Formação

Acerbo Nimis: carta encíclica sobre o ensino da doutrina cristã

Conheça a "Acerbo Nimis", uma importante carta encíclica escrita pelo Papa Pio X sobre o ensino da Doutrina cristã.

Acerbo Nimis: carta encíclica sobre o ensino da doutrina cristã
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Acerbo Nimis: carta encíclica sobre o ensino da doutrina cristã

Conheça a "Acerbo Nimis", uma importante carta encíclica escrita pelo Papa Pio X sobre o ensino da Doutrina cristã.

Data da Publicação: 02/12/2024
Tempo de leitura:
Autor: Papa Pio X
Data da Publicação: 02/12/2024
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Autor: Papa Pio X

Carta Encíclica do Sumo Pontífice Pio X aos veneráveis irmãos patriarcas, primados, arcebispos, bispos e outros ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica sobre o ensino da doutrina cristã.

Veneráveis ​​Irmãos, 
Saúde e bênção apostólica.

I. A ignorância da religião é a principal causa da displicência atual

Em tempos demasiado penosos e difíceis, as misteriosas disposições da providência divina elevaram a nossa pequenez ao múnus de Pastor Supremo do rebanho universal de Cristo. O homem hostil há muito já vagueia por este rebanho, insidiando-o com argutíssima astúcia, a ponto de agora, mais do que nunca, parecer verificar-se aquilo que o Apóstolo previu aos líderes da Igreja de Éfeso: “Eu sei que (…) se introduzirão entre vós lobos arrebatadores, que não pouparão o rebanho” (Atos 20, 29). Aqueles que ainda têm zelo pela glória de Deus estão investigando as razões e causas desta decadência religiosa. Uns dizem uma coisa, enquanto outros dizem outra, cada um segundo o seu parecer, propondo diversos caminhos para proteger e restabelecer o reino de Deus aqui na terra. A Nós, Veneráveis ​​Irmãos, sem querer excluir as demais causas, parece-nos muitíssimo oportuno concordar com aqueles que afirmam que a principal raiz da tibieza e como que da displicência das almas de hoje, assim como os males gravíssimos que daí derivam, encontra-se na ignorância das coisas divinas. Isto corresponde plenamente àquilo que o próprio Deus afirmou pelo profeta Oséias: “Não há (…) conhecimento de Deus nesta terra. A maldição, a mentira, o homicídio, o furto e o adultério inundaram tudo e têm derramado sangue sobre sangue. Por isso a terra cobrir-se-á de luto, e tudo o que nela habita cairá em desfalecimento” (Os 4,1 ss.).

II. A ignorância da religião é tão comum em nossos tempos

E de fato, entre os cristãos de nossos dias há muitos que vivem em extrema ignorância das coisas necessárias para a salvação eterna – queixa esta muito comum, mas que, infelizmente, não é injusta. E quando dizemos entre os cristãos, não nos referimos apenas às massas ou às pessoas de menos recursos, que com frequência encontram alguma escusa à sua ignorância por se encontrarem sob o poder de chefes rudes, dificilmente conseguindo dedicar tempo a si mesmos e a seus interesses. Mas referimo-nos também e sobretudo àqueles que, embora não careçam de aptidão e cultura, vindo inclusive a exceler em erudição das coisas profanas, vivem de modo totalmente temerário e até imprudente no que diz respeito à religião. É difícil expressar em palavras quão profunda é a escuridão da qual com frequência estas pessoas estão rodeadas; e o que é mais doloroso, é que elas tranquilamente ali permanecem! Quase nenhum pensamento nelas surge sobre Deus, supremo autor e moderador de todas as coisas, ou sobre a sabedoria da fé cristã. Consequentemente, coisa alguma sabem sobre a Encarnação do Verbo de Deus e a perfeita restauração do gênero humano por ele operada; nada sabem sobre a Graça, que é o mais importante auxílio para a obtenção dos bens eternos; nada sabem sobre o Santo Sacrifício ou os Sacramentos, pelos quais a graça é adquirida e preservada. Quanto ao pecado, não se dão conta alguma da malícia e da torpeza que encerram; e por conseguinte, não se preocupam de forma alguma em evitá-lo ou deixar de cometê-lo. E assim chegam ao seu último dia, no qual o sacerdote, para não abrir mão de toda esperança de salvação, vê-se forçado a dar um resumido ensinamento sobre a religião naqueles últimos instantes de vida, que deveriam ser dedicados ao crescimento no amor para com Deus. Isso quando, como acontece com frequência, o moribundo não padeça de uma culpável ignorância a ponto de considerar a ação do sacerdote como inútil e assim, praticamente sem reconciliar-se com Deus, crê poder adentrar de ânimo tranquilo a tremenda via da eternidade. É por isto que, com razão, escreveu o nosso predecessor Bento XIV: “Afirmamos que, em sua maior parte, aqueles que são condenados aos suplícios eternos, padecem esta calamidade por ignorância dos mistérios da fé, que necessariamente devem conhecer e crer, para serem contados entre os eleitos” (Instit. XXVII, 18).

III. A ignorância da religião é responsável pela corrupção moral de nossos tempos

Dito isto, Veneráveis ​​Irmãos, como admirar-se ao vermos hoje no mundo, e não digamos entre os bárbaros, mas entre as nações cristãs, tamanha corrupção moral e depravação dos costumes crescendo cada vez mais a cada dia? O Apóstolo Paulo advertiu, escrevendo aos Efésios: “E nem sequer se mencione entre vós a fornicação, ou qualquer impureza, ou avareza, como convém a santos; nem palavras torpes, nem tolas” (Ef 5,3 ss.). Mas ele também pôs a sabedoria das coisas divinas como fundamento daquela santidade e pudor que refreiam as paixões: “Cuidai, pois, irmãos, em andar com prudência; não como insensatos, mas sensatos (…) Portanto não sejais imprudentes, mas considerai qual é a vontade de Deus” (Ef 5,15 ss.).

E com plena razão. De fato, a vontade do homem retém com muita dificuldade um pouco daquele amor pelo honesto e pelo reto, infundido pelo próprio Deus Criador, e que fortemente a atraía ao bem, não aparente, mas real. Depravada pela corrupção do pecado original, e quase como que esquecida do Deus que a criou, ela volta toda o seu elã ao amor da vaidade e à busca do engano. Portanto, esta vontade errante e cega por suas paixões perversas necessita um guia que lhe mostre o caminho para retomar as sendas da justiça que infelizmente abandonara. E este guia, que não deve ser buscado em outra parte, mas que nos é providenciado pela natureza, é nosso próprio intelecto. Se lhe falta a luz companheira – a saber, o conhecimento das coisas divinas – teremos aquela situação onde um cego guia outro cego, caindo ambos no buraco. O santo rei Davi, ao louvar a Deus por haver infundido a luz da verdade na mente dos homens, exclamou: “Gravada está, Senhor, sobre nós a luz do teu rosto” (Sl 4,7). E o efeito da comunicação desta luz, ele no-lo indica ao dizer: “Infundiste alegria no meu coração”. Alegria esta que, ao dilatar o nosso coração, nos faz correr no caminho dos mandamentos divinos.

