Novenas

Trezena de Santo Antônio

Reze conosco a Trezena de Santo Antônio e apresente seu pedido a Deus por intercessão do grande Martelo dos Hereges.

Trezena de Santo Antônio
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Trezena de Santo Antônio

Reze conosco a Trezena de Santo Antônio e apresente seu pedido a Deus por intercessão do grande Martelo dos Hereges.

Data da Publicação: 06/05/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 06/05/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Reze conosco a Trezena de Santo Antônio e apresente seu pedido a Deus por intercessão do grande Martelo dos Hereges.

Período: 31 de maio a 12 de junho
Solenidade:13 de junho

Quem foi Santo Antônio de Pádua?

São Antônio nasceu em 15 de agosto de 1195 e era natural de Lisboa. Cônego regular, depois franciscano, pregou por toda a parte, primeiro em Portugal, depois na Itália, numa linguagem toda alimentada da doutrina das Sagradas Escrituras. Pio XII, que elevou Santo Antônio à honra de Doutor da Igreja, deu-lhe o título de Doutor Evangélico, de tal modo gostava de apoiar todas as suas afirmações em citações do Evangelho. Simultaneamente professor de teologia e pregador das grandes multidões, combateu a heresia com extremo vigor e com uma força de convicção excepcional.

Santo Antônio morreu em Pádua a 13 de junho de 1231, com a idade de 35 anos, aureolado por uma reputação de grande santidade. Logo após a sua morte, inumeráveis milagres levaram os fiéis a invocá-lo como taumaturgo duma incansável condescendência.

Padroeiro de Lisboa, dos pobres, das mulheres grávidas, dos casais, das pessoas que desejam encontrar objetos perdidos, dos oprimidos.

Conheça mais sobre a história de Santo Antônio de Pádua.

Reze a Trezena

Oração inicial para todos os dias

Áperi; Veni Sancte Spíritus

Dignai-vos, Senhor, pôr nos nossos lábios louvores dignos do vosso santo nome e purificar o nosso coração, livrando-o de pensamentos impertinentes, vãos e pecaminosos: iluminai o nosso entendimento e inflamai os nossos desejos, a fim de podermos fazer este santo exercício com aquela atenção, dignidade e devoção que devemos, para merecermos que cheguem ao trono da vossa divina majestade os nossos clamores, por intercessão de Jesus Cristo Senhor Nosso. Amém.

Hino

Por que razão, amado Antônio, intentais fugir da pátria e ir buscar as gentes africanas? Se procurais a palma do martírio, outros são os destinos da providência.

Ventos contrários vos farão aportar na Itália, onde fareis felizes aqueles povos. Eles terão a fortuna de possuir os vossos ossos; pelo que chamarão paduano a um santo português.

Porém, lá da Pátria celeste, dignai-vos amar com predileção a vossa Lusitânia; sinta primeiro este Reino que vos deu o nascimento os efeitos da vossa proteção, com preferência ao lugar do vosso jazigo.

Mas as vossas vistas benéficas se estendem a um e outro povo: todos em vós acham igual agasalho e proteção.

Ouvi, benigno Deus, os nossos votos. Vós que com o Filho e Espírito Santo reinais por séculos eternos. Amém.

1º dia da Trezena de Santo Antônio

Contemplemos em primeiro lugar a cega obediência que o nosso santo logo, desde os primeiros anos, soube tão exatamente observar. Primeiramente, debaixo dos preceitos de seus pais e de seus mestres e depois dos seus superiores, Antônio jamais fez ação que não fosse regulada pelos seus conselhos. Os cônegos da catedral de Lisboa admiravam nesse menino a docilidade e alegria com que se rendia às suas admoestações e se empregava no serviço dos altares. Mas com que prontidão ele não obedece à voz do Senhor, que o chama? Fiel imitador do desapego dos Apóstolos, deixa tudo ainda na sua infância para seguir a seu divino Mestre dentro dos claustros religiosos, onde se lhe franqueia um vasto campo para o exercício dessa virtude. Tal era o amor que Antônio tinha à obediência, que chegando um dia a seus pés um penitente e acusando-se com verdadeiro arrependimento de ter maltratado a sua mãe com um pé, o santo, perturbado da atrocidade do fato, lhe disse: “Pé que se atreveu a ofender a sua mãe merece ser cortado.” O sincero penitente, interpretando mal a repreensão do Confessor, chega a casa e, decepando o seu próprio pé, estava a ponto de morrer, esgotando-se de sangue, publicando depois que, por insinuação de Fr. Antônio, rompera naquela temeridade. Chegam aos ouvidos do santo a indiscrição do penitente e as queixas de sua mãe; vai logo visitar o enfermo e, tomando nas suas mãos o pé inteiramente separado da perna, lho torna a unir, fazendo sobre ele o sinal da Cruz, com pasmo de todos os circunstantes, que não cessavam de louvar a onipotência de Deus, recuperando desta sorte o penitente a saúde do corpo e da alma, que havia perdido pela desobediência à sua mãe.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, perfeitíssimo discípulo de Jesus Cristo e imitador da obediência desse divino Mestre, que quis para nosso exemplo ser obediente até à morte, fazei que eu, seguindo os vossos passos, saiba honrar e venerar os meus superiores, e que, reconhecendo neles a voz de Deus, cujas vezes eles fazem cá na Terra, mereça nela as bênçãos devidas aos obedientes e por fim acompanhar-vos na glória. Amém.

Oração final para todos os dias

Pai-Nosso; Ave-Maria; Glória ao Pai

℣. Antônio Santo, de Jesus querido.
℟. Valha-me sempre o vosso patrocínio.

Ladainha de Santo Antônio

Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, ouvi-nos.

Jesus Cristo, atendei-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.

Deus, Pai do Céu, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do mundo, tende…
Deus, Espírito Santo,
Santíssima Trindade, Único Deus,

Santo Antônio de Pádua, rogai por nós.
Íntimo amigo do Menino Deus, rogai…
Servo da Mãe Imaculada,
Fidelíssimo filho de São Francisco,
Homem da santa oração,
Amigo da pobreza,
Lírio da castidade,
Modelo da obediência,
Amigo da vida oculta,
Desprezador das glórias humanas,
Rosa da caridade,
Espelho de todas as virtudes,
Sacerdote segundo o Coração do Altíssimo,
Imitador dos apóstolos,
Mártir pelo desejo,
Coluna da Igreja,
Amador das almas,
Propugnador da Fé,
Doutor da verdade,
Batalhador contra a falsidade,
Arca do testamento,
Trombeta do Evangelho,
Convertedor dos pecadores,
Extirpador dos crimes,
Restaurador da paz,
Reformador dos costumes,
Triunfador dos corações,
Auxiliador dos aflitos,
Ressuscitador dos mortos,
Restituidor das coisas perdidas,
Glorioso taumaturgo,
Santo do mundo inteiro,
Glória da Ordem dos Menores,
Alegria da corte celeste,
Nosso amável padroeiro,
Doutor da Santa Igreja,

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
tende piedade de nós.

℣. Rogai por nós, Santo Antônio.
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos. Ó Deus, nós vos suplicamos que a intercessão votiva de vosso glorioso Confessor e Doutor Santo Antônio alegre a vossa Igreja, para que, fortalecida com espirituais auxílios, mereça alcançar a glória eterna. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

(Fazer o pedido)

Responsório

Se milagres desejais,
Recorrei a Santo Antônio;
Vereis fugir o demônio
E as tentações infernais.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraco torna-se forte
E torna-se o enfermo são.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

℣. Rogai por nós, bem-aventurado Antônio.
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos. Senhor Deus, que a solenidade votiva de Santo Antônio, vosso confessor, alegre a vossa Igreja, para que sempre se ache fortalecida com os socorros espirituais e mereça alcançar os gostos eternos. Pelos merecimentos de Cristo Jesus Nosso Senhor. Amém.

2º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Consideremos a pobreza voluntária que o nosso santo professou em toda a sua vida. Nascido de uma família não só ilustre, mas abastada, educado no meio da opulência e esplendor, Antônio renuncia a todos esses encantos e lisonjeiras esperanças. A sua vida é no templo; os seus divertimentos pueris são as funções eclesiásticas; a sua maior grandeza e esplendor consiste na ocupação e ministério dos altares. Mas esse desprezo dos bens terrenos
não é ainda bastante ao fervoroso Antônio: contava ele apenas dezesseis anos, quando determina ser pobre para sempre e por voto. A sagrada religião dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho lhe ouviu fazer essa promessa à face dos seus altares, e lhe viu cumpri-la exatamente em todo o tempo que teve a fortuna de o lograr. Ainda Fernando (esse era então o seu nome) aspira maior grau de perfeição: a pobre religião que São Francisco de Assis acabava de fundar lhe parece mais própria ao seu espírito de pobreza; passa a fazer nela o mesmo sacrifício de abnegação do mundo, renunciando de todo à propriedade dos bens terrenos e até ao nome que tinha no século, de modo que só o grosseiro burel que cobria o seu corpo se podia dizer que era de Fr. Antônio.

