Dilexi Te: conheça a primeira exortação apostólica do Papa Leão XIV, um chamado ao amor aos pobres e à justiça do Evangelho.
Dilexi Te: conheça a primeira exortação apostólica do Papa Leão XIV, um chamado ao amor aos pobres e à justiça do Evangelho.
A exortação apostólica Dilexi Te, publicada por Sua Santidade o Papa Leão XIV, marca um momento decisivo no início de seu pontificado e já desponta como um dos textos mais significativos do magistério recente. Mais do que um documento doutrinal, ela é um chamado a contemplar a presença de Cristo no rosto dos pobres e a redescobrir a essência do Evangelho como serviço, misericórdia e comunhão. Neste artigo, vamos percorrer os principais ensinamentos da Dilexi Te e compreender por que essa exortação é tão importante para a Igreja de hoje e para a vida espiritual de cada fiel.
Dilexi Te é o primeiro grande documento do pontificado de Leão XIV. Com profundidade espiritual e clareza pastoral, o texto retoma os ensinamentos do Papa Francisco e aprofunda a doutrina sobre o amor preferencial pelos pobres. É uma convocação para que a Igreja redescubra, com coragem e ternura, a presença de Cristo na vida dos mais necessitados, não apenas como um princípio teológico, mas como critério existencial.
Ao tomar emprestadas as palavras do Apocalipse (Ap 3,9) – “Eu te amei” – o Papa dirige-se àqueles que têm “pouca força” diante do mundo. Leão XIV assume o projeto iniciado por Francisco e nos oferece uma reflexão que une mística e ação, contemplação e compromisso. Como ele mesmo escreve: “No apelo a reconhecê-Lo nos pobres e atribulados revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos e as suas opções mais profundas.”
Abaixo está um resumo breve do conteúdo da exortação apostólica Dilexi Te, capítulo por capítulo, oferecendo uma visão geral sobre o que trata cada parte do texto.
Introdução (texto inicial e parágrafos 1–4): apresenta a inspiração bíblica de Ap 3,9 e o vínculo com o cântico de Maria. Menciona a encíclica Dilexit nos, escrita por Papa Francisco, e a intenção de lançar a exortação Dilexi Te. Leão XIV assume o projeto, ressaltando a presença de Cristo nos pobres.
Capítulo I – Algumas palavras indispensáveis (parágrafos 4–15): aborda a inseparabilidade entre amor a Cristo e aos pobres, com base em Mt 25. Relembra o exemplo de São Francisco e a revelação a Moisés (Ex 3). Critica estruturas que perpetuam a pobreza, o preconceito e a ideologia da meritocracia, e convoca à caridade como centro da missão eclesial.
Capítulo II – Deus escolhe os pobres (parágrafos 16–34): desenvolve a base teológica da opção preferencial pelos pobres. Destaca a vida humilde de Jesus e sua missão como libertador dos pobres. Aponta o Antigo e o Novo Testamento como fundamentos, além do exemplo das primeiras comunidades cristãs e da Carta de Tiago.
Capítulo III – Uma Igreja para os pobres (parágrafos 35–81): recupera a tradição patrística e o testemunho dos santos, como São Lourenço, São João Crisóstomo, Santa Dulce dos Pobres e muitos outros. Valoriza o serviço aos doentes, a vida monástica, os migrantes e os encarcerados. Ressalta a educação como instrumento de justiça e os movimentos populares como protagonistas.
Capítulo IV – Uma história que continua (parágrafos 82–102): traça a continuidade da opção pelos pobres na Doutrina Social da Igreja, desde Leão XIII até Bento XVI. Destaca o papel das Conferências Episcopais da América Latina na denúncia das estruturas sociais que perpetuam o pecado da injustiça. Valoriza o protagonismo dos pobres na evangelização.
Capítulo V – Um permanente desafio (parágrafos 103–121): aponta que o cuidado com os pobres é uma exigência da fé e não pode ser reduzido a assistencialismo. Usa a parábola do Bom Samaritano como chave interpretativa. Conclui com a definição do amor cristão como força profética e ilimitada, capaz de transformar o mundo.
