Escatologia: o que a fé católica ensina sobre o destino eterno do homem, a esperança na vida eterna e o triunfo de Cristo.
Escatologia: o que a fé católica ensina sobre o destino eterno do homem, a esperança na vida eterna e o triunfo de Cristo.
A escatologia, do grego “éschata” (realidades últimas), é o estudo teológico sobre o destino final do homem e do mundo, à luz da fé cristã. Embora trate de temas como morte, juízo, céu e inferno, ela não é uma doutrina do medo, mas da esperança.
Neste artigo, vamos aprofundar o que a Igreja ensina sobre essas verdades eternas e como elas iluminam o sentido da nossa vida presente.
No coração da fé cristã, a escatologia ocupa um lugar central. Mais do que simples especulação sobre o fim do mundo, trata-se da teologia das “últimas coisas”, ou seja, da reflexão sobre a morte, o juízo, o destino eterno das almas e a consumação de todas as coisas em Cristo.
A associação do Apocalipse com o fim do mundo é comum: “Para muitos, o Apocalipse é, antes de tudo, o livro que trata do fim do mundo” 1. Contudo, o sentido escatológico da Revelação não se limita a isso. Como explica Féret, “o fim dos tempos é o ponto de convergência de tudo” 2.
A escatologia cristã se distingue por não propor um messianismo terreno ou político, mas por sustentar a esperança da manifestação gloriosa de Cristo e da plena realização de seu Reino: “Não existe messianismo cristão […] mas há uma escatologia cristã, ou mais exatamente, uma espera e uma esperança cristã da definitiva manifestação de Cristo e do triunfo de sua verdade” 3.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a morte põe fim à vida do homem como tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça divina” 4, e que “ao término de sua vida terrena, cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna” 5. Toda a Revelação — da promessa feita a Abraão até a visão da Nova Jerusalém — aponta para essa plenitude escatológica. Féret observa que, em todo o gênero apocalíptico, “as exortações à fidelidade, as evocações proféticas e as perspectivas escatológicas são inseparáveis, sendo estas últimas o pano de fundo indispensável” 6.
Assim, a escatologia não é um anexo da fé, mas sua culminação. Ela expressa a certeza de que a história humana caminha para um fim glorioso e justo, onde Deus será “tudo em todos” 7.
As verdades escatológicas não estão à margem da fé cristã, mas ocupam seu centro, como professamos no Credo Niceno-Constantinopolitano — formulação solene da fé cristã definida nos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381), e ainda hoje proclamada nas celebrações litúrgicas, especialmente em solenidades. Embora nem sempre recitado nas Missas dominicais, ele expressa o mesmo conteúdo essencial do Credo Apostólico, usado com mais frequência. Nele lemos: “De novo há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos”, “Espero a ressurreição dos mortos” e “E a vida do mundo que há de vir”. Essas afirmações resumem o núcleo da esperança cristã e estão profundamente desenvolvidas no Catecismo da Igreja Católica, especialmente nos parágrafos 1020 a 1060, como veremos a seguir:
Essa proclamação remete à Segunda Vinda de Cristo, momento em que o Senhor retornará glorioso para julgar os vivos e os mortos 8. Esse evento, que encerra o tempo presente e inaugura a eternidade, ocupa um lugar central na escatologia cristã. Como anuncia o Apocalipse: “Eis que Ele vem sobre as nuvens, e todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o trespassaram” 9.
O Catecismo da Igreja Católica reforça esse ensinamento, afirmando que, nesse retorno glorioso, “será então revelado o segredo dos corações e será feita a retribuição definitiva a cada um segundo suas obras” 10. Cristo é o Juiz universal, o Alfa e o Ômega, conforme proclama o livro do Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Ômega… que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso” 11. Esse retorno não inaugura uma nova fase histórica ou um reino terreno, mas manifesta o cumprimento último do plano de Deus: “Esta [esperança cristã] é mais poderosa do que qualquer messianismo […] a tendência da Igreja e de toda a criação para a definitiva e perfeita unidade de todas as coisas em Deus” 12.
A escatologia cristã vai além da crença na imortalidade da alma: ela afirma, com igual vigor, a ressurreição do corpo. Essa convicção, firmemente ancorada na fé na ressurreição de Cristo, é expressa no Catecismo: “Cremos na verdadeira ressurreição da carne, porque o próprio Cristo ressuscitou com seu corpo” 13. No fim dos tempos, ensina a Igreja, todos os mortos ressuscitarão — uns para a vida eterna, outros para a condenação eterna 14.
Essa ressurreição inaugura uma nova criação, onde os justos entram na vida eterna. O Apocalipse descreve com beleza essa realidade final: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra […] Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos seus olhos, e não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais dor” 15.
O Catecismo reforça: “Viver no Céu é estar com Cristo” — essa é a meta da existência cristã. A vida eterna consiste na comunhão plena com Deus: “a comunhão de vida e de amor com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados” 16.
Portanto, longe de ser um tema obscuro ou meramente teórico, a escatologia do Credo lança luz sobre o destino último da criação: a vitória definitiva do Cordeiro e a entrada dos fiéis na glória eterna, onde Deus será tudo em todos.
Para se aprofundar mais neste tema, leia também o guia completo para católicos sobre o Apocalipse.
A tradição espiritual da Igreja resume a escatologia pessoal em quatro realidades chamadas de “As Quatro Últimas Coisas”: morte, juízo, inferno e paraíso. Elas são meditadas desde os primeiros séculos como um caminho para viver com sabedoria e santidade, preparando-se para a eternidade.
Santo Afonso de Ligório, em sua obra Preparação para a Morte, nos recorda com força espiritual e grande realismo: “é certíssimo que todos devemos morrer, mas não sabemos quando” 17. Essa lembrança, tão óbvia e ao mesmo tempo tão esquecida, deveria moldar toda a nossa vida. Cada dia é uma chance irrepetível de nos prepararmos para a eternidade: “Logo que a alma com o último suspiro sair do corpo, passará à eternidade, e o corpo se reduzirá a pó” 18.