Essa pobreza, de que ele era tão observante, a pretendia insinuar e persuadir aos seus ouvintes no púlpito; e um dia, pregando nas exéquias de um rico avarento, se esforçou em demonstrar a felicidade dos pobres, que satisfeitos com a sua pobreza vivem quietos e sossegados, quando pelo contrário os opulentos são sempre atormentados da insaciável sede de maiores riquezas. Depois de ter provado esses pontos com a sua enérgica e apostólica eloquência, rompeu nesta profecia: “Esse desgraçado avarento, cujo corpo está presente, nos dá um triste testemunho dessas verdades: ide abrir o cofre do seu dinheiro, nele achareis o seu coração”. O sucesso correspondeu à profecia, pois com efeito se achou o coração daquele miserável aferrolhado no seu cofre.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que desprezando as riquezas terrenas soubestes imitar a pobreza do nosso Redentor e dos seus Apóstolos; fazei que possamos também nós desapegar-nos dos bens caducos, e adquirir com eles, repartidos em benefícios dos pobres, o tesouro celestial, que nunca há de minguar e de que vós já estais de posse, por prêmio da vossa pobreza voluntária. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

3º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos o amor que Antônio teve à virtude angélica da castidade e a escrupulosíssima vigilância com que sempre guardou a preciosíssima joia da sua pureza. Nem os encantos perigosos de uma cidade já então famosa, nem as delícias de uma mimosa educação, nem as grandezas que o rodeavam puderam fazer algum abalo na inocência desse menino. Ele sabe fugir a tempo ao asilo da Igreja e, abrigado à sombra dos altares, se põe em seguro, e evita os ardis da diabólica malícia. Prostrado diante da sagrada e respeitável imagem da puríssima Virgem, pede e recebe parte daquela graça, de que ela foi cheia no primeiro instante da sua Conceição Imaculada: com tal protetora, Antônio vence as tentações infernais e, apesar de todo o esforço diabólico, conserva durante toda a vida ilesa a pureza do seu inocente corpo. O seu mesmo vestido era remédio para as tentações da carne, como prova o sucesso seguinte.

Certo monge, no bispado de Limoges, se via continuamente assaltado de violentíssimas tentações da carne, que não podia apagar com todas as espécies de mortificações e asperezas com que maltratava o seu corpo, tendo por isso a maior desconsolação, e receando abismar-se em alguma desesperação sem remédio. Nesse estado recorre a Fr. Antônio, suplicando-lhe que o quisesse ouvir de confissão. Esmerou-se o santo em consolá-lo, dando-lhe os saudáveis conselhos que achava oportunos; notando, porém, o ânimo do miserável monge tão apoucado e abatido, despe a própria túnica interior, e ordena ao monge que a vista à raiz da carne. Apenas ele obedece, sente dilatarse-lhe o coração, um novo alento refundido no seu espírito lhe faz subordinar a carne rebelada às suas leis e desde aquele tempo se desconhece a si próprio, confessando que desde então ficara livre da vergonhosa confusão que lhe causava a rebelião dos seus sentidos.

Deprecação

Antônio bem-aventurado e puríssimo, se o toque dos vossos vestidos foi bastante para apegar a honestidade que vós tão cuidadosamente observastes, alcançai-nos de Deus que todos os vossos devotos que vos rendemos estes afetuosos cultos tenhamos a fortaleza de combater e rechaçar os assaltos furiosos do espírito impuro e merecer entrar triunfantes na glória que estais gozando. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

4º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a fé viva e eficaz do nosso santo. Toda a sua vida desde menino foi um tecido de ações filhas da sua crença. Se Antônio deixa a casa de seus pais e foge para o templo, é porque crê que no templo acha realmente ao Pai das luzes donde procedem e dimanam todos os bens e dons perfeitos; se a sua consolação é assistir ao incruento sacrifício e mais augustos mistérios da nossa religião com a reverência mais profunda, é porque está firmissimamente convicto da divindade da Vítima imolada e da realidade dos nossos sacramentos. Se, subido ao púlpito, apregoa as verdades da religião com o fogo mais ativo, com as mais enérgicas e penetrantes razões; se move, se abala, se converte os pecadores mais arraigados e encanecidos no pecado, é porque fala com o coração verdades de que lhe parece que ninguém pode duvidar.

Obstinados lógicos, que com fúteis sutilezas negais a presença real de Jesus Cristo na hóstia consagrada, vós ides dar um brilhante triunfo à fé e zelo do nosso santo, o que mostra do seguinte milagre. Esses hereges, que nos tempos de Antônio infectavam algumas províncias da França, intentaram entrar em disputa com o nosso santo em Limoges, onde se achava, e para esse fim elegeram a um deles chamado Guialdo, de cuja sutileza esperavam muito. Não recusou o santo a batalha e, fiado na justiça da causa e no dono dela, compareceu no dia e local assinalado. Deixou que o herege ostentasse a sua vã erudição num discurso igualmente fútil, e que não deu a Antônio muito trabalho a refutar com razões sólidas e testemunhos das Sagradas Letras; mas a soberba do herege não se dava por convencida, menos que não visse um milagre: propunha, pois, a Antônio, que ele só creria na real presença de Jesus Cristo na sagrada hóstia, se visse que o seu jumento, esfaimado de três dias, largasse a comida à vista da mesma hóstia. Concorda o santo e, celebrando o Santíssimo Sacrifício e tomando nas suas mãos a sagrada hóstia, diz para o faminto animal: “Em nome de Jesus Cristo, que tenho nas minhas indignas mãos, te mando, ó criatura irracional, que chegues e reverencies a teu Criador”. Apenas disse, o jumento, desprezando o sustento, se prostrou, dobrando os seus joelhos, diante da sagrada hóstia, com pasmo e admiração de todos, vertendo os católicos ternas lágrimas de consolação e os hereges de arrependimento.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, milagroso esteio da fé e religião, que tão justamente merecestes o glorioso título de Martelo de Hereges, firmai os vossos devotos na fé, virtude capital da nossa religião; fazei que pelas nossas ações demos provas de que a nossa fé não é uma fé morta, que o Apóstolo condena, mas uma fé ativa, oficiosa e capaz de nos merecer a glória para que fomos criados. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

5º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a esperança certa e assegurada confiança que Antônio tinha nas infalíveis promessas do seu Deus e na sua Divina Providência. Persuadido de que o prêmio eterno da virtude estava afiançado pelas palavras de Jesus Cristo, ele não deixou um só momento da sua vida ocioso, ocupando os trinta e seis anos dela em exercitar os atos de virtude que lhe davam o direito impreterível de conseguir o mesmo prêmio. Confiante de que todos os cabelos da cabeça dos filhos da Redenção estão numerados e ao cuidado do Pai celestial, que não consente, segundo a sua promessa, que nem um só pereça sem a sua vontade, Antônio se põe nos braços da Providência tão resignado, que não tem outra vontade mais que a de seu Deus. Dessa confiança vinha que Antônio, quer ocupando os cargos do governo na sua Ordem, quer cumprindo com as obrigações de súdito, jamais cuidasse em provisão de víveres para o futuro e que também nunca sentisse falta do necessário para sua sustentação e de seus irmãos, havendo entre os fiéis uma santa porfia em favorecer esses filhos da Providência, porfia que sempre era superiormente recompensada, como se mostra no sucesso seguinte.

Junto de Montpellier, uma caritativa senhora hospedou em sua casa a Fr. Antônio e seu companheiro, que partiam para a Itália. Para os hospedar com mais alinho, pediu de empréstimo uma delicada taça de cristal para o serviço da mesa. Ela mesma desce pressurosa a adega a enchê-la de vinho e com o excessivo desvelo deixa aberta a pipa, que em breve se esgotou. No fim do jantar, o companheiro do santo deixou cair das mãos a taça que se fez em pedaços. Essas perdas angustiavam o dito companheiro, que, dirigindo-se ao santo, lhe disse: “Padre, compadece-te desta piedosa senhora, que tem sido tão mal paga pela piedade e esmero com que nos hospeda”. O servo de Deus, enternecido das lágrimas da senhora e da confusão do companheiro, inclinando-se sobre a mesa, e encobrindo o rosto com as mãos, fez a Deus oração, cujo efeito foi começarem os pedaços da taça a ajuntar-se por si mesmos, ficando na mesma perfeição em que era; e o vinho derramado, a reencher a pipa, sem deixar o menor sinal do seu derramamento.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que, assegurado das promessas de Cristo e confiado na sua verdade, só vos ocupáveis em as merecer, fazei que nós possamos com a mesma evidência inteirarmo-nos delas, e saibamos merecer por meio das boas obras a salvação eterna, prêmio infalível de uma vida inocente, e que, seguindo o vosso exemplo, vos acompanhemos na glória. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

6º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a ardente caridade de Antônio. Apenas sabe que o ponto capital da nossa religião consiste em amar, que a caridade, segundo a doutrina do Apóstolo, é a maior de todas as virtudes (I Cor 12,31—13,13), e capaz de franquear um caminho seguro e direito para a glória; Antônio se abrasa todo no amor de Deus e do próximo, de sorte que estes dois pontos faziam toda a ocupação do nosso santo. O tempo que lhe sobrava do serviço da Igreja, do ministério da pregação e administração dos sacramentos, o gastava na oração, contemplando as imensas perfeições de Deus, e, engolfando-se cada vez mais nestas profundas contemplações, cada vez mais descobria novos motivos ao seu amor. O próximo é o outro objeto a que se dirige a sua caridade. Não haverá talvez aflição que Antônio não livrasse a algum necessitado. Quantos pecadores arrancados das ocasiões do seu pecado e das garras do Demônio? Quantos energúmenos livres em virtude de Jesus Cristo? Quantos mortos ressuscitados? Quantos inocentes absolvidos? Surdos, cegos, mudos, coxos, todos, enfim, sentiram os efeitos da sua enternecida caridade; e ainda hoje talvez nenhum de nós deixe de lhe ser devedor de algum assinalado benefício, e de ter experimentado a sua poderosa proteção.

