Colunistas

Quatro pilares para um negócio duradouro

Confira o que Matheus Bazzo considera como fundamental para um negócio, ou melhor, quatro pilares para um negócio duradouro.

Quatro pilares para um negócio duradouro
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Quatro pilares para um negócio duradouro

Confira o que Matheus Bazzo considera como fundamental para um negócio, ou melhor, quatro pilares para um negócio duradouro.

Data da Publicação: 20/06/2024
Tempo de leitura:
Autor: Matheus Bazzo
Data da Publicação: 20/06/2024
Tempo de leitura:
Autor: Matheus Bazzo

Quando comecei a trabalhar profissionalmente no início da vida adulta, eu achava enfadonha a ênfase que muitas empresas davam à ideia de que elas tinham uma missão, visão e valores. Essas três palavras (missão, visão e valores) soavam vazias e desnecessárias. Parecia um discurso falso inventado artificialmente pelas empresas para justificar suas ações. Toda a linguagem empresarial parecia-me forçada e inevitavelmente fútil. Até que eu criei a minha empresa.

O escritor inglês C. S. Lewis explica que quando um barco começa sua expedição, as primeiras coordenadas definidas para a trajetória são as mais cruciais. Isso porque as coordenadas iniciais são as que mais determinam o destino final da expedição. Uma variação de um grau no início pode acarretar em um erro incorrigível no final do trajeto. Com isso o escritor explica que as intenções originárias de um empreendimento determinam o seu destino final. Ou seja, os propósitos com os quais sacramentamos nossas ações são fundamentais para nosso sucesso. Precisamos investigar os fundamentos dos nossos empreendimentos para assegurar que estamos os firmando em chão seguro.

Semana passada fizemos um evento interno em minhas empresas onde apresentamos os projetos para 2024. No evento também recapitulamos nossa missão e nossos objetivos. Ali eu pude revisitar os fundamentos do nosso negócios.

A verdade é que nesses mais de seis anos de vida, conseguimos desenvolver uma filosofia de negócios muito arrojada. Somos empresas que procuram expandir a cultura cristã. Para realizar essa missão, foi necessário garantirmos integridade e clareza em nosso propósito. Tenho absoluta certeza de que nosso jeito de “pensar empresa” pode ajudar muitas pessoas em seus próprios negócios.

1º Uma empresa é um bem

Um dos sinais mais claros de uma imaginação viciada é quando substantivos são automaticamente adjetivados sem passar por um julgamento neutro e racional. É o caso, por exemplo, da ideia de empresa ou de empresário. Vivemos em um ambiente cultural tão marcado pela cosmovisão marxista que concepções de negócios e empresas sejam apreendidas sob a ótica da exploração capitalista – essa supostamente sendo a grande responsável por todas as maldades e injustiça na história da humanidade.

Esse vício faz com que toda ideia de crescimento empresarial venha adornada por uma aura de desconfiança e suspeita. Engana-se quem pensa que essa desconfiança nasce apenas no ouvinte alheio ao empreendimento empresarial. É uma ideia tão arraigada em nossa cultura que muitas vezes o próprio empresário desconfia de si mesmo em seus projetos de expansão fazendo com que lhe falte a tenacidade e a inventividade para avançar com seus negócios por parecer excessivamente ganancioso para seus familiares, amigos ou empregados.

Esse vício imaginativo é a causa de muitos atrasos no crescimento de empresas e negócios – e, portanto, atraso também no desenvolvimento de serviços e produtos para a sociedade. Por manterem as concepções marxistas como pano de fundo, tanto o empresário quanto seus colaboradores e parceiros não acreditam de fato que estão fazendo um bem social ao investirem no crescimento de seus negócios. É por isso que o primeiro pilar para a construção de um negócio duradouro é compreender que uma empresa é um bem.

Uma empresa é um bem por diversos motivos, são eles:

1 – Empresas produzem produtos e serviços que são um bem na medida em que contribuem – em graus diferentes – para seus consumidores. Uma empresa necessariamente precisa produzir algum tipo de bem para ser sustentável – pelo menos no longo prazo. Isso faz com que a mera existência da empresa como geradora de bens seja, por sua vez, um bem. Além disso, no ato mesmo de criar produtos e serviços, a empresa estimula a atitude criativa de seu líder e colaboradores. A ação criativa é um ato que nos identifica como seres humanos (falaremos mais sobre isso futuramente quando desenvolvermos os outros pilares de um negócio duradouro).

2 – Empresas geram trabalho para seus colaboradores e o trabalho é outro elemento que nos dignifica como seres humanos. Diferente dos animais, o homem é capaz de trabalhar criativamente. O ato do trabalho é algo próprio do homem, de maneira que trabalhar nos torna mais humanos. Essa compreensão está prefigurada nas Escrituras quando em Gênesis apresenta-se Deus criando o homem, do latim, ut operatur – ou seja, para trabalhar. Ao contrário do que comumente se pensa em algumas correntes cristãs, o trabalho não é um castigo imposto pela queda do pecado original. É o oposto: o trabalho é um dos elementos para os quais Deus criou o homem. O trabalho nos constitui, nos dignifica e – por que não? – nos santifica. Uma empresa, na medida em que gera emprego, gera também novas oportunidades do homem ser mais digno de si.