A exortação afirma que não é possível amar verdadeiramente a Cristo sem amar os pobres. “Não estamos no horizonte da beneficência, mas no da Revelação: o contato com quem não tem poder nem grandeza é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história.” Nessa perspectiva, a caridade deixa de ser apenas um gesto generoso e passa a ser uma resposta concreta à presença de Cristo. Assim, fé e compromisso social se entrelaçam como dimensões inseparáveis da vida cristã. Como ensina a exortação: “O amor ao próximo é a prova tangível da autenticidade do amor a Deus […] São dois amores distintos, mas inseparáveis.” E mesmo quando a relação com Deus não é explícita, “qualquer ação de amor pelo próximo é, em algum modo, um reflexo da caridade divina” (Mt 25, 40).
Em continuidade ao ensinamento social da Igreja, Dilexi Te recorda que a opção preferencial por quem sofre é uma chave de leitura do agir de Deus.
Essa escolha divina, longe de excluir, ilumina o caminho da justiça, da fraternidade e da solidariedade. Como ensinava São João Paulo II, “a opção preferencial pelos pobres é decisiva e pertence à constante tradição [da Igreja], impele-a a dirigir-se ao mundo no qual, apesar do progresso técnico-econômico, a pobreza ameaça assumir formas gigantescas.” Essa tradição não é apenas uma orientação pastoral, mas uma exigência teológica profunda. Como afirma o Papa Leão XIV: “Estou convencido de que a opção preferencial pelos pobres gera uma renovação extraordinária tanto na Igreja como na sociedade.”
A pobreza de Cristo é apresentada como um aspecto revelador de sua missão redentora. Ele nasceu em condições humildes, viveu sem segurança material e enfrentou a rejeição. “Jesus nasceu em condições humildes” e viveu como alguém sem lugar: “não tinha onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20). Essa realidade, mais do que um dado histórico, manifesta a lógica do Reino de Deus, que privilegia os pequenos e humildes. A exortação destaca que essa condição não foi um acaso, mas uma escolha salvífica: “Na sua encarnação, Ele ‘esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo’” (Fl 2,7). Em sua pobreza, Jesus revela a verdadeira face do amor divino, que se inclina sobre os mais fracos para os elevar. São Paulo sintetiza essa entrega com força teológica: “Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9). Ao contemplar esse mistério, somos convidados a rever nossas seguranças e a caminhar com maior despojamento espiritual, seguindo o exemplo do Cristo pobre.
O Papa mostra que a pobreza não é apenas falta de dinheiro, mas um drama multifacetado que afeta a dignidade humana. “A pobreza já não se apresenta como uma condição única e homogênea, mas manifesta-se em múltiplas formas de empobrecimento econômico e social.” A exortação denuncia com veemência as estruturas econômicas excludentes que perpetuam a miséria: “É necessário, portanto, continuar a denunciar a ‘ditadura de uma economia que mata’ e reconhecer que ‘enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz’.”
Diante disso, a Igreja é chamada a manter-se vigilante, sensível e profética. Dilexi Te é um apelo urgente a não se acomodar, mas a escutar o clamor dos esquecidos e marginalizados. Como ensina o documento: “No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo.”
Entre os aspectos mais mobilizadores da exortação está o chamado à santidade concreta. A santidade não é um ideal inatingível, mas se realiza no cotidiano, por meio de gestos simples e atitudes de cuidado. Dilexi Te ecoa o Evangelho de Mateus 25: “Se andamos à procura da santidade que agrada a Deus, neste texto encontramos precisamente uma regra de comportamento com base na qual seremos julgados.” E complementa: “Nenhuma expressão de carinho […] será esquecida.” O amor concreto, vivido com sinceridade, torna-se critério verdadeiro de santidade e testemunho do Evangelho.
Dentro desse contexto, a prática da esmola ocupa um lugar significativo. Embora muitas vezes desprezada atualmente — “não só é raramente praticada, como às vezes é até desprezada” —, ela é apresentada na exortação como um gesto profundamente evangélico. O Papa afirma: “A esmola é justiça restabelecida, não um gesto paternalista.” Ainda que não resolva o quadro geral da pobreza, permanece como expressão necessária de compaixão: “continua a ser um momento necessário de contato, encontro e identificação com a condição do outro.” Como recorda São João Crisóstomo: “A esmola é a asa da oração. Se não acrescentares uma asa à tua oração, ela mal poderá voar.”
Além disso, Dilexi Te reforça que “será sempre melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada”, e que a esmola, mesmo que pequena, “infunde pietas numa vida social em que todos se preocupam com o seu próprio interesse pessoal.” Aqui, pietas expressa o sentimento de reverência, compaixão e responsabilidade moral para com o outro, especialmente o mais necessitado. Assim, a esmola se torna uma oportunidade concreta de proximidade, sobretudo numa cultura marcada pela indiferença. É um gesto que une fé e ação. O Papa exorta: “precisamos praticar a esmola para tocar a carne sofredora dos pobres.” Mesmo reconhecendo que o auxílio mais importante é o trabalho digno, ele reafirma que a esmola tem seu lugar insubstituível na vida cristã: “por esta simples razão, como cristãos, não renunciamos à esmola.”
