A nossa afetividade estará verdadeiramente formada quando conseguirmos, com alegria, sair de nós mesmas e nos doarmos aos demais.
A nossa afetividade estará verdadeiramente formada quando conseguirmos, com alegria, sair de nós mesmas e nos doarmos aos demais.
Existe uma oração que chama Nossa Senhora de “a mãe do belo amor”. O Padre Francisco Faus, no livro Tornar a Vida Amável (do qual tirei o título para este artigo), se refere a essa devoção para nos inspirar, para amarmos o nosso próximo a cada dia com “belo amor”.
O “belo amor” não se limita a “querer bem” às pessoas, mas sim a lhes “fazer bem”; porque é amável, compreensivo e paciente. O que isso tem a ver com a formação da afetividade? Tudo. Porque a nossa afetividade estará verdadeiramente formada quando conseguirmos, com alegria, sair de nós mesmas e nos doarmos aos demais. O objetivo da educação dos afetos é o comprazimento com a virtude.
Ao colocarmos amor nas coisas e oferecermos na prática o que temos de mais específico para as pessoas que precisamos amar com mais atenção – nossos maridos e filhos –, contribuiremos para a ordenação da nossa afetividade.
Como distinguir o que é essencial na mulher daquilo que lhe é atributo, acessório? Para responder diretamente a essa pergunta, vou mostrar qual o caminho percorremos quando queremos saber o que é essencial em um ente, ou seja, naquilo que existe.
Para entendermos o que é essencial em algo, precisamos contemplar esse objeto e identificar aquilo que existe de específico nele, algo que você não encontra em outro lugar.
Começamos essa distinção entres os mais diferentes seres e percebemos que os animais se distinguem das plantas e dos minerais, por exemplo. Depois conseguimos perceber que os homens se distinguem dos demais animais por serem seres inteligentes e livres. Esse é um exercício de filosofia. É a filosofia que olha para o mundo em busca da essência das coisas.
Ao separarmos os seres humanos dos demais seres da realidade, percebemos que existem duas formas de ser humano: homem e mulher. E continuamos a nossa contemplação procurando a essência de cada uma dessas modalidades de ser a partir de sua finalidade no mundo.
Como apreendemos a finalidade específica em um primeiro nível? Analisando a forma das coisas. Todos os órgãos do corpo humano, inclusive cada neurotransmissor, têm uma função. Também podemos pensar nas funções de tudo o que foi criado pelo homem que, ao imitar a natureza, percebe que precisa adaptar a forma das coisas se quer imprimir uma finalidade nelas.
Qual seria a finalidade de ser mulher? Esta é a pergunta que queremos responder a fim de distinguir o essencial do acessório. Antes, no entanto, é preciso responder a outra pergunta: existe mesmo uma finalidade?
Ora, se nas coisas que criamos atribuímos sentido para cada uma delas – nós as fazemos com um método a fim de que possam atingir a finalidade pretendida –, sem cair numa aleatoriedade que as tornaria inservíveis, não é difícil perceber como a perfeição da natureza – muito superior à nossa capacidade de criação ou inventividade – manifesta inteligência e poder por trás das coisas criadas; inteligência e poder que são infinitos e absolutos.
Tudo o que existe precisa ter uma ordem, um sentido, uma lógica interna. Vamos então olhar para a forma da mulher e tentar abstrair dessa dimensão material a sua finalidade específica.
O que tem na nossa estrutura física de mulher que é diferente do homem? Pensamos no órgão genital para dentro, no útero, na mama, nas curvas, etc. Mas também o cérebro é diferente, os hormônios e neurotransmissores atuam de maneiras distintas em homens e mulheres.
A mulher tem uma voz mais suave, um corpo mais macio, a carne mais tenra, a beleza que atrai… Tem algo, uma razão do porquê a gente ter essa sensibilidade e essa delicadeza. Falamos aqui também que somos unidade substancial de corpo e alma. Isso significa que nosso corpo aponta para a função que a gente deveria desenvolver no mundo.
A unidade substancial de corpo e alma e a diferença entre os seres revela a nossa essência e finalidade no mundo. A fim de manter e reforçar essa unidade que somos, precisamos imprimir a nossa natureza –corpo e alma – em cada ação nossa no mundo, em tudo o que fazemos.
