  2. Vatican News. “Rainha do céu e da terra: a Virgem Maria é nossa mãe.” Vatican News, 22 ago. 2018[][]
  3. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 8[]
  4. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafos 28-29[]
  5. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 31[]
  6. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 33[][]
  7. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafos 34[]
  8. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 36[]
  9. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 35[]
  10. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 37[][]
  11. VATICANO. Pio XII. Encíclica Ad Caeli Reginam. Vaticano, 11 de outubro de 1954, Parágrafo 40[]

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