3 – Além do benefício espiritual e antropológico gerado pelo trabalho, uma empresa é um bem também porque esse mesmo trabalho gera renda para o colaborador. Essa renda é total ou parcialmente responsável pelo sustento daquele indivíduo e muitas vezes de famílias inteiras. Quando negócios crescem, aumenta-se a quantidade e a qualidade dessa renda fazendo criando ainda mais sustento para seus times.

4 – Para prosperar e crescer, empresas precisam agir através da coletividade. Esqueça a ideia de empresa de um homem só e todas essas concepções de “trabalhe apenas quatro horas por dia e enriqueça”. O valor de um negócio consiste justamente na sua capacidade de gerar projetos em coletividade. O trabalho em equipe é outro marco da nossa humanidade. Empresas geram a possibilidade do ser humano gerar relacionamento em um processo criativo de bens. Esse trabalho criativo e coletivo é um sinal da harmonia que somente o homem pode articular no mundo.

5 – A concorrência entre empresas, quando realizada de maneira moral e íntegra, é um grande motor de inovação para a sociedade. Essa inovação produz soluções novas para o mundo e leva o homem a novos patamares de desenvolvimento econômico e social.

É por esses motivos que toda empresa tem o dever de crescer. A expansão dos negócios implica na expansão de bens no mundo. Todos aqueles vocacionados ao empreendedorismo precisam ter consciência de que o primeiro bem que uma empresa produz é ela mesma. Sua sustentação e crescimento atraem novos bens que se multiplicam e favorecem toda a sociedade.

2º O apostolado da coisa em si

Em 1990, Steve Jobs deu uma entrevista para o documentário “An Immigrant’s Gift” que conta a história de Joseph Muran, o empreendedor romeno conhecido por inovar os setores de controle de qualidade em empresas e indústrias. Na entrevista, Jobs explica um conceito fundamental para os empreendedores. Diz ele que as empresas de tecnologia japonesas não mostram em suas comunicações e marketing elementos de destaque para a qualidade dos produtos. Essas empresas japonesas ignoram a qualidade dos seus produtos e não falam sobre isso. Já as empresas de tecnologia americanas gastam um caminhão de dinheiro em marketing para ressaltar a qualidade dos seus produtos. No entanto, quando o público é questionado sobre quais empresas têm melhores produtos de tecnologia, a resposta é sempre favorável às empresas japonesas.

A razão para esse paradoxo, segundo Jobs, é que as empresas japonesas preferem focar em realmente terem a melhor qualidade, ao invés de parecerem ter a melhor qualidade. Ao contrário das empresas americanas, elas preferem desenvolver produtos que sejam realmente testados e aprovados pelo público.

A partir dessa lição podemos compreender o segundo pilar para a construção de um negócio duradouro. É o que chamo de Apostolado da Coisa em Si. Isto é, o enfoque na realidade concreta do que estamos fazendo, ao invés da mera imagem fictícia do que estamos fazendo. Em suma, quando se é alguma coisa não é necessário parecer ser.

Disso deriva uma atitude em nossas decisões e em nossos empreendimentos. Vivemos em um mundo de aparências, um mundo de avatares. As redes sociais, as realidades virtuais, o bombardeio de propagandas, tudo isso nos induz a um hábito mental de desejo pela aparência. Mais do que nunca, há meios para se fingir ser algo que não se é. Tudo nos convida a parecer de maneira fictícia com a encarnação dos valores que queremos defender. Essa é a receita para o fracasso. Talvez não o fracasso financeiro – pois é possível fingir muitas coisas, por muito tempo para muita gente.

O segundo pilar que apresento aqui é um convite a desprezar esse hábito mental. É também um convite à atenção no que estamos fazendo concretamente. Não há puritanismo e nem idealismo aqui. Acredito que essa atitude honesta e firme com relação ao nosso trabalho é, também, a melhor forma de se fazer um negócio. Isso porque o produto verdadeiro não precisa ser vendido, basta ser comunicado.

Além disso, essa atitude sustenta nossa ação a longo prazo pois garante a integridade reputacional de nossos empreendimentos. A longo prazo, diante do nosso público, ficará claro quem estava procurando oferecer soluções reais e quem estava tentando vender espelhos para tirar uma vantagem temporária de um público desavisado.

Eu experimentei diversas vezes os benefícios do apostolado da coisa em si. Um caso emblemático que tivemos recentemente foi o lançamento da nossa Bíblia Sagrada. Foi um projeto que nos dedicamos por mais de três anos dando atenção a cada detalhe editorial e artístico para que ficasse a Bíblia mais impecável e digna que pudéssemos fazer. E, por isso, decidimos que no lançamento do produto nós faríamos algo muito simples: iríamos apenas apresentar o produto explicando suas características e mostrar o que outras pessoas achavam dele. Fizemos apenas isso: comunicamos nosso trabalho. O resultado foi excelente, esgotamos o estoque e fizemos o nosso lançamento mais bem sucedido de toda nossa história.