Estupendo é o milagre que a sua caridade obrou em Ferrara. Tinha-se casado há pouco um mancebo com uma formosa donzela, ambos ricos e nobres, qualidades que, por algum tempo, conservaram nesses noivos o amor mútuo, que faz a alegria e prazer daquele estado. Mas esse primeiro amor se foi entibiando de tal sorte que o marido, desconfiado da fidelidade da sua consorte e persuadido de que a gravidez em que a viu era adulterina, lhe maquinou a morte para ocasião do parto, como mais oportuna; e até a ameaçou com ela. A desconsolada mulher, por conselhos de seu pai, vai procurar a Fr. Antônio, expondo-lhe o perigo de que estava ameaçada. O caritativo santo a consola e sossega, prognosticando-lhe um parto feliz, e prometendo-lhe sossegar a seu marido. Com efeito, completo o tempo, deu à luz um menino, e seu marido, querendo aproveitar a ocasião, lhe oferece o veneno preparado numa bebida para executar a sua vingança. A esse mesmo tempo, Antônio, movido de superior inspiração, entra pela casa com pretexto de o felicitar pelo recém-nascido; pede depois que lho apresentem, para ler sobre ele os Evangelhos e, tomando-o nos braços, lhe disse entre carícias: “Criatura de Deus, em virtude de seu santíssimo nome te mando que declares: quem é teu pai?” Logo, o menino, porque tinha enfaixados os bracinhos, acenando com a cabeça para o pai, e com os olhos nele fitos, respondeu em voz clara e inteligível: “Tu, senhor, és meu pai natural e a minha mãe é castíssima, nem tem ofendido ao menos levemente a fé conjugal”. Ficaram os circunstantes compenetrados de assombro, e Antônio teve a satisfação de ver o marido, que lhe preparava a morte, prostrar-se aos pés de sua mulher, pedindo-lhe perdão e jurando-lhe perpétua paz e amor.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que ardendo no amor de Deus e do próximo, toda a vossa vida vos empregastes nesses dois pontos, sobre que versa toda a Lei e os profetas; exercitai lá ainda da glória esse amor com os vossos devotos, que com tanto prazer nos ajuntamos para vos render estes cultos, e fazei com que nós sigamos os vossos passos, observando os mandamentos da Lei, que todos se reduzem a esses dois preceitos para seguirmos também o caminho por onde vós subistes à glória. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

7º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Consideremos o ardente zelo que Antônio tinha pela honra e glória de Deus. Essa virtude verdadeiramente apostólica resplandeceu em todo o decurso de sua vida como virtude dominante. No coro e altares da Sé de Lisboa, nos mosteiros de São Vicente de Fora e de Santa Cruz de Coimbra, na sagrada Ordem dos Frades Menores em Portugal, França e Itália, via-se Fr. Antônio trabalhando incessantemente em estender a glória do Senhor. Ele intenta ir levar o seu nome aos povos africanos, mesmo à custa do seu sangue, que ambiciosamente deseja derramar por seu amor. No púlpito, não é uma linguagem que lisonjeia os ouvidos a de que Antônio se vale para adquirir nome de pregador eloquente, mas um estilo vigoroso, persuasivo e próprio para tratar a causa de Deus e favorecer a sua honra. Com que intrepidez se apresenta ele ao seu Superior Geral, Frei Elias, de cuja relaxação teme se siga a corrupção de toda a sua Ordem e lhe afeiem os abusos que nela intentava introduzir, chegando a fazer com o seu zelo que o Sumo Pontífice Gregório IX o privasse do generalato.

Mas o mais admirável zelo do nosso santo se manifesta na liberdade santa com que, arrostando os perigos, vai repreender em face o tirano Excellino, general do exército do cismático Imperador Frederico II, que, assolando a ferro e fogo algumas cidades da Itália, só em Verona tinha feito degolar de sangue frio onze mil pessoas, e entre elas mais de sessenta religiosos da Ordem dos Menores; e, encarniçado principalmente contra o Pontífice Romano, abrasava as igrejas, profanava os altares, e atentava contra a pureza das virgens consagradas a Deus e contra as vidas dos ministros da religião. Todos esses crimes lhe lança Antônio em rosto de um modo tão denodado e fogoso, que o cruel Excellino, não podendo resistir à sua eficácia, perdida a cor do rosto, prostrando-se aos pés do santo lhe suplicou com a voz sufocada na garganta que lhe perdoasse tantos crimes, de que estava arrependido, ou o afogasse com o seu próprio cinto, que para isso lançou ao pescoço. Confessou depois aos seus oficiais, admirados de tanta humilhação, que ele tinha sido aterrorizado pelos resplendores e raios que cercavam o rosto daquele frade que o repreendera.

Deprecação

Antônio glorioso, que pelo zelo da honra e glória do vosso Deus vos aventurastes aos maiores perigos e que em toda a vossa vida não tivestes outra mira mais que o fazer conhecer e respeitar o seu santo nome; fazei que nós também concorramos, quanto nos for possível, para a manifestação da sua glória, para que, cumprindo com essa obrigação que nos impõe o benefício da nossa criação e conservação, mereçamos conseguir o fim da mesma criação, participando da glória que estais gozando. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

8º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos o zelo infatigável com que Antônio se desvelou sempre pelo bem espiritual do seu próximo. Seus talentos nunca estiveram escondidos ou ociosos, sendo a sua vida uma sucessiva tarefa de exercícios destinados ao bem das almas. A esse fim se dirigiam na cela os seus estudos; no púlpito, os seus argumentos; no confessionário, os seus conselhos e direções; no altar, as suas orações e súplicas; e em todo o lugar, os seus passos, palavras e ações. Por esse motivo, Antônio ia intrépido à presença dos tiranos afeiar-lhes as suas cruezas; reconduzia carinhoso os pecadores arrependidos ao caminho de que se desmandaram; consolava caritativo os angustiados; desviava, astucioso, os que estavam a ponto de se deixar precipitar nos laços do demônio. Esse zelo de Antônio não morreu com o seu corpo. Lá do Céu está ainda vigiando na conduta de seus devotos.

Entre infinitos testemunhos dessa proteção, é bem admirável o seguinte. Certa viúva natural de Nápoles, vivendo pobrissimamente com uma filha sua mui formosa, e não podendo tratar-se segundo a sua distinta qualidade, tomou o desgraçado partido de prostituir a beleza da filha para remediar a penúria em que viviam. Sem rebuço, propôs à filha o infame projeto da sua perdição, aconselhando-a que elegesse um dos mancebos mais ricos e bem-apessoados da cidade, entre os que a galanteavam, o qual pudesse à custa da sua honestidade livrá-las das necessidades que padeciam. A desconsolada donzela nem pôde responder à licenciosa proposta da mãe, e cheia de confusão e vergonha, com os olhos banhados de lágrimas, retira-se para onde possa livremente chorar a sua desgraça. Entrando um dia, pouco depois, na Igreja de São Lourenço, onde se venerava uma imagem de Santo Antônio, roga-lhe, desfazendo-se em lágrimas, que a livrasse do perigo que lhe ameaçava a infame resolução de sua mãe pela sua extrema necessidade. Apenas acabara a súplica, a milagrosa imagem estende o braço, e diz: “Toma este bilhete, e com ele procura fulano negociante nesta cidade, e dize-lhe da minha parte que te entregue para teu dote outro tanto peso de moedas de prata quanto tem este bilhete”. A donzela, cheia de confiança, pegou reverente no papel e, procurando o negociante, lhe deu o recado do santo. Não sabia o homem que juízo formasse de tal narração, mas, atribuindo-a por fim à jovialidade da moça, lhe respondeu: “Muito bom de contentar é o teu esposo, pois se há de satisfazer com o dote que eu vou dar”. E, tomando o bilhete, pôs do outro braço da balança à mais pequena moeda de prata, julgando ser bastante a equilibrar o peso do papel; porém, a balança caía toda para a parte do bilhete, de modo que, para pôr em equilíbrio a balança, foram necessários oitocentos cruzados de prata. Então, se lembrou o negociante de ter feito promessa de dar a Santo Antônio uma lâmpada daquele mesmo peso, e conheceu que o santo dispunha e exigia o que era seu, livrando a sua devota, a qual casou-se de modo decente.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que na vossa vida, e depois da vossa morte, estais continuamente zelando a salvação das nossas almas: nós vos pedimos que muito particularmente tomeis conta destes vossos devotos, que, conhecendo a necessidade que temos da vossa proteção, vimos diante da vossa sagrada imagem manifestar-vos as nossas indigências. Deferi-nos com a piedade própria da vossa afabilidade e do vosso zelo, guiando-nos pelo caminho da feliz bem-aventurança. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

9º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos o dom de sabedoria de que Antônio foi dotado e o uso santo que soube fazer do mesmo dom. Desde menino penetra e pratica os ditames do Evangelho. As suas delícias são os Livros Santos, em cuja inteligência foi tão eminente que com justiça lhe chamou o Pontífice Gregório IX Arca do Testamento, admirado da vasta erudição que ele mostrou pregando repentinamente na sua presença, em que deu provas de ser verdade o que se afirmava, que sabia de memória um e outro Testamento. É constante tradição que Antônio fora o primeiro professor de teologia que teve a Ordem seráfica, em cuja exposição foi tão douto, que mesmo seu mestre o respeitava. Lecionou em Montpellier e Bolonha com grandíssimos aplausos e aproveitamento de seus discípulos. Mas o fruto que tirava da sua sabedoria, manejada no púlpito, era mais conforme ao seu zeloso espírito. Ele tinha de pregador todas as belas qualidades: uma voz encorpada e sonora; as ações naturais e airosas; o estilo claro, eloquente, sem artifício; o rosto agradável e penitente; era o encanto do auditório: e mesmos os animais irracionais gostaram de o ouvir, como vereis do seguinte milagre.

