Colunistas

Plágio vs. Inspiração

Uma linha tênue entre o plágio e a inspiração, qual seria esse limite? Depende do criador criar, sem copiar?

Plágio vs. Inspiração
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Plágio vs. Inspiração

Uma linha tênue entre o plágio e a inspiração, qual seria esse limite? Depende do criador criar, sem copiar?

Data da Publicação: 18/06/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 18/06/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

“A arte é a assinatura do homem.” G. K. Chesterton

Claudia Attimonelli e sua explicação sobre fake e nova intervenção.

Recentemente um dos nossos leitores me mandou uma pergunta por mensagem no Instagram. A pergunta era: qual o limite do plágio e o da justa imitação e inspiração? Achei a pergunta boa pois permite elucidar a respeito de uma série de vícios que tem se espalhado no mercado digital e no ambiente cultural brasileiro. Além disso, é uma boa oportunidade para refletirmos sobre processo criativo e ética de trabalho que são temas recorrentes aqui.

Para quem tem olhos atentos, não é novidade que o trabalho que tenho feito através das minhas empresas já foi plagiado mais de uma vez por outras pessoas e empresas. De maneira que, eu pessoalmente sei como é o sentimento e as consequências de ser plagiado e imitado sem o devido crédito. Do ponto de vista pessoal, o plágio é como um elogio ressentido. É uma forma de admitir a superioridade do trabalho alheio, mas sem dar os louros de um elogio sincero.

Porém, há situações extremas onde o plágio se torna crime. É o caso quando há infração aos direitos autorais de uma obra ou de um produto. O filme Made you look (2020) lançado recentemente apresenta a gravidade desse problema no universo das artes plásticas. O plágio e a imitação podem corromper várias camadas da sociedade tornando o que antes era um nobre serviço em prol da cultura humana em um antro de criminosos.

Resta então a pergunta sobre como discernir entre o plágio e a imitação justa. A dificuldade na distinção entre essas duas ações é agravado pelo ambiente cultural em que vivemos atualmente. As décadas de corrupção moral da nossa classe letrada gerou um ambiente cultural tóxico onde a honestidade intelectual não é manifestada em canto algum. Isso faz com que tenhamos dificuldade em entender e julgar os atos alheios.

Sem exemplos de integridade, achamos normal atitudes que em outros ambientes seriam motivo de escândalo. Uma empresa rouba o slogan de outra, um comunicador rouba o discurso de outro sem dar os créditos, um design é copiado inteiramente para outro produto concorrente, etc. O fenômeno do marketing digital – que tenho desenvolvido algumas críticas – potencializa esse tipo de atitude sob a justificativa da expansão máxima do faturamento. Se vende mais, tudo é possível.

Leia mais sobre: Pesquisadora italiana estuda o fake na sociedade do espetáculo.

No fundo, a dificuldade em distinguir entre plágio e inspiração só existe porque vivemos em um ambiente tomado pela desonestidade intelectual. A desonestidade intelectual é aquela espécie de mentira profunda. A mentira para consigo mesmo. É o fingir que se é algo que não é em prol de um ganho financeiro ou reputacional. É o tipo de imoralidade que não pode ser criminalizada, mas que não deixa de ser gravíssima. Ela é a raiz de outras imoralidades maiores e, no Brasil, é responsável por tornar o ambiente cultural e empresarial intragável. É também, o tipo de atitude que só cresce pois não é devidamente impugnada. Em nome da camaradagem e do pacifismo, deixamos se acumular imoralidades e desonestidades até que os ambientes são inteiramente tomados pelos desonestos.

A solução para a distinção entre plágio e inspiração justa é muito simples. O plágio consiste numa cópia descarada, não creditada e quase sempre intrincada nas obras. Um plágio é uma imitação forçada que naturalmente não tem necessidade de compor a obra ou o discurso. No plágio, nunca há o crédito ou a referência ao original pois o plagiador age por inveja ou pura desonestidade.

Já a inspiração justa é quando usamos o trabalho alheio como uma referência, adaptando ao nosso próprio discurso e considerando sempre a qualidade formal da nossa obra. Uma referência não é um plágio porque ela se torna parte integrante de uma nova obra. Além disso, a inspiração é sempre motivo de orgulho e, portanto, devemos sempre pagar tributo àqueles que nos inspiram. É muito comum que diretores de cinema e grandes artistas deem créditos aos seus grandes ídolos sempre os creditando quando há oportunidade para isso.

Acima de tudo, é muito importante que tenhamos confiança em nossa força criativa. O plagiador atesta sua incapacidade criativa. Já o empreendedor genuíno não se preocupa muito com suas obras serem imitadas pois sabe que pode criar muitas outras. De onde se tira uma ideia criativa, se tiram muitas outras. Não podemos ser preciosistas com nosso trabalho. Precisamos confiar em nossa capacidade de criar. Esse tipo de atitude permite com que consigamos ler o futuro. Eu sei o que meus plagiadores estarão fazendo daqui a três anos: exatamente o que nós estamos fazendo agora.