A morte, para a fé católica, é mais do que o fim de um ciclo biológico: é o início de algo definitivo. Não é um encerramento, mas uma travessia. Por isso, a liturgia proclama com esperança: “para os que creem em vós, Senhor, a vida não é tirada, mas transformada” 19. Com esse olhar, a escatologia cristã nos convida a viver cada instante com sabedoria, preparando-nos não com temor paralisante, mas com fé vigilante e amor.
O juízo particular é uma das verdades mais sérias e, paradoxalmente, mais esquecidas da fé cristã. Justamente por ser tão ignorada, ela precisa ser redescoberta como fonte de luz e de consolo. Cada pessoa, ao deixar este mundo, encontra-se face a face com Cristo, que julga com justiça perfeita e misericórdia infinita. Como recorda São Paulo: “É necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo” 20.
Santo Afonso de Ligório descreve esse instante com grande clareza espiritual: “O juízo particular se efetua no mesmo instante em que o homem expira, que no próprio lugar onde a alma se separa do corpo é julgada por Nosso Senhor Jesus Cristo” 21. Não é um julgamento frio ou distante, mas um encontro direto e pessoal com o Senhor, que penetra o mais íntimo da alma: “Ele mesmo julga esta causa” 22.
Nesse momento decisivo, caem todas as máscaras e ilusões: não contarão os títulos, o poder ou as riquezas, mas apenas o amor vivido concretamente. “Na balança da divina justiça não se pesarão as riquezas […] mas somente suas obras” 23. Logo após a morte, cada alma recebe de Cristo a retribuição justa — céu, purgatório ou inferno 24.
A consciência desse encontro final não deve inspirar medo, mas renovar em nós o desejo de viver segundo o Evangelho. O mesmo Cristo que nos julgará é aquele que nos amou até a cruz e que agora nos espera com misericórdia. Por isso, recordar o juízo particular não é pensar no castigo, mas na oportunidade de sermos encontrados fiéis quando Ele vier.
Entre as verdades da fé, talvez nenhuma seja tão desconcertante e, ao mesmo tempo, tão necessária de ser lembrada quanto a do inferno. Ele não é um castigo imposto por um Deus irado, mas a consequência definitiva de uma rejeição livre e consciente do amor divino. O Catecismo é claro: “Não é Deus que predestina ninguém ao inferno” 25.
Santo Afonso de Ligório expressa essa realidade com força espiritual: “O verdadeiro inferno é a pena de ter perdido a Deus!” 26. O maior sofrimento dos réprobos não está nas chamas, mas na ausência d’Aquele para quem foram criados: “o maior suplício do Inferno é a pena do dano ou da privação da visão de Deus, perda irreparável” 27.
O Apocalipse descreve esse estado com imagens intensas: “O inferno e a morte foram lançados no tanque de fogo. Esta é a segunda morte” 28. Trata-se de uma linguagem simbólica, mas profundamente verdadeira: o fogo representa o tormento interior de quem, tendo rejeitado o amor, escolhe permanecer longe de Deus para sempre.
A doutrina do inferno, longe de ser uma ameaça, é um apelo à conversão e à responsabilidade diante do dom da liberdade. Recorda-nos que a eternidade é o fruto das escolhas que fazemos agora, e que o amor de Deus jamais deixa de buscar o pecador enquanto há tempo. Pensar no inferno, portanto, não é ceder ao medo, mas deixar-se despertar para a urgência de viver no amor e na graça, certos de que a misericórdia de Cristo sempre precede o juízo.
Leia trechos da carta de uma alma condenada ao inferno.
O Céu é o termo último da existência humana, o cumprimento de todas as promessas divinas e o descanso pleno das almas que viveram em amizade com Deus. Santo Afonso de Ligório resume essa verdade com simplicidade e profundidade: “O bem essencial da glória é o bem supremo: Deus […] a recompensa principal é Deus mesmo, é amá-lo e contemplá-lo face a face” 29.
O Paraíso é, portanto, o reencontro definitivo com o Amor que nos criou. Nele, o coração humano encontra sua alegria mais perfeita, pois o próprio Cristo conduz a alma à presença do Pai: “Jesus a apresentará ao Pai Eterno que lhe lançará a sua bênção, dizendo: ‘Entra na alegria do teu Senhor’ (Mt 25,21)” 30.
O Catecismo da Igreja Católica confirma essa esperança: “Esta vida perfeita com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados chama-se Céu” 31. É a comunhão plena e eterna com Deus, onde não há mais sofrimento, nem separação, nem sombra de pecado.
O Apocalipse descreve essa realidade gloriosa com imagens de esplendor: “E eu, João, vi a cidade santa, a nova Jerusalém […] Eis o tabernáculo de Deus com os homens” 32. Essa cidade celeste é o símbolo da Aliança consumada, onde o amor vence para sempre e o próprio Deus habita com o seu povo. Ali, toda lágrima será enxugada e o fiel ouvirá: “Aquele que vencer, possuirá estas coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho” 33.
Falar do Céu é falar da meta da nossa fé. Ele não é um prêmio distante, mas a vocação para a qual fomos criados. É a certeza de que, após a travessia das dores e lutas da vida, existe uma alegria sem fim — a alegria de viver para sempre com Deus.
A escatologia não trata apenas do destino de cada alma, mas da consumação de toda a história — o momento em que Deus levará à plenitude o seu plano de amor para a humanidade e para a criação. Esses grandes acontecimentos, chamados eventos escatológicos coletivos, revelam o desfecho da história da salvação e o início da eternidade. Henri-Marie Féret explica que, mesmo quando o Apocalipse fala de fatos passados ou presentes, o faz sempre “dentro de uma perspectiva que abarca todo o futuro, e conduz profeticamente o pensamento até os grandes eventos escatológicos da consumação do mundo” 34.