Tudo isso por uma razão muito simples: precisamos criar coisas que tenham valor em si mesmas. Precisamos criar coisas que independam do momento histórico e social que estamos vivendo. É muito comum vermos criadores de produtos, cursos e até mesmo os intelectuais – produtores de ideias e pensamentos – criando aparentes soluções para a mais nova tragédia da civilização.

Precisamos criar coisas que durem no teste do tempo. Coisas que sejam reais e verdadeiras. Soluções que tenham o desejo de ser definitivas. Talvez essa atitude seja um treinamento inicial para percebermos que nossas atitudes ecoam na eternidade. Precisamos criar coisas com valores em si para que nossa atenção finalmente compreenda que cada uma de nossas atitudes precisa ter um sentido maior e eterno.

3º A atenção é a substância da vida

“O ser humano atinge o seu ápice quando se dobra.” G. K. Chesterton

Quem quer que tenha feito uma grande viagem, sabe o que é voltar com a sensação de ter vivido muitas vidas em poucos dias. Parece que o tempo passou mais devagar e naqueles poucos dias de viagem é como se tivéssemos vivido muitos meses. Isso acontece porque quando estamos viajando ficamos mais atentos às novidades e belezas que nos circundam. Quando viajamos, todos os detalhes chamam nossa atenção. E essa atitude de constante atenção faz com que tenhamos a sensação de que há mais vida em nossos dias. Isso porque a atenção é a substância da vida. Esse é precisamente o terceiro pilar para a construção de um negócio duradouro.

A atenção é a consciência de nossas ações e do nosso ambiente. Implica que a desatenção faz-nos inconscientes de nós mesmos. Toda vez que estamos dispersos é como se não estivéssemos cientes do que estamos vivendo. A desatenção é, portanto, uma desconexão com a vida. Na era dos smartphones e redes sociais, essa desatenção nos custa caro. A cada instante somos convocados a fugir do instante. Esse processo é tão perigoso que a própria Igreja tem insistido na necessidade da procura da vida heróica na vida cotidiana. A mística católica parece apontar cada vez mais na direção do encontro de uma espiritualidade do instante. Uma mística do instante, como inclusive é nomeado o belo livro de espiritualidade do teólogo e cardeal Dom José Tolentino – uma das principais figuras na teologia contemporânea.

A preocupação com o instante e com a atenção é a tônica do nosso tempo. Isso porque a desatenção nos afasta da realidade. Sem viver a realidade da vida, estamos apartados dos nossos verdadeiros dramas e dos nossos problemas mais fundamentais. É impossível construir qualquer solução relevante para nossas comunidades se estivermos apartados dos problemas fundamentais. Experimente pedir um favor a um adolescente desatento com os olhares fixos em seu celular. Sua apreensão do pedido será tão precária que provavelmente a execução do favor será um novo desfavor tão boçal que seria não o ter realizado de maneira nenhuma. O tal adolescente foi incapaz de captar a realidade do favor solicitado.

Apartados da realidade da vida, será impossível que nossos empreendimentos criem soluções reais. Sem atenção somos ineficazes em tudo.

O contrário é ainda mais evidente. Lembro que, em certo momento da nossa empresa, um dos nossos gestores falou uma frase que chamou minha atenção: “O engajamento diminui custos”. Evidente, pois a atenção engajada permite a realização de um trabalho focado que diminui o custo de tempo e o custo material também. A atenção gera muitos outros frutos positivos: trabalhos em paz por estarmos cientes, nossas resoluções são mais efetivas, as soluções surgem mais rápido etc. Uma pessoa atenta beneficia todo o corpo de uma instituição.

A atenção também permite uma melhoria na comunicabilidade de um grupo. Não adianta que realizamos um bom trabalho ou sejamos cheios de grandes talentos. É necessário entender como nosso trabalho e nosso talento será lido pela comunidade. Isso é fundamental principalmente para quem trabalha com comunicação e marketing. Todo ato de comunicação exige um esforço para se colocar no lugar do outro para presumir como a nossa audiência irá ler o que estamos comunicando. Esse é o ato próprio da atenção: colocar-se no lugar do outro e refletir como será o impacto de nossas ações e palavras. Não basta usar as palavras certas, é necessário usá-las do jeito certo. Muitos comunicadores focam em um aspecto muito superficial do seu trabalho.

Conforme descreve o filósofo Olavo de Carvalho, a comunicação é dividida em três patamares: o signo, o referente e o significado. A maior parte dos profissionais de comunicação foca apenas no significado, ou seja, apenas no que as palavras significam. Eles esquecem os outros patamares da comunicação. De acordo com Olavo de Carvalho, os conceitos de signo, referente e significado são partes fundamentais da semiótica e da compreensão da linguagem. Aqui está uma explicação simplificada desses conceitos conforme sua abordagem:

Signo:
Um signo é qualquer coisa que representa algo para alguém. Pode ser uma palavra, uma imagem, um gesto, entre outros. Os signos são fundamentais para a comunicação humana, pois nos permitem transmitir e receber informações. Os signos são arbitrários, ou seja, não têm uma relação direta e necessária com seus significados. Por exemplo, a palavra “cachorro” é apenas uma sequência de letras, mas para falantes da língua portuguesa, ela representa o animal de quatro patas.