IV. O conhecimento das coisas religiosas não é apenas luz para o intelecto, mas também guia e estímulo da vontade

E que este é o caso, fica claro se refletirmos por um momento. A sabedoria cristã nos manifesta Deus e as suas infinitas perfeições muito mais claramente do que quando perscrutadas pelas faculdades naturais. Mais ainda: ela nos ordena a reverenciar o sumo Deus por meio da , que é função própria do intelecto; por meio da esperança, que é função própria da vontade; e por meio da caridade, que é função própria do coração. E assim, o homem todo se submete ao seu supremo Criador e Moderador. Da mesma forma, a doutrina de Cristo é a única que nos mostra a verdadeira e altíssima dignidade do homem, a saber, que ele é filho do Pai celestial que está nos céus, a cuja imagem foi feito e destinado a viver com ele em eterna bem-aventurança. E em virtude desta mesma dignidade e do conhecimento dela advindo, Cristo nos mostrou que os homens devem se amar como irmãos, e que devem levar uma vida como convém a filhos da luz, “não em glutonarias e na embriaguez, não em desonestidades e dissoluções, não em contendas e emulações” (Rm 13,13). Igualmente nos ordena a colocar toda a nossa preocupação em Deus, pois ele tem cuidado de nós; ordena-nos ajudar aos pobres, fazer o bem àqueles que nos odeiam, e a antepor os bens eternos e espirituais aos bens temporais e passageiros. E sem querer estendermo-nos demais, não é por acaso verdade que o ensinamento de Cristo urge e prescreve ao homem soberbo que busque a humildade de espírito, origem da verdadeira glória? “Todo aquele (…) que se humilhar (…) será o maior no reino dos céus” (Mt 18,4). Através deste mesmo ensinamento aprendemos a prudência de espírito, com a qual devemos nos precaver da prudência da carne; aprendemos a justiça, pela qual se dá a cada um o que lhe é de direito; aprendemos a fortaleza, pela qual devemos estar sempre preparados a tudo sofrer de ânimo erguido por Deus e pela bem-aventurança eterna; e aprendemos finalmente a temperança, pela qual podemos amar a pobreza por causa do reino de Deus e até nos gloriarmos na cruz, desprezando a sua ignomínia. Em suma, a sabedoria cristã não apenas confere luz ao nosso intelecto em sua busca pela verdade, mas também concede ardor para a vontade, pela qual nos elevamos a Deus e nos unimos a Ele pela prática das virtudes.

Com isto estamos longe de dizer que a perversão da alma e a corrupção moral sejam incompatíveis com o conhecimento da religião. Quem dera que os fatos não provassem tanto o contrário! Contudo, sustentamos que onde o intelecto se encontra circundado pelas trevas da crassa ignorância, é impossível haver uma reta vontade ou bons costumes. Quem caminha com os olhos abertos pode, certamente, acabar se desviando do caminho reto e seguro; mas quem sofre com a cegueira, corre certamente um perigo muito maior. Além disso, mesmo em face da corrupção moral, sempre há esperança de emenda quando a luz da fé não se encontra completamente extinta; enquanto que, se à corrupção moral se acrescenta a falta de fé em virtude da ignorância, dificilmente haverá remédio e o caminho para a ruína fica aberto.

V. Quem é responsável pela educação religiosa?

Daí que da ignorância da religião derivem tantos e tão graves danos. E por outro lado, quão necessária e proveitosa é a instrução religiosa! Pois é em vão esperar que o homem cristão desempenhe os deveres daquilo que ignora.

Resta agora saber a quem compete eliminar tal ignorância das mentes, e quem tem o dever de imbuir as almas com uma ciência tão necessária. E aqui, Veneráveis ​​Irmãos, não há lugar para dúvidas; pois este múnus importantíssimo recai sobre todos aqueles que são pastores das almas. Certamente são eles que, pelo mandamento de Cristo, devem conhecer e apascentar as ovelhas que lhes foram confiadas. Pastorear significa, em primeiro lugar, ensinar: “E vos darei”, como Deus nos prometeu pelo profeta Jeremias, “pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com a ciência e com a doutrina” (Jr 3,15). Por isso o Apóstolo Paulo afirmava: “Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar o Evangelho” (1 Cor 1,17), indicando com isto que o primeiro dever daqueles que são colocados para governar de alguma forma a Igreja é instruir os fiéis na doutrina sagrada.

VI. Elogio ao ensino do catecismo

Parece-nos desnecessário fazer aqui o elogio desta instrução e de quanto mérito ela goza aos olhos de Deus. Certamente a benevolência com a qual aliviamos a angústia dos pobres é muito louvável aos olhos de Deus. Mas quem negará o mérito muitíssimo superior do esforço e do trabalho que dedicamos não às necessidades corporais transitórias, mas em ensinar e admoestar as almas nos bens espirituais? Com efeito, nada é mais querido, nada pode haver de mais grato para Jesus Cristo, o Salvador das almas, do que aquilo que diz Isaías a seu respeito: “Enviou-me para evangelizar os pobres” (Lc 4,18).

VII. Todo sacerdote tem o dever de ensinar os fiéis

Aqui convém, pois, Veneráveis Irmãos, enfatizar e insistir neste ponto: nenhum outro dever é mais importante do que este para quem é sacerdote, nenhum outro vínculo obriga tão estreitamente. Quem há de negar que o sacerdote deve unir o conhecimento à santidade de vida? “Os lábios dos sacerdotes serão os guardas da ciência” (Ml 2,7). E realmente a Igreja exige-o com maior severidade daqueles que estão sendo formados para o ministério sacerdotal. E por que o faz? Porque o povo cristão espera deles o conhecimento da lei divina, e Deus os destina para administrá-lo: “E da sua boca se há de aprender a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos Exércitos” (idem). Por isso o Bispo, na sagrada ordenação, fala aos candidatos ao sacerdócio: «Que a vossa doutrina espiritual seja remédio para o povo de Deus: sede próvidos cooperadores da nossa ordem; para que, meditando dia e noite a sua lei, creiam no que leem e ensinem o que creem” (Pontif. Rom.).

VIII. Uma obrigação muito especial e quase particular dos párocos

Se isto se aplica a qualquer sacerdote, o que devemos pensar daqueles que, tendo recebido o título e a autoridade de párocos, em virtude da sua posição e como que por um contrato, têm o múnus de governar as almas? Em certa medida eles devem ser contados entre os pastores e mestres que Cristo designou, para que os fiéis não sejam como “meninos flutuantes e levados ao sabor de todo vento de doutrina, pela malignidade dos homens (…); mas, praticando a verdade na caridade, cresçam em todas as coisas naquele que é a cabeça, o Cristo” (Ef 4,14-15).

