Formação

A conversão de Santo Agostinho

Saiba como aconteceu a conversão de Santo Agostinho, um dos maiores santos da história da Igreja Católica.

A conversão de Santo Agostinho
Formação

A conversão de Santo Agostinho

Saiba como aconteceu a conversão de Santo Agostinho, um dos maiores santos da história da Igreja Católica.

Data da Publicação: 27/08/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica
Data da Publicação: 27/08/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica

Você já deve ter ouvido falar muito sobre Santo Agostinho, um dos padres da Igreja mais influentes no cristianismo, mas provavelmente não sabia que ele passou por um longo processo de conversão.

Desde muito cedo, ao longo de seu processo de conversão, Santo Agostinho teve o que, hoje, também ocorre a muitos: uma má compreensão da busca pela verdade.  E isso se deve a que, em seu tempo, sua árdua e incessante busca por essa verdade acabou levando-o por vários caminhos e vales escuros1, que ele mesmo confessaria em seus escritos ao longo de sua vida e principalmente em suas Confissões. Um santo lhe diria uma vez o que pouco tempo depois aconteceria com sua vida: “Não se trata de buscar a verdade, mas de se deixar encontrar por ela”.

Para você que chegou a esse texto, talvez sua busca pela verdade tenha te trazido até aqui e, como Santo Agostinho, pode ser que sim ou pode ser que não, você esteja em vales escuros, mas não se esqueça de que, como diz o salmista: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estás comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo”1. E, talvez, esta seja sua oportunidade de se deixar encontrar pela “verdade” e chegar à conversão e santificação. Certamente, Santo Agostinho será um excelente guia para essa jornada.

Quem foi Santo Agostinho?

Um filho rebelde e fruto das lágrimas de uma mulher santa.

A conversão de Santo Agostinho foi muito influenciada pelas orações de sua mãe, Monica
Santo Agostinho e Santa Mônica sua mãe, Ary Scheffer, 1854.

Santo Agostinho nasceu em Tagaste, no norte de África, em 354, e morreu em Hipona – hoje Suq Ahras, atual Argélia –, no ano 430, filho de Patrício e Santa Mônica. Desde sua infância, tinha um grande talento intelectual que maravilhou a todos. Com a ajuda de seu pai, Agostinho realizou seus estudos em outras cidades; “No entanto, meu próprio pai, que tanto me queria nesse particular, não se preocupava nada de que eu fosse casto; somente lhe importava que fosse culto.2 E foi assim que, aos 19 anos, foi se dispersando pelas paixões e impurezas da adolescência, unindo-se a uma concubina, com quem posteriormente teria um filho e passaria aproximadamente 14 anos ao seu lado, a quem foi extremamente fiel. 

Ele tinha um irmão e uma irmã, e todos eles receberam uma educação cristã de sua mãe, o que já o preparava para a conversão. Seu pai, Patrício, era pagão até pouco antes de sua morte. A morte de Patrício foi uma resposta às fervorosas orações de sua esposa, Santa Mônica, por sua conversão. Ela também rezou 33 anos pela conversão de Santo Agostinho, o seu filho rebelde. 

Santo Agostinho passou vários anos longe de Deus, como ele mesmo conta em suas Confissões, seu livro autobiográfico. Se não fosse pela sua mãe, que foi a chama ardente da fé cristã simbolizada no círio pascal, e desde muito cedo quem preservou a fé no seu lar, talvez a conversão de Santo Agostinho não tivesse acontecido. No entanto, a oração incessante da sua Santa Mãe um dia abriu o coração inquieto do seu filho, que estava insatisfeito com sua vida, e foi achando em Deus o sentido que tanto buscava. 

Em outras palavras,  a conversão de Santo Agostinho foi uma união de coisas: a oração insistente de sua mãe, a conversão de seu pai antes de sua morte, a morte de seu filho Adeodato, seu contato com Santo Ambrósio e, finalmente, a sua busca pela verdade e sua vida pregressa pecaminosa. Tudo isso o levaria a um destino final: abrir-se à graça de Deus e deixar-se encontrar pela Verdade

Veja também: Novena à Santa Mônica

Como se deu a conversão de Santo Agostinho?

