Estudo revela o renascimento da fé católica entre jovens e o aumento global nas conversões adultas em pleno mundo digital.
De batismos que quadruplicaram à viralização de santos adolescentes, uma nova geração de jovens digitalmente conectados está redescobrindo a fé — e fazendo dela um movimento cultural.
Se a fé parecia ter perdido espaço no mundo moderno, alguém esqueceu de avisar a Geração Z.
Depois de décadas marcadas por afastamento religioso, secularização e uma cultura cada vez mais individualista, a espiritualidade voltou a ser pauta. A geração que cresceu conectada ao Wi-Fi agora se conecta, cada vez mais, à fé.
Criados em um ambiente altamente digitalizado, marcados por crises sociais, familiares e existenciais, os jovens estão liderando um novo fenômeno: o retorno à fé católica. Mais do que uma volta nostálgica ao passado, trata-se de uma redescoberta — com linguagem própria, novos símbolos, influenciadores religiosos e uma profunda sede por sentido.
Canonizado em 2025, apesar de “Millennial” Carlo Acutis se tornou o símbolo máximo de uma juventude que busca a fé dentro da cultura digital. Adolescente, fã do Homem-Aranha, criador de sites sobre milagres eucarísticos, apaixonado pela Eucaristia e pela vida ordinária, Carlo mostrou ao mundo que a santidade é possível sem sair do quarto.
As imagens de Carlo vestindo jeans, jogando PlayStation — cujo controle chegou a ser tratado como relíquia —, mexendo no computador ou sorrindo em fotos de infância são agora ícones de devoção moderna. Ele foi reconhecido como padroeiro da internet, não apenas por sua relação com a tecnologia, mas por ser ponte entre fé e cultura digital.
A comoção global com sua canonização viralizou no TikTok, no Instagram e no Twitter. Jovens que nunca haviam ouvido falar dele se identificaram com sua história. A Geração Z ganhou um santo com quem pode se parecer — e isso mudou tudo.
Saiba mais sobre a história de Carlo Acutis, o primeiro santo millennial da Igreja Católica.
“A beleza salvará o mundo.” A famosa frase de Dostoiévski parece ter encontrado eco nas redes sociais quando, em meio ao barulho e à superficialidade da internet, imagens do funeral do Papa Francisco e da eleição do Papa Leão XIV começaram a viralizar.
Milhões de jovens — muitos deles distantes da fé — pararam para assistir, comentar e compartilhar. Não por curiosidade política ou religiosa, mas pela estética sublime daqueles momentos: o brilho das velas refletido no mármore, os cantos gregorianos, o silêncio que diz mais do que mil palavras.
As imagens que circularam mostravam paramentos suntuosos, procissões solenes, incenso subindo lentamente sob as abóbadas da Basílica. Tudo transmitia uma linguagem que falava direto aos sentidos — e ao espírito.
A comoção não veio de um argumento lógico, mas de um impacto simbólico. A solenidade do rito, a arquitetura milenar, o ritmo contemplativo: tudo falava de algo maior. Um senso de reverência que contrasta com o caos cotidiano e digital.
E é justamente nesse contraste que muitos encontraram um primeiro contato com o sagrado.
No TikTok, no Twitter e no Instagram, pessoas que nunca haviam entrado em uma igreja comentavam sobre a paz transmitida, o respeito sentido, a beleza vivida. Um espaço simbólico se abriu — e a beleza, ali, preparou o terreno para o sagrado.
Se as conversões aumentaram, uma pergunta natural é: seriam superficiais? Os dados mostram que não. Ao contrário, muitos jovens e adultos têm buscado meios de estruturar e viver a fé no cotidiano. Prova disso é o crescimento da popularização de aplicativos de oração, que se tornam aliados concretos na vida espiritual.
O Hallow, um dos maiores apps católicos do mundo, oferece meditações guiadas, orações diárias e conteúdos com vozes conhecidas da Igreja e até de Hollywood. O Pocket Terço, desenvolvido no Brasil, é focado na prática diária do rosário, com um formato simples, intuitivo e acessível. Já o Católico Orante reúne liturgia diária, oração da manhã e da noite, além de recursos como o terço, o ofício e outras práticas devocionais. Juntos, eles mostram como a tecnologia pode facilitar e aprofundar a vida de oração.
