Formação

Padroeiros: quem são e como são escolhidos?

Como os santos padroeiros são definidos? O que exatamente eles são? Um país, um continente pode tê-los? Confira neste artigo!

Padroeiros: quem são e como são escolhidos?
Formação

Padroeiros: quem são e como são escolhidos?

Como os santos padroeiros são definidos? O que exatamente eles são? Um país, um continente pode tê-los? Confira neste artigo!

Data da Publicação: 22/12/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 22/12/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Expecto Patronum! Não, este não é um artigo sobre Harry Potter, não é exatamente isso que você vai ver. Este ainda é um artigo sobre padroeiros.

A saga de livros, posteriormente adaptados ao cinema, teve não uma, mas várias fontes de inspiração — em especial, a cultura greco-romana.

Entre elas, não podia faltar a cultura que mais influenciou a civilização ocidental: a nossa, a da nossa Igreja.

Particularmente, há um feitiço chamado “Expecto Patronum”, cuja função é defender o bruxo de criaturas maléficas, que consomem a alegria humana.

E o interessante é que o feitiço assume a forma de um animal, um animal que protege quem o invocou. Esse animal é o seu patrono, seu protetor, seu padroeiro.

Poucas coisas são tão católicas como os padroeiros. E poucas coisas católicas são tão marcantes na cultura quanto os padroeiros do país, da cidade, de determinada profissão.

E o que pouca gente sabe é que as Escrituras já nos apontavam para a existência de protetores de determinadas localidades junto de Deus.

Padroeiros na Bíblia?

Em uma de suas visões, o profeta Zacarias relata que um anjo intercede por Jerusalém e pelas cidades da região:

Senhor dos exércitos! Até quando ficareis insensível à sorte de Jerusalém e das cidades de Judá? (Zc 1, 12)

Um anjo, alguém que está no céu, intercedendo por localidades específicas. Legal, né?

Daniel — o profeta, não o cantor! — também nos traz o relato de anjos protetores.

Porém, o príncipe do reino dos persas resistiu-me durante vinte e um dias, mas eis que veio em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes… (Dn 10, 13)

Trata-se da aparição do anjo Gabriel a Daniel.

“Beleza, vi ali no trecho o arcanjo Gabriel, agora você me contou que quem disse isso foi o arcanjo Gabriel. E onde está o padroeiro?”

Se você adquiriu a nossa edição da Bíblia Sagrada, confira a nota “e” da página 978. 

Se você não adquiriu, vou transcrevê-la aqui — mas não se acostume com essa folga porque são milhares de notas que você perdeu de ter.

A nota refere-se ao “príncipe do reino dos persas”. Esse príncipe é, na verdade, o anjo guardião da Pérsia — veja que Miguel também é tratado como um príncipe pelo texto bíblico.

Talvez você esteja se perguntando: como esse cara, o anjo príncipe do reino dos persas, é um protetor se, durante 21 dias, ele impediu o arcanjo Gabriel de encontrar Daniel?

Você não se perguntaria se visse a nota completa que diz que ele estava pensando no bem espiritual dos persas, por isso desejava que muitos judeus permanecessem entre eles.

O príncipe dos persas queria o bem dos persas, logo, era seu protetor, seu patrono — sem expecto! —, seu padroeiro.

E o mais legal é que não é só o padroeiro dos persas que é mencionado:

Quando eu saía, apareceu o príncipe dos gregos, que vinha. (Dn 10, 20)

O princípio dos gregos, como diz a nota “h” da nossa edição: isto é, o anjo custódio da Grécia.

E isso sem falar nos anjos destinatários das mensagens às sete igrejas do Apocalipse nos capítulos 2 e 3.

Os primeiros santos padroeiros na Igreja Primitiva

entre os padroeiros mais antigos está são lucas
Ícone de São Lucas, padroeiro dos médicos.