O papel de crítica de Cícero às coisas efêmeras na conversão de Santo Agostinho

As primeiras chamas para a conversão de Santo Agostinho começaram a arder no fundo de seu coração inquieto depois de ler um trecho de Hortênsio

“Seguindo o programa usado no ensino dessas matérias, chegou-me às mãos um livro de um certo Cícero, cuja linguagem quase todos admiravam, se bem que não estendessem a mesma admiração ao seu conteúdo”

Esse livro contém um louvor da filosofia, e chama-se Hortênsio

Assim, o próprio autor conta o impacto dessa leitura:

Mudou minha maneira de pensar, os meus gostos e os meus sentimentos. De repente, pareceu-me que tudo era vazio e inútil, e, de uma maneira em mim inexplicável, comecei a desejar de todo o coração a verdadeira sabedoria.” 3

A conversão de Santo Agostinho não aconteceu da mesma forma que a de muitos outros santos, como Santo Inácio de Loyola e São Francisco de Assis, que, devido à profunda desolação de seus pecados, se arrependeram e se converteram. Ou como, São Paulo, que foi literalmente derrubado de seu cavalo, se converteu, e passou de perseguidor a cristão fervoroso. E, em geral, eles não levaram uma vida inteira de processo de conversão, mas se converteram quase imediatamente. No entanto, Santo Agostinho levou pelo menos 14 anos de conversão, de um estado para outro, até finalmente compreender a verdade e se deixar amar por ela. 

Aproximação dos maniqueus

E nesse vai-e-vem, sem ter certeza de que o cristianismo poderia oferecer a solução para sua vida, ele se refugiou no maniqueísmo, que é basicamente uma doutrina herética que se originou no século III, com seu fundador Mani, Manes ou Maniqueos (+276). 

“Desta forma, vim a encontrar um grupo de homens que depois não serem mais que uns vaidosos sensuais e charlatães até à saciedade. Só diziam mentiras e erros”

No decorrer de sua busca por apoio dos maniqueus, e com Fausto como líder do movimento dualista e materialista, Santo Agostinho  finalmente ficou frustrado com a seita e decidiu, escondido de sua mãe, partir para Roma. 

O papel de Santo Ambrósio

Santo Ambrosio foi fundamental na conversão de Santo Agostinho

As palavras de um homem culto podem persuadir e mudar uma pessoa, mas os exemplos arrastam. E Santo Ambrósio foi aquele homem exemplar que Santo Agostinho conhecia e admirava muito, não só pela sua eloquência, pelas suas magníficas palestras e porque todo mundo o admirava, mas porque Santo Ambrósio foi um homem profundamente simples e humilde, e isso o mesmo Santo Agostinho o relata:

Ao chegar a Milão, visitei o bispo Ambrósio, que tinha fama de ser um dos melhores oradores de todo o mundo; era um homem piedoso, que em seus sermões e discursos ensinava ao povo a doutrina católica com todo o cuidado.4

Toma e lê

Mas esse não seria o fim da conversão de Santo Agostinho. Ainda antes de seu batismo, um dia, caminhando aflito e desolado em um jardim, aconteceu-lhe algo inesperado que o deixou atônito e, tirando-lhe todas as dúvidas, ele finalmente chegaria à sua conversão total:

Joguei-me debaixo de uma figueira e dei rédea solta às minhas lágrimas. Não como as mesmas palavras, mas como o mesmo sentido, disse a Deus muitas coisas como esta: Senhor, até quando? Até quando, Senhor, estarás irado? Não queiras mais lembrar-Te das minhas maldades passadas!

Enquanto dizia isto e chorava como amaríssimo arrependimento do meu coração, ouvi subitamente uma voz da casa vizinha, não sei se de menino ou menina, que cantarolava e repetia muitas vezes: 

  • Toma e lê, toma e lê.

Mudou-se-me de repente o rosto, e tentei recordar se havia algum jogo em que as crianças costumassem cantarolar algo de parecido, mas não me lembrava de ter ouvido nunca nada de semelhante. Contendo as lágrimas, levantei-me, interpretando essa voz como uma ordem divina para abrisse o livro e lesse o que se me apresentasse.  […]

Voltei rapidamente ao lugar em que Alípio estava sentado e onde eu deixara o livro do Apóstolo; tomei-o, abri-o e li em silêncio o primeiro trecho em que pus os alhos. Dizia assim: Não andeis já em comilanças e bebedeiras; nem na cama fazendo coisas impudicas; deixai já as contendas e rixas; e revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não vos ocupeis da carne e de seus desejos

Não quis ler mais. Também não era necessário, pois quando terminei de ler esse parágrafo, dissipou-se toda a escuridão das minhas dúvidas, como se uma luz fortíssima me tivesse inundado o coração.” 5

Daquele momento em diante, Santo Agostinho entenderia que Deus era o princípio e o fim de todas as coisas. E em pouco tempo depois, ele se prepararia para o batismo. E quem o batizaria seria o próprio Santo Ambrósio de Milão, durante uma Vigília Pascal do ano 387. 