Referente:
O referente é aquilo para o qual o signo aponta ou representa. É o objeto, conceito ou entidade ao qual o signo se refere. Por exemplo, no caso da palavra “cachorro”, o referente é o animal de quatro patas que conhecemos. Em muitos casos, o referente não é diretamente acessível ao observador e pode ser objeto de interpretação e debate.

Significado:
O significado de um signo é a interpretação ou compreensão que lhe é atribuída. É o sentido que o signo carrega para quem o percebe. Por exemplo, quando alguém vê a palavra “cachorro”, ela evoca a imagem mental do animal e todas as associações que essa palavra pode ter para essa pessoa. O significado não é fixo ou universal, mas sim construído social e culturalmente. O mesmo signo pode ter significados diferentes para pessoas diferentes ou em contextos diferentes.

Isso tudo tem um sentido muito profundo. Atenção é quando dedicamos o nosso tempo com todas as nossas forças. Quando colocamos tudo de si em uma tarefa compreendendo como aquilo afeta ao próximo e a toda a comunidade. Essa atitude é a atitude própria do amor. A atenção permite colocarmo-nos no lugar do outro refletindo sobre como seria o melhor trabalho realizado pelo próximo. A atenção é a antessala do amor. E os frutos do amor – e, portanto, da atenção – são o fundamento de qualquer empreendimento bem sucedido. São os frutos descritos nas Escrituras na Epístola de Gálatas: “alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança.

4º O Espírito Santo é Criativo

“A arte é essencial. A razão, sozinha, tal como é expressa pelas ciências, não pode ser uma resposta completa do homem para a realidade, pois ela não consegue expressar tudo o que o homem pode, quer e precisa expressar.”
Papa Bento XVI

Em um de seus podcasts, Lex Fridman questionou Mark Zuckerberg a respeito do sentido da vida. O fundador da Meta respondeu citando o livro de Gênesis onde narra a criação do mundo por Deus. A partir disso ele afirma que o sentido da vida está em criar e comunicar – que são atributos também divinos. A intuição de Zuckerberg não está muito distante do que o Papa São João Paulo II descreve em sua Carta aos Artistas: “Na criação artística, mais do que em qualquer outra atividade, o homem revela-se como imagem de Deus”.

Criar é uma atividade fundamentalmente humana pois compartilha de um atributo divino. Sendo algo tão fundamental, é impossível que empreendimentos de sucesso não considerem o ato criativo como um de seus elementos estruturantes. É por isso que o quarto pilar na criação de um negócio de sucesso é exatamente esse: o Espírito Santo é criativo.

Em primeiro lugar, precisamos desmistificar o ato criativo. Quando São João Paulo II fala sobre a criatividade voltada aos artistas, não devemos pensar que o ato criativo seja algo próprio somente de poetas e pintores. A criatividade é uma ação comum a todos os seres humanos. Todos nós somos criativos em alguma atividade particular, seja ela propriamente artística ou não.

Gosto de citar uma breve questão biográfica para ilustrar essa questão. Eu nunca quis ser empresário. Nunca tive vontade de assumir essa posição como função social. Porém, com o crescimento natural de minhas empresas, se tornou necessário assumir todas as responsabilidades oriundas dessa atividade como empresário. Por isso me tornei empresário, para realizar uma necessidade que estava à minha frente.

Aqui precisamente se encontra o primeiro sinal da criatividade. Criatividade não é fazer o que você quiser e do jeito que você quiser. Criatividade significa exercer sua criatividade na responsabilidade que te cabe. Isso porque só você é capaz de resolver problemas e assumir responsabilidades do seu jeito. E cada uma das suas responsabilidades é uma oportunidade de aplicar uma nova visão sobre problemas e desafios. Somente a atuação individual focada – falamos sobre isso no terceiro pilar – é capaz de criar novas soluções.

Não há como escapar do que você deve fazer. Negar o seu dever é renegar a si mesmo. Atalhos não existem e toda negação às responsabilidades é um desvio da realização individual. Não se entende aqui como responsabilidade estritamente as exigências de uma vida profissional, mas todas as demandas onde estamos instalados e somos seus receptores seja na vida familiar, conjugal, espiritual etc.

A responsabilidade é o jardim onde floresce a personalidade. Um jardim aparentemente árido aos que o negam e ficam ao relento, mas infinitamente fértil aos que o abraçam e cultivam.

Eis que faço nova todas as coisas” diz o livro de Apocalipse. A criação de novidades é um chamado de Deus para nós. Ou seja, como cristãos – e, vá lá, como seres humanos – temos o compromisso de fazer novas todas as coisas. É por isso que um negócio de sucesso precisa dessa responsabilidade criativa. Nossos empreendimentos precisam criar soluções novas. Precisamos sempre nos preocupar com isso: como eu posso fazer diferente?

Isso porque a criatividade é o fundamento das experiências encantadoras. É o fundamento de uma experiência nova com produtos e serviços que podem encantar as pessoas, lembrando-as de que as coisas tem um valor para além da materialidade.