Durante os seus três primeiros séculos, a Igreja Primitiva se reunia às escondidas, seja nas casas dos fiéis da comunidade, seja em locais retirados ou escondidos, como cemitérios — já ouviu falar da igreja das catacumbas?

Conforme a fé católica deixava de ser perseguida pelo império romano, locais públicos de culto passaram a ser construídos. 

Os primeiros cristãos tinham profunda reverência pelos seus heróis, por aqueles que preferiram derramar seu sangue a abandonar sua fé.

As celebrações solenes, como a Páscoa do Senhor, eram realizadas em locais onde estavam enterrados os corpos desses heróis, dos mártires. 

Os nomes dessas igrejas, naturalmente, passaram a ser associados aos nomes desses santos — São Pedro, São Paulo fora dos muros, São Sebastião, Santa Agnes, etc.

Surgiu então a prática de enterrar o corpo inteiro ou relíquias dos mártires sob os altares das novas igrejas. E, aos poucos, a prática foi estendida a outros santos que não foram necessariamente mártires.

A doutrina da Comunhão dos Santos, pela qual acreditamos na união mística entre Deus e aqueles que morreram em amizade com ele, que nos permite pedir a intercessão desses últimos, nunca foi um problema para os primeiros cristãos.

A escolha de um padroeiro

Remete à devoção popular do século VII a escolha de padroeiros para cidades e nações inteiras.

A escolha de um padroeiro depende de uma série de circunstâncias. Entre elas:

1. A posse do corpo ou alguma relíquia importante de um santo

2. O santo que anunciou o Evangelho a uma nação

3. Os trabalhos de evangelização ou mesmo a morte de um santo em um determinado local

4. Uma devoção especial ao fundador de uma igreja.

5. Devoções recomendadas para um determinado tempo.

Se você se interessou pelo assunto, veja o artigo Patron Saints da The Catholic Encyclopedia.

A américa e sua rainha

entre os padroeiros, guadalupe

Mas agora, para encerrarmos o nosso papo que já está bastante longo, quero chamar a sua atenção para uma padroeira especial.

Não apenas de uma igreja porque ela deve ser de várias, não apenas de uma cidade porque também ela deve ser de várias, não apenas de um país, mas de um continente inteiro.

Quando aparece ao índio Juan Diego, a Virgem de Guadalupe pede que seja construído um templo em sua homenagem “para mostrar meu amor a todos vós juntos, os moradores desta terra e aos demais amadores meus”.

Por isso, os santos padres não exitaram em declarar que Nossa Senhora de Guadalupe não era padroeira apenas do México.

Quando o Santo Padre João Paulo II pisou pela primeira vez terra mexicana, dirigiu entusiástica saudação a seu povo, “escolhido pela Santíssima Virgem para erguer-lhe um trono, como Rainha das Américas”.

Em 1899, o Papa Leão XIII, em união com os bispos latino-americanos, redigiu uma consagração à Virgem como padroeira principal da região, mencionando a sua proteção em Guadalupe e autorizando os bispos de todo o continente a acrescentarem na fórmula da consagração, após “em Guadalupe”, a invocação das suas respectivas dioceses.

Em 1910, São Pio X, a pedido de numerosos bispos americanos, proclamou a Virgem de Guadalupe a padroeira principal de toda a Hispano-América.

Em 1945, o Papa Pio XII convidou todos os habitantes da América “a voltarem seus olhares para Maria sob o título de Virgem de Guadalupe, Imperatriz e Mãe de todas as Américas”.

Toda essa história de patronato da Virgem de Guadalupe estendido a toda américa — incluindo a gente aqui no Brasil — está descrita nos seus mínimos detalhes no capítulo “A américa e sua rainha” do livro “Nossa Senhora de Guadalupe – Imperatriz das américas”, exclusiva dos assinantes da Minha Biblioteca Católica.

a história de nossa senhora de guadalupe

Saiba mais sobre a obra e o clube:

a história de nossa senhora de guadalupe

Disclaimer: Não custa lembrar: nós, de forma alguma, incentivamos a prática de feitiçaria ou qualquer forma de ocultismo. A referência à saga Harry Potter é apenas uma forma de contextualizar o assunto, mostrando, inclusive, a influência do catolicismo em meios seculares.