Havia na cidade de Rimini um célebre herege chamado Bonivillo, acérrimo na disputa, e de sutilíssimo engenho. Intentou Antônio mostrar-lhe a verdade da religião católica, empenhando a sua sabedoria nessa exposição; mas Bonivillo e mais os seus sequazes, negando-lhe a atenção, desprezavam o discurso do santo, desdenhando a palavra divina. Então, o santo lhes clama: “Soberbos e rebeldes, já que negais os ouvidos às vozes do Céu, aprendei dos irracionais a atenção e docilidade com que as deveis escutar”; e, chegando-se às margens do rio, convocou os peixes, que nele viviam, para ouvirem a palavra de Deus. Prontamente apareceram saltando na superfície das águas inumeráveis peixinhos de todas as formas e grandezas, que com as cabeças levantadas fora d’água pareciam estar arrebatados do discurso do pregador, até que este, lançando-lhes a benção, os despediu. Bonivillo e seus sectários, não podendo resistir a uma tão milagrosa prova, abjuraram os seus erros e, prostrados aos pés do santo, reentraram no seio da Igreja.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que pela vossa sabedoria conquistastes tantos rebeldes para o reino dos Céus, nós vos suplicamos que nos ajudeis, a fim de que, ilustrados da verdadeira sabedoria que começa pelo temor de Deus, sejamos firmes nas verdades da religião e executemos os preceitos da lei e os conselhos do Evangelho, pois teremos certa a glória que aspiramos. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

10º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a paciência e sofrimento do nosso santo. Zeloso no último ponto e sentido das injúrias feitas ao seu Deus, ele não se dói das que a inveja e o furor dos seus inimigos lhe acumulam; parece nem as conhecer, tal é a indiferença com que as recebe e despreza! Os hereges raivosos, pela violência com que ele atacava e os convencia de seus erros, empregam todos os artifícios para se desfazerem ou ao menos difamarem a sua santidade; mas Antônio, com o seu sofrimento, os desarma e até os converte. Alguns dos seus mesmos religiosos, não podendo tolerar o zelo com que o santo se opunha à sua dissolução, o carregaram de opróbrios, caluniando-o de perturbador da paz, desobediente, altivo e escandaloso: mas nada abala a paciência de Antônio, que, continuando no seu zelo, conseguiu, apesar dos seus inimigos, a reforma da iminente relaxação da sua Regra. O demônio não cessava de tramar perigos ao servo de Deus para o distrair da conversão das almas; mas o paciente Antônio sabe com o seu sofrimento desfazer as suas ciladas, e até desfazê-las por meio do mesmo demônio, como lhe sucedeu no seguinte caso.

No convento de Brive, onde o santo era prelado, um noviço, tentado do demônio, apostatou secretamente e, fugindo, roubou ao santo um saltério ornado de glosas morais, que lhe tinha custado muito estudo e trabalho e lhe servia de grande utilidade. Sentiu assim o santo a perdição do noviço, como o furto do seu saltério, que tanta falta lhe fazia para a pregação. Mas, revestido da sua costumeira paciência, recorreu ao seu remédio ordinário da oração, pedindo a Deus que se compadecesse da miséria daquele fugitivo. Não foi a sua oração infrutuosa, determinando o Senho que aquele mesmo demônio que tinha tentado ao noviço com a fuga e o roubo fosse quem o reduzisse ao arrependimento. Quando, pois, passando por uma estreita ponte, se lhe avançou um medonho etíope com um cutelo na mão, ameaçando-o de o fazer em pedaços se logo não voltasse a entregar a Fr. Antônio, e em mão própria, o saltério que lhe roubara. Desapareceu o fantasma e o tímido apóstata, assombrado e compungido, voltou para o convento, onde achou em Antônio o agasalho e carinho do pai do filho pródigo.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que tivestes a fortuna de padecer e sofrer tanto pelo vosso Deus, seguindo o seu exemplo na paciência com que o sofrestes, fazei que nós, esquecidos do amor-próprio que diretamente se opõe à mansidão e paciência evangélica, possamos, em observância da lei de Cristo, amar os nossos mesmos inimigos, como ele o fez, orando na Cruz pelos seus perseguidores: para merecer-nos o prêmio da mesma Cruz. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

11º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Consideremos a humildade e abjeto conceito que Antônio tinha de si e das suas coisas. Não contente com desprezar as grandezas que o rodeavam no século, o seu humilde gênio, ainda não satisfeito na Ordem dos Cônegos Agostinianos, elege a dos Frades Menores para exercer mais livremente os ofícios da maior humilhação e do abatimento. Servir na cozinha, varrer os dormitórios, estas eram as ocupações mais deliciosas de Fr. Antônio: sobretudo, porém, o que faz a mais incontestável prova da sua humildade é o segredo com que soube esconder a sua sabedoria e habilidade, tendo o prazer mais suave em ser tido por homem simples, sem letras e sem outro algum préstimo que o de servir na comunidade. Daqui veio que, na assembleia geral celebrada em Assis, nenhum prelado fizesse caso de Fr. Antônio, como membro inútil, segundo parecia da debilidade do seu corpo, procedida das rigorosas penitências. Então, fez o santo um grande sacrifício à humildade e, prostrado aos pés de Fr. Graciano, eleito Provincial de Bolonha, lhe pediu com humildes instâncias que o recebesse por seu súdito, o que com efeito conseguiu, assinando-se-lhe para habitação a Ermida do Monte de São Paulo, onde esteve oculto, até que pareceu conveniente à Divina Providência manifestar milagrosamente aquele tesouro escondido. O mesmo segredo que guardara acerca dos seus talentos e sabedoria, procurava cuidadosamente conservar, ocultando os prodígios que obrava: a fama da sua santidade o afligia.

Um dia, quando o santo com toda a cautela passava por desviados caminhos de um lugar para outro, foi, contudo, pressentido por uma mulher que, tendo um filhinho tolhido de pés e braços, com lastimosos brados lhe pedia que se compadecesse da sua aflição e lhe apresentava o menino que trazia consigo. Alvoroçou-se a humildade do santo e, estranhando à mulher a sua indiscreta impertinência, a despediu com sinais de enfado. Mas, por fim, rendendo-se aos rogos do seu companheiro e compassivas súplicas da mãe, com o sinal da cruz restituiu ao menino o uso do seus membros: prodígio que só atribuiu à fé que sua mãe teve e à qual recomendou muito que o ocultasse por todo o tempo da sua vida.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que, desprezando a pompa e a ostentação de sábio, quisestes ser reputado ignorante e desprezível aos olhos do mundo, merecendo com essa humilhação o ser exaltado, como Deus promete aos abatidos; fazei, com o vosso patrocínio, que, seguindo nós o vosso exemplo, e lembrados de que tudo quanto possuímos, tudo recebemos, não nos gloriemos dos dons que Deus se servir em dispensar-nos, para merecermos a recompensa da humildade na glória eterna. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

12º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a fortaleza e a intrepidez com que Antônio arrasta os maiores perigos por causa do seu Deus. Animado do terno espetáculo dos ossos dos felizes mártires de Marrocos, desde logo Antônio aspira a imitar a sua constância, e ambiciona a glória do martírio. Com essas vistas entra na Ordem de Francisco, e com o beneplácito dos seus superiores se embarca para a África. Mas a Divina Providência o destinava a maiores combates. Os inimigos internos da Ordem eram os que estavam destinados para os triunfos desse intrépido soldado de Cristo. Mas que trabalhos lhe não custam esses triunfos? Umas vezes atentando contra a sua vida, outras contra a sua fama, sempre contra a sua doutrina, davam ao nosso santo frequentes ocasiões de terríveis combates, de que ele sempre triunfava pelo divino esforço de que era animado.

Numa ocasião, intentando os hereges desacreditar os evidentes milagres que Deus obrava por intercessão de seu servo, subornaram um dos seus secretários para que, fingindo que de algum desastre tinha perdido os olhos, saísse em busca de Antônio, e com fingidos rogos lhe pedisse remédio ao seu desastre, preparando-se para escarnecerem do santo, a quem intentavam enganar com esse fingimento, e especialmente dar por falsos os seus verdadeiros prodígios com esse artifício. Cobriu, pois, esse desgraçado os olhos com um pano ensanguentado, e saiu dando lastimosos brados, e pedindo que o conduzissem à presença de Fr. Antônio, para que ele lhe restituísse milagrosamente a vista. O santo, porém, ouvindo a sua fraudulenta súplica, e conhecendo por inspiração divina os seus danados intentos, levantando os olhos ao Céu, e pedindo a Deus que atendesse pela sua causa, fez o sinal da cruz, e mandou ao herege que desatasse o pano, pois já tinha o remédio que merecia a sua fé. Ouvindo isso, os hereges não podiam conter as risadas, mas elas se converteram em horror quando o infeliz homem, desatando o pano, tirou nele pegados os seus olhos. Que assombro e confusão para os hereges! Mas Antônio, aproveitando tão oportuna ocasião, lhos tornou a colocar no rosto, sem a menor lesão, convertendo com esse duplicado milagre aqueles que pretendiam escarnecer da sua santidade.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, intrépido defensor da religião cristã, que à custa de tantos trabalhos, fadigas e perseguições soubestes fazer triunfar, fazei que saibamos também nós manifestar com as nossas obras a persuasão em que estamos das verdades da nossa crença, e da santidade das suas leis, pois só pela sua observância podemos merecer a glória. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

13º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a terníssima devoção que o nosso santo teve sempre a Maria Santíssima. Logo desde menino se notou que aos sábados nunca tomava o preciso alimento sem que primeiro fosse apresentado por sua ama diante da milagrosa e respeitável imagem da Virgem que se venera na Sé de Lisboa, e ali, com os braços estendidos, dava sinais de que a saudava, como quem conhecia a importância do seu valimento. Desde então, sempre lhe consagrou com terníssimo afeto todas as suas ações e os seus estudos: celebrava com a mais devota ternura as suas festas e mistérios, sendo mais intenso o fervor e afeto nos da sua puríssima Conceição e gloriosíssima Assunção, merecendo que lhe aparecesse a mesma Senhora, e o certificasse de que tinha sido levada em corpo e alma aos Céus.

Não foi essa a única aparição com que Antônio foi regalado. Uma noite, assaltado do demônio na figura de um formidável etíope que, lançando-lhe ao pescoço as mãos, esteve a ponto de o afogar; o nosso santo se valeu da sua protetora, invocando-a com o hino que a Igreja canta na festividade da sua Assunção. Acudiu a Senhora com o seu pronto amparo e, expulsando com sua presença o raivoso inimigo, deixou a Antônio cheio de consolação interior e de terníssimos sentimentos de gratidão.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que, pela terna devoção que sempre tivestes à imaculada Mãe de Deus, conseguistes o seu poderoso patrocínio e os favores incompreensíveis da sua presença, fazei com que nós possamos igualmente ser devotos imitadores das suas virtudes para merecermos o seu amparo e valimento para com seu bendito Filho. Aceitai, santo bem-aventurado, os nossos obséquios; abençoai os nossos votos; despachai as nossas súplicas; tomai-nos debaixo da vossa eficaz proteção. Perdoai as imperfeições e faltas que cometemos neste santo exercício, e alcançai-nos de Deus, que tendes nos vossos braços, a graça necessária para participarmos da glória que estais gozando. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias).