Já que o nosso corpo aponta para uma função de acolhimento, de cuidado, de transformação, de suavidade, de maciez… Como faremos a impressão dessas ações no âmbito da afetividade? O corpo da mulher gera, constrói e edifica; devolve a semente, que por si é inerte, cheia de vida para o mundo. Como realizar isso no mundo afetivo dos nossos filhos e maridos?
No livro dos Provérbios (14, 1) está escrito que “A mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém, derruba-a com as suas mãos”. Somos insensatas quando derrubamos com as nossas mãos; quando não compreendemos e não olhamos com amor a quem devemos cuidar; quando queremos tirar os frutos antes da hora. Nosso o bjetivo de vida deve ser conduzir a quem amamos ao Amor, promovendo uma abertura na alma deles. A pessoa madura é aquela que se abre, que sai de si, que sabe amar, servir, se doar…
A abertura de uma pessoa para o exterior depende em grande medida das características do ambiente que a rodeia. Se o ambiente é afetivamente aquecido, luminoso, a pessoa se sentirá querida e segura; então se abrirá para o ambiente e nele poderá enriquecer a sua personalidade.
Se o ambiente afetivo é frio, o sujeito se volta para si mesmo com um mecanismo de autoproteção, porque tem medo de sofrer; sente no mundo exterior uma ameaça. E começa a reduzir a sua relação com os demais, impedindo-o de atualizar as suas potências e desenvolver as suas capacidades.O psiquiatra e pesquisador Fernando Sarráis ensina que “a influência do ambiente social na formação ou no amadurecimento da personalidade se mantém durante toda a vida da pessoa, mas, devido à plasticidade para a aprendizagem que as crianças possuem, essa influência é muito mais intensa no período infantil”1.
É nas suas vivências domésticas e familiares que a criança adquire conhecimentos, hábitos e formas de ver a vida que configurarão o seu modo de ser peculiar e determinarão sua felicidade ou infelicidade presente e futura. Quais características o ambiente deve ter?
A primeira delas é a compreensão enquanto afirmação incondicional do outro: os laços são irreversíveis e a família não se escolhe – à exceção do cônjuge, cuja manutenção da escolha é o que torna a nossa palavra grave e nossa biografia íntegra. São Josemaría Escrivá ensinou que precisamos: “Amar os outros com seus defeitos, se não, não ama de verdade”.
Pela benevolência, conseguimos ver os nossos maridos e filhos com olhar amoroso, sem considerar e esperar que já estejam acabados, prontos. A paciência ajuda a ter esse olhar compreensivo também. Não deve ser um olhar passivo, no sentido de inerte, mas um olhar de quem vê algo a ser transformado e disposto a ajudar a pessoa a se transformar, a crescer.
O diálogo também é importante: saber ouvir, interessar-se, gastar tempo com eles, olhar nos olhos, desligar o celular.
Por meio da cortesia, pequenos gestos vão dando o tom dos nossos humores e determinam o ambiente muito mais do que os grandes gestos. Os pequenos gestos podem contradizer ou reforçar os grandes.
Precisamos formar a nossa personalidade com bons modelos, pois uma personalidade madura conduz os filhos e influencia o marido. A nossa missão está em elevá-los a altos patamares, em ajudá-los a olhar para cima. Para isso teremos que olhar para cima também.
É necessário saber corrigir: não ser indiferente, mas eficaz e amoroso na correção. Refletir sobre o que se quer alcançar quando se corrige. Não irar-se, mas retificar por amor e com cuidado.
Temos que saber perdoar. Vivemos em um mundo imperfeito2, somos rodeados de pessoas imperfeitas. Nós mesmos somos imperfeitos e desejosos de melhorar para nos tornarmos felizes e, sobretudo (porque só aí seremos felizes), trata-se de fazermos felizes os nossos entes mais queridos.
Podemos nos valer da complementaridade: “Os cônjuges são como duas cartas de um baralho: individualmente, podem ser débeis e instáveis, porém, quando se dão conta de que um é apoio do outro, desaparecem, subitamente, boa parte dos pretextos. Critica-se menos os defeitos do cônjuge, porque a pessoa se vê como apoio que o outro conta para vencê-los”, escreveu Francisco Insa3.
A mulher não apenas constrói, mas também nutre, alimenta; ela o faz com seu sangue, leite e carinho. Ela cria condições para que as pessoas possam viver bem – oferecendo amor, compreensão, cuidados básicos, escuta e diálogo.