Por esta razão o sacrossanto Concílio de Trento (Sess. V, cap. 2 de ref.; Sess. XXII, cap. 8; Sess. XXIV, cap. 4 e 7 de ref.), ao tratar dos pastores das almas, declara que o seu primeiro e maior dever é a instrução do povo cristão. Em seguida lhes ordena que pelo menos aos domingos e nos dias festivos mais solenes falem ao povo sobre as verdades da religião, e que no tempo sagrado do Advento e da Quaresma façam-no diariamente, ou pelo menos três vezes por semana. E não só isto: acrescenta ainda que os párocos são obrigados, pelo menos aos domingos e dias de festa, a instruir as crianças, pessoalmente ou através de outros, nas verdades da fé, formando-as na obediência a Deus e aos seus pais. E quando os sacramentos tiverem que ser administrados, prescreve que instrua aqueles que irão recebê-los acerca de sua eficácia com palavras acessíveis e na língua vernácula.

IX. A explicação do Evangelho e o catecismo são duas obrigações distintas do pároco

Nosso predecessor, Bento XIV, na sua Constituição Etsi minime, assim resumiu e de modo peculiar precisou estas orientações do sacrossanto Concílio: “Duas obrigações principais são impostas pelo Concílio de Trento aos pastores das almas: a primeira, que nos dias festivos preguem ao povo sobre as verdades divinas; e a segunda, que instrua as crianças e os incultos na lei de Deus e nos rudimentos da fé. E com razão distingue aquele tão sábio Pontífice este dúplice múnus, isto é, o de pregar, comumente chamado de explicação do Evangelho, e a transmissão da doutrina cristã. Talvez não faltem aqueles que, desejosos de diminuir seus trabalhos, se convençam de que a homilia possa substituir a instrução catequética. Mas se refletimos por um momento, fica claro como isto é errado. Porque a pregação sobre o santo Evangelho é dirigida àqueles que já devem ter sido imbuídos dos rudimentos da fé. É o pão, por assim dizer, que se parte para quem já é adulto. A instrução catequética, pelo contrário, é aquele leite que o Apóstolo Pedro queria que os fiéis desejassem com simplicidade, como crianças recém-nascidas. 

Na verdade, esta é a tarefa do catequista: abordar uma verdade em matéria de fé ou de moral cristã, lançando luz sobre todas as suas partes. E como o objetivo do ensinamento deve ser sempre a conversão da vida, convém que o catequista faça uma comparação entre aquilo que Deus prescreve que façamos e aquilo que os homens realmente fazem. E depois, fazendo uso de exemplos apropriados, sabiamente tirados seja das sagradas Escrituras, seja da história da Igreja, ou ainda da vida dos santos, persuada os seus ouvintes, mostrando-lhes a dedo, por assim dizer, como regrarem a sua própria conduta. E finalmente exorte-os a se afastarem e detestarem os vícios e a praticarem as virtudes.  

X. Nobreza do ofício de catequista

Sabemos igualmente que o múnus da transmissão da doutrina cristã não é dos mais invejáveis, que é tido em pouco apreço por muitos e que talvez não atraia muito a estima popular. Mas na nossa opinião, esse é um juízo daqueles que se deixam guiar mais pela leviandade do que pela verdade. Certamente não negamos, que são dignos de louvor aqueles oradores sacros que se dedicam com sincero zelo pela glória de Deus, tanto na defesa e custódia da fé quanto no elogio das obras dos Santos. Mas o trabalho destas pessoas pressupõe um outro, a saber, o dos catequistas; e onde falta este, faltam os alicerces, e em vão trabalham aqueles que constroem a casa. Com muita frequência os discursos elaboradíssimos que suscitam os aplausos de assembleias lotadas conseguem apenas titilar os ouvidos, mas não tocam em absoluto as almas. Pelo contrário, a instrução catequética, embora humilde e simples, é aquela palavra da qual o próprio Deus dá testemunho em Isaías: “E, assim como descem do céu a chuva e a neve, e não voltam mais para lá, mas embebem a terra, fecundando-a e fazendo-a germinar, a fim de que dê semente ao que semeia e pão ao que come, assim será a minha palavra que sair da minha boca; não tornará para mim vazia, mas fará tudo o que quero e produzirá os efeitos para os quais a enviei” (Is 55,10-11). De forma semelhante pensamos que o mesmo deva ser dito de todos aqueles sacerdotes que, a fim de ilustrarem as verdades da religião, empenham-se em escreverem livros; eles certamente merecem os nossos melhores elogios. Mas quantos são aqueles que estudam estes livros e deles extraem um fruto proporcional aos esforços e votos de seus autores?  Enquanto que a transmissão da doutrina cristã, quando bem feita, nunca deixa de beneficiar aqueles que a ouvem.

XI. A ignorância universal dos assuntos religiosos é novamente deplorada

Com efeito, a fim de inflamar o zelo dos ministros de Deus vale a pena admoestar novamente: como é enorme – e cresce sempre mais – nos dias de hoje o número daqueles que tudo ignoram acerca da religião, ou que conhecem acerca de Deus e da fé cristã apenas aquilo que lhes permite viver como idólatras em meio à luz da verdade católica. Quantos são aqueles, infelizmente – e não nos referimos a crianças, mas a adultos inclusive avançados em anos – que ignoram os principais mistérios da fé; e que ao ouvirem o nome de Cristo, respondem: “Quem é (…), para eu crer nele?” (Jo 9,36). Daí sequer considerarem um vício o ato de incitar e nutrir ódio pelos outros, o estabelecimento de contratos injustíssimos, a administração de negócios desonestos, o apropriar-se do bem alheio através da cobrança de pesados juros e outras ações torpes semelhantes. Ignoram assim a lei de Cristo, que não apenas condena as ações vis, mas também os pensamentos e desejos maus deliberados. E quando acontece que, por alguma razão, se abstenham dos prazeres sensuais, alimentam os mais impuros pensamentos, sem qualquer escrúpulo, multiplicando os seus pecados mais do que os cabelos de sua cabeça. Novamente nos parece por bem repetir: estas coisas não acontecem apenas no campo ou entre as populações mais carentes. Na verdade, e talvez mais frequentemente, elas se dão entre pessoas das classes mais altas e inclusive entre aqueles cuja ciência as infla, e que apoiadas numa vã erudição, julgam poder zombar da religião e “blasfemam de todas as coisas que ignoram” (Judas 10).

XII. A fé infusa no batismo precisa de desenvolvimento

Ora, se é em vão que se espera pela colheita numa terra onde a semente não foi plantada, como podemos esperar uma geração com bons costumes se não tiverem sido instruídas na doutrina cristã no tempo oportuno? Logo, se a fé definha em nossos tempos a ponto de se encontrar quase morta em muitos, concluímos que ou o múnus da sagrada catequese tem sido exercido com muita negligência, ou tem sido omitido por completo.  Também não é válido, a título de desculpa, dizer que a fé é um dom gratuito infundido em todos no santo Batismo. Sim, certamente a todos os que fomos batizados em Cristo, foi-nos dado o dom da fé. Mas esta semente diviníssima não “cresce (…) e cria grandes ramos” (Mc 4,32) se abandonada a si mesma como que à ação de uma virtude inata. Há no homem, desde o seu nascimento, uma capacidade de compreensão; mas esta também precisa da palavra da mãe, como para despertá-la e pô-la em ação.  Com o cristão não é diferente: ao renascer pela água e pelo Espírito Santo, carrega dentro de si a fé que lhe foi dada; mas precisa do ensinamento da Igreja para poder alimentá-la, fazê-la crescer e produzir fruto. A este respeito o Apóstolo escreveu: “A fé vem pelo ouvido, e o ouvido pela palavra de Cristo” (Rm 10,17); e como para indicar a necessidade da instrução, acrescenta: “E como ouvirão, sem haver quem lhes pregue?” (Idem, 14). 

