Depois de passar por estas duas etapas, Dante chega ao Paraíso. Ali, como que em visão beatífica, contempla e fala com os santos, com o próprio Jesus Cristo e com a Virgem Maria. Seu novo guia, São Bernardo, pede pessoalmente à Virgem Maria para que seja dada a Dante a graça de contemplar a Deus.
Ali, no Paraíso, em meio aos santos e a toda a corte celeste, Dante ergue os olhos e contempla aquilo que todo fiel deseja ver: ao próprio Deus. Ao mistério da Trindade – Deus Pai, que tanto nos ama, Seu Filho ressuscitado, e Seu Espírito Santo que tudo move:
“De êxtase assim minha alma toda presa,
Paraíso, de Dante Alighieri, canto XXXIII, versos 97 a 105. Tradução de Xavier Pinheiro.
Atenta, absorta, imóvel se imergia,
E sempre em contemplar mais’stava acesa.
E essa Luz tal efeito produzia,
Que em deixá-la por ver dif’rente aspecto
Consentir impossível me seria:
Que o Bem sa sua aspiração objeto,
Todo está nela, é tudo lá perfeito,
Como fora de lá tudo é defeto”
Inunda-se de êxtase sua alma, como bem expressa o texto. Que ser humano não estaria em êxtase – na alegria mais plena – ao ver, face a face, ao Deus que tanto lhe ama? Que alegria teremos nós, quando chegar nosso momento de verdadeiramente contemplá-Lo? Se o texto literário expressa um pouco desse júbilo, muito maior será quando chegar o momento de vivê-lo.
Uma alegria sem limites que a arte busca expressar em palavras, imagens, esculturas. E a alegria dos apóstolos não terá sido semelhante ao ver o próprio Jesus, aquele que outrora fora crucificado e morto, agora vivo e glorificado?
O Evangelho pascal nos conta que as mulheres foram ao túmulo, esperando encontrar ali um cadáver para embalsamar, mas o que encontram é a realidade da ressurreição (cf. Lc 24, 1-12). Porque Ele ressuscitou verdadeiramente! E apareceu-lhes muitas vezes depois, ressurreto e oferecendo as mãos e o lado, marcados de amor. Também Maria Madalena vive a alegria de encontrar a Jesus Ressuscitado e ser chamada pelo nome (cf. Jo 20,1-9). É a Ressurreição que encontra a vida humana.
Que alegria e que júbilo ao VER o Ressuscitado! Ao ver a Páscoa como uma realidade humana e divina, como uma esperança da nossa vida eterna, que também chegará. Já não há mais morte definitiva se buscamos Aquele que é a fonte da vida nova.
A Páscoa em nossas vidas
A experiência da Páscoa para nós, porém, é um pouco diferente. Não estamos em visão beatífica, como imaginou Dante, nem temos a oportunidade de ver ao Senhor claramente, ressurreto em seu corpo glorioso. O que temos, hoje, é visão espiritual. Seu Corpo e Sangue estão velados na Eucaristia. Sua presença em nossas vidas é real, mas por vezes sutil – é necessário um olhar atento para percebê-la.
E assim, algumas vezes, a alegria da Páscoa se perde em preocupações, afazeres, problemas ordinários. Em meio ao caos do mundo, nosso coração pode estar insensível para perceber o Ressuscitado e acolhê-Lo.
Pode parecer, ainda, que a alegria pascal deve ser a euforia, o ruído, a comemoração permanente. Mas não, a alegria pascal é uma outra, uma alegria mais profunda e silenciosa, que planta raízes em nosso coração, bem no interior, para depois expressar-se externamente.
Viver a alegria pascal não é viver uma alegria mundana. Não se baseia apenas em festas, comemorações e risadas – embora estas, com temperança, nos façam muito bem. A alegria da Páscoa é a certeza inquestionável de que Ele ressuscitou, e que com Ele ressuscitaremos também nós.
Com Jesus Ressuscitado, já não há mais morte definitiva ou choro que seja em vão. N’Ele tudo se transfigura em eternidade, e cada lágrima converte-se em sorriso, como já bem anunciava o Salmo: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (cf. Sl 30, 5).
Viver a alegria pascal genuína
Como, então, viver essa alegria diferente de forma genuína? Afinal, a alegria de viver a Páscoa e nela ter nossa esperança não é comum – é algo propriamente cristão.
O chamado de Deus para viver essa alegria é duplo: de um lado, compreender esse grande mistério e tê-lo muito profundamente em nosso interior, no lugar onde Deus habita (como já dizia Santa Teresa d’Ávila); por outro, deixar que essa alegria genuína e eterna transborde em forma de entrega ao outro, de sacrifício que se oferece gratuitamente assim como o Mestre o fez, confiando na certeza de que a recompensa não está neste mundo.
São Josemaría, em seu livro Sulco, já dizia:
“A alegria de um homem de Deus, de uma mulher de Deus, há de ser transbordante: serena, contagiosa, cativante; em poucas palavras, há de ser tão sobrenatural, tão pegadiça e tão natural, que arraste outros pelos caminhos cristãos”.
Sulco, n. 61
E assim é: dessa entrega ao outro e dessa consciência interior surge um êxtase talvez muito maior do que aquele narrado por Dante. Um contentamento que brota do coração que ama e se sabe amado pelo “Amor que move o sol e as estrelas”.
Uma certeza de que “nada pode nos separar do amor de Deus” (cf. Rm 8, 38) e de Sua presença ressuscitada.
