Carlo Acutis

Homilia para a beatificação de Carlo Acutis

O que permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer.
Jo 15,5

Com essas palavras, que acabamos de ouvir do Evangelho segundo São João, Jesus, na última Ceia, dirige-se aos discípulos e os exorta a permanecerem unidos a Ele como os ramos da videira. A imagem da videira e dos ramos expressa com grande eloquência o quanto é necessário, para o cristão, viver em comunhão com Deus. Sua força está exatamente aí, em ter uma relação pessoal, íntima e profunda com Jesus, em fazer da Eucaristia o momento mais elevado da sua relação com Deus.

Caros irmãos e irmãs, hoje, encontramo-nos particularmente atraídos pela vida e pelo testemunho de Carlo Acutis, que a Igreja reconhece como modelo e exemplo de vida cristã, sobretudo no que diz respeito aos jovens. É natural que nos perguntemos o que tinha de tão peculiar esse rapaz de apenas quinze anos. Quando vemos sua biografia, encontramos alguns pontos fixos que, do ponto de vista humano, lhe são característicos.

Era um menino normal, simples, espontâneo e gentil (basta olhar uma foto sua); amava a natureza e os animais, jogava bola e tinha muitos amigos, e era atraído pelos meios modernos de comunicação social, apaixonado por informática e autodidata, a ponto de criar programas para “transmitir o Evangelho”, conforme disse o Papa Francisco. Ele tinha o dom de atrair e de ser visto como exemplo.

Desde a infância — é o testemunho que sua família nos dá — sentia a necessidade de viver a fé e tinha os olhos voltados para Jesus. O amor pela Eucaristia firmou e manteve sua relação com Deus. Costumava dizer: “A Eucaristia é a minha estrada para o Céu”. Todos os dias participava da Santa Missa, e ficava muito tempo em adoração diante do Santíssimo. Também dizia: “Você irá diretamente para o Céu, se estiver próximo da Eucaristia diariamente!”. Jesus era para ele um amigo, um professor e um salvador. Era a força da sua vida e o objetivo de tudo o que fazia. Para amar ao próximo e lhe fazer bem, é preciso buscar forças no Senhor. Com esse espírito, Carlo nutria grande devoção por Nossa Senhora.

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Seu desejo ardente também era o de atrair o maior número possível de pessoas para Jesus, fazendo-se um arauto do Evangelho, em primeiro lugar, pelo seu próprio exemplo de vida. É justamente o testemunho da sua fé que o levou a empreender com sucesso um trabalho de evangelização assíduo nos meios que frequentava, tocando o coração das pessoas que encontrava e suscitando nelas o desejo de mudança de vida e de aproximação de Deus. E fazia isso espontaneamente, mostrando o amor e a bondade do Senhor tão somente pelo seu modo de ser e de agir. Tinha uma capacidade extraordinária de defender os valores em que acreditava, ainda que isso lhe custasse mal-entendidos, dificuldades e por vezes até zombarias. Carlo tinha uma necessidade muito forte de ajudar o próximo a perceber que Deus está perto de nós e que é agradável estar com Ele, para que dessa forma tomemos proveito de sua graça e amizade. Era muito devoto de Nossa Senhora, rezava o terço todos os dias e muitas vezes se consagrava a Maria.

Para comunicar essa necessidade espiritual, Carlo utilizou todos os meios, inclusive os meios modernos de comunicação social, dos quais sabia muito bem se servir, particularmente da internet, que considerava um dom de Deus e uma ferramenta importante para encontrar pessoas e difundir os valores cristãos. A web não era somente um meio de distração para ele, mas também um espaço de diálogo, conhecimento, partilha e respeito mútuo para ser usado de maneira responsável sem tornar-se escravo dela, enquanto se rejeita toda e qualquer tentação digital. No vasto mundo virtual, é preciso saber distinguir o bem do mal. Ao levar em conta o lado positivo da internet, Carlo encorajou o uso das mídias como ferramenta a serviço do Evangelho, para chegar ao maior número possível de pessoas e fazê-las conhecer a beleza da amizade com o Senhor. Com esse objetivo, organizou a exposição dos principais milagres eucarísticos que ocorreram pelo mundo, algo que aproveitou para também ensinar catequese às crianças.