Nesse cenário, surgiu também o Capela App, novo aplicativo da Minha Biblioteca Católica, que traz como diferencial o Plano de Vida Espiritual — uma funcionalidade que ajuda o usuário a organizar e cultivar práticas regulares de oração, leitura e espiritualidade ao longo da semana. Em apenas sete dias, o Capela superou 50 mil downloads, sinalizando que a sede espiritual é real — e que essa nova geração deseja viver a fé de forma concreta, disciplinada e perseverante.
A evangelização do século XXI está aprendendo a jogar. E os jogos estão se tornando — sem exagero — um novo território missionário.
No Roblox, não são apenas jovens entusiasmados encenando uma missa por diversão. A coisa é séria — e tem bênção episcopal. Comunidades inteiras estão se organizando em servidores católicos, com hierarquia litúrgica, momentos de oração e até formação pastoral. O próprio arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, já enviou sua bênção à comunidade católica dentro do jogo, reconhecendo o valor espiritual e evangelizador do projeto.
Essas missas, mesmo sem valor sacramental, viralizam com frequência nas redes sociais. No TikTok, vídeos com trechos das celebrações — feitas com reverência, música, silêncio e oração — tocam quem assiste. E muitos, mesmo de fora da fé, confessam se emocionar com a proposta.
No Minecraft, a criatividade ganha contornos devocionais. Catedrais góticas, basílicas modernas, altares barrocos: tudo construído bloco a bloco por fiéis que encontraram no jogo uma forma de expressar e partilhar sua fé. Servidores se tornam verdadeiras paróquias digitais — com grupos de oração, catequese e até encontros ao vivo para rezar o terço em conjunto.
Essas expressões não substituem os sacramentos. Mas revelam algo profundo: quando a linguagem é acolhedora e o ambiente é familiar, a Geração Z responde. A fé, quando entra no jogo, pode virar também missão.
O impacto das cerimônias recentes no Vaticano não ficou apenas nas redes. No Brasil, o reflexo foi imediato e mensurável: a busca por “como ser católico” no Google disparou logo após o falecimento de Papa Francisco e a eleição de Leão XIV.
Segundo dados consolidados, o número de buscas no país cresceu quase 20 vezes no mês seguinte ao conclave — um salto que marcou o maior pico já registrado no tema. Mas o mais surpreendente é que, mesmo passado o momento de comoção global, o interesse se manteve em alta: o novo patamar de buscas se consolidou com mais que o dobro da média anterior.
Essa explosão de curiosidade e desejo de aproximação com a fé confirma que o efeito do “sagrado que viraliza” não é passageiro. A solenidade, o mistério e a beleza vividos nos rituais católicos despertaram algo duradouro — uma sede espiritual que começa, hoje, com um clique.
Com a conversão do rei Clóvis no século V, a França tornou-se o primeiro reino europeu oficialmente católico — ganhando o título de “filha primogênita da Igreja”.
Séculos depois, foi também da França que brotou o Iluminismo, e com ele um afastamento progressivo da fé. Esse distanciamento culminou em uma pergunta dramática feita por São João Paulo II, ainda no século XX: “França, filha predileta da Igreja, o que fizeste do teu batismo?”
Hoje, parece que uma nova resposta está sendo construída — e quem a está escrevendo é a juventude.
O dado mais simbólico, porém, vem da idade dos catecúmenos.
Em 2020, a faixa de 26 a 40 anos representava o dobro dos batismos em comparação aos jovens de 18 a 25. Mas essa curva se inverteu. Hoje, os mais jovens lideram.
Mais um sinal claro de um movimento juvenil que cresce.
As crismas de adultos, outro sacramento da iniciação cristã, também dobraram em apenas dois anos. A maior parte desses confirmandos não busca o sacramento por exigência de casamento ou apadrinhamento, mas por uma autêntica busca espiritual, em meio a um mundo em crise.
A mesma tendência se observa entre os adolescentes.