Essa experiência pode marcar a vida de uma pessoa. E isso não é pouca coisa. Por isso, temos a responsabilidade de criar essas experiências novas. Uma empresa precisa ser criativa pois nosso trabalho precisa marcar a vida de cada um que nos encontrar.

Matheus Bazzo

Matheus Bazzo

É diretor de arte, fotógrafo, produtor, empresário e ensaísta. Fundador das empresas Minha Biblioteca Católica, Lumine e Peregrino.

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Quando comecei a trabalhar profissionalmente no início da vida adulta, eu achava enfadonha a ênfase que muitas empresas davam à ideia de que elas tinham uma missão, visão e valores. Essas três palavras (missão, visão e valores) soavam vazias e desnecessárias. Parecia um discurso falso inventado artificialmente pelas empresas para justificar suas ações. Toda a linguagem empresarial parecia-me forçada e inevitavelmente fútil. Até que eu criei a minha empresa.

O escritor inglês C. S. Lewis explica que quando um barco começa sua expedição, as primeiras coordenadas definidas para a trajetória são as mais cruciais. Isso porque as coordenadas iniciais são as que mais determinam o destino final da expedição. Uma variação de um grau no início pode acarretar em um erro incorrigível no final do trajeto. Com isso o escritor explica que as intenções originárias de um empreendimento determinam o seu destino final. Ou seja, os propósitos com os quais sacramentamos nossas ações são fundamentais para nosso sucesso. Precisamos investigar os fundamentos dos nossos empreendimentos para assegurar que estamos os firmando em chão seguro.

Semana passada fizemos um evento interno em minhas empresas onde apresentamos os projetos para 2024. No evento também recapitulamos nossa missão e nossos objetivos. Ali eu pude revisitar os fundamentos do nosso negócios.

A verdade é que nesses mais de seis anos de vida, conseguimos desenvolver uma filosofia de negócios muito arrojada. Somos empresas que procuram expandir a cultura cristã. Para realizar essa missão, foi necessário garantirmos integridade e clareza em nosso propósito. Tenho absoluta certeza de que nosso jeito de “pensar empresa” pode ajudar muitas pessoas em seus próprios negócios.

1º Uma empresa é um bem

Um dos sinais mais claros de uma imaginação viciada é quando substantivos são automaticamente adjetivados sem passar por um julgamento neutro e racional. É o caso, por exemplo, da ideia de empresa ou de empresário. Vivemos em um ambiente cultural tão marcado pela cosmovisão marxista que concepções de negócios e empresas sejam apreendidas sob a ótica da exploração capitalista – essa supostamente sendo a grande responsável por todas as maldades e injustiça na história da humanidade.

Esse vício faz com que toda ideia de crescimento empresarial venha adornada por uma aura de desconfiança e suspeita. Engana-se quem pensa que essa desconfiança nasce apenas no ouvinte alheio ao empreendimento empresarial. É uma ideia tão arraigada em nossa cultura que muitas vezes o próprio empresário desconfia de si mesmo em seus projetos de expansão fazendo com que lhe falte a tenacidade e a inventividade para avançar com seus negócios por parecer excessivamente ganancioso para seus familiares, amigos ou empregados.

Esse vício imaginativo é a causa de muitos atrasos no crescimento de empresas e negócios – e, portanto, atraso também no desenvolvimento de serviços e produtos para a sociedade. Por manterem as concepções marxistas como pano de fundo, tanto o empresário quanto seus colaboradores e parceiros não acreditam de fato que estão fazendo um bem social ao investirem no crescimento de seus negócios. É por isso que o primeiro pilar para a construção de um negócio duradouro é compreender que uma empresa é um bem.

Uma empresa é um bem por diversos motivos, são eles:

1 – Empresas produzem produtos e serviços que são um bem na medida em que contribuem – em graus diferentes – para seus consumidores. Uma empresa necessariamente precisa produzir algum tipo de bem para ser sustentável – pelo menos no longo prazo. Isso faz com que a mera existência da empresa como geradora de bens seja, por sua vez, um bem. Além disso, no ato mesmo de criar produtos e serviços, a empresa estimula a atitude criativa de seu líder e colaboradores. A ação criativa é um ato que nos identifica como seres humanos (falaremos mais sobre isso futuramente quando desenvolvermos os outros pilares de um negócio duradouro).

2 – Empresas geram trabalho para seus colaboradores e o trabalho é outro elemento que nos dignifica como seres humanos. Diferente dos animais, o homem é capaz de trabalhar criativamente. O ato do trabalho é algo próprio do homem, de maneira que trabalhar nos torna mais humanos. Essa compreensão está prefigurada nas Escrituras quando em Gênesis apresenta-se Deus criando o homem, do latim, ut operatur – ou seja, para trabalhar. Ao contrário do que comumente se pensa em algumas correntes cristãs, o trabalho não é um castigo imposto pela queda do pecado original. É o oposto: o trabalho é um dos elementos para os quais Deus criou o homem. O trabalho nos constitui, nos dignifica e – por que não? – nos santifica. Uma empresa, na medida em que gera emprego, gera também novas oportunidades do homem ser mais digno de si.