A harmonia é a manifestação do amor, aquele que dá vida. Por isso a mulher precisa saber falar as linguagens do amor. Explicarei cada uma delas mais adiante, mas já antecipo que, ao exprimirmos o amor, nutrimos afetivamente nossos amados. As linguagens do amor são:
É a mulher que, com a sua suavidade e beleza, traz paz e harmonia para os que a rodeiam. Um mundo excessivamente masculino é brutal, agressivo, hostil; ou então é por demais pragmático, objetivo, linear e seco. Devemos contribuir com a nossa suavidade, nossa maleabilidade, nossa exuberância e nosso colorido.
Mesmo que a contribuição não nos seja algo espontâneo, devemos lutar para conquistar isso, pois queremos que nossos filhos e maridos tenham referências dignas de homem e mulher, de masculino e feminino.
Como conquistamos a capacidade de suavizar um mundo excessivamente masculino? Através da nossa aparência, da atmosfera que criamos ao redor de nós; mas também por meio da graça interior. A mulher com graça interior é virtuosa, ou seja, luta para formar uma harmonia moral e afetiva. Mas ela também está em estado de graça: pelo amor revela a presença de Deus em si.
O equilíbrio da graça interior nos leva a refletir sobre a dimensão espiritual da mulher. Ela é um contato com o tempo e com o que está fora do tempo; cuida não apenas dos sentidos externos, mas também dos sentidos internos e do espírito.
Pela sua dimensão receptiva, a mulher é imagem da alma. Homem e mulher são, por assim dizer, femininos com relação a Deus. Por sermos ainda antropologicamente femininas, temos a dimensão espiritual muito aflorada e podemos contribuir afetivamente para aguçar essa sensibilidade na família.
A dimensão espiritual aflorada faz com que consigamos colocar mais atenção na relação com o imaterial e com a religião. No primeiro caso, estamos atentas à memória e à imaginação, ou seja, podemos cuidar das referências imaginárias dos nossos filhos e maridos, e também construir as memórias da família4.
A mulher é ainda um ser mais religioso; e isso também está inscrito no seu corpo, pois é nela que atua a força espiritual e se infunde uma alma, misteriosamente. O mistério é um elemento do sagrado. E a mulher é marcada pelo sagrado. Nós somos canal de algo que está além de nós. E assim devemos ser para a nossa família.
Professora, doutora em História da Cultura, esposa e mãe, fundadora da Comunidade Entre Esposas, aborda temas de Antropologia Filosófica.
Existe uma oração que chama Nossa Senhora de “a mãe do belo amor”. O Padre Francisco Faus, no livro Tornar a Vida Amável (do qual tirei o título para este artigo), se refere a essa devoção para nos inspirar, para amarmos o nosso próximo a cada dia com “belo amor”.
O “belo amor” não se limita a “querer bem” às pessoas, mas sim a lhes “fazer bem”; porque é amável, compreensivo e paciente. O que isso tem a ver com a formação da afetividade? Tudo. Porque a nossa afetividade estará verdadeiramente formada quando conseguirmos, com alegria, sair de nós mesmas e nos doarmos aos demais. O objetivo da educação dos afetos é o comprazimento com a virtude.
Ao colocarmos amor nas coisas e oferecermos na prática o que temos de mais específico para as pessoas que precisamos amar com mais atenção – nossos maridos e filhos –, contribuiremos para a ordenação da nossa afetividade.
Como distinguir o que é essencial na mulher daquilo que lhe é atributo, acessório? Para responder diretamente a essa pergunta, vou mostrar qual o caminho percorremos quando queremos saber o que é essencial em um ente, ou seja, naquilo que existe.
Para entendermos o que é essencial em algo, precisamos contemplar esse objeto e identificar aquilo que existe de específico nele, algo que você não encontra em outro lugar.
Começamos essa distinção entres os mais diferentes seres e percebemos que os animais se distinguem das plantas e dos minerais, por exemplo. Depois conseguimos perceber que os homens se distinguem dos demais animais por serem seres inteligentes e livres. Esse é um exercício de filosofia. É a filosofia que olha para o mundo em busca da essência das coisas.
Ao separarmos os seres humanos dos demais seres da realidade, percebemos que existem duas formas de ser humano: homem e mulher. E continuamos a nossa contemplação procurando a essência de cada uma dessas modalidades de ser a partir de sua finalidade no mundo.