Leia mais: A cidade de Deus de Santo Agostinho.

Tarde te amei

Santo Agostinho levou muito tempo em seu processo de conversão para compreender o infinito amor de Deus, como ele mesmo relata em suas Confissões:

“Onde o encontrei para conhecê-lo? Porque como certeza não estava na minha memória antes de o conhecer. Onde o encontrei para conhecê-lo? Mas Ele não ocupa lugar nenhum; afastamo-nos e aproximamo-nos dEle, e apesar disso Ele não ocupa lugar. 

Deus, que é a Verdade, dirige-se em toda a parte a todos os que o interrogam; e apesar de responder a todos o que os que o interrogam, responde a todos coisas diferentes. Deus responde claramente, mas nem todos entendem claramente. 

Tarde te amei, Beleza, tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim. 

Como um animal, lançava-me sobre as coisas belas que Tu criaste. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Mantinham-me  atado, longe de ti, essas coisas que, se não fossem sustentadas por ti, deixariam de ser. Chamaste-me, gritavas-me, rompeste a minha surdez. Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu espírito e aspirei o seu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz”. 

A conversão de Santo Agostinho, outrora um jovem inquieto e teimoso, poderia ser a nossa situação hoje, se não fosse por Deus e seu amor infinito. No entanto, Ele bate à porta de nosso coração e nos diz:

 “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo.6

Deixemo-nos abraçar pela Verdade. Não perca a oportunidade de se encontrar com Deus. Que Santo Agostinho interceda por nós e, se por acaso você estiver rezando por alguém, que a graça de Deus entre em seu coração e a intercessão de Santo Agostinho o aproxime de Deus. 

Santo Agostinho, rogai por nós! 

Confira: A vida de Santo Agostinho para além das Confissões

Referências

  1. Sl 23, 4[][]
  2. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 43[]
  3. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 59[]
  4. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 117[]
  5. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 202[]
  6. Ap. 3, 20[]

Redação Minha Biblioteca Católica

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Você já deve ter ouvido falar muito sobre Santo Agostinho, um dos padres da Igreja mais influentes no cristianismo, mas provavelmente não sabia que ele passou por um longo processo de conversão.

Desde muito cedo, ao longo de seu processo de conversão, Santo Agostinho teve o que, hoje, também ocorre a muitos: uma má compreensão da busca pela verdade.  E isso se deve a que, em seu tempo, sua árdua e incessante busca por essa verdade acabou levando-o por vários caminhos e vales escuros1, que ele mesmo confessaria em seus escritos ao longo de sua vida e principalmente em suas Confissões. Um santo lhe diria uma vez o que pouco tempo depois aconteceria com sua vida: “Não se trata de buscar a verdade, mas de se deixar encontrar por ela”.

Para você que chegou a esse texto, talvez sua busca pela verdade tenha te trazido até aqui e, como Santo Agostinho, pode ser que sim ou pode ser que não, você esteja em vales escuros, mas não se esqueça de que, como diz o salmista: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estás comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo”1. E, talvez, esta seja sua oportunidade de se deixar encontrar pela “verdade” e chegar à conversão e santificação. Certamente, Santo Agostinho será um excelente guia para essa jornada.

Quem foi Santo Agostinho?

Um filho rebelde e fruto das lágrimas de uma mulher santa.

A conversão de Santo Agostinho foi muito influenciada pelas orações de sua mãe, Monica
Santo Agostinho e Santa Mônica sua mãe, Ary Scheffer, 1854.

Santo Agostinho nasceu em Tagaste, no norte de África, em 354, e morreu em Hipona – hoje Suq Ahras, atual Argélia –, no ano 430, filho de Patrício e Santa Mônica. Desde sua infância, tinha um grande talento intelectual que maravilhou a todos. Com a ajuda de seu pai, Agostinho realizou seus estudos em outras cidades; “No entanto, meu próprio pai, que tanto me queria nesse particular, não se preocupava nada de que eu fosse casto; somente lhe importava que fosse culto.2 E foi assim que, aos 19 anos, foi se dispersando pelas paixões e impurezas da adolescência, unindo-se a uma concubina, com quem posteriormente teria um filho e passaria aproximadamente 14 anos ao seu lado, a quem foi extremamente fiel. 