XIII. Determinação e prescrição do que cada pároco deve fazer para o ensino dos fiéis em matéria religiosa

Pelo que foi dito acima fica claro o quão importante é o ensino religioso para as pessoas. Devemos tomar o máximo cuidado para que o ensino da doutrina sagrada permaneça sempre em vigor ou, onde houver sido negligenciado, seja restaurado. Pois, conforme as palavras de nosso predecessor, o papa Bento XIV, trata-se da instituição mais útil entre todas para a glória de Deus e a salvação das almas (Const. Etsi minime 13).

Desejando, portanto, Veneráveis ​​Irmãos, cumprir este gravíssimo múnus de nosso supremo apostolado, e garantir uma unidade de práticas nesta tão importante questão, com Nossa autoridade suprema estabelecemos e estritamente ordenamos que seja observado e cumprido em todas as dioceses as seguintes disposições: 

1) Que todos os párocos, e todos aqueles que geralmente cuidam das almas, em todos os domingos e dias festivos do ano, sem exceção, pelo espaço de uma hora, ensinem aos meninos e às meninas aquilo que todos devem crer e agir para obterem a salvação a partir das páginas do Catecismo.

2) Os mesmos, em determinadas épocas do ano, preparem devidamente os meninos e as meninas que devem receber os sacramentos da Penitência e da Confirmação com uma instrução de vários dias.

3) Da mesma forma e com cuidado todo especial, em todos os dias da semana da Quaresma e, se necessário, nos outros dias seguintes à solenidade da Páscoa, preparem, com instruções e reflexões adequadas, os e as jovens para receberem santamente a primeira Comunhão.

4) Em todas as paróquias fica canonicamente instituída a associação denominada “Congregação para a Doutrina Cristã”. Nela os párocos, especialmente onde há escassez de sacerdotes, terão auxiliares leigos para a instrução catequética, que se dedicarão a este magistério tanto por zelo pela glória de Deus quanto para lucrarem as sagradas indulgências copiosamente concedidas pelos Romanos Pontífices.

5) Nas grandes cidades, especialmente naquelas onde existem universidades, escolas secundárias e ginásios, sejam criados cursos de religião, destinados a instruir nas verdades da fé e da vida cristã aqueles jovens que frequentam escolas públicas onde faltem quaisquer referências de natureza religiosa.

6) Considerando então que, particularmente nestes tempos intempestivos, os adultos necessitem tanto de instrução religiosa como as crianças, todos os párocos e aqueles que têm cura das almas, além da habitual homilia sobre o Evangelho, que deve haver na missa paroquial de todos os dias festivos, ofereçam aos fiéis uma formação catequética com palavras acessíveis e adaptadas à inteligência dos ouvintes em horário que for mais apropriado à frequência do povo (excetuado aquele no qual as crianças são instruídas). Nesta deverão fazer uso do Catecismo Tridentino, procedendo em tal ordem que, no espaço de quatro ou cinco anos, tratem de toda a matéria relativa ao Símbolo, aos Sacramentos, ao Decálogo, à Oração e aos preceitos da Igreja.

XIV. Compete aos Bispos vigiarem atentamente a execução das orientações

Isto tudo, Veneráveis ​​Irmãos, Nós prescrevemos e ordenamos com autoridade apostólica. Compete a vós agora garantir que, em cada uma de vossas dioceses, seja tudo isto pronta e integralmente implementado. Deveis, além do mais, com vossa autoridade vigiar e cuidar, que nada do que ordenamos seja esquecido, ou – pois equivaleria ao mesmo – implementado de forma remissa e negligente.  Para evitar isto, convém que assiduamente recomendeis e insteis os párocos a não ministrarem a instrução catequética despreparados, mas que o façam com diligência; que não falem com meras palavras de sabedoria humana, mas “com simplicidade de coração e na sinceridade de Deus” (2Cor 1,12), seguindo o exemplo de Cristo, que revelava “coisas que têm estado escondidas desde a criação do mundo” (Mt 13,35), falando tudo “ao povo em parábolas e não lhes falava a não ser em parábolas (Idem, 34). Sabemos que o mesmo se aplica aos Apóstolos, instruídos pelo Senhor; deles dizia Gregório Magno: “Tomavam muitíssimo cuidado em pregar às pessoas simples de maneira clara e acessível, e não de forma erudita e difícil” (Morais, I. XVII, cap. 26). Em matéria religiosa, nestes nossos tempos difíceis, devemos considerar a maior parte das pessoas como não instruídas.

XV. O ensinamento do catecismo exige uma grande preparação

Finalmente, não gostaríamos que ninguém viesse a concluir que este zelo pela simplicidade ao tratarmos desta matéria não requeira trabalho ou meditação. De fato, ela exige ainda mais do que qualquer outro assunto. É muito mais fácil encontrar um pregador capaz de fazer um discurso eloquente e esplêndido, do que um catequista que dê uma instrução louvável em todos os aspectos. Portanto, por mais facilidade de pensar e de falar que alguém tenha de nascença, tenha sempre em mente que nunca poderá dar a doutrina cristã com frutos espirituais para as crianças e os adultos sem se preparar e se dedicar a isto com muita reflexão. Enganam-se aqueles que, considerando a falta de instrução e as limitações do povo, acreditam poder ser negligentes nesta matéria. Pelo contrário, quanto menos instruído forem os ouvintes, maior deve ser o zelo e a diligência empregados, a fim de tornar acessíveis as sublimíssimas verdades, tão distantes do raciocínio ordinário, à compreensão menos aguçada dos inexpertos, que juntamente com os sábios, delas precisam para serem salvos.

XVI. Exortação aos Bispos

Assim, pois, Veneráveis ​​Irmãos, seja-nos permitido, no final desta nossa Carta, dirigir-vos as palavras que Moisés disse: “Quem é pelo Senhor junte-se a mim” (Ex. 32, 26). Rogamos e pedimos que reflitais sobre quanta ruína advém de tal ignorância das coisas divinas. Certamente realizastes muitas obras úteis e dignas de todo o louvor nas vossas dioceses para o bem do rebanho que lhes foi confiado. Porém, acima de tudo, cuidai e instai com tanto empenho, com tanto zelo, com tanta aplicação quanto possível, que o conhecimento da doutrina cristã penetre e imbua profundamente as almas de todos. Usando as palavras do Apóstolo Pedro: “Cada um, segundo o dom que recebeu, comunique-o aos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. (1Pd 4,10). 