O Apocalipse é, assim, o livro do cumprimento — o ponto onde toda a história converge para Cristo. “Para muitos, o Apocalipse é, antes de tudo, o livro que trata do fim do mundo” 23. Mas esse “fim” não é destruição: é plenitude, quando a justiça e o amor de Deus se manifestarão em sua totalidade. “As visões e revelações, seja qual for seu tema e sua amplitude, sempre desembocarão plenamente na escatologia” 2.
O Catecismo da Igreja Católica confirma essa esperança: “No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então, os justos reinarão para sempre com Cristo, glorificados em corpo e alma, e o próprio universo será renovado” 35. É a promessa dos “novos céus e nova terra”, onde Deus será tudo em todos 7.
Nos próximos tópicos, veremos como a fé cristã contempla esses grandes eventos que encerram a história do mundo: a Segunda Vinda de Cristo, a Ressurreição da Carne, o Juízo Final e a Nova Criação.
A Segunda Vinda de Cristo, ou Parusia, é o ponto culminante da história da salvação: o momento em que o Senhor voltará glorioso para instaurar definitivamente o seu Reino. Desde a Ascensão, a Igreja vive nessa esperança, recordando as palavras dos anjos aos discípulos: “Esse Jesus, que vos foi tirado e elevado ao céu, virá do mesmo modo que o vistes subir” 36.
O Apocalipse descreve essa vinda com imagens de esplendor e reverência: “Eis que Ele vem sobre as nuvens, e todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o trespassaram” 9. Cristo virá como Juiz e Salvador, revelando o triunfo do amor de Deus e a justiça que faltava à história.
Santo Afonso de Ligório contempla esse instante com linguagem viva e espiritual: “Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade. ‘E verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade’ (Mt 24,30)” 37. Os anjos o acompanharão, trazendo os sinais da Paixão de Cristo e proclamando sua vitória sobre o mal 38.
Para os justos, será um encontro de consolação e alegria: “Os eleitos serão colocados à direita […] e esperarão com os anjos a Jesus Cristo, que deve descer do Céu” 38. Para os que rejeitaram o amor de Deus, porém, será o momento de reconhecer o que desprezaram: “A presença de Cristo trará aos eleitos inefável consolo, e aos réprobos aflições maiores que as do próprio Inferno” 39.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que Cristo voltará em glória para julgar vivos e mortos 8 e, então, “o Reino de Deus chegará à sua plenitude; então, os justos reinarão para sempre com Cristo” 35. A Parusia é, assim, o clímax da esperança cristã: o reencontro definitivo entre o Senhor e o seu povo, quando se cumprirão todas as promessas.
A fé cristã proclama com firmeza que a morte não é o fim, mas a passagem para a vida eterna. A ressurreição da carne, professada no Credo e desenvolvida pelo Catecismo da Igreja Católica 40, é uma das verdades centrais dessa esperança. Não se trata de reencarnação nem de retorno a esta vida terrena, mas da transformação definitiva do ser humano à imagem do Cristo ressuscitado.
O Catecismo ensina: “Cremos firmemente e esperamos que, assim como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia” 13. Essa fé se apoia na vitória de Cristo sobre a morte: “O que ressuscitou dentre os mortos não morre mais; a morte não tem mais poder sobre Ele” 41.
Santo Afonso de Ligório descreve esse evento com intensidade espiritual: “Mortos os homens, soará a trombeta e todos ressuscitarão […] Descerão do Céu as almas gloriosas dos bem-aventurados para se unirem a seus corpos, com que serviram a Deus neste mundo” 42. Os justos aparecerão “mais resplandecentes que o sol” 22, refletindo a glória divina; já os que rejeitaram a graça de Deus experimentarão a separação definitiva de seu amor.
A ressurreição será, portanto, um ato de renovação total. O corpo ressuscitado será o mesmo corpo que tivemos na terra — não outro, nem simbólico —, mas agora plenamente glorificado, liberto de toda corrupção e sofrimento. A identidade pessoal permanece intacta: quem ressuscita é o mesmo ser que viveu, amou e sofreu nesta vida, agora transfigurado pela graça. É o corpo real, unido novamente à alma, que participa da glória de Cristo e reflete a perfeição de sua humanidade ressuscitada. Conforme ensina São Paulo: “Semeia-se corpo animal, ressuscita corpo espiritual” 43. Essa transformação expressa o cumprimento do desígnio de Deus, que não salva apenas a alma, mas o homem inteiro — corpo e espírito.
Assim, a fé na ressurreição da carne proclama a vitória definitiva da vida sobre a morte. Ela convida cada cristão a viver na esperança, com os olhos voltados para o dia em que, unidos a Cristo, poderemos exclamar: “A morte foi tragada pela vitória!” 44.
O Juízo Final será o momento em que Cristo manifestará publicamente sua justiça e misericórdia diante de toda a humanidade. Diferente do juízo particular — que ocorre logo após a morte e decide o destino eterno de cada alma —, o Juízo Final é coletivo e universal. Ele acontecerá no fim dos tempos, quando todos os homens ressuscitarão e comparecerão, corpo e alma, diante de Cristo, o Juiz de vivos e mortos 45.
Santo Afonso de Ligório descreve esse evento de forma viva e contemplativa: “Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade […] e verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade” 37. O tribunal de Cristo revelará tudo o que está oculto: as obras, as intenções e os frutos do amor ou da recusa da graça. Como ensina o Catecismo, “no Juízo Final será revelada a conduta de cada um e o que de bom ou de mau realizou durante a sua vida terrena” 46.
Esse juízo não é uma duplicação do particular, mas sua confirmação pública. O que cada alma recebeu em segredo — a sentença de salvação ou de condenação — será então manifestado diante de todos, para a plena glorificação da justiça divina. “Vi os mortos, grandes e pequenos, estarem de pé diante do trono […] e foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” 47.
No Juízo Final, os justos ouvirão as palavras de Cristo: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o Reino que vos está preparado desde o princípio do mundo” 48, enquanto os que rejeitaram o amor de Deus se afastarão voluntariamente de sua presença 49. Como explica Santo Afonso, “os Apóstolos serão assessores deste julgamento […] e com Jesus Cristo julgarão os povos” 50. Essa imagem remete à promessa de Cristo: “Vós, que me seguistes, sentar-vos-eis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” 51. Assim, os Apóstolos representam a Igreja glorificada, associada ao poder de Cristo e participante de sua vitória final sobre o mal.