O desejo do Papa Francisco ressoa em Leão XIV: “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!” Essa frase resume uma das intuições mais profundas da exortação. Ser pobre para os pobres é mais do que um gesto de solidariedade: é um modo evangélico de existir. Dilexi Te reafirma que essa escolha é parte integrante da identidade da Igreja e condição para sua credibilidade. Como se lê no texto: “A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes.”
A vida dos santos é, ao longo da história da Igreja, um reflexo concreto do amor de Cristo pelos mais necessitados. Muitos deles compreenderam que servir os pobres é servir o próprio Cristo. Dilexi Te cita São Francisco, São Camilo de Léllis, Santa Luísa de Marillac e tantos outros que, com criatividade e coragem, viveram o Evangelho entre os mais frágeis. Como recorda o Papa: “Que melhores tesouros teria Cristo do que aqueles nos quais Ele mesmo disse que estava?” Esses testemunhos não apenas inspiram, mas iluminam o caminho da Igreja, lembrando que a caridade é expressão máxima da fé.
O Papa Leão XIV também destaca o exemplo luminoso de Santa Dulce dos Pobres, canonizada recentemente: “No Brasil, Santa Dulce dos Pobres – conhecida como o ‘anjo bom da Bahia’ – encarnou o mesmo espírito evangélico com feições brasileiras.” Ele recorda que “Irmã Dulce enfrentou a precariedade com criatividade, os obstáculos com ternura, a carência com fé inabalável.” Começando a acolher doentes em um galinheiro, ela fundou uma das maiores obras sociais do país. “Atendia milhares de pessoas por dia, sem jamais perder a doçura.” E mais: “Fez-se pobre com os pobres por amor ao sumamente Pobre. Vivia com pouco, rezava com fervor e servia com alegria. A sua fé não a retirava do mundo, mas lançava-a ainda mais profundamente nas dores dos últimos.”
A tradição monástica também oferece uma inspiração fecunda. A simplicidade voluntária e o desprendimento dos monges, ao lado de sua dedicação à oração e ao acolhimento, mostram que é possível viver a fé com radicalidade evangélica. São Basílio ensinava: “para estar perto de Deus é preciso estar próximo dos pobres”. E São Bento escreveu: “Sobretudo na pessoa [dos pobres], Cristo é recebido.” Os mosteiros tornam-se, assim, espaços vivos de hospitalidade espiritual e material.
A exortação também presta um tributo à sabedoria dos Padres da Igreja. São João Crisóstomo advertia: “Queres honrar o Corpo de Cristo? […] Não O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez.” E São Agostinho dizia que “o pobre […] é presença sacramental do Senhor.” Para os Padres, a ortodoxia da fé se tornava verdadeira na ortopraxia do amor: doutrina e ação caminhavam juntas como expressão de um único amor a Deus.
Mais do que um apelo moral, Dilexi Te é um chamado profundo a redescobrir a centralidade do amor. O Papa Leão XIV nos convida a uma conversão pastoral, social e interior: amar os pobres é amar o próprio Cristo. “A generosidade em favor dos pobres é um verdadeiro bem para quem a pratica”, ensina. E completa: “No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo.”
Nos parágrafos finais da exortação, esse chamado atinge sua expressão mais elevada e universal. O Papa afirma com força que “o amor cristão supera todas as barreiras, aproxima os que estão distantes, une os estranhos, torna familiares os inimigos, atravessa abismos humanamente insuperáveis, entra nos meandros mais recônditos da sociedade.” O amor, segundo ele, é profético, ilimitado e capaz de transformar o mundo: “é para o impossível.” Essa perspectiva transforma o amor em critério último de julgamento e missão: “uma Igreja que não coloca limites ao amor, que não conhece inimigos a combater, mas apenas homens e mulheres a amar, é a Igreja de que o mundo hoje precisa.”
Por fim, o Papa retoma o versículo que dá nome à exortação, agora como consolação pessoal dirigida aos pobres: “Quer através do vosso trabalho, quer através do vosso empenho em mudar as estruturas sociais injustas, quer através daquele gesto de ajuda simples, muito pessoal e próximo, será possível que aquele pobre sinta serem para ele as palavras de Jesus: ‘Eu te amei’ (Ap 3,9).”