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    Redação MBC

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    O que você vai encontrar neste artigo?

    Expecto Patronum! Não, este não é um artigo sobre Harry Potter, não é exatamente isso que você vai ver. Este ainda é um artigo sobre padroeiros.

    A saga de livros, posteriormente adaptados ao cinema, teve não uma, mas várias fontes de inspiração — em especial, a cultura greco-romana.

    Entre elas, não podia faltar a cultura que mais influenciou a civilização ocidental: a nossa, a da nossa Igreja.

    Particularmente, há um feitiço chamado “Expecto Patronum”, cuja função é defender o bruxo de criaturas maléficas, que consomem a alegria humana.

    E o interessante é que o feitiço assume a forma de um animal, um animal que protege quem o invocou. Esse animal é o seu patrono, seu protetor, seu padroeiro.

    Poucas coisas são tão católicas como os padroeiros. E poucas coisas católicas são tão marcantes na cultura quanto os padroeiros do país, da cidade, de determinada profissão.

    E o que pouca gente sabe é que as Escrituras já nos apontavam para a existência de protetores de determinadas localidades junto de Deus.

    Padroeiros na Bíblia?

    Em uma de suas visões, o profeta Zacarias relata que um anjo intercede por Jerusalém e pelas cidades da região:

    Senhor dos exércitos! Até quando ficareis insensível à sorte de Jerusalém e das cidades de Judá? (Zc 1, 12)

    Um anjo, alguém que está no céu, intercedendo por localidades específicas. Legal, né?

    Daniel — o profeta, não o cantor! — também nos traz o relato de anjos protetores.

    Porém, o príncipe do reino dos persas resistiu-me durante vinte e um dias, mas eis que veio em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes… (Dn 10, 13)

    Trata-se da aparição do anjo Gabriel a Daniel.

    “Beleza, vi ali no trecho o arcanjo Gabriel, agora você me contou que quem disse isso foi o arcanjo Gabriel. E onde está o padroeiro?”

    Se você adquiriu a nossa edição da Bíblia Sagrada, confira a nota “e” da página 978. 

    Se você não adquiriu, vou transcrevê-la aqui — mas não se acostume com essa folga porque são milhares de notas que você perdeu de ter.

    A nota refere-se ao “príncipe do reino dos persas”. Esse príncipe é, na verdade, o anjo guardião da Pérsia — veja que Miguel também é tratado como um príncipe pelo texto bíblico.

    Talvez você esteja se perguntando: como esse cara, o anjo príncipe do reino dos persas, é um protetor se, durante 21 dias, ele impediu o arcanjo Gabriel de encontrar Daniel?

    Você não se perguntaria se visse a nota completa que diz que ele estava pensando no bem espiritual dos persas, por isso desejava que muitos judeus permanecessem entre eles.

    O príncipe dos persas queria o bem dos persas, logo, era seu protetor, seu patrono — sem expecto! —, seu padroeiro.

    E o mais legal é que não é só o padroeiro dos persas que é mencionado:

    Quando eu saía, apareceu o príncipe dos gregos, que vinha. (Dn 10, 20)

    O princípio dos gregos, como diz a nota “h” da nossa edição: isto é, o anjo custódio da Grécia.

    E isso sem falar nos anjos destinatários das mensagens às sete igrejas do Apocalipse nos capítulos 2 e 3.

    Os primeiros santos padroeiros na Igreja Primitiva

    entre os padroeiros mais antigos está são lucas
    Ícone de São Lucas, padroeiro dos médicos.