Ele tinha um irmão e uma irmã, e todos eles receberam uma educação cristã de sua mãe, o que já o preparava para a conversão. Seu pai, Patrício, era pagão até pouco antes de sua morte. A morte de Patrício foi uma resposta às fervorosas orações de sua esposa, Santa Mônica, por sua conversão. Ela também rezou 33 anos pela conversão de Santo Agostinho, o seu filho rebelde. 

Santo Agostinho passou vários anos longe de Deus, como ele mesmo conta em suas Confissões, seu livro autobiográfico. Se não fosse pela sua mãe, que foi a chama ardente da fé cristã simbolizada no círio pascal, e desde muito cedo quem preservou a fé no seu lar, talvez a conversão de Santo Agostinho não tivesse acontecido. No entanto, a oração incessante da sua Santa Mãe um dia abriu o coração inquieto do seu filho, que estava insatisfeito com sua vida, e foi achando em Deus o sentido que tanto buscava. 

Em outras palavras,  a conversão de Santo Agostinho foi uma união de coisas: a oração insistente de sua mãe, a conversão de seu pai antes de sua morte, a morte de seu filho Adeodato, seu contato com Santo Ambrósio e, finalmente, a sua busca pela verdade e sua vida pregressa pecaminosa. Tudo isso o levaria a um destino final: abrir-se à graça de Deus e deixar-se encontrar pela Verdade

Veja também: Novena à Santa Mônica

Como se deu a conversão de Santo Agostinho?

O papel de crítica de Cícero às coisas efêmeras na conversão de Santo Agostinho

As primeiras chamas para a conversão de Santo Agostinho começaram a arder no fundo de seu coração inquieto depois de ler um trecho de Hortênsio

“Seguindo o programa usado no ensino dessas matérias, chegou-me às mãos um livro de um certo Cícero, cuja linguagem quase todos admiravam, se bem que não estendessem a mesma admiração ao seu conteúdo”

Esse livro contém um louvor da filosofia, e chama-se Hortênsio

Assim, o próprio autor conta o impacto dessa leitura:

Mudou minha maneira de pensar, os meus gostos e os meus sentimentos. De repente, pareceu-me que tudo era vazio e inútil, e, de uma maneira em mim inexplicável, comecei a desejar de todo o coração a verdadeira sabedoria.” 3

A conversão de Santo Agostinho não aconteceu da mesma forma que a de muitos outros santos, como Santo Inácio de Loyola e São Francisco de Assis, que, devido à profunda desolação de seus pecados, se arrependeram e se converteram. Ou como, São Paulo, que foi literalmente derrubado de seu cavalo, se converteu, e passou de perseguidor a cristão fervoroso. E, em geral, eles não levaram uma vida inteira de processo de conversão, mas se converteram quase imediatamente. No entanto, Santo Agostinho levou pelo menos 14 anos de conversão, de um estado para outro, até finalmente compreender a verdade e se deixar amar por ela. 

Aproximação dos maniqueus

E nesse vai-e-vem, sem ter certeza de que o cristianismo poderia oferecer a solução para sua vida, ele se refugiou no maniqueísmo, que é basicamente uma doutrina herética que se originou no século III, com seu fundador Mani, Manes ou Maniqueos (+276). 

“Desta forma, vim a encontrar um grupo de homens que depois não serem mais que uns vaidosos sensuais e charlatães até à saciedade. Só diziam mentiras e erros”

No decorrer de sua busca por apoio dos maniqueus, e com Fausto como líder do movimento dualista e materialista, Santo Agostinho  finalmente ficou frustrado com a seita e decidiu, escondido de sua mãe, partir para Roma. 