O maior clube de livros católicos do Brasil.
A exortação apostólica Dilexi Te, publicada por Sua Santidade o Papa Leão XIV, marca um momento decisivo no início de seu pontificado e já desponta como um dos textos mais significativos do magistério recente. Mais do que um documento doutrinal, ela é um chamado a contemplar a presença de Cristo no rosto dos pobres e a redescobrir a essência do Evangelho como serviço, misericórdia e comunhão. Neste artigo, vamos percorrer os principais ensinamentos da Dilexi Te e compreender por que essa exortação é tão importante para a Igreja de hoje e para a vida espiritual de cada fiel.
Dilexi Te é o primeiro grande documento do pontificado de Leão XIV. Com profundidade espiritual e clareza pastoral, o texto retoma os ensinamentos do Papa Francisco e aprofunda a doutrina sobre o amor preferencial pelos pobres. É uma convocação para que a Igreja redescubra, com coragem e ternura, a presença de Cristo na vida dos mais necessitados, não apenas como um princípio teológico, mas como critério existencial.
Ao tomar emprestadas as palavras do Apocalipse (Ap 3,9) – “Eu te amei” – o Papa dirige-se àqueles que têm “pouca força” diante do mundo. Leão XIV assume o projeto iniciado por Francisco e nos oferece uma reflexão que une mística e ação, contemplação e compromisso. Como ele mesmo escreve: “No apelo a reconhecê-Lo nos pobres e atribulados revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos e as suas opções mais profundas.”
Abaixo está um resumo breve do conteúdo da exortação apostólica Dilexi Te, capítulo por capítulo, oferecendo uma visão geral sobre o que trata cada parte do texto.
Introdução (texto inicial e parágrafos 1–4): apresenta a inspiração bíblica de Ap 3,9 e o vínculo com o cântico de Maria. Menciona a encíclica Dilexit nos, escrita por Papa Francisco, e a intenção de lançar a exortação Dilexi Te. Leão XIV assume o projeto, ressaltando a presença de Cristo nos pobres.
Capítulo I – Algumas palavras indispensáveis (parágrafos 4–15): aborda a inseparabilidade entre amor a Cristo e aos pobres, com base em Mt 25. Relembra o exemplo de São Francisco e a revelação a Moisés (Ex 3). Critica estruturas que perpetuam a pobreza, o preconceito e a ideologia da meritocracia, e convoca à caridade como centro da missão eclesial.
Capítulo II – Deus escolhe os pobres (parágrafos 16–34): desenvolve a base teológica da opção preferencial pelos pobres. Destaca a vida humilde de Jesus e sua missão como libertador dos pobres. Aponta o Antigo e o Novo Testamento como fundamentos, além do exemplo das primeiras comunidades cristãs e da Carta de Tiago.
Capítulo III – Uma Igreja para os pobres (parágrafos 35–81): recupera a tradição patrística e o testemunho dos santos, como São Lourenço, São João Crisóstomo, Santa Dulce dos Pobres e muitos outros. Valoriza o serviço aos doentes, a vida monástica, os migrantes e os encarcerados. Ressalta a educação como instrumento de justiça e os movimentos populares como protagonistas.
Capítulo IV – Uma história que continua (parágrafos 82–102): traça a continuidade da opção pelos pobres na Doutrina Social da Igreja, desde Leão XIII até Bento XVI. Destaca o papel das Conferências Episcopais da América Latina na denúncia das estruturas sociais que perpetuam o pecado da injustiça. Valoriza o protagonismo dos pobres na evangelização.
Capítulo V – Um permanente desafio (parágrafos 103–121): aponta que o cuidado com os pobres é uma exigência da fé e não pode ser reduzido a assistencialismo. Usa a parábola do Bom Samaritano como chave interpretativa. Conclui com a definição do amor cristão como força profética e ilimitada, capaz de transformar o mundo.
A exortação afirma que não é possível amar verdadeiramente a Cristo sem amar os pobres. “Não estamos no horizonte da beneficência, mas no da Revelação: o contato com quem não tem poder nem grandeza é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história.” Nessa perspectiva, a caridade deixa de ser apenas um gesto generoso e passa a ser uma resposta concreta à presença de Cristo. Assim, fé e compromisso social se entrelaçam como dimensões inseparáveis da vida cristã. Como ensina a exortação: “O amor ao próximo é a prova tangível da autenticidade do amor a Deus […] São dois amores distintos, mas inseparáveis.” E mesmo quando a relação com Deus não é explícita, “qualquer ação de amor pelo próximo é, em algum modo, um reflexo da caridade divina” (Mt 25, 40).