Como apreendemos a finalidade específica em um primeiro nível? Analisando a forma das coisas. Todos os órgãos do corpo humano, inclusive cada neurotransmissor, têm uma função. Também podemos pensar nas funções de tudo o que foi criado pelo homem que, ao imitar a natureza, percebe que precisa adaptar a forma das coisas se quer imprimir uma finalidade nelas.
Qual seria a finalidade de ser mulher? Esta é a pergunta que queremos responder a fim de distinguir o essencial do acessório. Antes, no entanto, é preciso responder a outra pergunta: existe mesmo uma finalidade?
Ora, se nas coisas que criamos atribuímos sentido para cada uma delas – nós as fazemos com um método a fim de que possam atingir a finalidade pretendida –, sem cair numa aleatoriedade que as tornaria inservíveis, não é difícil perceber como a perfeição da natureza – muito superior à nossa capacidade de criação ou inventividade – manifesta inteligência e poder por trás das coisas criadas; inteligência e poder que são infinitos e absolutos.
Tudo o que existe precisa ter uma ordem, um sentido, uma lógica interna. Vamos então olhar para a forma da mulher e tentar abstrair dessa dimensão material a sua finalidade específica.
O que tem na nossa estrutura física de mulher que é diferente do homem? Pensamos no órgão genital para dentro, no útero, na mama, nas curvas, etc. Mas também o cérebro é diferente, os hormônios e neurotransmissores atuam de maneiras distintas em homens e mulheres.
A mulher tem uma voz mais suave, um corpo mais macio, a carne mais tenra, a beleza que atrai… Tem algo, uma razão do porquê a gente ter essa sensibilidade e essa delicadeza. Falamos aqui também que somos unidade substancial de corpo e alma. Isso significa que nosso corpo aponta para a função que a gente deveria desenvolver no mundo.
A unidade substancial de corpo e alma e a diferença entre os seres revela a nossa essência e finalidade no mundo. A fim de manter e reforçar essa unidade que somos, precisamos imprimir a nossa natureza –corpo e alma – em cada ação nossa no mundo, em tudo o que fazemos.
Já que o nosso corpo aponta para uma função de acolhimento, de cuidado, de transformação, de suavidade, de maciez… Como faremos a impressão dessas ações no âmbito da afetividade? O corpo da mulher gera, constrói e edifica; devolve a semente, que por si é inerte, cheia de vida para o mundo. Como realizar isso no mundo afetivo dos nossos filhos e maridos?
No livro dos Provérbios (14, 1) está escrito que “A mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém, derruba-a com as suas mãos”. Somos insensatas quando derrubamos com as nossas mãos; quando não compreendemos e não olhamos com amor a quem devemos cuidar; quando queremos tirar os frutos antes da hora. Nosso o bjetivo de vida deve ser conduzir a quem amamos ao Amor, promovendo uma abertura na alma deles. A pessoa madura é aquela que se abre, que sai de si, que sabe amar, servir, se doar…
A abertura de uma pessoa para o exterior depende em grande medida das características do ambiente que a rodeia. Se o ambiente é afetivamente aquecido, luminoso, a pessoa se sentirá querida e segura; então se abrirá para o ambiente e nele poderá enriquecer a sua personalidade.
Se o ambiente afetivo é frio, o sujeito se volta para si mesmo com um mecanismo de autoproteção, porque tem medo de sofrer; sente no mundo exterior uma ameaça. E começa a reduzir a sua relação com os demais, impedindo-o de atualizar as suas potências e desenvolver as suas capacidades.O psiquiatra e pesquisador Fernando Sarráis ensina que “a influência do ambiente social na formação ou no amadurecimento da personalidade se mantém durante toda a vida da pessoa, mas, devido à plasticidade para a aprendizagem que as crianças possuem, essa influência é muito mais intensa no período infantil”1.
É nas suas vivências domésticas e familiares que a criança adquire conhecimentos, hábitos e formas de ver a vida que configurarão o seu modo de ser peculiar e determinarão sua felicidade ou infelicidade presente e futura. Quais características o ambiente deve ter?
A primeira delas é a compreensão enquanto afirmação incondicional do outro: os laços são irreversíveis e a família não se escolhe – à exceção do cônjuge, cuja manutenção da escolha é o que torna a nossa palavra grave e nossa biografia íntegra. São Josemaría Escrivá ensinou que precisamos: “Amar os outros com seus defeitos, se não, não ama de verdade”.