Redação MBC

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Reze conosco a Trezena de Santo Antônio e apresente seu pedido a Deus por intercessão do grande Martelo dos Hereges.

Período: 31 de maio a 12 de junho
Solenidade:13 de junho

Quem foi Santo Antônio de Pádua?

São Antônio nasceu em 15 de agosto de 1195 e era natural de Lisboa. Cônego regular, depois franciscano, pregou por toda a parte, primeiro em Portugal, depois na Itália, numa linguagem toda alimentada da doutrina das Sagradas Escrituras. Pio XII, que elevou Santo Antônio à honra de Doutor da Igreja, deu-lhe o título de Doutor Evangélico, de tal modo gostava de apoiar todas as suas afirmações em citações do Evangelho. Simultaneamente professor de teologia e pregador das grandes multidões, combateu a heresia com extremo vigor e com uma força de convicção excepcional.

Santo Antônio morreu em Pádua a 13 de junho de 1231, com a idade de 35 anos, aureolado por uma reputação de grande santidade. Logo após a sua morte, inumeráveis milagres levaram os fiéis a invocá-lo como taumaturgo duma incansável condescendência.

Padroeiro de Lisboa, dos pobres, das mulheres grávidas, dos casais, das pessoas que desejam encontrar objetos perdidos, dos oprimidos.

Conheça mais sobre a história de Santo Antônio de Pádua.

Reze a Trezena

Oração inicial para todos os dias

Áperi; Veni Sancte Spíritus

Dignai-vos, Senhor, pôr nos nossos lábios louvores dignos do vosso santo nome e purificar o nosso coração, livrando-o de pensamentos impertinentes, vãos e pecaminosos: iluminai o nosso entendimento e inflamai os nossos desejos, a fim de podermos fazer este santo exercício com aquela atenção, dignidade e devoção que devemos, para merecermos que cheguem ao trono da vossa divina majestade os nossos clamores, por intercessão de Jesus Cristo Senhor Nosso. Amém.

Hino

Por que razão, amado Antônio, intentais fugir da pátria e ir buscar as gentes africanas? Se procurais a palma do martírio, outros são os destinos da providência.

Ventos contrários vos farão aportar na Itália, onde fareis felizes aqueles povos. Eles terão a fortuna de possuir os vossos ossos; pelo que chamarão paduano a um santo português.

Porém, lá da Pátria celeste, dignai-vos amar com predileção a vossa Lusitânia; sinta primeiro este Reino que vos deu o nascimento os efeitos da vossa proteção, com preferência ao lugar do vosso jazigo.

Mas as vossas vistas benéficas se estendem a um e outro povo: todos em vós acham igual agasalho e proteção.

Ouvi, benigno Deus, os nossos votos. Vós que com o Filho e Espírito Santo reinais por séculos eternos. Amém.

1º dia da Trezena de Santo Antônio

Contemplemos em primeiro lugar a cega obediência que o nosso santo logo, desde os primeiros anos, soube tão exatamente observar. Primeiramente, debaixo dos preceitos de seus pais e de seus mestres e depois dos seus superiores, Antônio jamais fez ação que não fosse regulada pelos seus conselhos. Os cônegos da catedral de Lisboa admiravam nesse menino a docilidade e alegria com que se rendia às suas admoestações e se empregava no serviço dos altares. Mas com que prontidão ele não obedece à voz do Senhor, que o chama? Fiel imitador do desapego dos Apóstolos, deixa tudo ainda na sua infância para seguir a seu divino Mestre dentro dos claustros religiosos, onde se lhe franqueia um vasto campo para o exercício dessa virtude. Tal era o amor que Antônio tinha à obediência, que chegando um dia a seus pés um penitente e acusando-se com verdadeiro arrependimento de ter maltratado a sua mãe com um pé, o santo, perturbado da atrocidade do fato, lhe disse: “Pé que se atreveu a ofender a sua mãe merece ser cortado.” O sincero penitente, interpretando mal a repreensão do Confessor, chega a casa e, decepando o seu próprio pé, estava a ponto de morrer, esgotando-se de sangue, publicando depois que, por insinuação de Fr. Antônio, rompera naquela temeridade. Chegam aos ouvidos do santo a indiscrição do penitente e as queixas de sua mãe; vai logo visitar o enfermo e, tomando nas suas mãos o pé inteiramente separado da perna, lho torna a unir, fazendo sobre ele o sinal da Cruz, com pasmo de todos os circunstantes, que não cessavam de louvar a onipotência de Deus, recuperando desta sorte o penitente a saúde do corpo e da alma, que havia perdido pela desobediência à sua mãe.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, perfeitíssimo discípulo de Jesus Cristo e imitador da obediência desse divino Mestre, que quis para nosso exemplo ser obediente até à morte, fazei que eu, seguindo os vossos passos, saiba honrar e venerar os meus superiores, e que, reconhecendo neles a voz de Deus, cujas vezes eles fazem cá na Terra, mereça nela as bênçãos devidas aos obedientes e por fim acompanhar-vos na glória. Amém.

Oração final para todos os dias

Pai-Nosso; Ave-Maria; Glória ao Pai

℣. Antônio Santo, de Jesus querido.
℟. Valha-me sempre o vosso patrocínio.

Ladainha de Santo Antônio

Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, ouvi-nos.

Jesus Cristo, atendei-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.

Deus, Pai do Céu, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do mundo, tende…
Deus, Espírito Santo,
Santíssima Trindade, Único Deus,

Santo Antônio de Pádua, rogai por nós.
Íntimo amigo do Menino Deus, rogai…
Servo da Mãe Imaculada,
Fidelíssimo filho de São Francisco,
Homem da santa oração,
Amigo da pobreza,
Lírio da castidade,
Modelo da obediência,
Amigo da vida oculta,
Desprezador das glórias humanas,
Rosa da caridade,
Espelho de todas as virtudes,
Sacerdote segundo o Coração do Altíssimo,
Imitador dos apóstolos,
Mártir pelo desejo,
Coluna da Igreja,
Amador das almas,
Propugnador da Fé,
Doutor da verdade,
Batalhador contra a falsidade,
Arca do testamento,
Trombeta do Evangelho,
Convertedor dos pecadores,
Extirpador dos crimes,
Restaurador da paz,
Reformador dos costumes,
Triunfador dos corações,
Auxiliador dos aflitos,
Ressuscitador dos mortos,
Restituidor das coisas perdidas,
Glorioso taumaturgo,
Santo do mundo inteiro,
Glória da Ordem dos Menores,
Alegria da corte celeste,
Nosso amável padroeiro,
Doutor da Santa Igreja,

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
tende piedade de nós.

℣. Rogai por nós, Santo Antônio.
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos. Ó Deus, nós vos suplicamos que a intercessão votiva de vosso glorioso Confessor e Doutor Santo Antônio alegre a vossa Igreja, para que, fortalecida com espirituais auxílios, mereça alcançar a glória eterna. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

(Fazer o pedido)

Responsório

Se milagres desejais,
Recorrei a Santo Antônio;
Vereis fugir o demônio
E as tentações infernais.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraco torna-se forte
E torna-se o enfermo são.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.

℣. Rogai por nós, bem-aventurado Antônio.
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos. Senhor Deus, que a solenidade votiva de Santo Antônio, vosso confessor, alegre a vossa Igreja, para que sempre se ache fortalecida com os socorros espirituais e mereça alcançar os gostos eternos. Pelos merecimentos de Cristo Jesus Nosso Senhor. Amém.

2º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Consideremos a pobreza voluntária que o nosso santo professou em toda a sua vida. Nascido de uma família não só ilustre, mas abastada, educado no meio da opulência e esplendor, Antônio renuncia a todos esses encantos e lisonjeiras esperanças. A sua vida é no templo; os seus divertimentos pueris são as funções eclesiásticas; a sua maior grandeza e esplendor consiste na ocupação e ministério dos altares. Mas esse desprezo dos bens terrenos
não é ainda bastante ao fervoroso Antônio: contava ele apenas dezesseis anos, quando determina ser pobre para sempre e por voto. A sagrada religião dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho lhe ouviu fazer essa promessa à face dos seus altares, e lhe viu cumpri-la exatamente em todo o tempo que teve a fortuna de o lograr. Ainda Fernando (esse era então o seu nome) aspira maior grau de perfeição: a pobre religião que São Francisco de Assis acabava de fundar lhe parece mais própria ao seu espírito de pobreza; passa a fazer nela o mesmo sacrifício de abnegação do mundo, renunciando de todo à propriedade dos bens terrenos e até ao nome que tinha no século, de modo que só o grosseiro burel que cobria o seu corpo se podia dizer que era de Fr. Antônio.

Essa pobreza, de que ele era tão observante, a pretendia insinuar e persuadir aos seus ouvintes no púlpito; e um dia, pregando nas exéquias de um rico avarento, se esforçou em demonstrar a felicidade dos pobres, que satisfeitos com a sua pobreza vivem quietos e sossegados, quando pelo contrário os opulentos são sempre atormentados da insaciável sede de maiores riquezas. Depois de ter provado esses pontos com a sua enérgica e apostólica eloquência, rompeu nesta profecia: “Esse desgraçado avarento, cujo corpo está presente, nos dá um triste testemunho dessas verdades: ide abrir o cofre do seu dinheiro, nele achareis o seu coração”. O sucesso correspondeu à profecia, pois com efeito se achou o coração daquele miserável aferrolhado no seu cofre.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que desprezando as riquezas terrenas soubestes imitar a pobreza do nosso Redentor e dos seus Apóstolos; fazei que possamos também nós desapegar-nos dos bens caducos, e adquirir com eles, repartidos em benefícios dos pobres, o tesouro celestial, que nunca há de minguar e de que vós já estais de posse, por prêmio da vossa pobreza voluntária. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

3º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos o amor que Antônio teve à virtude angélica da castidade e a escrupulosíssima vigilância com que sempre guardou a preciosíssima joia da sua pureza. Nem os encantos perigosos de uma cidade já então famosa, nem as delícias de uma mimosa educação, nem as grandezas que o rodeavam puderam fazer algum abalo na inocência desse menino. Ele sabe fugir a tempo ao asilo da Igreja e, abrigado à sombra dos altares, se põe em seguro, e evita os ardis da diabólica malícia. Prostrado diante da sagrada e respeitável imagem da puríssima Virgem, pede e recebe parte daquela graça, de que ela foi cheia no primeiro instante da sua Conceição Imaculada: com tal protetora, Antônio vence as tentações infernais e, apesar de todo o esforço diabólico, conserva durante toda a vida ilesa a pureza do seu inocente corpo. O seu mesmo vestido era remédio para as tentações da carne, como prova o sucesso seguinte.