E que pela intercessão da beatíssima Virgem Imaculada, todos os vossos esforços e diligências sejam fecundados com a bênção apostólica que, como prova de nosso afeto e penhor das graças celestes, cheios de amor outorgamos a vós, ao clero e a todo o povo a vós confiado. 

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 15 de abril de 1905,
segundo ano do Nosso Pontificado.

PIO PP. X

Papa Pio X

Tradução do Pe. Gabriel Augusto Vecchi

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Veneráveis ​​Irmãos, 
Saúde e bênção apostólica.

I. A ignorância da religião é a principal causa da displicência atual

Em tempos demasiado penosos e difíceis, as misteriosas disposições da providência divina elevaram a nossa pequenez ao múnus de Pastor Supremo do rebanho universal de Cristo. O homem hostil há muito já vagueia por este rebanho, insidiando-o com argutíssima astúcia, a ponto de agora, mais do que nunca, parecer verificar-se aquilo que o Apóstolo previu aos líderes da Igreja de Éfeso: “Eu sei que (…) se introduzirão entre vós lobos arrebatadores, que não pouparão o rebanho” (Atos 20, 29). Aqueles que ainda têm zelo pela glória de Deus estão investigando as razões e causas desta decadência religiosa. Uns dizem uma coisa, enquanto outros dizem outra, cada um segundo o seu parecer, propondo diversos caminhos para proteger e restabelecer o reino de Deus aqui na terra. A Nós, Veneráveis ​​Irmãos, sem querer excluir as demais causas, parece-nos muitíssimo oportuno concordar com aqueles que afirmam que a principal raiz da tibieza e como que da displicência das almas de hoje, assim como os males gravíssimos que daí derivam, encontra-se na ignorância das coisas divinas. Isto corresponde plenamente àquilo que o próprio Deus afirmou pelo profeta Oséias: “Não há (…) conhecimento de Deus nesta terra. A maldição, a mentira, o homicídio, o furto e o adultério inundaram tudo e têm derramado sangue sobre sangue. Por isso a terra cobrir-se-á de luto, e tudo o que nela habita cairá em desfalecimento” (Os 4,1 ss.).

II. A ignorância da religião é tão comum em nossos tempos

E de fato, entre os cristãos de nossos dias há muitos que vivem em extrema ignorância das coisas necessárias para a salvação eterna – queixa esta muito comum, mas que, infelizmente, não é injusta. E quando dizemos entre os cristãos, não nos referimos apenas às massas ou às pessoas de menos recursos, que com frequência encontram alguma escusa à sua ignorância por se encontrarem sob o poder de chefes rudes, dificilmente conseguindo dedicar tempo a si mesmos e a seus interesses. Mas referimo-nos também e sobretudo àqueles que, embora não careçam de aptidão e cultura, vindo inclusive a exceler em erudição das coisas profanas, vivem de modo totalmente temerário e até imprudente no que diz respeito à religião. É difícil expressar em palavras quão profunda é a escuridão da qual com frequência estas pessoas estão rodeadas; e o que é mais doloroso, é que elas tranquilamente ali permanecem! Quase nenhum pensamento nelas surge sobre Deus, supremo autor e moderador de todas as coisas, ou sobre a sabedoria da fé cristã. Consequentemente, coisa alguma sabem sobre a Encarnação do Verbo de Deus e a perfeita restauração do gênero humano por ele operada; nada sabem sobre a Graça, que é o mais importante auxílio para a obtenção dos bens eternos; nada sabem sobre o Santo Sacrifício ou os Sacramentos, pelos quais a graça é adquirida e preservada. Quanto ao pecado, não se dão conta alguma da malícia e da torpeza que encerram; e por conseguinte, não se preocupam de forma alguma em evitá-lo ou deixar de cometê-lo. E assim chegam ao seu último dia, no qual o sacerdote, para não abrir mão de toda esperança de salvação, vê-se forçado a dar um resumido ensinamento sobre a religião naqueles últimos instantes de vida, que deveriam ser dedicados ao crescimento no amor para com Deus. Isso quando, como acontece com frequência, o moribundo não padeça de uma culpável ignorância a ponto de considerar a ação do sacerdote como inútil e assim, praticamente sem reconciliar-se com Deus, crê poder adentrar de ânimo tranquilo a tremenda via da eternidade. É por isto que, com razão, escreveu o nosso predecessor Bento XIV: “Afirmamos que, em sua maior parte, aqueles que são condenados aos suplícios eternos, padecem esta calamidade por ignorância dos mistérios da fé, que necessariamente devem conhecer e crer, para serem contados entre os eleitos” (Instit. XXVII, 18).

III. A ignorância da religião é responsável pela corrupção moral de nossos tempos

Dito isto, Veneráveis ​​Irmãos, como admirar-se ao vermos hoje no mundo, e não digamos entre os bárbaros, mas entre as nações cristãs, tamanha corrupção moral e depravação dos costumes crescendo cada vez mais a cada dia? O Apóstolo Paulo advertiu, escrevendo aos Efésios: “E nem sequer se mencione entre vós a fornicação, ou qualquer impureza, ou avareza, como convém a santos; nem palavras torpes, nem tolas” (Ef 5,3 ss.). Mas ele também pôs a sabedoria das coisas divinas como fundamento daquela santidade e pudor que refreiam as paixões: “Cuidai, pois, irmãos, em andar com prudência; não como insensatos, mas sensatos (…) Portanto não sejais imprudentes, mas considerai qual é a vontade de Deus” (Ef 5,15 ss.).

E com plena razão. De fato, a vontade do homem retém com muita dificuldade um pouco daquele amor pelo honesto e pelo reto, infundido pelo próprio Deus Criador, e que fortemente a atraía ao bem, não aparente, mas real. Depravada pela corrupção do pecado original, e quase como que esquecida do Deus que a criou, ela volta toda o seu elã ao amor da vaidade e à busca do engano. Portanto, esta vontade errante e cega por suas paixões perversas necessita um guia que lhe mostre o caminho para retomar as sendas da justiça que infelizmente abandonara. E este guia, que não deve ser buscado em outra parte, mas que nos é providenciado pela natureza, é nosso próprio intelecto. Se lhe falta a luz companheira – a saber, o conhecimento das coisas divinas – teremos aquela situação onde um cego guia outro cego, caindo ambos no buraco. O santo rei Davi, ao louvar a Deus por haver infundido a luz da verdade na mente dos homens, exclamou: “Gravada está, Senhor, sobre nós a luz do teu rosto” (Sl 4,7). E o efeito da comunicação desta luz, ele no-lo indica ao dizer: “Infundiste alegria no meu coração”. Alegria esta que, ao dilatar o nosso coração, nos faz correr no caminho dos mandamentos divinos.