Esse grande dia não deve inspirar medo, mas esperança. Nele, toda injustiça será reparada, e os fiéis verão triunfar o amor de Deus sobre o mal. “Nele o Senhor se ressarcirá justamente da honra e da glória que os pecadores quiseram arrebatar-lhe neste mundo” 52. O Juízo Final é, portanto, o coroamento da história: o momento em que Deus revelará o sentido de todos os acontecimentos e renovará a criação em sua plenitude 53.
Na linguagem comum, a expressão “fim do mundo” costuma evocar imagens de destruição e catástrofe — como se tudo fosse aniquilado em uma explosão sem sentido. A fé cristã, porém, ensina algo muito diferente. O “fim” do mundo é, na verdade, a sua transformação: o momento em que Deus levará toda a criação à sua plenitude, purificando-a e renovando-a em Cristo.
O Catecismo da Igreja Católica explica que “o universo visível está destinado a ser transformado, de modo que o próprio mundo […] esteja a serviço dos justos” 54. Ou seja, o mundo não será apagado, mas transfigurado, libertado da corrupção causada pelo pecado e tornado plenamente luminoso pela presença de Deus.
Henri-Marie Féret chama esse acontecimento de “a inauguração da nova Terra e dos novos Céus […] realizando para sempre a aliança perfeita entre Deus e os homens” 55. Essa é a consumação da história da salvação: o encontro definitivo entre o Criador e a criação, simbolizado pela nova Jerusalém que desce do céu, adornada como uma esposa para o seu esposo 56.
Nesse mundo renovado, “Deus enxugará toda lágrima” e “não haverá mais morte, nem dor, nem pranto” 57. Tudo será restaurado no Cristo ressuscitado, e o universo inteiro participará da alegria dos que vivem para sempre em Deus. Assim, o “fim do mundo” não é o colapso da criação, mas o início da eternidade — o nascimento de uma realidade totalmente nova. Nesse estado glorioso, a criação permanece, mas transfigurada: não mais sujeita ao tempo da corrupção, e plenamente participante da vida divina 58. É o Reino definitivo de Deus, onde o amor reina plenamente e o homem encontra, enfim, sua morada eterna.
Ao final desta leitura, queremos recordar que a escatologia cristã não é um estudo sobre o medo, mas uma escola de esperança. Tudo o que a Igreja ensina sobre o fim dos tempos revela, na verdade, a fidelidade de Deus — Aquele que conduz a história ao seu cumprimento e promete restaurar todas as coisas em Cristo.
O cristão vive, portanto, nessa expectativa serena: entre o “já” e o “ainda não”. Já experimenta, pela graça, a vida nova trazida por Jesus, mas ainda aguarda sua plenitude no Reino eterno. Essa esperança não nos distancia do presente; pelo contrário, dá sentido a cada dia, convidando-nos à conversão, à vigilância e a um amor mais maduro e confiante.
A escatologia nos ensina a olhar para o futuro não como uma ameaça, mas como a realização de um encontro. O último versículo do Apocalipse ecoa como uma oração que resume toda a fé cristã: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” 59. Essa súplica não expressa medo, mas desejo: o anseio de ver, enfim, o rosto d’Aquele que é o início e o fim de todas as coisas.
Não. A escatologia é o estudo das “realidades últimas”: morte, juízo, céu, inferno, purgatório, segunda vinda de Cristo, ressurreição e vida eterna. Ela não se restringe ao “fim do mundo” material, mas abrange o sentido último da vida humana e da história.
Sim. O inferno é uma verdade de fé, ensinada por Cristo e confirmada pela Igreja. Ele consiste na separação definitiva de Deus, escolhida livremente por quem morre em pecado mortal sem arrependimento 60. Sua eternidade não é um castigo arbitrário, mas consequência da escolha definitiva da alma.
Não. A reencarnação é incompatível com a fé católica. “Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o juízo” 61. Cada pessoa vive uma única vida, e ao morrer passa pelo juízo particular, onde decide-se o seu destino eterno.
O purgatório é o estado de purificação daqueles que morrem em amizade com Deus, mas ainda precisam ser purificados antes de entrar no céu 62. Não é uma “segunda chance”, mas expressão da misericórdia divina que prepara a alma para a comunhão plena com Deus.
Saiba o que a Igreja ensina sobre a doutrina do Purgatório.
Cristo voltará em glória para julgar os vivos e os mortos e instaurar definitivamente o Reino de Deus 63. Nesse momento, acontecerá a ressurreição dos corpos e o Juízo Final. Os justos entrarão para sempre na vida eterna; os que rejeitaram a graça, na separação eterna de Deus.
Todos os homens ressuscitarão com seus corpos e comparecerão diante de Cristo. Serão reveladas as obras de cada um, e haverá separação definitiva entre os que acolheram o amor de Deus e os que o recusaram 64.
O Céu é a comunhão perfeita e eterna com Deus, com os anjos e os santos. Nele, os justos contemplam a Deus face a face e participam da plenitude da alegria divina 65. É a realização de todo o desejo humano: viver no amor sem fim.
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A Parusia é o nome dado à Segunda Vinda de Cristo em glória. Será o momento em que o Senhor voltará para julgar os vivos e os mortos e instaurar definitivamente o Reino de Deus 8. Para os fiéis, será o reencontro com Aquele que amaram e esperaram durante toda a vida.
No fim dos tempos, o universo não será destruído, mas transformado. Toda a criação será purificada e participará da glória de Cristo ressuscitado, tornando-se um “novo céu e uma nova terra” 66. Essa renovação mostrará que a redenção de Cristo abrange todas as coisas criadas.
