DAVID. Um segredo em Florença.
Data da Publicação: 25/06/2024
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Autor: Matheus Bazzo

“Além de qualquer outra coisa, o Cristianismo é uma explosão. Se ele não for sensacional, não faz sentido. Se a palavra do Evangelho não soar como uma arma sendo disparada, é como se nem houvesse sido proferida.” G. K. Chesterton.

Há uma mensagem escondida na Piazza della Signoria em Florença. É a praça onde está uma réplica da famosa estátua de David de Michelangelo. A estátua original fica exposta na Galeria da Academia de Belas Artes de Florença. Quando morei em Florença, eu passava frequentemente por essa praça que sempre me chamou atenção pelo posicionamento do seu estatutário. A posição da réplica revela um segredo pedagógico muito profundo e que poucos conhecem. Separei essas fotos que fiz quando morava em Florença para explicar esse segredo.

Essa praça é famosa por ser o local do Palazzo Vecchio e também pelas estátuas da antiguidade clássica e do Renascimento que ficam expostas publicamente em um palco elevado no canto direito. A disposição dessas estátuas em uma praça pública causa um espanto difícil de traduzir – especialmente para a cultura brasileira contemporânea. Nossa realidade nacional infelizmente impede qualquer experiência minimamente análoga.

Ao chegar na praça, nosso olhar é prontamente conduzido para a relação entre a estátua de David e o estatuário pagão. De maneira que a praça se destaca pela presença da réplica de David em um canto e, no outro, pelo conjunto de estátuas de temática pagã. Uma relação tão evidente entre os dois extremos da praça é certamente proposital. Seus projetistas queriam que fizéssemos um comparativo. A tensão entre as obras revela uma mensagem secreta.

Existe ali uma distinção clara entre o indivíduo (David) e a coletividade humana (conjunto de estátuas clássicas). David é uma figura da narrativa bíblica, muito diferente dos deuses e mitos pagãos representados no elevado que o opõe. A figura de David é imponente, solitária e concentrada. As estátuas pagãs são passionais, contorcidas e agitadas. A vitória de David depende de um ato único e improvável que só pode acontecer porque ele está amparado pelo Deus verdadeiro. A vitória dos pagãos depende da sua força física e estratégica, das quais se depreende pouca garantia de sucesso.

O contraste entre as estátuas revela a pedagogia do espaço público. A estátua de David, calmamente olhando para as contorções do mundo pagão, nos coloca diante da pergunta: de onde vem a verdadeira força humana? Ora, vem justamente da relação entre a individualidade humana e a fé. E David preconiza essa revelação. A posição inabalável e solitária de David é resultado desses dois elementos: a capacidade humana e a fé na presença de Deus – uma fé impossível para os que não creem e, por isso mesmo, se debatem e se desesperam.

Todo o mundo pagão e todo o universo das religiões pode nos fornecer lições e conhecimentos úteis para a vida humana. Mas, ainda assim, todo esse conhecimento ainda está condicionado à natureza humana. A paz resoluta de David é fruto de trabalho e fé. Uma fé distinta dessa do mundo das religiões porque tem como origem a revelação e a encarnação do próprio Deus. É preciso ter consciência de que – excluída a visão da fé – tudo nesse mundo é contorcionismo e jogo de forças, tal qual nos revela o estatuário na Piazza della Signoria.

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    Matheus Bazzo

    Matheus Bazzo

    É diretor de arte, fotógrafo, produtor, empresário e ensaísta. Fundador das empresas Minha Biblioteca Católica, Lumine e Peregrino.

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    “Além de qualquer outra coisa, o Cristianismo é uma explosão. Se ele não for sensacional, não faz sentido. Se a palavra do Evangelho não soar como uma arma sendo disparada, é como se nem houvesse sido proferida.” G. K. Chesterton.

    Há uma mensagem escondida na Piazza della Signoria em Florença. É a praça onde está uma réplica da famosa estátua de David de Michelangelo. A estátua original fica exposta na Galeria da Academia de Belas Artes de Florença. Quando morei em Florença, eu passava frequentemente por essa praça que sempre me chamou atenção pelo posicionamento do seu estatutário. A posição da réplica revela um segredo pedagógico muito profundo e que poucos conhecem. Separei essas fotos que fiz quando morava em Florença para explicar esse segredo.

    Essa praça é famosa por ser o local do Palazzo Vecchio e também pelas estátuas da antiguidade clássica e do Renascimento que ficam expostas publicamente em um palco elevado no canto direito. A disposição dessas estátuas em uma praça pública causa um espanto difícil de traduzir – especialmente para a cultura brasileira contemporânea. Nossa realidade nacional infelizmente impede qualquer experiência minimamente análoga.

    Ao chegar na praça, nosso olhar é prontamente conduzido para a relação entre a estátua de David e o estatuário pagão. De maneira que a praça se destaca pela presença da réplica de David em um canto e, no outro, pelo conjunto de estátuas de temática pagã. Uma relação tão evidente entre os dois extremos da praça é certamente proposital. Seus projetistas queriam que fizéssemos um comparativo. A tensão entre as obras revela uma mensagem secreta.

    Existe ali uma distinção clara entre o indivíduo (David) e a coletividade humana (conjunto de estátuas clássicas). David é uma figura da narrativa bíblica, muito diferente dos deuses e mitos pagãos representados no elevado que o opõe. A figura de David é imponente, solitária e concentrada. As estátuas pagãs são passionais, contorcidas e agitadas. A vitória de David depende de um ato único e improvável que só pode acontecer porque ele está amparado pelo Deus verdadeiro. A vitória dos pagãos depende da sua força física e estratégica, das quais se depreende pouca garantia de sucesso.

    O contraste entre as estátuas revela a pedagogia do espaço público. A estátua de David, calmamente olhando para as contorções do mundo pagão, nos coloca diante da pergunta: de onde vem a verdadeira força humana? Ora, vem justamente da relação entre a individualidade humana e a fé. E David preconiza essa revelação. A posição inabalável e solitária de David é resultado desses dois elementos: a capacidade humana e a fé na presença de Deus – uma fé impossível para os que não creem e, por isso mesmo, se debatem e se desesperam.

    Todo o mundo pagão e todo o universo das religiões pode nos fornecer lições e conhecimentos úteis para a vida humana. Mas, ainda assim, todo esse conhecimento ainda está condicionado à natureza humana. A paz resoluta de David é fruto de trabalho e fé. Uma fé distinta dessa do mundo das religiões porque tem como origem a revelação e a encarnação do próprio Deus. É preciso ter consciência de que – excluída a visão da fé – tudo nesse mundo é contorcionismo e jogo de forças, tal qual nos revela o estatuário na Piazza della Signoria.

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