Depois de passar por estas duas etapas, Dante chega ao Paraíso. Ali, como que em visão beatífica, contempla e fala com os santos, com o próprio Jesus Cristo e com a Virgem Maria. Seu novo guia, São Bernardo, pede pessoalmente à Virgem Maria para que seja dada a Dante a graça de contemplar a Deus.
Ali, no Paraíso, em meio aos santos e a toda a corte celeste, Dante ergue os olhos e contempla aquilo que todo fiel deseja ver: ao próprio Deus. Ao mistério da Trindade – Deus Pai, que tanto nos ama, Seu Filho ressuscitado, e Seu Espírito Santo que tudo move:
“De êxtase assim minha alma toda presa,
Paraíso, de Dante Alighieri, canto XXXIII, versos 97 a 105. Tradução de Xavier Pinheiro.
Atenta, absorta, imóvel se imergia,
E sempre em contemplar mais’stava acesa.
E essa Luz tal efeito produzia,
Que em deixá-la por ver dif’rente aspecto
Consentir impossível me seria:
Que o Bem sa sua aspiração objeto,
Todo está nela, é tudo lá perfeito,
Como fora de lá tudo é defeto”
Inunda-se de êxtase sua alma, como bem expressa o texto. Que ser humano não estaria em êxtase – na alegria mais plena – ao ver, face a face, ao Deus que tanto lhe ama? Que alegria teremos nós, quando chegar nosso momento de verdadeiramente contemplá-Lo? Se o texto literário expressa um pouco desse júbilo, muito maior será quando chegar o momento de vivê-lo.
Uma alegria sem limites que a arte busca expressar em palavras, imagens, esculturas. E a alegria dos apóstolos não terá sido semelhante ao ver o próprio Jesus, aquele que outrora fora crucificado e morto, agora vivo e glorificado?
O Evangelho pascal nos conta que as mulheres foram ao túmulo, esperando encontrar ali um cadáver para embalsamar, mas o que encontram é a realidade da ressurreição (cf. Lc 24, 1-12). Porque Ele ressuscitou verdadeiramente! E apareceu-lhes muitas vezes depois, ressurreto e oferecendo as mãos e o lado, marcados de amor. Também Maria Madalena vive a alegria de encontrar a Jesus Ressuscitado e ser chamada pelo nome (cf. Jo 20,1-9). É a Ressurreição que encontra a vida humana.
Que alegria e que júbilo ao VER o Ressuscitado! Ao ver a Páscoa como uma realidade humana e divina, como uma esperança da nossa vida eterna, que também chegará. Já não há mais morte definitiva se buscamos Aquele que é a fonte da vida nova.
A Páscoa em nossas vidas
A experiência da Páscoa para nós, porém, é um pouco diferente. Não estamos em visão beatífica, como imaginou Dante, nem temos a oportunidade de ver ao Senhor claramente, ressurreto em seu corpo glorioso. O que temos, hoje, é visão espiritual. Seu Corpo e Sangue estão velados na Eucaristia. Sua presença em nossas vidas é real, mas por vezes sutil – é necessário um olhar atento para percebê-la.
E assim, algumas vezes, a alegria da Páscoa se perde em preocupações, afazeres, problemas ordinários. Em meio ao caos do mundo, nosso coração pode estar insensível para perceber o Ressuscitado e acolhê-Lo.
Pode parecer, ainda, que a alegria pascal deve ser a euforia, o ruído, a comemoração permanente. Mas não, a alegria pascal é uma outra, uma alegria mais profunda e silenciosa, que planta raízes em nosso coração, bem no interior, para depois expressar-se externamente.
Viver a alegria pascal não é viver uma alegria mundana. Não se baseia apenas em festas, comemorações e risadas – embora estas, com temperança, nos façam muito bem. A alegria da Páscoa é a certeza inquestionável de que Ele ressuscitou, e que com Ele ressuscitaremos também nós.
Com Jesus Ressuscitado, já não há mais morte definitiva ou choro que seja em vão. N’Ele tudo se transfigura em eternidade, e cada lágrima converte-se em sorriso, como já bem anunciava o Salmo: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (cf. Sl 30, 5).
Viver a alegria pascal genuína
Como, então, viver essa alegria diferente de forma genuína? Afinal, a alegria de viver a Páscoa e nela ter nossa esperança não é comum – é algo propriamente cristão.
O chamado de Deus para viver essa alegria é duplo: de um lado, compreender esse grande mistério e tê-lo muito profundamente em nosso interior, no lugar onde Deus habita (como já dizia Santa Teresa d’Ávila); por outro, deixar que essa alegria genuína e eterna transborde em forma de entrega ao outro, de sacrifício que se oferece gratuitamente assim como o Mestre o fez, confiando na certeza de que a recompensa não está neste mundo.
São Josemaría, em seu livro Sulco, já dizia:
“A alegria de um homem de Deus, de uma mulher de Deus, há de ser transbordante: serena, contagiosa, cativante; em poucas palavras, há de ser tão sobrenatural, tão pegadiça e tão natural, que arraste outros pelos caminhos cristãos”.
Sulco, n. 61
E assim é: dessa entrega ao outro e dessa consciência interior surge um êxtase talvez muito maior do que aquele narrado por Dante. Um contentamento que brota do coração que ama e se sabe amado pelo “Amor que move o sol e as estrelas”.
Uma certeza de que “nada pode nos separar do amor de Deus” (cf. Rm 8, 38) e de Sua presença ressuscitada.