Vivendo em estado de graça, com fé viva, oração constante, caridade concreta e fidelidade à Igreja. A escatologia não desperta medo, mas esperança. Cada dia vivido na graça é um passo em direção ao encontro com Cristo. Por isso, a Igreja repete com confiança: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” 59.
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A escatologia, do grego “éschata” (realidades últimas), é o estudo teológico sobre o destino final do homem e do mundo, à luz da fé cristã. Embora trate de temas como morte, juízo, céu e inferno, ela não é uma doutrina do medo, mas da esperança.
Neste artigo, vamos aprofundar o que a Igreja ensina sobre essas verdades eternas e como elas iluminam o sentido da nossa vida presente.
No coração da fé cristã, a escatologia ocupa um lugar central. Mais do que simples especulação sobre o fim do mundo, trata-se da teologia das “últimas coisas”, ou seja, da reflexão sobre a morte, o juízo, o destino eterno das almas e a consumação de todas as coisas em Cristo.
A associação do Apocalipse com o fim do mundo é comum: “Para muitos, o Apocalipse é, antes de tudo, o livro que trata do fim do mundo” 1. Contudo, o sentido escatológico da Revelação não se limita a isso. Como explica Féret, “o fim dos tempos é o ponto de convergência de tudo” 2.
A escatologia cristã se distingue por não propor um messianismo terreno ou político, mas por sustentar a esperança da manifestação gloriosa de Cristo e da plena realização de seu Reino: “Não existe messianismo cristão […] mas há uma escatologia cristã, ou mais exatamente, uma espera e uma esperança cristã da definitiva manifestação de Cristo e do triunfo de sua verdade” 3.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a morte põe fim à vida do homem como tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça divina” 4, e que “ao término de sua vida terrena, cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna” 5. Toda a Revelação — da promessa feita a Abraão até a visão da Nova Jerusalém — aponta para essa plenitude escatológica. Féret observa que, em todo o gênero apocalíptico, “as exortações à fidelidade, as evocações proféticas e as perspectivas escatológicas são inseparáveis, sendo estas últimas o pano de fundo indispensável” 6.
Assim, a escatologia não é um anexo da fé, mas sua culminação. Ela expressa a certeza de que a história humana caminha para um fim glorioso e justo, onde Deus será “tudo em todos” 7.
As verdades escatológicas não estão à margem da fé cristã, mas ocupam seu centro, como professamos no Credo Niceno-Constantinopolitano — formulação solene da fé cristã definida nos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381), e ainda hoje proclamada nas celebrações litúrgicas, especialmente em solenidades. Embora nem sempre recitado nas Missas dominicais, ele expressa o mesmo conteúdo essencial do Credo Apostólico, usado com mais frequência. Nele lemos: “De novo há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos”, “Espero a ressurreição dos mortos” e “E a vida do mundo que há de vir”. Essas afirmações resumem o núcleo da esperança cristã e estão profundamente desenvolvidas no Catecismo da Igreja Católica, especialmente nos parágrafos 1020 a 1060, como veremos a seguir:
Essa proclamação remete à Segunda Vinda de Cristo, momento em que o Senhor retornará glorioso para julgar os vivos e os mortos 8. Esse evento, que encerra o tempo presente e inaugura a eternidade, ocupa um lugar central na escatologia cristã. Como anuncia o Apocalipse: “Eis que Ele vem sobre as nuvens, e todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o trespassaram” 9.
O Catecismo da Igreja Católica reforça esse ensinamento, afirmando que, nesse retorno glorioso, “será então revelado o segredo dos corações e será feita a retribuição definitiva a cada um segundo suas obras” 10. Cristo é o Juiz universal, o Alfa e o Ômega, conforme proclama o livro do Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Ômega… que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso” 11. Esse retorno não inaugura uma nova fase histórica ou um reino terreno, mas manifesta o cumprimento último do plano de Deus: “Esta [esperança cristã] é mais poderosa do que qualquer messianismo […] a tendência da Igreja e de toda a criação para a definitiva e perfeita unidade de todas as coisas em Deus” 12.
A escatologia cristã vai além da crença na imortalidade da alma: ela afirma, com igual vigor, a ressurreição do corpo. Essa convicção, firmemente ancorada na fé na ressurreição de Cristo, é expressa no Catecismo: “Cremos na verdadeira ressurreição da carne, porque o próprio Cristo ressuscitou com seu corpo” 13. No fim dos tempos, ensina a Igreja, todos os mortos ressuscitarão — uns para a vida eterna, outros para a condenação eterna 14.
Essa ressurreição inaugura uma nova criação, onde os justos entram na vida eterna. O Apocalipse descreve com beleza essa realidade final: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra […] Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos seus olhos, e não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais dor” 15.
O Catecismo reforça: “Viver no Céu é estar com Cristo” — essa é a meta da existência cristã. A vida eterna consiste na comunhão plena com Deus: “a comunhão de vida e de amor com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados” 16.
Portanto, longe de ser um tema obscuro ou meramente teórico, a escatologia do Credo lança luz sobre o destino último da criação: a vitória definitiva do Cordeiro e a entrada dos fiéis na glória eterna, onde Deus será tudo em todos.
Para se aprofundar mais neste tema, leia também o guia completo para católicos sobre o Apocalipse.
A tradição espiritual da Igreja resume a escatologia pessoal em quatro realidades chamadas de “As Quatro Últimas Coisas”: morte, juízo, inferno e paraíso. Elas são meditadas desde os primeiros séculos como um caminho para viver com sabedoria e santidade, preparando-se para a eternidade.
Santo Afonso de Ligório, em sua obra Preparação para a Morte, nos recorda com força espiritual e grande realismo: “é certíssimo que todos devemos morrer, mas não sabemos quando” 17. Essa lembrança, tão óbvia e ao mesmo tempo tão esquecida, deveria moldar toda a nossa vida. Cada dia é uma chance irrepetível de nos prepararmos para a eternidade: “Logo que a alma com o último suspiro sair do corpo, passará à eternidade, e o corpo se reduzirá a pó” 18.