Certo monge, no bispado de Limoges, se via continuamente assaltado de violentíssimas tentações da carne, que não podia apagar com todas as espécies de mortificações e asperezas com que maltratava o seu corpo, tendo por isso a maior desconsolação, e receando abismar-se em alguma desesperação sem remédio. Nesse estado recorre a Fr. Antônio, suplicando-lhe que o quisesse ouvir de confissão. Esmerou-se o santo em consolá-lo, dando-lhe os saudáveis conselhos que achava oportunos; notando, porém, o ânimo do miserável monge tão apoucado e abatido, despe a própria túnica interior, e ordena ao monge que a vista à raiz da carne. Apenas ele obedece, sente dilatarse-lhe o coração, um novo alento refundido no seu espírito lhe faz subordinar a carne rebelada às suas leis e desde aquele tempo se desconhece a si próprio, confessando que desde então ficara livre da vergonhosa confusão que lhe causava a rebelião dos seus sentidos.

Deprecação

Antônio bem-aventurado e puríssimo, se o toque dos vossos vestidos foi bastante para apegar a honestidade que vós tão cuidadosamente observastes, alcançai-nos de Deus que todos os vossos devotos que vos rendemos estes afetuosos cultos tenhamos a fortaleza de combater e rechaçar os assaltos furiosos do espírito impuro e merecer entrar triunfantes na glória que estais gozando. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

4º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a fé viva e eficaz do nosso santo. Toda a sua vida desde menino foi um tecido de ações filhas da sua crença. Se Antônio deixa a casa de seus pais e foge para o templo, é porque crê que no templo acha realmente ao Pai das luzes donde procedem e dimanam todos os bens e dons perfeitos; se a sua consolação é assistir ao incruento sacrifício e mais augustos mistérios da nossa religião com a reverência mais profunda, é porque está firmissimamente convicto da divindade da Vítima imolada e da realidade dos nossos sacramentos. Se, subido ao púlpito, apregoa as verdades da religião com o fogo mais ativo, com as mais enérgicas e penetrantes razões; se move, se abala, se converte os pecadores mais arraigados e encanecidos no pecado, é porque fala com o coração verdades de que lhe parece que ninguém pode duvidar.

Obstinados lógicos, que com fúteis sutilezas negais a presença real de Jesus Cristo na hóstia consagrada, vós ides dar um brilhante triunfo à fé e zelo do nosso santo, o que mostra do seguinte milagre. Esses hereges, que nos tempos de Antônio infectavam algumas províncias da França, intentaram entrar em disputa com o nosso santo em Limoges, onde se achava, e para esse fim elegeram a um deles chamado Guialdo, de cuja sutileza esperavam muito. Não recusou o santo a batalha e, fiado na justiça da causa e no dono dela, compareceu no dia e local assinalado. Deixou que o herege ostentasse a sua vã erudição num discurso igualmente fútil, e que não deu a Antônio muito trabalho a refutar com razões sólidas e testemunhos das Sagradas Letras; mas a soberba do herege não se dava por convencida, menos que não visse um milagre: propunha, pois, a Antônio, que ele só creria na real presença de Jesus Cristo na sagrada hóstia, se visse que o seu jumento, esfaimado de três dias, largasse a comida à vista da mesma hóstia. Concorda o santo e, celebrando o Santíssimo Sacrifício e tomando nas suas mãos a sagrada hóstia, diz para o faminto animal: “Em nome de Jesus Cristo, que tenho nas minhas indignas mãos, te mando, ó criatura irracional, que chegues e reverencies a teu Criador”. Apenas disse, o jumento, desprezando o sustento, se prostrou, dobrando os seus joelhos, diante da sagrada hóstia, com pasmo e admiração de todos, vertendo os católicos ternas lágrimas de consolação e os hereges de arrependimento.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, milagroso esteio da fé e religião, que tão justamente merecestes o glorioso título de Martelo de Hereges, firmai os vossos devotos na fé, virtude capital da nossa religião; fazei que pelas nossas ações demos provas de que a nossa fé não é uma fé morta, que o Apóstolo condena, mas uma fé ativa, oficiosa e capaz de nos merecer a glória para que fomos criados. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

5º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a esperança certa e assegurada confiança que Antônio tinha nas infalíveis promessas do seu Deus e na sua Divina Providência. Persuadido de que o prêmio eterno da virtude estava afiançado pelas palavras de Jesus Cristo, ele não deixou um só momento da sua vida ocioso, ocupando os trinta e seis anos dela em exercitar os atos de virtude que lhe davam o direito impreterível de conseguir o mesmo prêmio. Confiante de que todos os cabelos da cabeça dos filhos da Redenção estão numerados e ao cuidado do Pai celestial, que não consente, segundo a sua promessa, que nem um só pereça sem a sua vontade, Antônio se põe nos braços da Providência tão resignado, que não tem outra vontade mais que a de seu Deus. Dessa confiança vinha que Antônio, quer ocupando os cargos do governo na sua Ordem, quer cumprindo com as obrigações de súdito, jamais cuidasse em provisão de víveres para o futuro e que também nunca sentisse falta do necessário para sua sustentação e de seus irmãos, havendo entre os fiéis uma santa porfia em favorecer esses filhos da Providência, porfia que sempre era superiormente recompensada, como se mostra no sucesso seguinte.

Junto de Montpellier, uma caritativa senhora hospedou em sua casa a Fr. Antônio e seu companheiro, que partiam para a Itália. Para os hospedar com mais alinho, pediu de empréstimo uma delicada taça de cristal para o serviço da mesa. Ela mesma desce pressurosa a adega a enchê-la de vinho e com o excessivo desvelo deixa aberta a pipa, que em breve se esgotou. No fim do jantar, o companheiro do santo deixou cair das mãos a taça que se fez em pedaços. Essas perdas angustiavam o dito companheiro, que, dirigindo-se ao santo, lhe disse: “Padre, compadece-te desta piedosa senhora, que tem sido tão mal paga pela piedade e esmero com que nos hospeda”. O servo de Deus, enternecido das lágrimas da senhora e da confusão do companheiro, inclinando-se sobre a mesa, e encobrindo o rosto com as mãos, fez a Deus oração, cujo efeito foi começarem os pedaços da taça a ajuntar-se por si mesmos, ficando na mesma perfeição em que era; e o vinho derramado, a reencher a pipa, sem deixar o menor sinal do seu derramamento.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que, assegurado das promessas de Cristo e confiado na sua verdade, só vos ocupáveis em as merecer, fazei que nós possamos com a mesma evidência inteirarmo-nos delas, e saibamos merecer por meio das boas obras a salvação eterna, prêmio infalível de uma vida inocente, e que, seguindo o vosso exemplo, vos acompanhemos na glória. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

6º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a ardente caridade de Antônio. Apenas sabe que o ponto capital da nossa religião consiste em amar, que a caridade, segundo a doutrina do Apóstolo, é a maior de todas as virtudes (I Cor 12,31—13,13), e capaz de franquear um caminho seguro e direito para a glória; Antônio se abrasa todo no amor de Deus e do próximo, de sorte que estes dois pontos faziam toda a ocupação do nosso santo. O tempo que lhe sobrava do serviço da Igreja, do ministério da pregação e administração dos sacramentos, o gastava na oração, contemplando as imensas perfeições de Deus, e, engolfando-se cada vez mais nestas profundas contemplações, cada vez mais descobria novos motivos ao seu amor. O próximo é o outro objeto a que se dirige a sua caridade. Não haverá talvez aflição que Antônio não livrasse a algum necessitado. Quantos pecadores arrancados das ocasiões do seu pecado e das garras do Demônio? Quantos energúmenos livres em virtude de Jesus Cristo? Quantos mortos ressuscitados? Quantos inocentes absolvidos? Surdos, cegos, mudos, coxos, todos, enfim, sentiram os efeitos da sua enternecida caridade; e ainda hoje talvez nenhum de nós deixe de lhe ser devedor de algum assinalado benefício, e de ter experimentado a sua poderosa proteção.