É como se a juventude francesa estivesse assumindo novamente as promessas feitas um dia por seus ancestrais nas águas do batismo — agora com liberdade, consciência e desejo genuíno de sentido.
A filha primogênita parece estar voltando para casa — pelas mãos da geração Z.
Há evidência clara de que algo está mudando na relação dos jovens britânicos com a fé. O Reino Unido vive um Renascimento Silencioso, e quem lidera são jovens adultos que antes estavam alheios às igrejas — agora, procuram sentido, comunidade e beleza litúrgica.
O relatório The Quiet Revival, publicado em 2024 pela Bible Society, aponta para um fenômeno silencioso, mas profundo: a fé está voltando a ocupar espaço no imaginário britânico — especialmente entre os mais jovens. Os dados a seguir são extraídos do relatório.
Um estudo de 2025 do Pew Research Center mostra que quase 30% dos católicos dos Estados Unidos frequentam a missa semanalmente ou mais de uma vez por semana. Mais da metade (51%) ora diariamente e 44% consideram a religião como algo muito importante em suas vidas. É um número impressionante especialmente quando comparado a países como o Brasil, onde apenas 2% dos católicos participam da missa semanalmente.
Ainda mais surpreendente é a movimentação que se observa entre os jovens. A manchete do New York Post não deixa dúvidas: “Young people are converting to Catholicism en masse.” Um verdadeiro renascimento católico liderado pela Geração Z está em curso nos Estados Unidos, impulsionado por fatores como solidão, busca por propósito, insatisfação com alternativas religiosas mais “laxas” e a força simbólica, comunitária e estética da fé católica. Segundo o jornal, dioceses como a de Fort Worth, no Texas, viram o número de conversões crescer 72% em um único ano.
Esse fenômeno foi reforçado por outro estudo — o Cooperative Election Study de 2023, da Universidade de Harvard — que mostrou um crescimento expressivo na identificação com a fé católica: de 15% para 21% entre os Geração Z e de 16% para 20% entre os millennials, tudo isso em apenas um ano (2022–2023). Os dados sugerem que a fé católica tem preenchido um vácuo espiritual, cultural e comunitário deixado pela modernidade.
O que se vê, portanto, é que o catolicismo tem oferecido respostas concretas a anseios profundos da Geração Z americana — por pertencimento, por transcendência, por uma verdade que faça sentido. Entre conversões, retornos à fé e uma prática religiosa consistente, cresce o número de jovens que encontram na Igreja um caminho possível em meio ao vazio moderno.
Nesse cenário, a tradição católica não surge como peso, mas como abrigo: um lugar onde símbolos, doutrina e comunidade se encontram para oferecer algo que vai além da estética — um sentido real para viver.
A Igreja Católica na Bélgica vive um momento de contradições. De um lado, os pedidos para remoção de nomes dos registros de batismo têm batido recordes — foram mais de 14 mil em 2023. Por outro, os batismos de adolescentes e adultos quase triplicaram na última década, passando de 180 catecúmenos em 2015 para 536 em 2025.
O crescimento mais recente também impressiona: um salto de 48% em apenas um ano, entre 2024 e 2025. Esses dados revelam uma realidade mais complexa do que a simples narrativa de declínio.
A preparação para o batismo na Bélgica dura de 18 meses a dois anos. Ela envolve não apenas catequese, mas também inserção comunitária — sinal de que esse movimento de retorno ou descoberta da fé é sólido e consciente.
Em 2025, o destaque foi para os grandes centros urbanos. Mechelen-Bruxelas lidera com mais de 170 catecúmenos, seguida por Tournai, com 136. Bruges, por outro lado, teve apenas 14 novos batizandos adultos neste ano.
Apesar do aumento nas apostasias, há uma movimentação crescente de pessoas — especialmente jovens — que encontram na fé católica um novo ponto de partida. Um renascimento discreto, mas resiliente.
A Arquidiocese de Dublin registrou, em 2025, o maior número de adultos buscando o batismo de sua história. Quase o dobro de batismos adultos em relação ao ano anterior foram realizados nesta Páscoa.
Esse crescimento foi puxado principalmente por jovens adultos recém-chegados ao país, muitos deles imigrantes, que encontraram na fé católica um espaço de acolhida, identidade e sentido.