3 – Além do benefício espiritual e antropológico gerado pelo trabalho, uma empresa é um bem também porque esse mesmo trabalho gera renda para o colaborador. Essa renda é total ou parcialmente responsável pelo sustento daquele indivíduo e muitas vezes de famílias inteiras. Quando negócios crescem, aumenta-se a quantidade e a qualidade dessa renda fazendo criando ainda mais sustento para seus times.

4 – Para prosperar e crescer, empresas precisam agir através da coletividade. Esqueça a ideia de empresa de um homem só e todas essas concepções de “trabalhe apenas quatro horas por dia e enriqueça”. O valor de um negócio consiste justamente na sua capacidade de gerar projetos em coletividade. O trabalho em equipe é outro marco da nossa humanidade. Empresas geram a possibilidade do ser humano gerar relacionamento em um processo criativo de bens. Esse trabalho criativo e coletivo é um sinal da harmonia que somente o homem pode articular no mundo.

5 – A concorrência entre empresas, quando realizada de maneira moral e íntegra, é um grande motor de inovação para a sociedade. Essa inovação produz soluções novas para o mundo e leva o homem a novos patamares de desenvolvimento econômico e social.

É por esses motivos que toda empresa tem o dever de crescer. A expansão dos negócios implica na expansão de bens no mundo. Todos aqueles vocacionados ao empreendedorismo precisam ter consciência de que o primeiro bem que uma empresa produz é ela mesma. Sua sustentação e crescimento atraem novos bens que se multiplicam e favorecem toda a sociedade.

2º O apostolado da coisa em si

Em 1990, Steve Jobs deu uma entrevista para o documentário “An Immigrant’s Gift” que conta a história de Joseph Muran, o empreendedor romeno conhecido por inovar os setores de controle de qualidade em empresas e indústrias. Na entrevista, Jobs explica um conceito fundamental para os empreendedores. Diz ele que as empresas de tecnologia japonesas não mostram em suas comunicações e marketing elementos de destaque para a qualidade dos produtos. Essas empresas japonesas ignoram a qualidade dos seus produtos e não falam sobre isso. Já as empresas de tecnologia americanas gastam um caminhão de dinheiro em marketing para ressaltar a qualidade dos seus produtos. No entanto, quando o público é questionado sobre quais empresas têm melhores produtos de tecnologia, a resposta é sempre favorável às empresas japonesas.

A razão para esse paradoxo, segundo Jobs, é que as empresas japonesas preferem focar em realmente terem a melhor qualidade, ao invés de parecerem ter a melhor qualidade. Ao contrário das empresas americanas, elas preferem desenvolver produtos que sejam realmente testados e aprovados pelo público.

A partir dessa lição podemos compreender o segundo pilar para a construção de um negócio duradouro. É o que chamo de Apostolado da Coisa em Si. Isto é, o enfoque na realidade concreta do que estamos fazendo, ao invés da mera imagem fictícia do que estamos fazendo. Em suma, quando se é alguma coisa não é necessário parecer ser.

Disso deriva uma atitude em nossas decisões e em nossos empreendimentos. Vivemos em um mundo de aparências, um mundo de avatares. As redes sociais, as realidades virtuais, o bombardeio de propagandas, tudo isso nos induz a um hábito mental de desejo pela aparência. Mais do que nunca, há meios para se fingir ser algo que não se é. Tudo nos convida a parecer de maneira fictícia com a encarnação dos valores que queremos defender. Essa é a receita para o fracasso. Talvez não o fracasso financeiro – pois é possível fingir muitas coisas, por muito tempo para muita gente.

O segundo pilar que apresento aqui é um convite a desprezar esse hábito mental. É também um convite à atenção no que estamos fazendo concretamente. Não há puritanismo e nem idealismo aqui. Acredito que essa atitude honesta e firme com relação ao nosso trabalho é, também, a melhor forma de se fazer um negócio. Isso porque o produto verdadeiro não precisa ser vendido, basta ser comunicado.

Além disso, essa atitude sustenta nossa ação a longo prazo pois garante a integridade reputacional de nossos empreendimentos. A longo prazo, diante do nosso público, ficará claro quem estava procurando oferecer soluções reais e quem estava tentando vender espelhos para tirar uma vantagem temporária de um público desavisado.

Eu experimentei diversas vezes os benefícios do apostolado da coisa em si. Um caso emblemático que tivemos recentemente foi o lançamento da nossa Bíblia Sagrada. Foi um projeto que nos dedicamos por mais de três anos dando atenção a cada detalhe editorial e artístico para que ficasse a Bíblia mais impecável e digna que pudéssemos fazer. E, por isso, decidimos que no lançamento do produto nós faríamos algo muito simples: iríamos apenas apresentar o produto explicando suas características e mostrar o que outras pessoas achavam dele. Fizemos apenas isso: comunicamos nosso trabalho. O resultado foi excelente, esgotamos o estoque e fizemos o nosso lançamento mais bem sucedido de toda nossa história.

Tudo isso por uma razão muito simples: precisamos criar coisas que tenham valor em si mesmas. Precisamos criar coisas que independam do momento histórico e social que estamos vivendo. É muito comum vermos criadores de produtos, cursos e até mesmo os intelectuais – produtores de ideias e pensamentos – criando aparentes soluções para a mais nova tragédia da civilização.