Estupendo é o milagre que a sua caridade obrou em Ferrara. Tinha-se casado há pouco um mancebo com uma formosa donzela, ambos ricos e nobres, qualidades que, por algum tempo, conservaram nesses noivos o amor mútuo, que faz a alegria e prazer daquele estado. Mas esse primeiro amor se foi entibiando de tal sorte que o marido, desconfiado da fidelidade da sua consorte e persuadido de que a gravidez em que a viu era adulterina, lhe maquinou a morte para ocasião do parto, como mais oportuna; e até a ameaçou com ela. A desconsolada mulher, por conselhos de seu pai, vai procurar a Fr. Antônio, expondo-lhe o perigo de que estava ameaçada. O caritativo santo a consola e sossega, prognosticando-lhe um parto feliz, e prometendo-lhe sossegar a seu marido. Com efeito, completo o tempo, deu à luz um menino, e seu marido, querendo aproveitar a ocasião, lhe oferece o veneno preparado numa bebida para executar a sua vingança. A esse mesmo tempo, Antônio, movido de superior inspiração, entra pela casa com pretexto de o felicitar pelo recém-nascido; pede depois que lho apresentem, para ler sobre ele os Evangelhos e, tomando-o nos braços, lhe disse entre carícias: “Criatura de Deus, em virtude de seu santíssimo nome te mando que declares: quem é teu pai?” Logo, o menino, porque tinha enfaixados os bracinhos, acenando com a cabeça para o pai, e com os olhos nele fitos, respondeu em voz clara e inteligível: “Tu, senhor, és meu pai natural e a minha mãe é castíssima, nem tem ofendido ao menos levemente a fé conjugal”. Ficaram os circunstantes compenetrados de assombro, e Antônio teve a satisfação de ver o marido, que lhe preparava a morte, prostrar-se aos pés de sua mulher, pedindo-lhe perdão e jurando-lhe perpétua paz e amor.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que ardendo no amor de Deus e do próximo, toda a vossa vida vos empregastes nesses dois pontos, sobre que versa toda a Lei e os profetas; exercitai lá ainda da glória esse amor com os vossos devotos, que com tanto prazer nos ajuntamos para vos render estes cultos, e fazei com que nós sigamos os vossos passos, observando os mandamentos da Lei, que todos se reduzem a esses dois preceitos para seguirmos também o caminho por onde vós subistes à glória. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

7º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Consideremos o ardente zelo que Antônio tinha pela honra e glória de Deus. Essa virtude verdadeiramente apostólica resplandeceu em todo o decurso de sua vida como virtude dominante. No coro e altares da Sé de Lisboa, nos mosteiros de São Vicente de Fora e de Santa Cruz de Coimbra, na sagrada Ordem dos Frades Menores em Portugal, França e Itália, via-se Fr. Antônio trabalhando incessantemente em estender a glória do Senhor. Ele intenta ir levar o seu nome aos povos africanos, mesmo à custa do seu sangue, que ambiciosamente deseja derramar por seu amor. No púlpito, não é uma linguagem que lisonjeia os ouvidos a de que Antônio se vale para adquirir nome de pregador eloquente, mas um estilo vigoroso, persuasivo e próprio para tratar a causa de Deus e favorecer a sua honra. Com que intrepidez se apresenta ele ao seu Superior Geral, Frei Elias, de cuja relaxação teme se siga a corrupção de toda a sua Ordem e lhe afeiem os abusos que nela intentava introduzir, chegando a fazer com o seu zelo que o Sumo Pontífice Gregório IX o privasse do generalato.

Mas o mais admirável zelo do nosso santo se manifesta na liberdade santa com que, arrostando os perigos, vai repreender em face o tirano Excellino, general do exército do cismático Imperador Frederico II, que, assolando a ferro e fogo algumas cidades da Itália, só em Verona tinha feito degolar de sangue frio onze mil pessoas, e entre elas mais de sessenta religiosos da Ordem dos Menores; e, encarniçado principalmente contra o Pontífice Romano, abrasava as igrejas, profanava os altares, e atentava contra a pureza das virgens consagradas a Deus e contra as vidas dos ministros da religião. Todos esses crimes lhe lança Antônio em rosto de um modo tão denodado e fogoso, que o cruel Excellino, não podendo resistir à sua eficácia, perdida a cor do rosto, prostrando-se aos pés do santo lhe suplicou com a voz sufocada na garganta que lhe perdoasse tantos crimes, de que estava arrependido, ou o afogasse com o seu próprio cinto, que para isso lançou ao pescoço. Confessou depois aos seus oficiais, admirados de tanta humilhação, que ele tinha sido aterrorizado pelos resplendores e raios que cercavam o rosto daquele frade que o repreendera.

Deprecação

Antônio glorioso, que pelo zelo da honra e glória do vosso Deus vos aventurastes aos maiores perigos e que em toda a vossa vida não tivestes outra mira mais que o fazer conhecer e respeitar o seu santo nome; fazei que nós também concorramos, quanto nos for possível, para a manifestação da sua glória, para que, cumprindo com essa obrigação que nos impõe o benefício da nossa criação e conservação, mereçamos conseguir o fim da mesma criação, participando da glória que estais gozando. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

8º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos o zelo infatigável com que Antônio se desvelou sempre pelo bem espiritual do seu próximo. Seus talentos nunca estiveram escondidos ou ociosos, sendo a sua vida uma sucessiva tarefa de exercícios destinados ao bem das almas. A esse fim se dirigiam na cela os seus estudos; no púlpito, os seus argumentos; no confessionário, os seus conselhos e direções; no altar, as suas orações e súplicas; e em todo o lugar, os seus passos, palavras e ações. Por esse motivo, Antônio ia intrépido à presença dos tiranos afeiar-lhes as suas cruezas; reconduzia carinhoso os pecadores arrependidos ao caminho de que se desmandaram; consolava caritativo os angustiados; desviava, astucioso, os que estavam a ponto de se deixar precipitar nos laços do demônio. Esse zelo de Antônio não morreu com o seu corpo. Lá do Céu está ainda vigiando na conduta de seus devotos.

Entre infinitos testemunhos dessa proteção, é bem admirável o seguinte. Certa viúva natural de Nápoles, vivendo pobrissimamente com uma filha sua mui formosa, e não podendo tratar-se segundo a sua distinta qualidade, tomou o desgraçado partido de prostituir a beleza da filha para remediar a penúria em que viviam. Sem rebuço, propôs à filha o infame projeto da sua perdição, aconselhando-a que elegesse um dos mancebos mais ricos e bem-apessoados da cidade, entre os que a galanteavam, o qual pudesse à custa da sua honestidade livrá-las das necessidades que padeciam. A desconsolada donzela nem pôde responder à licenciosa proposta da mãe, e cheia de confusão e vergonha, com os olhos banhados de lágrimas, retira-se para onde possa livremente chorar a sua desgraça. Entrando um dia, pouco depois, na Igreja de São Lourenço, onde se venerava uma imagem de Santo Antônio, roga-lhe, desfazendo-se em lágrimas, que a livrasse do perigo que lhe ameaçava a infame resolução de sua mãe pela sua extrema necessidade. Apenas acabara a súplica, a milagrosa imagem estende o braço, e diz: “Toma este bilhete, e com ele procura fulano negociante nesta cidade, e dize-lhe da minha parte que te entregue para teu dote outro tanto peso de moedas de prata quanto tem este bilhete”. A donzela, cheia de confiança, pegou reverente no papel e, procurando o negociante, lhe deu o recado do santo. Não sabia o homem que juízo formasse de tal narração, mas, atribuindo-a por fim à jovialidade da moça, lhe respondeu: “Muito bom de contentar é o teu esposo, pois se há de satisfazer com o dote que eu vou dar”. E, tomando o bilhete, pôs do outro braço da balança à mais pequena moeda de prata, julgando ser bastante a equilibrar o peso do papel; porém, a balança caía toda para a parte do bilhete, de modo que, para pôr em equilíbrio a balança, foram necessários oitocentos cruzados de prata. Então, se lembrou o negociante de ter feito promessa de dar a Santo Antônio uma lâmpada daquele mesmo peso, e conheceu que o santo dispunha e exigia o que era seu, livrando a sua devota, a qual casou-se de modo decente.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que na vossa vida, e depois da vossa morte, estais continuamente zelando a salvação das nossas almas: nós vos pedimos que muito particularmente tomeis conta destes vossos devotos, que, conhecendo a necessidade que temos da vossa proteção, vimos diante da vossa sagrada imagem manifestar-vos as nossas indigências. Deferi-nos com a piedade própria da vossa afabilidade e do vosso zelo, guiando-nos pelo caminho da feliz bem-aventurança. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

9º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos o dom de sabedoria de que Antônio foi dotado e o uso santo que soube fazer do mesmo dom. Desde menino penetra e pratica os ditames do Evangelho. As suas delícias são os Livros Santos, em cuja inteligência foi tão eminente que com justiça lhe chamou o Pontífice Gregório IX Arca do Testamento, admirado da vasta erudição que ele mostrou pregando repentinamente na sua presença, em que deu provas de ser verdade o que se afirmava, que sabia de memória um e outro Testamento. É constante tradição que Antônio fora o primeiro professor de teologia que teve a Ordem seráfica, em cuja exposição foi tão douto, que mesmo seu mestre o respeitava. Lecionou em Montpellier e Bolonha com grandíssimos aplausos e aproveitamento de seus discípulos. Mas o fruto que tirava da sua sabedoria, manejada no púlpito, era mais conforme ao seu zeloso espírito. Ele tinha de pregador todas as belas qualidades: uma voz encorpada e sonora; as ações naturais e airosas; o estilo claro, eloquente, sem artifício; o rosto agradável e penitente; era o encanto do auditório: e mesmos os animais irracionais gostaram de o ouvir, como vereis do seguinte milagre.

Havia na cidade de Rimini um célebre herege chamado Bonivillo, acérrimo na disputa, e de sutilíssimo engenho. Intentou Antônio mostrar-lhe a verdade da religião católica, empenhando a sua sabedoria nessa exposição; mas Bonivillo e mais os seus sequazes, negando-lhe a atenção, desprezavam o discurso do santo, desdenhando a palavra divina. Então, o santo lhes clama: “Soberbos e rebeldes, já que negais os ouvidos às vozes do Céu, aprendei dos irracionais a atenção e docilidade com que as deveis escutar”; e, chegando-se às margens do rio, convocou os peixes, que nele viviam, para ouvirem a palavra de Deus. Prontamente apareceram saltando na superfície das águas inumeráveis peixinhos de todas as formas e grandezas, que com as cabeças levantadas fora d’água pareciam estar arrebatados do discurso do pregador, até que este, lançando-lhes a benção, os despediu. Bonivillo e seus sectários, não podendo resistir a uma tão milagrosa prova, abjuraram os seus erros e, prostrados aos pés do santo, reentraram no seio da Igreja.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que pela vossa sabedoria conquistastes tantos rebeldes para o reino dos Céus, nós vos suplicamos que nos ajudeis, a fim de que, ilustrados da verdadeira sabedoria que começa pelo temor de Deus, sejamos firmes nas verdades da religião e executemos os preceitos da lei e os conselhos do Evangelho, pois teremos certa a glória que aspiramos. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

10º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a paciência e sofrimento do nosso santo. Zeloso no último ponto e sentido das injúrias feitas ao seu Deus, ele não se dói das que a inveja e o furor dos seus inimigos lhe acumulam; parece nem as conhecer, tal é a indiferença com que as recebe e despreza! Os hereges raivosos, pela violência com que ele atacava e os convencia de seus erros, empregam todos os artifícios para se desfazerem ou ao menos difamarem a sua santidade; mas Antônio, com o seu sofrimento, os desarma e até os converte. Alguns dos seus mesmos religiosos, não podendo tolerar o zelo com que o santo se opunha à sua dissolução, o carregaram de opróbrios, caluniando-o de perturbador da paz, desobediente, altivo e escandaloso: mas nada abala a paciência de Antônio, que, continuando no seu zelo, conseguiu, apesar dos seus inimigos, a reforma da iminente relaxação da sua Regra. O demônio não cessava de tramar perigos ao servo de Deus para o distrair da conversão das almas; mas o paciente Antônio sabe com o seu sofrimento desfazer as suas ciladas, e até desfazê-las por meio do mesmo demônio, como lhe sucedeu no seguinte caso.