O arcebispo Dermot Farrell reconhece que a Irlanda vive uma transformação profunda. A religiosidade popular característica do país no século XX perdeu força. A maioria dos casamentos já não ocorre mais em igrejas, e o mesmo começa a acontecer com os funerais.
Mas ele insiste que seria um erro interpretar isso como a morte da fé. Segundo Farrell, há ainda uma fome espiritual latente, que se manifesta em novas formas e linguagens — e que hoje se revela especialmente entre os “novos irlandeses”.Durante este Ano Jubilar da Esperança, o grupo de catecúmenos em Dublin — muitos deles jovens adultos imigrantes — se tornou símbolo dessa nova fase. Para a Igreja, o desafio agora é pastoral: acolher e integrar essas novas vozes às estruturas paroquiais tradicionais.
A Arquidiocese de Dublin registrou, em 2025, o maior número de adultos buscando o batismo de sua história. Quase o dobro de batismos adultos em relação ao ano anterior foram realizados nesta Páscoa.
Esse crescimento foi puxado principalmente por jovens adultos recém-chegados ao país, muitos deles imigrantes, que encontraram na fé católica um espaço de acolhida, identidade e sentido.
O arcebispo Dermot Farrell reconhece que a Irlanda vive uma transformação profunda. A religiosidade popular característica do país no século XX perdeu força. A maioria dos casamentos já não ocorre mais em igrejas, e o mesmo começa a acontecer com os funerais.
Mas ele insiste que seria um erro interpretar isso como a morte da fé. Segundo Farrell, há ainda uma fome espiritual latente, que se manifesta em novas formas e linguagens — e que hoje se revela especialmente entre os “novos irlandeses”.
Durante este Ano Jubilar da Esperança, o grupo de catecúmenos em Dublin — muitos deles jovens adultos imigrantes — se tornou símbolo dessa nova fase. Para a Igreja, o desafio agora é pastoral: acolher e integrar essas novas vozes às estruturas paroquiais tradicionais.
No mundo digitalizado de 2025, a evangelização não se limita a estar online — trata-se de tornar a Igreja presente como sinal visível da graça, também nas telas. Se a juventude busca sentido, comunidade e transcendência, é papel da Igreja ser caminho para esse encontro, inclusive no ambiente virtual.
“Estudar esse crescimento dos católicos durante o Ano Santo, o Jubileu da Esperança, é reconhecer que a Igreja é um instrumento visível da graça de Deus no mundo,” afirma o padre Dirceu Júnior dos Reis, assessor do setor juvenil da Arquidiocese de Londrina.
Para ele, “a Igreja é sinal de esperança. A evangelização, nesse sentido, tem um caráter sacramental: a Igreja é o meio pelo qual o mundo pode ser transformado pela presença de Deus. Um lugar de revelação do mistério de Cristo no mundo.”Ao comentar o crescimento da fé entre os jovens, o padre reforça que evangelizar não é apenas transmitir ensinamentos, mas convidar ao encontro com o mistério:
“A evangelização da juventude não é apenas um processo de ensinar, mas de fazer com que cada jovem entre em contato com o mistério de Deus, e essa experiência é mediada pela Igreja, que deve ser testemunha viva desse mistério. A evangelização, nesse entendimento, deve ser um convite ao mistério divino, uma experiência de encontro com Deus.”
Entre filtros, emojis e vídeos de missa no Roblox, há uma busca genuína por algo que não se encontra no scroll infinito: transcendência, comunidade, propósito.
O que a Geração Z está fazendo, no fim das contas, não é reinventar a fé, mas redescobri-la, com a linguagem, as imagens e os afetos que lhes são próprios.
O catolicismo é, afinal, universal: nasceu entre judeus, atravessou impérios, dialogou com culturas, se traduziu em cantos, imagens e ritos — e agora, fala também em reels e notificações.
Chesterton disse certa vez que “o catolicismo quase morreu várias vezes, mas sempre ressuscitou, porque conhece o caminho para sair do sepulcro.”
Se esse caminho passa pelo feed, pela estética ou por um trecho de homilia na vertical de 15 segundos… que assim seja pois é Cristo que passa.