A morte, para a fé católica, é mais do que o fim de um ciclo biológico: é o início de algo definitivo. Não é um encerramento, mas uma travessia. Por isso, a liturgia proclama com esperança: “para os que creem em vós, Senhor, a vida não é tirada, mas transformada” 19. Com esse olhar, a escatologia cristã nos convida a viver cada instante com sabedoria, preparando-nos não com temor paralisante, mas com fé vigilante e amor.
O juízo particular é uma das verdades mais sérias e, paradoxalmente, mais esquecidas da fé cristã. Justamente por ser tão ignorada, ela precisa ser redescoberta como fonte de luz e de consolo. Cada pessoa, ao deixar este mundo, encontra-se face a face com Cristo, que julga com justiça perfeita e misericórdia infinita. Como recorda São Paulo: “É necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo” 20.
Santo Afonso de Ligório descreve esse instante com grande clareza espiritual: “O juízo particular se efetua no mesmo instante em que o homem expira, que no próprio lugar onde a alma se separa do corpo é julgada por Nosso Senhor Jesus Cristo” 21. Não é um julgamento frio ou distante, mas um encontro direto e pessoal com o Senhor, que penetra o mais íntimo da alma: “Ele mesmo julga esta causa” 22.
Nesse momento decisivo, caem todas as máscaras e ilusões: não contarão os títulos, o poder ou as riquezas, mas apenas o amor vivido concretamente. “Na balança da divina justiça não se pesarão as riquezas […] mas somente suas obras” 23. Logo após a morte, cada alma recebe de Cristo a retribuição justa — céu, purgatório ou inferno 24.
A consciência desse encontro final não deve inspirar medo, mas renovar em nós o desejo de viver segundo o Evangelho. O mesmo Cristo que nos julgará é aquele que nos amou até a cruz e que agora nos espera com misericórdia. Por isso, recordar o juízo particular não é pensar no castigo, mas na oportunidade de sermos encontrados fiéis quando Ele vier.
Entre as verdades da fé, talvez nenhuma seja tão desconcertante e, ao mesmo tempo, tão necessária de ser lembrada quanto a do inferno. Ele não é um castigo imposto por um Deus irado, mas a consequência definitiva de uma rejeição livre e consciente do amor divino. O Catecismo é claro: “Não é Deus que predestina ninguém ao inferno” 25.
Santo Afonso de Ligório expressa essa realidade com força espiritual: “O verdadeiro inferno é a pena de ter perdido a Deus!” 26. O maior sofrimento dos réprobos não está nas chamas, mas na ausência d’Aquele para quem foram criados: “o maior suplício do Inferno é a pena do dano ou da privação da visão de Deus, perda irreparável” 27.
O Apocalipse descreve esse estado com imagens intensas: “O inferno e a morte foram lançados no tanque de fogo. Esta é a segunda morte” 28. Trata-se de uma linguagem simbólica, mas profundamente verdadeira: o fogo representa o tormento interior de quem, tendo rejeitado o amor, escolhe permanecer longe de Deus para sempre.
A doutrina do inferno, longe de ser uma ameaça, é um apelo à conversão e à responsabilidade diante do dom da liberdade. Recorda-nos que a eternidade é o fruto das escolhas que fazemos agora, e que o amor de Deus jamais deixa de buscar o pecador enquanto há tempo. Pensar no inferno, portanto, não é ceder ao medo, mas deixar-se despertar para a urgência de viver no amor e na graça, certos de que a misericórdia de Cristo sempre precede o juízo.
Leia trechos da carta de uma alma condenada ao inferno.
O Céu é o termo último da existência humana, o cumprimento de todas as promessas divinas e o descanso pleno das almas que viveram em amizade com Deus. Santo Afonso de Ligório resume essa verdade com simplicidade e profundidade: “O bem essencial da glória é o bem supremo: Deus […] a recompensa principal é Deus mesmo, é amá-lo e contemplá-lo face a face” 29.
O Paraíso é, portanto, o reencontro definitivo com o Amor que nos criou. Nele, o coração humano encontra sua alegria mais perfeita, pois o próprio Cristo conduz a alma à presença do Pai: “Jesus a apresentará ao Pai Eterno que lhe lançará a sua bênção, dizendo: ‘Entra na alegria do teu Senhor’ (Mt 25,21)” 30.
O Catecismo da Igreja Católica confirma essa esperança: “Esta vida perfeita com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados chama-se Céu” 31. É a comunhão plena e eterna com Deus, onde não há mais sofrimento, nem separação, nem sombra de pecado.
O Apocalipse descreve essa realidade gloriosa com imagens de esplendor: “E eu, João, vi a cidade santa, a nova Jerusalém […] Eis o tabernáculo de Deus com os homens” 32. Essa cidade celeste é o símbolo da Aliança consumada, onde o amor vence para sempre e o próprio Deus habita com o seu povo. Ali, toda lágrima será enxugada e o fiel ouvirá: “Aquele que vencer, possuirá estas coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho” 33.
Falar do Céu é falar da meta da nossa fé. Ele não é um prêmio distante, mas a vocação para a qual fomos criados. É a certeza de que, após a travessia das dores e lutas da vida, existe uma alegria sem fim — a alegria de viver para sempre com Deus.
A escatologia não trata apenas do destino de cada alma, mas da consumação de toda a história — o momento em que Deus levará à plenitude o seu plano de amor para a humanidade e para a criação. Esses grandes acontecimentos, chamados eventos escatológicos coletivos, revelam o desfecho da história da salvação e o início da eternidade. Henri-Marie Féret explica que, mesmo quando o Apocalipse fala de fatos passados ou presentes, o faz sempre “dentro de uma perspectiva que abarca todo o futuro, e conduz profeticamente o pensamento até os grandes eventos escatológicos da consumação do mundo” 34.
O Apocalipse é, assim, o livro do cumprimento — o ponto onde toda a história converge para Cristo. “Para muitos, o Apocalipse é, antes de tudo, o livro que trata do fim do mundo” 23. Mas esse “fim” não é destruição: é plenitude, quando a justiça e o amor de Deus se manifestarão em sua totalidade. “As visões e revelações, seja qual for seu tema e sua amplitude, sempre desembocarão plenamente na escatologia” 2.