IV. O conhecimento das coisas religiosas não é apenas luz para o intelecto, mas também guia e estímulo da vontade

E que este é o caso, fica claro se refletirmos por um momento. A sabedoria cristã nos manifesta Deus e as suas infinitas perfeições muito mais claramente do que quando perscrutadas pelas faculdades naturais. Mais ainda: ela nos ordena a reverenciar o sumo Deus por meio da , que é função própria do intelecto; por meio da esperança, que é função própria da vontade; e por meio da caridade, que é função própria do coração. E assim, o homem todo se submete ao seu supremo Criador e Moderador. Da mesma forma, a doutrina de Cristo é a única que nos mostra a verdadeira e altíssima dignidade do homem, a saber, que ele é filho do Pai celestial que está nos céus, a cuja imagem foi feito e destinado a viver com ele em eterna bem-aventurança. E em virtude desta mesma dignidade e do conhecimento dela advindo, Cristo nos mostrou que os homens devem se amar como irmãos, e que devem levar uma vida como convém a filhos da luz, “não em glutonarias e na embriaguez, não em desonestidades e dissoluções, não em contendas e emulações” (Rm 13,13). Igualmente nos ordena a colocar toda a nossa preocupação em Deus, pois ele tem cuidado de nós; ordena-nos ajudar aos pobres, fazer o bem àqueles que nos odeiam, e a antepor os bens eternos e espirituais aos bens temporais e passageiros. E sem querer estendermo-nos demais, não é por acaso verdade que o ensinamento de Cristo urge e prescreve ao homem soberbo que busque a humildade de espírito, origem da verdadeira glória? “Todo aquele (…) que se humilhar (…) será o maior no reino dos céus” (Mt 18,4). Através deste mesmo ensinamento aprendemos a prudência de espírito, com a qual devemos nos precaver da prudência da carne; aprendemos a justiça, pela qual se dá a cada um o que lhe é de direito; aprendemos a fortaleza, pela qual devemos estar sempre preparados a tudo sofrer de ânimo erguido por Deus e pela bem-aventurança eterna; e aprendemos finalmente a temperança, pela qual podemos amar a pobreza por causa do reino de Deus e até nos gloriarmos na cruz, desprezando a sua ignomínia. Em suma, a sabedoria cristã não apenas confere luz ao nosso intelecto em sua busca pela verdade, mas também concede ardor para a vontade, pela qual nos elevamos a Deus e nos unimos a Ele pela prática das virtudes.

Com isto estamos longe de dizer que a perversão da alma e a corrupção moral sejam incompatíveis com o conhecimento da religião. Quem dera que os fatos não provassem tanto o contrário! Contudo, sustentamos que onde o intelecto se encontra circundado pelas trevas da crassa ignorância, é impossível haver uma reta vontade ou bons costumes. Quem caminha com os olhos abertos pode, certamente, acabar se desviando do caminho reto e seguro; mas quem sofre com a cegueira, corre certamente um perigo muito maior. Além disso, mesmo em face da corrupção moral, sempre há esperança de emenda quando a luz da fé não se encontra completamente extinta; enquanto que, se à corrupção moral se acrescenta a falta de fé em virtude da ignorância, dificilmente haverá remédio e o caminho para a ruína fica aberto.

V. Quem é responsável pela educação religiosa?

Daí que da ignorância da religião derivem tantos e tão graves danos. E por outro lado, quão necessária e proveitosa é a instrução religiosa! Pois é em vão esperar que o homem cristão desempenhe os deveres daquilo que ignora.

Resta agora saber a quem compete eliminar tal ignorância das mentes, e quem tem o dever de imbuir as almas com uma ciência tão necessária. E aqui, Veneráveis ​​Irmãos, não há lugar para dúvidas; pois este múnus importantíssimo recai sobre todos aqueles que são pastores das almas. Certamente são eles que, pelo mandamento de Cristo, devem conhecer e apascentar as ovelhas que lhes foram confiadas. Pastorear significa, em primeiro lugar, ensinar: “E vos darei”, como Deus nos prometeu pelo profeta Jeremias, “pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com a ciência e com a doutrina” (Jr 3,15). Por isso o Apóstolo Paulo afirmava: “Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar o Evangelho” (1 Cor 1,17), indicando com isto que o primeiro dever daqueles que são colocados para governar de alguma forma a Igreja é instruir os fiéis na doutrina sagrada.

VI. Elogio ao ensino do catecismo

Parece-nos desnecessário fazer aqui o elogio desta instrução e de quanto mérito ela goza aos olhos de Deus. Certamente a benevolência com a qual aliviamos a angústia dos pobres é muito louvável aos olhos de Deus. Mas quem negará o mérito muitíssimo superior do esforço e do trabalho que dedicamos não às necessidades corporais transitórias, mas em ensinar e admoestar as almas nos bens espirituais? Com efeito, nada é mais querido, nada pode haver de mais grato para Jesus Cristo, o Salvador das almas, do que aquilo que diz Isaías a seu respeito: “Enviou-me para evangelizar os pobres” (Lc 4,18).

VII. Todo sacerdote tem o dever de ensinar os fiéis

Aqui convém, pois, Veneráveis Irmãos, enfatizar e insistir neste ponto: nenhum outro dever é mais importante do que este para quem é sacerdote, nenhum outro vínculo obriga tão estreitamente. Quem há de negar que o sacerdote deve unir o conhecimento à santidade de vida? “Os lábios dos sacerdotes serão os guardas da ciência” (Ml 2,7). E realmente a Igreja exige-o com maior severidade daqueles que estão sendo formados para o ministério sacerdotal. E por que o faz? Porque o povo cristão espera deles o conhecimento da lei divina, e Deus os destina para administrá-lo: “E da sua boca se há de aprender a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos Exércitos” (idem). Por isso o Bispo, na sagrada ordenação, fala aos candidatos ao sacerdócio: «Que a vossa doutrina espiritual seja remédio para o povo de Deus: sede próvidos cooperadores da nossa ordem; para que, meditando dia e noite a sua lei, creiam no que leem e ensinem o que creem” (Pontif. Rom.).

VIII. Uma obrigação muito especial e quase particular dos párocos

Se isto se aplica a qualquer sacerdote, o que devemos pensar daqueles que, tendo recebido o título e a autoridade de párocos, em virtude da sua posição e como que por um contrato, têm o múnus de governar as almas? Em certa medida eles devem ser contados entre os pastores e mestres que Cristo designou, para que os fiéis não sejam como “meninos flutuantes e levados ao sabor de todo vento de doutrina, pela malignidade dos homens (…); mas, praticando a verdade na caridade, cresçam em todas as coisas naquele que é a cabeça, o Cristo” (Ef 4,14-15).

Por esta razão o sacrossanto Concílio de Trento (Sess. V, cap. 2 de ref.; Sess. XXII, cap. 8; Sess. XXIV, cap. 4 e 7 de ref.), ao tratar dos pastores das almas, declara que o seu primeiro e maior dever é a instrução do povo cristão. Em seguida lhes ordena que pelo menos aos domingos e nos dias festivos mais solenes falem ao povo sobre as verdades da religião, e que no tempo sagrado do Advento e da Quaresma façam-no diariamente, ou pelo menos três vezes por semana. E não só isto: acrescenta ainda que os párocos são obrigados, pelo menos aos domingos e dias de festa, a instruir as crianças, pessoalmente ou através de outros, nas verdades da fé, formando-as na obediência a Deus e aos seus pais. E quando os sacramentos tiverem que ser administrados, prescreve que instrua aqueles que irão recebê-los acerca de sua eficácia com palavras acessíveis e na língua vernácula.