O maior clube de livros católicos do Brasil.
De batismos que quadruplicaram à viralização de santos adolescentes, uma nova geração de jovens digitalmente conectados está redescobrindo a fé — e fazendo dela um movimento cultural.
Se a fé parecia ter perdido espaço no mundo moderno, alguém esqueceu de avisar a Geração Z.
Depois de décadas marcadas por afastamento religioso, secularização e uma cultura cada vez mais individualista, a espiritualidade voltou a ser pauta. A geração que cresceu conectada ao Wi-Fi agora se conecta, cada vez mais, à fé.
Criados em um ambiente altamente digitalizado, marcados por crises sociais, familiares e existenciais, os jovens estão liderando um novo fenômeno: o retorno à fé católica. Mais do que uma volta nostálgica ao passado, trata-se de uma redescoberta — com linguagem própria, novos símbolos, influenciadores religiosos e uma profunda sede por sentido.
Canonizado em 2025, apesar de “Millennial” Carlo Acutis se tornou o símbolo máximo de uma juventude que busca a fé dentro da cultura digital. Adolescente, fã do Homem-Aranha, criador de sites sobre milagres eucarísticos, apaixonado pela Eucaristia e pela vida ordinária, Carlo mostrou ao mundo que a santidade é possível sem sair do quarto.
As imagens de Carlo vestindo jeans, jogando PlayStation — cujo controle chegou a ser tratado como relíquia —, mexendo no computador ou sorrindo em fotos de infância são agora ícones de devoção moderna. Ele foi reconhecido como padroeiro da internet, não apenas por sua relação com a tecnologia, mas por ser ponte entre fé e cultura digital.
A comoção global com sua canonização viralizou no TikTok, no Instagram e no Twitter. Jovens que nunca haviam ouvido falar dele se identificaram com sua história. A Geração Z ganhou um santo com quem pode se parecer — e isso mudou tudo.
Saiba mais sobre a história de Carlo Acutis, o primeiro santo millennial da Igreja Católica.
“A beleza salvará o mundo.” A famosa frase de Dostoiévski parece ter encontrado eco nas redes sociais quando, em meio ao barulho e à superficialidade da internet, imagens do funeral do Papa Francisco e da eleição do Papa Leão XIV começaram a viralizar.
Milhões de jovens — muitos deles distantes da fé — pararam para assistir, comentar e compartilhar. Não por curiosidade política ou religiosa, mas pela estética sublime daqueles momentos: o brilho das velas refletido no mármore, os cantos gregorianos, o silêncio que diz mais do que mil palavras.
As imagens que circularam mostravam paramentos suntuosos, procissões solenes, incenso subindo lentamente sob as abóbadas da Basílica. Tudo transmitia uma linguagem que falava direto aos sentidos — e ao espírito.
A comoção não veio de um argumento lógico, mas de um impacto simbólico. A solenidade do rito, a arquitetura milenar, o ritmo contemplativo: tudo falava de algo maior. Um senso de reverência que contrasta com o caos cotidiano e digital.
E é justamente nesse contraste que muitos encontraram um primeiro contato com o sagrado.
No TikTok, no Twitter e no Instagram, pessoas que nunca haviam entrado em uma igreja comentavam sobre a paz transmitida, o respeito sentido, a beleza vivida. Um espaço simbólico se abriu — e a beleza, ali, preparou o terreno para o sagrado.
Se as conversões aumentaram, uma pergunta natural é: seriam superficiais? Os dados mostram que não. Ao contrário, muitos jovens e adultos têm buscado meios de estruturar e viver a fé no cotidiano. Prova disso é o crescimento da popularização de aplicativos de oração, que se tornam aliados concretos na vida espiritual.
O Hallow, um dos maiores apps católicos do mundo, oferece meditações guiadas, orações diárias e conteúdos com vozes conhecidas da Igreja e até de Hollywood. O Pocket Terço, desenvolvido no Brasil, é focado na prática diária do rosário, com um formato simples, intuitivo e acessível. Já o Católico Orante reúne liturgia diária, oração da manhã e da noite, além de recursos como o terço, o ofício e outras práticas devocionais. Juntos, eles mostram como a tecnologia pode facilitar e aprofundar a vida de oração.