    Durante os seus três primeiros séculos, a Igreja Primitiva se reunia às escondidas, seja nas casas dos fiéis da comunidade, seja em locais retirados ou escondidos, como cemitérios — já ouviu falar da igreja das catacumbas?

    Conforme a fé católica deixava de ser perseguida pelo império romano, locais públicos de culto passaram a ser construídos. 

    Os primeiros cristãos tinham profunda reverência pelos seus heróis, por aqueles que preferiram derramar seu sangue a abandonar sua fé.

    As celebrações solenes, como a Páscoa do Senhor, eram realizadas em locais onde estavam enterrados os corpos desses heróis, dos mártires. 

    Os nomes dessas igrejas, naturalmente, passaram a ser associados aos nomes desses santos — São Pedro, São Paulo fora dos muros, São Sebastião, Santa Agnes, etc.

    Surgiu então a prática de enterrar o corpo inteiro ou relíquias dos mártires sob os altares das novas igrejas. E, aos poucos, a prática foi estendida a outros santos que não foram necessariamente mártires.

    A doutrina da Comunhão dos Santos, pela qual acreditamos na união mística entre Deus e aqueles que morreram em amizade com ele, que nos permite pedir a intercessão desses últimos, nunca foi um problema para os primeiros cristãos.

    A escolha de um padroeiro

    Remete à devoção popular do século VII a escolha de padroeiros para cidades e nações inteiras.

    A escolha de um padroeiro depende de uma série de circunstâncias. Entre elas:

    1. A posse do corpo ou alguma relíquia importante de um santo

    2. O santo que anunciou o Evangelho a uma nação

    3. Os trabalhos de evangelização ou mesmo a morte de um santo em um determinado local

    4. Uma devoção especial ao fundador de uma igreja.

    5. Devoções recomendadas para um determinado tempo.

    Se você se interessou pelo assunto, veja o artigo Patron Saints da The Catholic Encyclopedia.

    A américa e sua rainha

    entre os padroeiros, guadalupe

    Mas agora, para encerrarmos o nosso papo que já está bastante longo, quero chamar a sua atenção para uma padroeira especial.

    Não apenas de uma igreja porque ela deve ser de várias, não apenas de uma cidade porque também ela deve ser de várias, não apenas de um país, mas de um continente inteiro.

    Quando aparece ao índio Juan Diego, a Virgem de Guadalupe pede que seja construído um templo em sua homenagem “para mostrar meu amor a todos vós juntos, os moradores desta terra e aos demais amadores meus”.

    Por isso, os santos padres não exitaram em declarar que Nossa Senhora de Guadalupe não era padroeira apenas do México.

    Quando o Santo Padre João Paulo II pisou pela primeira vez terra mexicana, dirigiu entusiástica saudação a seu povo, “escolhido pela Santíssima Virgem para erguer-lhe um trono, como Rainha das Américas”.

    Em 1899, o Papa Leão XIII, em união com os bispos latino-americanos, redigiu uma consagração à Virgem como padroeira principal da região, mencionando a sua proteção em Guadalupe e autorizando os bispos de todo o continente a acrescentarem na fórmula da consagração, após “em Guadalupe”, a invocação das suas respectivas dioceses.

    Em 1910, São Pio X, a pedido de numerosos bispos americanos, proclamou a Virgem de Guadalupe a padroeira principal de toda a Hispano-América.

    Em 1945, o Papa Pio XII convidou todos os habitantes da América “a voltarem seus olhares para Maria sob o título de Virgem de Guadalupe, Imperatriz e Mãe de todas as Américas”.

    Toda essa história de patronato da Virgem de Guadalupe estendido a toda américa — incluindo a gente aqui no Brasil — está descrita nos seus mínimos detalhes no capítulo “A américa e sua rainha” do livro “Nossa Senhora de Guadalupe – Imperatriz das américas”, exclusiva dos assinantes da Minha Biblioteca Católica.

    a história de nossa senhora de guadalupe

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