IX. A explicação do Evangelho e o catecismo são duas obrigações distintas do pároco

Nosso predecessor, Bento XIV, na sua Constituição Etsi minime, assim resumiu e de modo peculiar precisou estas orientações do sacrossanto Concílio: “Duas obrigações principais são impostas pelo Concílio de Trento aos pastores das almas: a primeira, que nos dias festivos preguem ao povo sobre as verdades divinas; e a segunda, que instrua as crianças e os incultos na lei de Deus e nos rudimentos da fé. E com razão distingue aquele tão sábio Pontífice este dúplice múnus, isto é, o de pregar, comumente chamado de explicação do Evangelho, e a transmissão da doutrina cristã. Talvez não faltem aqueles que, desejosos de diminuir seus trabalhos, se convençam de que a homilia possa substituir a instrução catequética. Mas se refletimos por um momento, fica claro como isto é errado. Porque a pregação sobre o santo Evangelho é dirigida àqueles que já devem ter sido imbuídos dos rudimentos da fé. É o pão, por assim dizer, que se parte para quem já é adulto. A instrução catequética, pelo contrário, é aquele leite que o Apóstolo Pedro queria que os fiéis desejassem com simplicidade, como crianças recém-nascidas. 

Na verdade, esta é a tarefa do catequista: abordar uma verdade em matéria de fé ou de moral cristã, lançando luz sobre todas as suas partes. E como o objetivo do ensinamento deve ser sempre a conversão da vida, convém que o catequista faça uma comparação entre aquilo que Deus prescreve que façamos e aquilo que os homens realmente fazem. E depois, fazendo uso de exemplos apropriados, sabiamente tirados seja das sagradas Escrituras, seja da história da Igreja, ou ainda da vida dos santos, persuada os seus ouvintes, mostrando-lhes a dedo, por assim dizer, como regrarem a sua própria conduta. E finalmente exorte-os a se afastarem e detestarem os vícios e a praticarem as virtudes.  

X. Nobreza do ofício de catequista

Sabemos igualmente que o múnus da transmissão da doutrina cristã não é dos mais invejáveis, que é tido em pouco apreço por muitos e que talvez não atraia muito a estima popular. Mas na nossa opinião, esse é um juízo daqueles que se deixam guiar mais pela leviandade do que pela verdade. Certamente não negamos, que são dignos de louvor aqueles oradores sacros que se dedicam com sincero zelo pela glória de Deus, tanto na defesa e custódia da fé quanto no elogio das obras dos Santos. Mas o trabalho destas pessoas pressupõe um outro, a saber, o dos catequistas; e onde falta este, faltam os alicerces, e em vão trabalham aqueles que constroem a casa. Com muita frequência os discursos elaboradíssimos que suscitam os aplausos de assembleias lotadas conseguem apenas titilar os ouvidos, mas não tocam em absoluto as almas. Pelo contrário, a instrução catequética, embora humilde e simples, é aquela palavra da qual o próprio Deus dá testemunho em Isaías: “E, assim como descem do céu a chuva e a neve, e não voltam mais para lá, mas embebem a terra, fecundando-a e fazendo-a germinar, a fim de que dê semente ao que semeia e pão ao que come, assim será a minha palavra que sair da minha boca; não tornará para mim vazia, mas fará tudo o que quero e produzirá os efeitos para os quais a enviei” (Is 55,10-11). De forma semelhante pensamos que o mesmo deva ser dito de todos aqueles sacerdotes que, a fim de ilustrarem as verdades da religião, empenham-se em escreverem livros; eles certamente merecem os nossos melhores elogios. Mas quantos são aqueles que estudam estes livros e deles extraem um fruto proporcional aos esforços e votos de seus autores?  Enquanto que a transmissão da doutrina cristã, quando bem feita, nunca deixa de beneficiar aqueles que a ouvem.

XI. A ignorância universal dos assuntos religiosos é novamente deplorada

Com efeito, a fim de inflamar o zelo dos ministros de Deus vale a pena admoestar novamente: como é enorme – e cresce sempre mais – nos dias de hoje o número daqueles que tudo ignoram acerca da religião, ou que conhecem acerca de Deus e da fé cristã apenas aquilo que lhes permite viver como idólatras em meio à luz da verdade católica. Quantos são aqueles, infelizmente – e não nos referimos a crianças, mas a adultos inclusive avançados em anos – que ignoram os principais mistérios da fé; e que ao ouvirem o nome de Cristo, respondem: “Quem é (…), para eu crer nele?” (Jo 9,36). Daí sequer considerarem um vício o ato de incitar e nutrir ódio pelos outros, o estabelecimento de contratos injustíssimos, a administração de negócios desonestos, o apropriar-se do bem alheio através da cobrança de pesados juros e outras ações torpes semelhantes. Ignoram assim a lei de Cristo, que não apenas condena as ações vis, mas também os pensamentos e desejos maus deliberados. E quando acontece que, por alguma razão, se abstenham dos prazeres sensuais, alimentam os mais impuros pensamentos, sem qualquer escrúpulo, multiplicando os seus pecados mais do que os cabelos de sua cabeça. Novamente nos parece por bem repetir: estas coisas não acontecem apenas no campo ou entre as populações mais carentes. Na verdade, e talvez mais frequentemente, elas se dão entre pessoas das classes mais altas e inclusive entre aqueles cuja ciência as infla, e que apoiadas numa vã erudição, julgam poder zombar da religião e “blasfemam de todas as coisas que ignoram” (Judas 10).

XII. A fé infusa no batismo precisa de desenvolvimento

Ora, se é em vão que se espera pela colheita numa terra onde a semente não foi plantada, como podemos esperar uma geração com bons costumes se não tiverem sido instruídas na doutrina cristã no tempo oportuno? Logo, se a fé definha em nossos tempos a ponto de se encontrar quase morta em muitos, concluímos que ou o múnus da sagrada catequese tem sido exercido com muita negligência, ou tem sido omitido por completo.  Também não é válido, a título de desculpa, dizer que a fé é um dom gratuito infundido em todos no santo Batismo. Sim, certamente a todos os que fomos batizados em Cristo, foi-nos dado o dom da fé. Mas esta semente diviníssima não “cresce (…) e cria grandes ramos” (Mc 4,32) se abandonada a si mesma como que à ação de uma virtude inata. Há no homem, desde o seu nascimento, uma capacidade de compreensão; mas esta também precisa da palavra da mãe, como para despertá-la e pô-la em ação.  Com o cristão não é diferente: ao renascer pela água e pelo Espírito Santo, carrega dentro de si a fé que lhe foi dada; mas precisa do ensinamento da Igreja para poder alimentá-la, fazê-la crescer e produzir fruto. A este respeito o Apóstolo escreveu: “A fé vem pelo ouvido, e o ouvido pela palavra de Cristo” (Rm 10,17); e como para indicar a necessidade da instrução, acrescenta: “E como ouvirão, sem haver quem lhes pregue?” (Idem, 14). 