Nesse cenário, surgiu também o Capela App, novo aplicativo da Minha Biblioteca Católica, que traz como diferencial o Plano de Vida Espiritual — uma funcionalidade que ajuda o usuário a organizar e cultivar práticas regulares de oração, leitura e espiritualidade ao longo da semana. Em apenas sete dias, o Capela superou 50 mil downloads, sinalizando que a sede espiritual é real — e que essa nova geração deseja viver a fé de forma concreta, disciplinada e perseverante.
A evangelização do século XXI está aprendendo a jogar. E os jogos estão se tornando — sem exagero — um novo território missionário.
No Roblox, não são apenas jovens entusiasmados encenando uma missa por diversão. A coisa é séria — e tem bênção episcopal. Comunidades inteiras estão se organizando em servidores católicos, com hierarquia litúrgica, momentos de oração e até formação pastoral. O próprio arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, já enviou sua bênção à comunidade católica dentro do jogo, reconhecendo o valor espiritual e evangelizador do projeto.
Essas missas, mesmo sem valor sacramental, viralizam com frequência nas redes sociais. No TikTok, vídeos com trechos das celebrações — feitas com reverência, música, silêncio e oração — tocam quem assiste. E muitos, mesmo de fora da fé, confessam se emocionar com a proposta.
No Minecraft, a criatividade ganha contornos devocionais. Catedrais góticas, basílicas modernas, altares barrocos: tudo construído bloco a bloco por fiéis que encontraram no jogo uma forma de expressar e partilhar sua fé. Servidores se tornam verdadeiras paróquias digitais — com grupos de oração, catequese e até encontros ao vivo para rezar o terço em conjunto.
Essas expressões não substituem os sacramentos. Mas revelam algo profundo: quando a linguagem é acolhedora e o ambiente é familiar, a Geração Z responde. A fé, quando entra no jogo, pode virar também missão.
O impacto das cerimônias recentes no Vaticano não ficou apenas nas redes. No Brasil, o reflexo foi imediato e mensurável: a busca por “como ser católico” no Google disparou logo após o falecimento de Papa Francisco e a eleição de Leão XIV.
Segundo dados consolidados, o número de buscas no país cresceu quase 20 vezes no mês seguinte ao conclave — um salto que marcou o maior pico já registrado no tema. Mas o mais surpreendente é que, mesmo passado o momento de comoção global, o interesse se manteve em alta: o novo patamar de buscas se consolidou com mais que o dobro da média anterior.
Essa explosão de curiosidade e desejo de aproximação com a fé confirma que o efeito do “sagrado que viraliza” não é passageiro. A solenidade, o mistério e a beleza vividos nos rituais católicos despertaram algo duradouro — uma sede espiritual que começa, hoje, com um clique.
Com a conversão do rei Clóvis no século V, a França tornou-se o primeiro reino europeu oficialmente católico — ganhando o título de “filha primogênita da Igreja”.
Séculos depois, foi também da França que brotou o Iluminismo, e com ele um afastamento progressivo da fé. Esse distanciamento culminou em uma pergunta dramática feita por São João Paulo II, ainda no século XX: “França, filha predileta da Igreja, o que fizeste do teu batismo?”
Hoje, parece que uma nova resposta está sendo construída — e quem a está escrevendo é a juventude.
O dado mais simbólico, porém, vem da idade dos catecúmenos.
Em 2020, a faixa de 26 a 40 anos representava o dobro dos batismos em comparação aos jovens de 18 a 25. Mas essa curva se inverteu. Hoje, os mais jovens lideram.
Mais um sinal claro de um movimento juvenil que cresce.
As crismas de adultos, outro sacramento da iniciação cristã, também dobraram em apenas dois anos. A maior parte desses confirmandos não busca o sacramento por exigência de casamento ou apadrinhamento, mas por uma autêntica busca espiritual, em meio a um mundo em crise.
A mesma tendência se observa entre os adolescentes.
É como se a juventude francesa estivesse assumindo novamente as promessas feitas um dia por seus ancestrais nas águas do batismo — agora com liberdade, consciência e desejo genuíno de sentido.