Precisamos criar coisas que durem no teste do tempo. Coisas que sejam reais e verdadeiras. Soluções que tenham o desejo de ser definitivas. Talvez essa atitude seja um treinamento inicial para percebermos que nossas atitudes ecoam na eternidade. Precisamos criar coisas com valores em si para que nossa atenção finalmente compreenda que cada uma de nossas atitudes precisa ter um sentido maior e eterno.

3º A atenção é a substância da vida

“O ser humano atinge o seu ápice quando se dobra.” G. K. Chesterton

Quem quer que tenha feito uma grande viagem, sabe o que é voltar com a sensação de ter vivido muitas vidas em poucos dias. Parece que o tempo passou mais devagar e naqueles poucos dias de viagem é como se tivéssemos vivido muitos meses. Isso acontece porque quando estamos viajando ficamos mais atentos às novidades e belezas que nos circundam. Quando viajamos, todos os detalhes chamam nossa atenção. E essa atitude de constante atenção faz com que tenhamos a sensação de que há mais vida em nossos dias. Isso porque a atenção é a substância da vida. Esse é precisamente o terceiro pilar para a construção de um negócio duradouro.

A atenção é a consciência de nossas ações e do nosso ambiente. Implica que a desatenção faz-nos inconscientes de nós mesmos. Toda vez que estamos dispersos é como se não estivéssemos cientes do que estamos vivendo. A desatenção é, portanto, uma desconexão com a vida. Na era dos smartphones e redes sociais, essa desatenção nos custa caro. A cada instante somos convocados a fugir do instante. Esse processo é tão perigoso que a própria Igreja tem insistido na necessidade da procura da vida heróica na vida cotidiana. A mística católica parece apontar cada vez mais na direção do encontro de uma espiritualidade do instante. Uma mística do instante, como inclusive é nomeado o belo livro de espiritualidade do teólogo e cardeal Dom José Tolentino – uma das principais figuras na teologia contemporânea.

A preocupação com o instante e com a atenção é a tônica do nosso tempo. Isso porque a desatenção nos afasta da realidade. Sem viver a realidade da vida, estamos apartados dos nossos verdadeiros dramas e dos nossos problemas mais fundamentais. É impossível construir qualquer solução relevante para nossas comunidades se estivermos apartados dos problemas fundamentais. Experimente pedir um favor a um adolescente desatento com os olhares fixos em seu celular. Sua apreensão do pedido será tão precária que provavelmente a execução do favor será um novo desfavor tão boçal que seria não o ter realizado de maneira nenhuma. O tal adolescente foi incapaz de captar a realidade do favor solicitado.

Apartados da realidade da vida, será impossível que nossos empreendimentos criem soluções reais. Sem atenção somos ineficazes em tudo.

O contrário é ainda mais evidente. Lembro que, em certo momento da nossa empresa, um dos nossos gestores falou uma frase que chamou minha atenção: “O engajamento diminui custos”. Evidente, pois a atenção engajada permite a realização de um trabalho focado que diminui o custo de tempo e o custo material também. A atenção gera muitos outros frutos positivos: trabalhos em paz por estarmos cientes, nossas resoluções são mais efetivas, as soluções surgem mais rápido etc. Uma pessoa atenta beneficia todo o corpo de uma instituição.

A atenção também permite uma melhoria na comunicabilidade de um grupo. Não adianta que realizamos um bom trabalho ou sejamos cheios de grandes talentos. É necessário entender como nosso trabalho e nosso talento será lido pela comunidade. Isso é fundamental principalmente para quem trabalha com comunicação e marketing. Todo ato de comunicação exige um esforço para se colocar no lugar do outro para presumir como a nossa audiência irá ler o que estamos comunicando. Esse é o ato próprio da atenção: colocar-se no lugar do outro e refletir como será o impacto de nossas ações e palavras. Não basta usar as palavras certas, é necessário usá-las do jeito certo. Muitos comunicadores focam em um aspecto muito superficial do seu trabalho.

Conforme descreve o filósofo Olavo de Carvalho, a comunicação é dividida em três patamares: o signo, o referente e o significado. A maior parte dos profissionais de comunicação foca apenas no significado, ou seja, apenas no que as palavras significam. Eles esquecem os outros patamares da comunicação. De acordo com Olavo de Carvalho, os conceitos de signo, referente e significado são partes fundamentais da semiótica e da compreensão da linguagem. Aqui está uma explicação simplificada desses conceitos conforme sua abordagem:

Signo:
Um signo é qualquer coisa que representa algo para alguém. Pode ser uma palavra, uma imagem, um gesto, entre outros. Os signos são fundamentais para a comunicação humana, pois nos permitem transmitir e receber informações. Os signos são arbitrários, ou seja, não têm uma relação direta e necessária com seus significados. Por exemplo, a palavra “cachorro” é apenas uma sequência de letras, mas para falantes da língua portuguesa, ela representa o animal de quatro patas.