Pela benevolência, conseguimos ver os nossos maridos e filhos com olhar amoroso, sem considerar e esperar que já estejam acabados, prontos. A paciência ajuda a ter esse olhar compreensivo também. Não deve ser um olhar passivo, no sentido de inerte, mas um olhar de quem vê algo a ser transformado e disposto a ajudar a pessoa a se transformar, a crescer.
O diálogo também é importante: saber ouvir, interessar-se, gastar tempo com eles, olhar nos olhos, desligar o celular.
Por meio da cortesia, pequenos gestos vão dando o tom dos nossos humores e determinam o ambiente muito mais do que os grandes gestos. Os pequenos gestos podem contradizer ou reforçar os grandes.
Precisamos formar a nossa personalidade com bons modelos, pois uma personalidade madura conduz os filhos e influencia o marido. A nossa missão está em elevá-los a altos patamares, em ajudá-los a olhar para cima. Para isso teremos que olhar para cima também.
É necessário saber corrigir: não ser indiferente, mas eficaz e amoroso na correção. Refletir sobre o que se quer alcançar quando se corrige. Não irar-se, mas retificar por amor e com cuidado.
Temos que saber perdoar. Vivemos em um mundo imperfeito2, somos rodeados de pessoas imperfeitas. Nós mesmos somos imperfeitos e desejosos de melhorar para nos tornarmos felizes e, sobretudo (porque só aí seremos felizes), trata-se de fazermos felizes os nossos entes mais queridos.
Podemos nos valer da complementaridade: “Os cônjuges são como duas cartas de um baralho: individualmente, podem ser débeis e instáveis, porém, quando se dão conta de que um é apoio do outro, desaparecem, subitamente, boa parte dos pretextos. Critica-se menos os defeitos do cônjuge, porque a pessoa se vê como apoio que o outro conta para vencê-los”, escreveu Francisco Insa3.
A mulher não apenas constrói, mas também nutre, alimenta; ela o faz com seu sangue, leite e carinho. Ela cria condições para que as pessoas possam viver bem – oferecendo amor, compreensão, cuidados básicos, escuta e diálogo.
A harmonia é a manifestação do amor, aquele que dá vida. Por isso a mulher precisa saber falar as linguagens do amor. Explicarei cada uma delas mais adiante, mas já antecipo que, ao exprimirmos o amor, nutrimos afetivamente nossos amados. As linguagens do amor são:
É a mulher que, com a sua suavidade e beleza, traz paz e harmonia para os que a rodeiam. Um mundo excessivamente masculino é brutal, agressivo, hostil; ou então é por demais pragmático, objetivo, linear e seco. Devemos contribuir com a nossa suavidade, nossa maleabilidade, nossa exuberância e nosso colorido.
Mesmo que a contribuição não nos seja algo espontâneo, devemos lutar para conquistar isso, pois queremos que nossos filhos e maridos tenham referências dignas de homem e mulher, de masculino e feminino.
Como conquistamos a capacidade de suavizar um mundo excessivamente masculino? Através da nossa aparência, da atmosfera que criamos ao redor de nós; mas também por meio da graça interior. A mulher com graça interior é virtuosa, ou seja, luta para formar uma harmonia moral e afetiva. Mas ela também está em estado de graça: pelo amor revela a presença de Deus em si.
O equilíbrio da graça interior nos leva a refletir sobre a dimensão espiritual da mulher. Ela é um contato com o tempo e com o que está fora do tempo; cuida não apenas dos sentidos externos, mas também dos sentidos internos e do espírito.
Pela sua dimensão receptiva, a mulher é imagem da alma. Homem e mulher são, por assim dizer, femininos com relação a Deus. Por sermos ainda antropologicamente femininas, temos a dimensão espiritual muito aflorada e podemos contribuir afetivamente para aguçar essa sensibilidade na família.
A dimensão espiritual aflorada faz com que consigamos colocar mais atenção na relação com o imaterial e com a religião. No primeiro caso, estamos atentas à memória e à imaginação, ou seja, podemos cuidar das referências imaginárias dos nossos filhos e maridos, e também construir as memórias da família4.
A mulher é ainda um ser mais religioso; e isso também está inscrito no seu corpo, pois é nela que atua a força espiritual e se infunde uma alma, misteriosamente. O mistério é um elemento do sagrado. E a mulher é marcada pelo sagrado. Nós somos canal de algo que está além de nós. E assim devemos ser para a nossa família.