A filha primogênita parece estar voltando para casa — pelas mãos da geração Z.
Há evidência clara de que algo está mudando na relação dos jovens britânicos com a fé. O Reino Unido vive um Renascimento Silencioso, e quem lidera são jovens adultos que antes estavam alheios às igrejas — agora, procuram sentido, comunidade e beleza litúrgica.
O relatório The Quiet Revival, publicado em 2024 pela Bible Society, aponta para um fenômeno silencioso, mas profundo: a fé está voltando a ocupar espaço no imaginário britânico — especialmente entre os mais jovens. Os dados a seguir são extraídos do relatório.
Um estudo de 2025 do Pew Research Center mostra que quase 30% dos católicos dos Estados Unidos frequentam a missa semanalmente ou mais de uma vez por semana. Mais da metade (51%) ora diariamente e 44% consideram a religião como algo muito importante em suas vidas. É um número impressionante especialmente quando comparado a países como o Brasil, onde apenas 2% dos católicos participam da missa semanalmente.
Ainda mais surpreendente é a movimentação que se observa entre os jovens. A manchete do New York Post não deixa dúvidas: “Young people are converting to Catholicism en masse.” Um verdadeiro renascimento católico liderado pela Geração Z está em curso nos Estados Unidos, impulsionado por fatores como solidão, busca por propósito, insatisfação com alternativas religiosas mais “laxas” e a força simbólica, comunitária e estética da fé católica. Segundo o jornal, dioceses como a de Fort Worth, no Texas, viram o número de conversões crescer 72% em um único ano.
Esse fenômeno foi reforçado por outro estudo — o Cooperative Election Study de 2023, da Universidade de Harvard — que mostrou um crescimento expressivo na identificação com a fé católica: de 15% para 21% entre os Geração Z e de 16% para 20% entre os millennials, tudo isso em apenas um ano (2022–2023). Os dados sugerem que a fé católica tem preenchido um vácuo espiritual, cultural e comunitário deixado pela modernidade.
O que se vê, portanto, é que o catolicismo tem oferecido respostas concretas a anseios profundos da Geração Z americana — por pertencimento, por transcendência, por uma verdade que faça sentido. Entre conversões, retornos à fé e uma prática religiosa consistente, cresce o número de jovens que encontram na Igreja um caminho possível em meio ao vazio moderno.
Nesse cenário, a tradição católica não surge como peso, mas como abrigo: um lugar onde símbolos, doutrina e comunidade se encontram para oferecer algo que vai além da estética — um sentido real para viver.
A Igreja Católica na Bélgica vive um momento de contradições. De um lado, os pedidos para remoção de nomes dos registros de batismo têm batido recordes — foram mais de 14 mil em 2023. Por outro, os batismos de adolescentes e adultos quase triplicaram na última década, passando de 180 catecúmenos em 2015 para 536 em 2025.
O crescimento mais recente também impressiona: um salto de 48% em apenas um ano, entre 2024 e 2025. Esses dados revelam uma realidade mais complexa do que a simples narrativa de declínio.
A preparação para o batismo na Bélgica dura de 18 meses a dois anos. Ela envolve não apenas catequese, mas também inserção comunitária — sinal de que esse movimento de retorno ou descoberta da fé é sólido e consciente.
Em 2025, o destaque foi para os grandes centros urbanos. Mechelen-Bruxelas lidera com mais de 170 catecúmenos, seguida por Tournai, com 136. Bruges, por outro lado, teve apenas 14 novos batizandos adultos neste ano.
Apesar do aumento nas apostasias, há uma movimentação crescente de pessoas — especialmente jovens — que encontram na fé católica um novo ponto de partida. Um renascimento discreto, mas resiliente.
A Arquidiocese de Dublin registrou, em 2025, o maior número de adultos buscando o batismo de sua história. Quase o dobro de batismos adultos em relação ao ano anterior foram realizados nesta Páscoa.
Esse crescimento foi puxado principalmente por jovens adultos recém-chegados ao país, muitos deles imigrantes, que encontraram na fé católica um espaço de acolhida, identidade e sentido.