Em continuidade ao ensinamento social da Igreja, Dilexi Te recorda que a opção preferencial por quem sofre é uma chave de leitura do agir de Deus.
Essa escolha divina, longe de excluir, ilumina o caminho da justiça, da fraternidade e da solidariedade. Como ensinava São João Paulo II, “a opção preferencial pelos pobres é decisiva e pertence à constante tradição [da Igreja], impele-a a dirigir-se ao mundo no qual, apesar do progresso técnico-econômico, a pobreza ameaça assumir formas gigantescas.” Essa tradição não é apenas uma orientação pastoral, mas uma exigência teológica profunda. Como afirma o Papa Leão XIV: “Estou convencido de que a opção preferencial pelos pobres gera uma renovação extraordinária tanto na Igreja como na sociedade.”
A pobreza de Cristo é apresentada como um aspecto revelador de sua missão redentora. Ele nasceu em condições humildes, viveu sem segurança material e enfrentou a rejeição. “Jesus nasceu em condições humildes” e viveu como alguém sem lugar: “não tinha onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20). Essa realidade, mais do que um dado histórico, manifesta a lógica do Reino de Deus, que privilegia os pequenos e humildes. A exortação destaca que essa condição não foi um acaso, mas uma escolha salvífica: “Na sua encarnação, Ele ‘esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo’” (Fl 2,7). Em sua pobreza, Jesus revela a verdadeira face do amor divino, que se inclina sobre os mais fracos para os elevar. São Paulo sintetiza essa entrega com força teológica: “Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9). Ao contemplar esse mistério, somos convidados a rever nossas seguranças e a caminhar com maior despojamento espiritual, seguindo o exemplo do Cristo pobre.
O Papa mostra que a pobreza não é apenas falta de dinheiro, mas um drama multifacetado que afeta a dignidade humana. “A pobreza já não se apresenta como uma condição única e homogênea, mas manifesta-se em múltiplas formas de empobrecimento econômico e social.” A exortação denuncia com veemência as estruturas econômicas excludentes que perpetuam a miséria: “É necessário, portanto, continuar a denunciar a ‘ditadura de uma economia que mata’ e reconhecer que ‘enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz’.”
Diante disso, a Igreja é chamada a manter-se vigilante, sensível e profética. Dilexi Te é um apelo urgente a não se acomodar, mas a escutar o clamor dos esquecidos e marginalizados. Como ensina o documento: “No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo.”
Entre os aspectos mais mobilizadores da exortação está o chamado à santidade concreta. A santidade não é um ideal inatingível, mas se realiza no cotidiano, por meio de gestos simples e atitudes de cuidado. Dilexi Te ecoa o Evangelho de Mateus 25: “Se andamos à procura da santidade que agrada a Deus, neste texto encontramos precisamente uma regra de comportamento com base na qual seremos julgados.” E complementa: “Nenhuma expressão de carinho […] será esquecida.” O amor concreto, vivido com sinceridade, torna-se critério verdadeiro de santidade e testemunho do Evangelho.
Dentro desse contexto, a prática da esmola ocupa um lugar significativo. Embora muitas vezes desprezada atualmente — “não só é raramente praticada, como às vezes é até desprezada” —, ela é apresentada na exortação como um gesto profundamente evangélico. O Papa afirma: “A esmola é justiça restabelecida, não um gesto paternalista.” Ainda que não resolva o quadro geral da pobreza, permanece como expressão necessária de compaixão: “continua a ser um momento necessário de contato, encontro e identificação com a condição do outro.” Como recorda São João Crisóstomo: “A esmola é a asa da oração. Se não acrescentares uma asa à tua oração, ela mal poderá voar.”
Além disso, Dilexi Te reforça que “será sempre melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada”, e que a esmola, mesmo que pequena, “infunde pietas numa vida social em que todos se preocupam com o seu próprio interesse pessoal.” Aqui, pietas expressa o sentimento de reverência, compaixão e responsabilidade moral para com o outro, especialmente o mais necessitado. Assim, a esmola se torna uma oportunidade concreta de proximidade, sobretudo numa cultura marcada pela indiferença. É um gesto que une fé e ação. O Papa exorta: “precisamos praticar a esmola para tocar a carne sofredora dos pobres.” Mesmo reconhecendo que o auxílio mais importante é o trabalho digno, ele reafirma que a esmola tem seu lugar insubstituível na vida cristã: “por esta simples razão, como cristãos, não renunciamos à esmola.”