O Catecismo da Igreja Católica confirma essa esperança: “No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então, os justos reinarão para sempre com Cristo, glorificados em corpo e alma, e o próprio universo será renovado” 35. É a promessa dos “novos céus e nova terra”, onde Deus será tudo em todos 7.
Nos próximos tópicos, veremos como a fé cristã contempla esses grandes eventos que encerram a história do mundo: a Segunda Vinda de Cristo, a Ressurreição da Carne, o Juízo Final e a Nova Criação.
A Segunda Vinda de Cristo, ou Parusia, é o ponto culminante da história da salvação: o momento em que o Senhor voltará glorioso para instaurar definitivamente o seu Reino. Desde a Ascensão, a Igreja vive nessa esperança, recordando as palavras dos anjos aos discípulos: “Esse Jesus, que vos foi tirado e elevado ao céu, virá do mesmo modo que o vistes subir” 36.
O Apocalipse descreve essa vinda com imagens de esplendor e reverência: “Eis que Ele vem sobre as nuvens, e todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o trespassaram” 9. Cristo virá como Juiz e Salvador, revelando o triunfo do amor de Deus e a justiça que faltava à história.
Santo Afonso de Ligório contempla esse instante com linguagem viva e espiritual: “Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade. ‘E verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade’ (Mt 24,30)” 37. Os anjos o acompanharão, trazendo os sinais da Paixão de Cristo e proclamando sua vitória sobre o mal 38.
Para os justos, será um encontro de consolação e alegria: “Os eleitos serão colocados à direita […] e esperarão com os anjos a Jesus Cristo, que deve descer do Céu” 38. Para os que rejeitaram o amor de Deus, porém, será o momento de reconhecer o que desprezaram: “A presença de Cristo trará aos eleitos inefável consolo, e aos réprobos aflições maiores que as do próprio Inferno” 39.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que Cristo voltará em glória para julgar vivos e mortos 8 e, então, “o Reino de Deus chegará à sua plenitude; então, os justos reinarão para sempre com Cristo” 35. A Parusia é, assim, o clímax da esperança cristã: o reencontro definitivo entre o Senhor e o seu povo, quando se cumprirão todas as promessas.
A fé cristã proclama com firmeza que a morte não é o fim, mas a passagem para a vida eterna. A ressurreição da carne, professada no Credo e desenvolvida pelo Catecismo da Igreja Católica 40, é uma das verdades centrais dessa esperança. Não se trata de reencarnação nem de retorno a esta vida terrena, mas da transformação definitiva do ser humano à imagem do Cristo ressuscitado.
O Catecismo ensina: “Cremos firmemente e esperamos que, assim como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia” 13. Essa fé se apoia na vitória de Cristo sobre a morte: “O que ressuscitou dentre os mortos não morre mais; a morte não tem mais poder sobre Ele” 41.
Santo Afonso de Ligório descreve esse evento com intensidade espiritual: “Mortos os homens, soará a trombeta e todos ressuscitarão […] Descerão do Céu as almas gloriosas dos bem-aventurados para se unirem a seus corpos, com que serviram a Deus neste mundo” 42. Os justos aparecerão “mais resplandecentes que o sol” 22, refletindo a glória divina; já os que rejeitaram a graça de Deus experimentarão a separação definitiva de seu amor.
A ressurreição será, portanto, um ato de renovação total. O corpo ressuscitado será o mesmo corpo que tivemos na terra — não outro, nem simbólico —, mas agora plenamente glorificado, liberto de toda corrupção e sofrimento. A identidade pessoal permanece intacta: quem ressuscita é o mesmo ser que viveu, amou e sofreu nesta vida, agora transfigurado pela graça. É o corpo real, unido novamente à alma, que participa da glória de Cristo e reflete a perfeição de sua humanidade ressuscitada. Conforme ensina São Paulo: “Semeia-se corpo animal, ressuscita corpo espiritual” 43. Essa transformação expressa o cumprimento do desígnio de Deus, que não salva apenas a alma, mas o homem inteiro — corpo e espírito.
Assim, a fé na ressurreição da carne proclama a vitória definitiva da vida sobre a morte. Ela convida cada cristão a viver na esperança, com os olhos voltados para o dia em que, unidos a Cristo, poderemos exclamar: “A morte foi tragada pela vitória!” 44.
O Juízo Final será o momento em que Cristo manifestará publicamente sua justiça e misericórdia diante de toda a humanidade. Diferente do juízo particular — que ocorre logo após a morte e decide o destino eterno de cada alma —, o Juízo Final é coletivo e universal. Ele acontecerá no fim dos tempos, quando todos os homens ressuscitarão e comparecerão, corpo e alma, diante de Cristo, o Juiz de vivos e mortos 45.
Santo Afonso de Ligório descreve esse evento de forma viva e contemplativa: “Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade […] e verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade” 37. O tribunal de Cristo revelará tudo o que está oculto: as obras, as intenções e os frutos do amor ou da recusa da graça. Como ensina o Catecismo, “no Juízo Final será revelada a conduta de cada um e o que de bom ou de mau realizou durante a sua vida terrena” 46.
Esse juízo não é uma duplicação do particular, mas sua confirmação pública. O que cada alma recebeu em segredo — a sentença de salvação ou de condenação — será então manifestado diante de todos, para a plena glorificação da justiça divina. “Vi os mortos, grandes e pequenos, estarem de pé diante do trono […] e foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” 47.
No Juízo Final, os justos ouvirão as palavras de Cristo: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o Reino que vos está preparado desde o princípio do mundo” 48, enquanto os que rejeitaram o amor de Deus se afastarão voluntariamente de sua presença 49. Como explica Santo Afonso, “os Apóstolos serão assessores deste julgamento […] e com Jesus Cristo julgarão os povos” 50. Essa imagem remete à promessa de Cristo: “Vós, que me seguistes, sentar-vos-eis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” 51. Assim, os Apóstolos representam a Igreja glorificada, associada ao poder de Cristo e participante de sua vitória final sobre o mal.