XIII. Determinação e prescrição do que cada pároco deve fazer para o ensino dos fiéis em matéria religiosa

Pelo que foi dito acima fica claro o quão importante é o ensino religioso para as pessoas. Devemos tomar o máximo cuidado para que o ensino da doutrina sagrada permaneça sempre em vigor ou, onde houver sido negligenciado, seja restaurado. Pois, conforme as palavras de nosso predecessor, o papa Bento XIV, trata-se da instituição mais útil entre todas para a glória de Deus e a salvação das almas (Const. Etsi minime 13).

Desejando, portanto, Veneráveis ​​Irmãos, cumprir este gravíssimo múnus de nosso supremo apostolado, e garantir uma unidade de práticas nesta tão importante questão, com Nossa autoridade suprema estabelecemos e estritamente ordenamos que seja observado e cumprido em todas as dioceses as seguintes disposições: 

1) Que todos os párocos, e todos aqueles que geralmente cuidam das almas, em todos os domingos e dias festivos do ano, sem exceção, pelo espaço de uma hora, ensinem aos meninos e às meninas aquilo que todos devem crer e agir para obterem a salvação a partir das páginas do Catecismo.

2) Os mesmos, em determinadas épocas do ano, preparem devidamente os meninos e as meninas que devem receber os sacramentos da Penitência e da Confirmação com uma instrução de vários dias.

3) Da mesma forma e com cuidado todo especial, em todos os dias da semana da Quaresma e, se necessário, nos outros dias seguintes à solenidade da Páscoa, preparem, com instruções e reflexões adequadas, os e as jovens para receberem santamente a primeira Comunhão.

4) Em todas as paróquias fica canonicamente instituída a associação denominada “Congregação para a Doutrina Cristã”. Nela os párocos, especialmente onde há escassez de sacerdotes, terão auxiliares leigos para a instrução catequética, que se dedicarão a este magistério tanto por zelo pela glória de Deus quanto para lucrarem as sagradas indulgências copiosamente concedidas pelos Romanos Pontífices.

5) Nas grandes cidades, especialmente naquelas onde existem universidades, escolas secundárias e ginásios, sejam criados cursos de religião, destinados a instruir nas verdades da fé e da vida cristã aqueles jovens que frequentam escolas públicas onde faltem quaisquer referências de natureza religiosa.

6) Considerando então que, particularmente nestes tempos intempestivos, os adultos necessitem tanto de instrução religiosa como as crianças, todos os párocos e aqueles que têm cura das almas, além da habitual homilia sobre o Evangelho, que deve haver na missa paroquial de todos os dias festivos, ofereçam aos fiéis uma formação catequética com palavras acessíveis e adaptadas à inteligência dos ouvintes em horário que for mais apropriado à frequência do povo (excetuado aquele no qual as crianças são instruídas). Nesta deverão fazer uso do Catecismo Tridentino, procedendo em tal ordem que, no espaço de quatro ou cinco anos, tratem de toda a matéria relativa ao Símbolo, aos Sacramentos, ao Decálogo, à Oração e aos preceitos da Igreja.

XIV. Compete aos Bispos vigiarem atentamente a execução das orientações

Isto tudo, Veneráveis ​​Irmãos, Nós prescrevemos e ordenamos com autoridade apostólica. Compete a vós agora garantir que, em cada uma de vossas dioceses, seja tudo isto pronta e integralmente implementado. Deveis, além do mais, com vossa autoridade vigiar e cuidar, que nada do que ordenamos seja esquecido, ou – pois equivaleria ao mesmo – implementado de forma remissa e negligente.  Para evitar isto, convém que assiduamente recomendeis e insteis os párocos a não ministrarem a instrução catequética despreparados, mas que o façam com diligência; que não falem com meras palavras de sabedoria humana, mas “com simplicidade de coração e na sinceridade de Deus” (2Cor 1,12), seguindo o exemplo de Cristo, que revelava “coisas que têm estado escondidas desde a criação do mundo” (Mt 13,35), falando tudo “ao povo em parábolas e não lhes falava a não ser em parábolas (Idem, 34). Sabemos que o mesmo se aplica aos Apóstolos, instruídos pelo Senhor; deles dizia Gregório Magno: “Tomavam muitíssimo cuidado em pregar às pessoas simples de maneira clara e acessível, e não de forma erudita e difícil” (Morais, I. XVII, cap. 26). Em matéria religiosa, nestes nossos tempos difíceis, devemos considerar a maior parte das pessoas como não instruídas.

XV. O ensinamento do catecismo exige uma grande preparação

Finalmente, não gostaríamos que ninguém viesse a concluir que este zelo pela simplicidade ao tratarmos desta matéria não requeira trabalho ou meditação. De fato, ela exige ainda mais do que qualquer outro assunto. É muito mais fácil encontrar um pregador capaz de fazer um discurso eloquente e esplêndido, do que um catequista que dê uma instrução louvável em todos os aspectos. Portanto, por mais facilidade de pensar e de falar que alguém tenha de nascença, tenha sempre em mente que nunca poderá dar a doutrina cristã com frutos espirituais para as crianças e os adultos sem se preparar e se dedicar a isto com muita reflexão. Enganam-se aqueles que, considerando a falta de instrução e as limitações do povo, acreditam poder ser negligentes nesta matéria. Pelo contrário, quanto menos instruído forem os ouvintes, maior deve ser o zelo e a diligência empregados, a fim de tornar acessíveis as sublimíssimas verdades, tão distantes do raciocínio ordinário, à compreensão menos aguçada dos inexpertos, que juntamente com os sábios, delas precisam para serem salvos.

XVI. Exortação aos Bispos

Assim, pois, Veneráveis ​​Irmãos, seja-nos permitido, no final desta nossa Carta, dirigir-vos as palavras que Moisés disse: “Quem é pelo Senhor junte-se a mim” (Ex. 32, 26). Rogamos e pedimos que reflitais sobre quanta ruína advém de tal ignorância das coisas divinas. Certamente realizastes muitas obras úteis e dignas de todo o louvor nas vossas dioceses para o bem do rebanho que lhes foi confiado. Porém, acima de tudo, cuidai e instai com tanto empenho, com tanto zelo, com tanta aplicação quanto possível, que o conhecimento da doutrina cristã penetre e imbua profundamente as almas de todos. Usando as palavras do Apóstolo Pedro: “Cada um, segundo o dom que recebeu, comunique-o aos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. (1Pd 4,10). 

E que pela intercessão da beatíssima Virgem Imaculada, todos os vossos esforços e diligências sejam fecundados com a bênção apostólica que, como prova de nosso afeto e penhor das graças celestes, cheios de amor outorgamos a vós, ao clero e a todo o povo a vós confiado. 

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 15 de abril de 1905,
segundo ano do Nosso Pontificado.

PIO PP. X

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