O desejo do Papa Francisco ressoa em Leão XIV: “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!” Essa frase resume uma das intuições mais profundas da exortação. Ser pobre para os pobres é mais do que um gesto de solidariedade: é um modo evangélico de existir. Dilexi Te reafirma que essa escolha é parte integrante da identidade da Igreja e condição para sua credibilidade. Como se lê no texto: “A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes.”
A vida dos santos é, ao longo da história da Igreja, um reflexo concreto do amor de Cristo pelos mais necessitados. Muitos deles compreenderam que servir os pobres é servir o próprio Cristo. Dilexi Te cita São Francisco, São Camilo de Léllis, Santa Luísa de Marillac e tantos outros que, com criatividade e coragem, viveram o Evangelho entre os mais frágeis. Como recorda o Papa: “Que melhores tesouros teria Cristo do que aqueles nos quais Ele mesmo disse que estava?” Esses testemunhos não apenas inspiram, mas iluminam o caminho da Igreja, lembrando que a caridade é expressão máxima da fé.
O Papa Leão XIV também destaca o exemplo luminoso de Santa Dulce dos Pobres, canonizada recentemente: “No Brasil, Santa Dulce dos Pobres – conhecida como o ‘anjo bom da Bahia’ – encarnou o mesmo espírito evangélico com feições brasileiras.” Ele recorda que “Irmã Dulce enfrentou a precariedade com criatividade, os obstáculos com ternura, a carência com fé inabalável.” Começando a acolher doentes em um galinheiro, ela fundou uma das maiores obras sociais do país. “Atendia milhares de pessoas por dia, sem jamais perder a doçura.” E mais: “Fez-se pobre com os pobres por amor ao sumamente Pobre. Vivia com pouco, rezava com fervor e servia com alegria. A sua fé não a retirava do mundo, mas lançava-a ainda mais profundamente nas dores dos últimos.”
A tradição monástica também oferece uma inspiração fecunda. A simplicidade voluntária e o desprendimento dos monges, ao lado de sua dedicação à oração e ao acolhimento, mostram que é possível viver a fé com radicalidade evangélica. São Basílio ensinava: “para estar perto de Deus é preciso estar próximo dos pobres”. E São Bento escreveu: “Sobretudo na pessoa [dos pobres], Cristo é recebido.” Os mosteiros tornam-se, assim, espaços vivos de hospitalidade espiritual e material.
A exortação também presta um tributo à sabedoria dos Padres da Igreja. São João Crisóstomo advertia: “Queres honrar o Corpo de Cristo? […] Não O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez.” E São Agostinho dizia que “o pobre […] é presença sacramental do Senhor.” Para os Padres, a ortodoxia da fé se tornava verdadeira na ortopraxia do amor: doutrina e ação caminhavam juntas como expressão de um único amor a Deus.
Mais do que um apelo moral, Dilexi Te é um chamado profundo a redescobrir a centralidade do amor. O Papa Leão XIV nos convida a uma conversão pastoral, social e interior: amar os pobres é amar o próprio Cristo. “A generosidade em favor dos pobres é um verdadeiro bem para quem a pratica”, ensina. E completa: “No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo.”
Nos parágrafos finais da exortação, esse chamado atinge sua expressão mais elevada e universal. O Papa afirma com força que “o amor cristão supera todas as barreiras, aproxima os que estão distantes, une os estranhos, torna familiares os inimigos, atravessa abismos humanamente insuperáveis, entra nos meandros mais recônditos da sociedade.” O amor, segundo ele, é profético, ilimitado e capaz de transformar o mundo: “é para o impossível.” Essa perspectiva transforma o amor em critério último de julgamento e missão: “uma Igreja que não coloca limites ao amor, que não conhece inimigos a combater, mas apenas homens e mulheres a amar, é a Igreja de que o mundo hoje precisa.”
Por fim, o Papa retoma o versículo que dá nome à exortação, agora como consolação pessoal dirigida aos pobres: “Quer através do vosso trabalho, quer através do vosso empenho em mudar as estruturas sociais injustas, quer através daquele gesto de ajuda simples, muito pessoal e próximo, será possível que aquele pobre sinta serem para ele as palavras de Jesus: ‘Eu te amei’ (Ap 3,9).”