Esse grande dia não deve inspirar medo, mas esperança. Nele, toda injustiça será reparada, e os fiéis verão triunfar o amor de Deus sobre o mal. “Nele o Senhor se ressarcirá justamente da honra e da glória que os pecadores quiseram arrebatar-lhe neste mundo” 52. O Juízo Final é, portanto, o coroamento da história: o momento em que Deus revelará o sentido de todos os acontecimentos e renovará a criação em sua plenitude 53.
Na linguagem comum, a expressão “fim do mundo” costuma evocar imagens de destruição e catástrofe — como se tudo fosse aniquilado em uma explosão sem sentido. A fé cristã, porém, ensina algo muito diferente. O “fim” do mundo é, na verdade, a sua transformação: o momento em que Deus levará toda a criação à sua plenitude, purificando-a e renovando-a em Cristo.
O Catecismo da Igreja Católica explica que “o universo visível está destinado a ser transformado, de modo que o próprio mundo […] esteja a serviço dos justos” 54. Ou seja, o mundo não será apagado, mas transfigurado, libertado da corrupção causada pelo pecado e tornado plenamente luminoso pela presença de Deus.
Henri-Marie Féret chama esse acontecimento de “a inauguração da nova Terra e dos novos Céus […] realizando para sempre a aliança perfeita entre Deus e os homens” 55. Essa é a consumação da história da salvação: o encontro definitivo entre o Criador e a criação, simbolizado pela nova Jerusalém que desce do céu, adornada como uma esposa para o seu esposo 56.
Nesse mundo renovado, “Deus enxugará toda lágrima” e “não haverá mais morte, nem dor, nem pranto” 57. Tudo será restaurado no Cristo ressuscitado, e o universo inteiro participará da alegria dos que vivem para sempre em Deus. Assim, o “fim do mundo” não é o colapso da criação, mas o início da eternidade — o nascimento de uma realidade totalmente nova. Nesse estado glorioso, a criação permanece, mas transfigurada: não mais sujeita ao tempo da corrupção, e plenamente participante da vida divina 58. É o Reino definitivo de Deus, onde o amor reina plenamente e o homem encontra, enfim, sua morada eterna.
Ao final desta leitura, queremos recordar que a escatologia cristã não é um estudo sobre o medo, mas uma escola de esperança. Tudo o que a Igreja ensina sobre o fim dos tempos revela, na verdade, a fidelidade de Deus — Aquele que conduz a história ao seu cumprimento e promete restaurar todas as coisas em Cristo.
O cristão vive, portanto, nessa expectativa serena: entre o “já” e o “ainda não”. Já experimenta, pela graça, a vida nova trazida por Jesus, mas ainda aguarda sua plenitude no Reino eterno. Essa esperança não nos distancia do presente; pelo contrário, dá sentido a cada dia, convidando-nos à conversão, à vigilância e a um amor mais maduro e confiante.
A escatologia nos ensina a olhar para o futuro não como uma ameaça, mas como a realização de um encontro. O último versículo do Apocalipse ecoa como uma oração que resume toda a fé cristã: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” 59. Essa súplica não expressa medo, mas desejo: o anseio de ver, enfim, o rosto d’Aquele que é o início e o fim de todas as coisas.
Não. A escatologia é o estudo das “realidades últimas”: morte, juízo, céu, inferno, purgatório, segunda vinda de Cristo, ressurreição e vida eterna. Ela não se restringe ao “fim do mundo” material, mas abrange o sentido último da vida humana e da história.
Sim. O inferno é uma verdade de fé, ensinada por Cristo e confirmada pela Igreja. Ele consiste na separação definitiva de Deus, escolhida livremente por quem morre em pecado mortal sem arrependimento 60. Sua eternidade não é um castigo arbitrário, mas consequência da escolha definitiva da alma.
Não. A reencarnação é incompatível com a fé católica. “Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o juízo” 61. Cada pessoa vive uma única vida, e ao morrer passa pelo juízo particular, onde decide-se o seu destino eterno.
O purgatório é o estado de purificação daqueles que morrem em amizade com Deus, mas ainda precisam ser purificados antes de entrar no céu 62. Não é uma “segunda chance”, mas expressão da misericórdia divina que prepara a alma para a comunhão plena com Deus.
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Cristo voltará em glória para julgar os vivos e os mortos e instaurar definitivamente o Reino de Deus 63. Nesse momento, acontecerá a ressurreição dos corpos e o Juízo Final. Os justos entrarão para sempre na vida eterna; os que rejeitaram a graça, na separação eterna de Deus.
Todos os homens ressuscitarão com seus corpos e comparecerão diante de Cristo. Serão reveladas as obras de cada um, e haverá separação definitiva entre os que acolheram o amor de Deus e os que o recusaram 64.
O Céu é a comunhão perfeita e eterna com Deus, com os anjos e os santos. Nele, os justos contemplam a Deus face a face e participam da plenitude da alegria divina 65. É a realização de todo o desejo humano: viver no amor sem fim.
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A Parusia é o nome dado à Segunda Vinda de Cristo em glória. Será o momento em que o Senhor voltará para julgar os vivos e os mortos e instaurar definitivamente o Reino de Deus 8. Para os fiéis, será o reencontro com Aquele que amaram e esperaram durante toda a vida.
No fim dos tempos, o universo não será destruído, mas transformado. Toda a criação será purificada e participará da glória de Cristo ressuscitado, tornando-se um “novo céu e uma nova terra” 66. Essa renovação mostrará que a redenção de Cristo abrange todas as coisas criadas.
Vivendo em estado de graça, com fé viva, oração constante, caridade concreta e fidelidade à Igreja. A escatologia não desperta medo, mas esperança. Cada dia vivido na graça é um passo em direção ao encontro com Cristo. Por isso, a Igreja repete com confiança: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” 59.