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    Redação MBC

    Redação MBC

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    O que você vai encontrar neste artigo?

    “A arte é a assinatura do homem.” G. K. Chesterton

    Claudia Attimonelli e sua explicação sobre fake e nova intervenção.

    Recentemente um dos nossos leitores me mandou uma pergunta por mensagem no Instagram. A pergunta era: qual o limite do plágio e o da justa imitação e inspiração? Achei a pergunta boa pois permite elucidar a respeito de uma série de vícios que tem se espalhado no mercado digital e no ambiente cultural brasileiro. Além disso, é uma boa oportunidade para refletirmos sobre processo criativo e ética de trabalho que são temas recorrentes aqui.

    Para quem tem olhos atentos, não é novidade que o trabalho que tenho feito através das minhas empresas já foi plagiado mais de uma vez por outras pessoas e empresas. De maneira que, eu pessoalmente sei como é o sentimento e as consequências de ser plagiado e imitado sem o devido crédito. Do ponto de vista pessoal, o plágio é como um elogio ressentido. É uma forma de admitir a superioridade do trabalho alheio, mas sem dar os louros de um elogio sincero.

    Porém, há situações extremas onde o plágio se torna crime. É o caso quando há infração aos direitos autorais de uma obra ou de um produto. O filme Made you look (2020) lançado recentemente apresenta a gravidade desse problema no universo das artes plásticas. O plágio e a imitação podem corromper várias camadas da sociedade tornando o que antes era um nobre serviço em prol da cultura humana em um antro de criminosos.

    Resta então a pergunta sobre como discernir entre o plágio e a imitação justa. A dificuldade na distinção entre essas duas ações é agravado pelo ambiente cultural em que vivemos atualmente. As décadas de corrupção moral da nossa classe letrada gerou um ambiente cultural tóxico onde a honestidade intelectual não é manifestada em canto algum. Isso faz com que tenhamos dificuldade em entender e julgar os atos alheios.

    Sem exemplos de integridade, achamos normal atitudes que em outros ambientes seriam motivo de escândalo. Uma empresa rouba o slogan de outra, um comunicador rouba o discurso de outro sem dar os créditos, um design é copiado inteiramente para outro produto concorrente, etc. O fenômeno do marketing digital – que tenho desenvolvido algumas críticas – potencializa esse tipo de atitude sob a justificativa da expansão máxima do faturamento. Se vende mais, tudo é possível.

    Leia mais sobre: Pesquisadora italiana estuda o fake na sociedade do espetáculo.

    No fundo, a dificuldade em distinguir entre plágio e inspiração só existe porque vivemos em um ambiente tomado pela desonestidade intelectual. A desonestidade intelectual é aquela espécie de mentira profunda. A mentira para consigo mesmo. É o fingir que se é algo que não é em prol de um ganho financeiro ou reputacional. É o tipo de imoralidade que não pode ser criminalizada, mas que não deixa de ser gravíssima. Ela é a raiz de outras imoralidades maiores e, no Brasil, é responsável por tornar o ambiente cultural e empresarial intragável. É também, o tipo de atitude que só cresce pois não é devidamente impugnada. Em nome da camaradagem e do pacifismo, deixamos se acumular imoralidades e desonestidades até que os ambientes são inteiramente tomados pelos desonestos.

    A solução para a distinção entre plágio e inspiração justa é muito simples. O plágio consiste numa cópia descarada, não creditada e quase sempre intrincada nas obras. Um plágio é uma imitação forçada que naturalmente não tem necessidade de compor a obra ou o discurso. No plágio, nunca há o crédito ou a referência ao original pois o plagiador age por inveja ou pura desonestidade.

    Já a inspiração justa é quando usamos o trabalho alheio como uma referência, adaptando ao nosso próprio discurso e considerando sempre a qualidade formal da nossa obra. Uma referência não é um plágio porque ela se torna parte integrante de uma nova obra. Além disso, a inspiração é sempre motivo de orgulho e, portanto, devemos sempre pagar tributo àqueles que nos inspiram. É muito comum que diretores de cinema e grandes artistas deem créditos aos seus grandes ídolos sempre os creditando quando há oportunidade para isso.

    Acima de tudo, é muito importante que tenhamos confiança em nossa força criativa. O plagiador atesta sua incapacidade criativa. Já o empreendedor genuíno não se preocupa muito com suas obras serem imitadas pois sabe que pode criar muitas outras. De onde se tira uma ideia criativa, se tiram muitas outras. Não podemos ser preciosistas com nosso trabalho. Precisamos confiar em nossa capacidade de criar. Esse tipo de atitude permite com que consigamos ler o futuro. Eu sei o que meus plagiadores estarão fazendo daqui a três anos: exatamente o que nós estamos fazendo agora.

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