O arcebispo Dermot Farrell reconhece que a Irlanda vive uma transformação profunda. A religiosidade popular característica do país no século XX perdeu força. A maioria dos casamentos já não ocorre mais em igrejas, e o mesmo começa a acontecer com os funerais.
Mas ele insiste que seria um erro interpretar isso como a morte da fé. Segundo Farrell, há ainda uma fome espiritual latente, que se manifesta em novas formas e linguagens — e que hoje se revela especialmente entre os “novos irlandeses”.Durante este Ano Jubilar da Esperança, o grupo de catecúmenos em Dublin — muitos deles jovens adultos imigrantes — se tornou símbolo dessa nova fase. Para a Igreja, o desafio agora é pastoral: acolher e integrar essas novas vozes às estruturas paroquiais tradicionais.
A Arquidiocese de Dublin registrou, em 2025, o maior número de adultos buscando o batismo de sua história. Quase o dobro de batismos adultos em relação ao ano anterior foram realizados nesta Páscoa.
Esse crescimento foi puxado principalmente por jovens adultos recém-chegados ao país, muitos deles imigrantes, que encontraram na fé católica um espaço de acolhida, identidade e sentido.
O arcebispo Dermot Farrell reconhece que a Irlanda vive uma transformação profunda. A religiosidade popular característica do país no século XX perdeu força. A maioria dos casamentos já não ocorre mais em igrejas, e o mesmo começa a acontecer com os funerais.
Mas ele insiste que seria um erro interpretar isso como a morte da fé. Segundo Farrell, há ainda uma fome espiritual latente, que se manifesta em novas formas e linguagens — e que hoje se revela especialmente entre os “novos irlandeses”.
Durante este Ano Jubilar da Esperança, o grupo de catecúmenos em Dublin — muitos deles jovens adultos imigrantes — se tornou símbolo dessa nova fase. Para a Igreja, o desafio agora é pastoral: acolher e integrar essas novas vozes às estruturas paroquiais tradicionais.
No mundo digitalizado de 2025, a evangelização não se limita a estar online — trata-se de tornar a Igreja presente como sinal visível da graça, também nas telas. Se a juventude busca sentido, comunidade e transcendência, é papel da Igreja ser caminho para esse encontro, inclusive no ambiente virtual.
“Estudar esse crescimento dos católicos durante o Ano Santo, o Jubileu da Esperança, é reconhecer que a Igreja é um instrumento visível da graça de Deus no mundo,” afirma o padre Dirceu Júnior dos Reis, assessor do setor juvenil da Arquidiocese de Londrina.
Para ele, “a Igreja é sinal de esperança. A evangelização, nesse sentido, tem um caráter sacramental: a Igreja é o meio pelo qual o mundo pode ser transformado pela presença de Deus. Um lugar de revelação do mistério de Cristo no mundo.”Ao comentar o crescimento da fé entre os jovens, o padre reforça que evangelizar não é apenas transmitir ensinamentos, mas convidar ao encontro com o mistério:
“A evangelização da juventude não é apenas um processo de ensinar, mas de fazer com que cada jovem entre em contato com o mistério de Deus, e essa experiência é mediada pela Igreja, que deve ser testemunha viva desse mistério. A evangelização, nesse entendimento, deve ser um convite ao mistério divino, uma experiência de encontro com Deus.”
Entre filtros, emojis e vídeos de missa no Roblox, há uma busca genuína por algo que não se encontra no scroll infinito: transcendência, comunidade, propósito.
O que a Geração Z está fazendo, no fim das contas, não é reinventar a fé, mas redescobri-la, com a linguagem, as imagens e os afetos que lhes são próprios.
O catolicismo é, afinal, universal: nasceu entre judeus, atravessou impérios, dialogou com culturas, se traduziu em cantos, imagens e ritos — e agora, fala também em reels e notificações.
Chesterton disse certa vez que “o catolicismo quase morreu várias vezes, mas sempre ressuscitou, porque conhece o caminho para sair do sepulcro.”
Se esse caminho passa pelo feed, pela estética ou por um trecho de homilia na vertical de 15 segundos… que assim seja pois é Cristo que passa.