No convento de Brive, onde o santo era prelado, um noviço, tentado do demônio, apostatou secretamente e, fugindo, roubou ao santo um saltério ornado de glosas morais, que lhe tinha custado muito estudo e trabalho e lhe servia de grande utilidade. Sentiu assim o santo a perdição do noviço, como o furto do seu saltério, que tanta falta lhe fazia para a pregação. Mas, revestido da sua costumeira paciência, recorreu ao seu remédio ordinário da oração, pedindo a Deus que se compadecesse da miséria daquele fugitivo. Não foi a sua oração infrutuosa, determinando o Senho que aquele mesmo demônio que tinha tentado ao noviço com a fuga e o roubo fosse quem o reduzisse ao arrependimento. Quando, pois, passando por uma estreita ponte, se lhe avançou um medonho etíope com um cutelo na mão, ameaçando-o de o fazer em pedaços se logo não voltasse a entregar a Fr. Antônio, e em mão própria, o saltério que lhe roubara. Desapareceu o fantasma e o tímido apóstata, assombrado e compungido, voltou para o convento, onde achou em Antônio o agasalho e carinho do pai do filho pródigo.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que tivestes a fortuna de padecer e sofrer tanto pelo vosso Deus, seguindo o seu exemplo na paciência com que o sofrestes, fazei que nós, esquecidos do amor-próprio que diretamente se opõe à mansidão e paciência evangélica, possamos, em observância da lei de Cristo, amar os nossos mesmos inimigos, como ele o fez, orando na Cruz pelos seus perseguidores: para merecer-nos o prêmio da mesma Cruz. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

11º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Consideremos a humildade e abjeto conceito que Antônio tinha de si e das suas coisas. Não contente com desprezar as grandezas que o rodeavam no século, o seu humilde gênio, ainda não satisfeito na Ordem dos Cônegos Agostinianos, elege a dos Frades Menores para exercer mais livremente os ofícios da maior humilhação e do abatimento. Servir na cozinha, varrer os dormitórios, estas eram as ocupações mais deliciosas de Fr. Antônio: sobretudo, porém, o que faz a mais incontestável prova da sua humildade é o segredo com que soube esconder a sua sabedoria e habilidade, tendo o prazer mais suave em ser tido por homem simples, sem letras e sem outro algum préstimo que o de servir na comunidade. Daqui veio que, na assembleia geral celebrada em Assis, nenhum prelado fizesse caso de Fr. Antônio, como membro inútil, segundo parecia da debilidade do seu corpo, procedida das rigorosas penitências. Então, fez o santo um grande sacrifício à humildade e, prostrado aos pés de Fr. Graciano, eleito Provincial de Bolonha, lhe pediu com humildes instâncias que o recebesse por seu súdito, o que com efeito conseguiu, assinando-se-lhe para habitação a Ermida do Monte de São Paulo, onde esteve oculto, até que pareceu conveniente à Divina Providência manifestar milagrosamente aquele tesouro escondido. O mesmo segredo que guardara acerca dos seus talentos e sabedoria, procurava cuidadosamente conservar, ocultando os prodígios que obrava: a fama da sua santidade o afligia.

Um dia, quando o santo com toda a cautela passava por desviados caminhos de um lugar para outro, foi, contudo, pressentido por uma mulher que, tendo um filhinho tolhido de pés e braços, com lastimosos brados lhe pedia que se compadecesse da sua aflição e lhe apresentava o menino que trazia consigo. Alvoroçou-se a humildade do santo e, estranhando à mulher a sua indiscreta impertinência, a despediu com sinais de enfado. Mas, por fim, rendendo-se aos rogos do seu companheiro e compassivas súplicas da mãe, com o sinal da cruz restituiu ao menino o uso do seus membros: prodígio que só atribuiu à fé que sua mãe teve e à qual recomendou muito que o ocultasse por todo o tempo da sua vida.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que, desprezando a pompa e a ostentação de sábio, quisestes ser reputado ignorante e desprezível aos olhos do mundo, merecendo com essa humilhação o ser exaltado, como Deus promete aos abatidos; fazei, com o vosso patrocínio, que, seguindo nós o vosso exemplo, e lembrados de que tudo quanto possuímos, tudo recebemos, não nos gloriemos dos dons que Deus se servir em dispensar-nos, para merecermos a recompensa da humildade na glória eterna. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

12º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a fortaleza e a intrepidez com que Antônio arrasta os maiores perigos por causa do seu Deus. Animado do terno espetáculo dos ossos dos felizes mártires de Marrocos, desde logo Antônio aspira a imitar a sua constância, e ambiciona a glória do martírio. Com essas vistas entra na Ordem de Francisco, e com o beneplácito dos seus superiores se embarca para a África. Mas a Divina Providência o destinava a maiores combates. Os inimigos internos da Ordem eram os que estavam destinados para os triunfos desse intrépido soldado de Cristo. Mas que trabalhos lhe não custam esses triunfos? Umas vezes atentando contra a sua vida, outras contra a sua fama, sempre contra a sua doutrina, davam ao nosso santo frequentes ocasiões de terríveis combates, de que ele sempre triunfava pelo divino esforço de que era animado.

Numa ocasião, intentando os hereges desacreditar os evidentes milagres que Deus obrava por intercessão de seu servo, subornaram um dos seus secretários para que, fingindo que de algum desastre tinha perdido os olhos, saísse em busca de Antônio, e com fingidos rogos lhe pedisse remédio ao seu desastre, preparando-se para escarnecerem do santo, a quem intentavam enganar com esse fingimento, e especialmente dar por falsos os seus verdadeiros prodígios com esse artifício. Cobriu, pois, esse desgraçado os olhos com um pano ensanguentado, e saiu dando lastimosos brados, e pedindo que o conduzissem à presença de Fr. Antônio, para que ele lhe restituísse milagrosamente a vista. O santo, porém, ouvindo a sua fraudulenta súplica, e conhecendo por inspiração divina os seus danados intentos, levantando os olhos ao Céu, e pedindo a Deus que atendesse pela sua causa, fez o sinal da cruz, e mandou ao herege que desatasse o pano, pois já tinha o remédio que merecia a sua fé. Ouvindo isso, os hereges não podiam conter as risadas, mas elas se converteram em horror quando o infeliz homem, desatando o pano, tirou nele pegados os seus olhos. Que assombro e confusão para os hereges! Mas Antônio, aproveitando tão oportuna ocasião, lhos tornou a colocar no rosto, sem a menor lesão, convertendo com esse duplicado milagre aqueles que pretendiam escarnecer da sua santidade.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, intrépido defensor da religião cristã, que à custa de tantos trabalhos, fadigas e perseguições soubestes fazer triunfar, fazei que saibamos também nós manifestar com as nossas obras a persuasão em que estamos das verdades da nossa crença, e da santidade das suas leis, pois só pela sua observância podemos merecer a glória. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias)

13º dia da Trezena de Santo Antônio

(Fazer a oração inicial para todos os dias)

Ponderemos a terníssima devoção que o nosso santo teve sempre a Maria Santíssima. Logo desde menino se notou que aos sábados nunca tomava o preciso alimento sem que primeiro fosse apresentado por sua ama diante da milagrosa e respeitável imagem da Virgem que se venera na Sé de Lisboa, e ali, com os braços estendidos, dava sinais de que a saudava, como quem conhecia a importância do seu valimento. Desde então, sempre lhe consagrou com terníssimo afeto todas as suas ações e os seus estudos: celebrava com a mais devota ternura as suas festas e mistérios, sendo mais intenso o fervor e afeto nos da sua puríssima Conceição e gloriosíssima Assunção, merecendo que lhe aparecesse a mesma Senhora, e o certificasse de que tinha sido levada em corpo e alma aos Céus.

Não foi essa a única aparição com que Antônio foi regalado. Uma noite, assaltado do demônio na figura de um formidável etíope que, lançando-lhe ao pescoço as mãos, esteve a ponto de o afogar; o nosso santo se valeu da sua protetora, invocando-a com o hino que a Igreja canta na festividade da sua Assunção. Acudiu a Senhora com o seu pronto amparo e, expulsando com sua presença o raivoso inimigo, deixou a Antônio cheio de consolação interior e de terníssimos sentimentos de gratidão.

Deprecação

Antônio bem-aventurado, que, pela terna devoção que sempre tivestes à imaculada Mãe de Deus, conseguistes o seu poderoso patrocínio e os favores incompreensíveis da sua presença, fazei com que nós possamos igualmente ser devotos imitadores das suas virtudes para merecermos o seu amparo e valimento para com seu bendito Filho. Aceitai, santo bem-aventurado, os nossos obséquios; abençoai os nossos votos; despachai as nossas súplicas; tomai-nos debaixo da vossa eficaz proteção. Perdoai as imperfeições e faltas que cometemos neste santo exercício, e alcançai-nos de Deus, que tendes nos vossos braços, a graça necessária para participarmos da glória que estais gozando. Amém.

(Fazer a oração final para todos os dias).

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