Referente:
O referente é aquilo para o qual o signo aponta ou representa. É o objeto, conceito ou entidade ao qual o signo se refere. Por exemplo, no caso da palavra “cachorro”, o referente é o animal de quatro patas que conhecemos. Em muitos casos, o referente não é diretamente acessível ao observador e pode ser objeto de interpretação e debate.

Significado:
O significado de um signo é a interpretação ou compreensão que lhe é atribuída. É o sentido que o signo carrega para quem o percebe. Por exemplo, quando alguém vê a palavra “cachorro”, ela evoca a imagem mental do animal e todas as associações que essa palavra pode ter para essa pessoa. O significado não é fixo ou universal, mas sim construído social e culturalmente. O mesmo signo pode ter significados diferentes para pessoas diferentes ou em contextos diferentes.

Isso tudo tem um sentido muito profundo. Atenção é quando dedicamos o nosso tempo com todas as nossas forças. Quando colocamos tudo de si em uma tarefa compreendendo como aquilo afeta ao próximo e a toda a comunidade. Essa atitude é a atitude própria do amor. A atenção permite colocarmo-nos no lugar do outro refletindo sobre como seria o melhor trabalho realizado pelo próximo. A atenção é a antessala do amor. E os frutos do amor – e, portanto, da atenção – são o fundamento de qualquer empreendimento bem sucedido. São os frutos descritos nas Escrituras na Epístola de Gálatas: “alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança.

4º O Espírito Santo é Criativo

“A arte é essencial. A razão, sozinha, tal como é expressa pelas ciências, não pode ser uma resposta completa do homem para a realidade, pois ela não consegue expressar tudo o que o homem pode, quer e precisa expressar.”
Papa Bento XVI

Em um de seus podcasts, Lex Fridman questionou Mark Zuckerberg a respeito do sentido da vida. O fundador da Meta respondeu citando o livro de Gênesis onde narra a criação do mundo por Deus. A partir disso ele afirma que o sentido da vida está em criar e comunicar – que são atributos também divinos. A intuição de Zuckerberg não está muito distante do que o Papa São João Paulo II descreve em sua Carta aos Artistas: “Na criação artística, mais do que em qualquer outra atividade, o homem revela-se como imagem de Deus”.

Criar é uma atividade fundamentalmente humana pois compartilha de um atributo divino. Sendo algo tão fundamental, é impossível que empreendimentos de sucesso não considerem o ato criativo como um de seus elementos estruturantes. É por isso que o quarto pilar na criação de um negócio de sucesso é exatamente esse: o Espírito Santo é criativo.

Em primeiro lugar, precisamos desmistificar o ato criativo. Quando São João Paulo II fala sobre a criatividade voltada aos artistas, não devemos pensar que o ato criativo seja algo próprio somente de poetas e pintores. A criatividade é uma ação comum a todos os seres humanos. Todos nós somos criativos em alguma atividade particular, seja ela propriamente artística ou não.

Gosto de citar uma breve questão biográfica para ilustrar essa questão. Eu nunca quis ser empresário. Nunca tive vontade de assumir essa posição como função social. Porém, com o crescimento natural de minhas empresas, se tornou necessário assumir todas as responsabilidades oriundas dessa atividade como empresário. Por isso me tornei empresário, para realizar uma necessidade que estava à minha frente.

Aqui precisamente se encontra o primeiro sinal da criatividade. Criatividade não é fazer o que você quiser e do jeito que você quiser. Criatividade significa exercer sua criatividade na responsabilidade que te cabe. Isso porque só você é capaz de resolver problemas e assumir responsabilidades do seu jeito. E cada uma das suas responsabilidades é uma oportunidade de aplicar uma nova visão sobre problemas e desafios. Somente a atuação individual focada – falamos sobre isso no terceiro pilar – é capaz de criar novas soluções.

Não há como escapar do que você deve fazer. Negar o seu dever é renegar a si mesmo. Atalhos não existem e toda negação às responsabilidades é um desvio da realização individual. Não se entende aqui como responsabilidade estritamente as exigências de uma vida profissional, mas todas as demandas onde estamos instalados e somos seus receptores seja na vida familiar, conjugal, espiritual etc.

A responsabilidade é o jardim onde floresce a personalidade. Um jardim aparentemente árido aos que o negam e ficam ao relento, mas infinitamente fértil aos que o abraçam e cultivam.

Eis que faço nova todas as coisas” diz o livro de Apocalipse. A criação de novidades é um chamado de Deus para nós. Ou seja, como cristãos – e, vá lá, como seres humanos – temos o compromisso de fazer novas todas as coisas. É por isso que um negócio de sucesso precisa dessa responsabilidade criativa. Nossos empreendimentos precisam criar soluções novas. Precisamos sempre nos preocupar com isso: como eu posso fazer diferente?

Isso porque a criatividade é o fundamento das experiências encantadoras. É o fundamento de uma experiência nova com produtos e serviços que podem encantar as pessoas, lembrando-as de que as coisas tem um valor para além da materialidade.

Essa experiência pode marcar a vida de uma pessoa. E isso não é pouca coisa. Por isso, temos a responsabilidade de criar essas experiências novas. Uma empresa precisa ser criativa pois nosso trabalho precisa marcar a vida de cada um que nos encontrar.

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