O papel de Santo Ambrósio

Santo Ambrosio foi fundamental na conversão de Santo Agostinho

As palavras de um homem culto podem persuadir e mudar uma pessoa, mas os exemplos arrastam. E Santo Ambrósio foi aquele homem exemplar que Santo Agostinho conhecia e admirava muito, não só pela sua eloquência, pelas suas magníficas palestras e porque todo mundo o admirava, mas porque Santo Ambrósio foi um homem profundamente simples e humilde, e isso o mesmo Santo Agostinho o relata:

Ao chegar a Milão, visitei o bispo Ambrósio, que tinha fama de ser um dos melhores oradores de todo o mundo; era um homem piedoso, que em seus sermões e discursos ensinava ao povo a doutrina católica com todo o cuidado.4

Toma e lê

Mas esse não seria o fim da conversão de Santo Agostinho. Ainda antes de seu batismo, um dia, caminhando aflito e desolado em um jardim, aconteceu-lhe algo inesperado que o deixou atônito e, tirando-lhe todas as dúvidas, ele finalmente chegaria à sua conversão total:

Joguei-me debaixo de uma figueira e dei rédea solta às minhas lágrimas. Não como as mesmas palavras, mas como o mesmo sentido, disse a Deus muitas coisas como esta: Senhor, até quando? Até quando, Senhor, estarás irado? Não queiras mais lembrar-Te das minhas maldades passadas!

Enquanto dizia isto e chorava como amaríssimo arrependimento do meu coração, ouvi subitamente uma voz da casa vizinha, não sei se de menino ou menina, que cantarolava e repetia muitas vezes: 

  • Toma e lê, toma e lê.

Mudou-se-me de repente o rosto, e tentei recordar se havia algum jogo em que as crianças costumassem cantarolar algo de parecido, mas não me lembrava de ter ouvido nunca nada de semelhante. Contendo as lágrimas, levantei-me, interpretando essa voz como uma ordem divina para abrisse o livro e lesse o que se me apresentasse.  […]

Voltei rapidamente ao lugar em que Alípio estava sentado e onde eu deixara o livro do Apóstolo; tomei-o, abri-o e li em silêncio o primeiro trecho em que pus os alhos. Dizia assim: Não andeis já em comilanças e bebedeiras; nem na cama fazendo coisas impudicas; deixai já as contendas e rixas; e revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não vos ocupeis da carne e de seus desejos

Não quis ler mais. Também não era necessário, pois quando terminei de ler esse parágrafo, dissipou-se toda a escuridão das minhas dúvidas, como se uma luz fortíssima me tivesse inundado o coração.” 5

Daquele momento em diante, Santo Agostinho entenderia que Deus era o princípio e o fim de todas as coisas. E em pouco tempo depois, ele se prepararia para o batismo. E quem o batizaria seria o próprio Santo Ambrósio de Milão, durante uma Vigília Pascal do ano 387. 

Leia mais: A cidade de Deus de Santo Agostinho.

Tarde te amei

Santo Agostinho levou muito tempo em seu processo de conversão para compreender o infinito amor de Deus, como ele mesmo relata em suas Confissões:

“Onde o encontrei para conhecê-lo? Porque como certeza não estava na minha memória antes de o conhecer. Onde o encontrei para conhecê-lo? Mas Ele não ocupa lugar nenhum; afastamo-nos e aproximamo-nos dEle, e apesar disso Ele não ocupa lugar. 

Deus, que é a Verdade, dirige-se em toda a parte a todos os que o interrogam; e apesar de responder a todos o que os que o interrogam, responde a todos coisas diferentes. Deus responde claramente, mas nem todos entendem claramente. 

Tarde te amei, Beleza, tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim. 

Como um animal, lançava-me sobre as coisas belas que Tu criaste. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Mantinham-me  atado, longe de ti, essas coisas que, se não fossem sustentadas por ti, deixariam de ser. Chamaste-me, gritavas-me, rompeste a minha surdez. Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu espírito e aspirei o seu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz”. 

A conversão de Santo Agostinho, outrora um jovem inquieto e teimoso, poderia ser a nossa situação hoje, se não fosse por Deus e seu amor infinito. No entanto, Ele bate à porta de nosso coração e nos diz:

 “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo.6

Deixemo-nos abraçar pela Verdade. Não perca a oportunidade de se encontrar com Deus. Que Santo Agostinho interceda por nós e, se por acaso você estiver rezando por alguém, que a graça de Deus entre em seu coração e a intercessão de Santo Agostinho o aproxime de Deus. 

Santo Agostinho, rogai por nós! 

Confira: A vida de Santo Agostinho para além das Confissões

Referências

  1. Sl 23, 4[][]
  2. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 43[]
  3. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 59[]
  4. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 117[]
  5. Confissões / Santo Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis) – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2018. pág. 202[]
  6. Ap. 3, 20[]

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