Carlo era muito devoto de Nossa Senhora. Rezava o terço diariamente e se consagrava muitas vezes a Maria, com o propósito de que ela renovasse sua afeição, e lhe rogava sua proteção. Oração e missão, portanto: estes são os dois traços distintos da fé heroica do beato Carlo Acutis que, ao longo de tão curta vida, o levaram a se entregar ao Senhor em todas as circunstâncias, sobretudo nos momentos mais difíceis.

Foi com esse espírito que vivenciou serenamente a doença que o acometeu e o levou à morte. Carlo abandonou-se nos braços da Providência e, sob o olhar materno de Maria, insistia: “Ofereço todo o meu sofrimento ao Senhor, pelo Papa e pela Igreja. Não quero passar pelo Purgatório; quero ir diretamente ao Paraíso”. Era assim que — vale lembrar — esse jovem de quinze anos se expressava, revelando uma maturidade cristã surpreendente, a qual nos estimula e nos encoraja a assumirmos uma vida de fé com seriedade.

Carlo desperta uma grande admiração em todos nós, por conta do fervor com que defendia, em suas conversas, o caráter sagrado da família, bem como o direito sagrado à vida frente ao aborto e à eutanásia. O novo beato serve-nos, mais uma vez, como o exemplo de uma força que jamais se compromete, sempre consciente de que, para permanecer no amor de Jesus, é preciso viver concretamente o Evangelho, mesmo que corramos o risco de nadar contra a corrente.

Carlo jamais se mantinha fechado em si mesmo, muito pelo contrário: compreendia as necessidades e exigências das pessoas, nas quais via o rosto de Cristo.

Ele realmente fez suas as palavras de Jesus: “O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei”. Essa certeza na sua vida o levou a ter uma grande caridade para com o próximo, especialmente pelos pobres, idosos, abandonados, sem-teto e deficientes físicos, e por todos aqueles que a sociedade marginaliza e esconde. Carlo sempre acolhia os carentes; e quando os encontrava na rua a caminho da escola, parava para conversar com eles e ouvir-lhes os problemas, sempre os ajudando quando possível.

Jamais pensava somente em si mesmo, e compreendia as necessidades e exigências das pessoas, nas quais via o rosto de Cristo. Nesse sentido, por exemplo, nunca deixou de ajudar seus colegas de classe, particularmente os que tinham dificuldade. Uma vida luminosa, portanto, totalmente dedicada aos outros, assim como o Pão eucarístico.

Caros irmãos e irmãs, a Igreja está em festa, pois nesse tão jovem beato se cumprem as palavras do Senhor: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi a vós, e que vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome ele vos conceda”.

Carlo “partiu”, porém trouxe o fruto da santidade e nos demonstrou que ela é um propósito acessível a todos, e não algo abstrato e reservado a poucos. Sua vida é um modelo especialmente para os jovens, a fim de que encontrem satisfação não no sucesso efêmero, mas nos valores perenes que Jesus sugere no Evangelho, a saber: colocar Deus em primeiro lugar, seja nas grandes ou nas pequenas circunstâncias da vida, e servir nossos irmãos, sobretudo os mais fracos.

A beatificação de Carlo Acutis, filho da terra lombarda e apaixonado pela terra de São Francisco de Assis, é uma boa nova, a grande notícia de que um rapaz do nosso tempo foi conquistado por Jesus Cristo e se tornou um farol para todos os que queiram conhecer e seguir seu exemplo. Ele testemunhou que a fé não nos distancia da vida, mas nos mergulha nela ainda mais profundamente, mostrando-nos o modo concreto de viver a alegria do Evangelho. Cabe a nós segui-lo, atraídos pela experiência fascinante do Beato Carlo, para que a nossa vida possa brilhar com a luz da esperança.

Beato Carlo Acutis, rogai por nós!

Homilia proferida pelo Cardeal Agostino Vallini . Assis, 10 de outubro de 2020.

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