Formação

Onde está o Purgatório na Bíblia?

Onde está o purgatório na Bíblia? Entenda como a Tradição e o Magistério sustentam essa doutrina de purificação pós-morte na fé cristã.

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Onde está o Purgatório na Bíblia?

Onde está o purgatório na Bíblia? Entenda como a Tradição e o Magistério sustentam essa doutrina de purificação pós-morte na fé cristã.

Data da Publicação: 26/11/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 26/11/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Embora a palavra “purgatório” não apareça literalmente nas Escrituras, a doutrina do purgatório na Bíblia encontra respaldo implícito em diversas passagens e está profundamente enraizada na Tradição e no Magistério da Igreja. Neste artigo, convidamos você a explorar os fundamentos bíblicos, teológicos e espirituais dessa verdade de fé, essencial para compreender a justiça e a misericórdia divinas.

O que é o Purgatório segundo a Igreja?

A Igreja ensina que o Purgatório é um estado de purificação para quem morre em amizade com Deus, mas ainda precisa se purificar de faltas leves ou das consequências dos pecados já perdoados. Não é um castigo eterno, mas uma etapa necessária para que a alma esteja pronta para ver a Deus face a face.

O teólogo Réginald Garrigou-Lagrange descreve esse estado como “o lugar e o estado em que sofrem as almas dos justos que morreram com a obrigação de submeter-se ainda a uma pena temporária”. Essas almas, embora salvas, ainda têm algo a reparar — e é justamente isso que acontece no Purgatório.

Essa purificação não é mérito da alma, pois o tempo de merecer termina com a morte. Mas ela acontece por um ato de amor: as almas aceitam, com confiança, passar por essa última etapa de purificação. Ainda segundo Garrigou-Lagrange, isso é necessário porque, ao morrer, muitas vezes ainda restam “pecados veniais” e as chamadas “reliquiae peccati“, isto é, vestígios do pecado. Como nada contaminado pode entrar no céu, essa purificação final é uma expressão da misericórdia de Deus.

Não deixe de conferir o nosso Guia completo para católicos sobre a Doutrina do Purgatório.

O que o Catecismo ensina sobre o Purgatório?

O Catecismo da Igreja Católica e os Concílios Ecumênicos deixam claro que a purificação após a morte é uma realidade para aqueles que, embora salvos, ainda precisem reparar as consequências temporais do pecado. Essa doutrina, que pode parecer difícil à primeira vista, é na verdade uma expressão da misericórdia e da justiça de Deus.

O Segundo Concílio de Lyon, o Concílio de Florença e o Concílio de Trento reafirmaram que essa purificação existe e que, mesmo após o perdão da culpa no sacramento da Confissão, pode haver uma pena a ser satisfeita. O Concílio de Trento chegou a declarar: “Se alguém disser que […] não lhe reste nenhuma obrigação de pena temporária por pagar […] seja então objeto de anátema” 1.

Além disso, a Igreja ensina que as almas do Purgatório passam por uma purificação real, que a tradição chama de “pena do fogo” (igne cruciuntur), mencionada também nos documentos doutrinais 2. Isso não significa que seja um fogo material como o do inferno, mas uma imagem forte para expressar a dor da alma que anseia por Deus e ainda não pode vê-Lo.

A doutrina também lembra que os fiéis podem e devem fazer penitência nesta vida — com orações, jejuns, esmolas e outros atos de caridade — para reparar o que seus pecados causaram. Como ensina o Concílio de Trento, essa prática é importante porque nem sempre a pena temporal é perdoada por completo, como acontece no batismo 3.

Purgatório é diferente de céu e inferno?

O Purgatório é um estado diferente do Céu e do Inferno. Ele não é definitivo, mas passageiro. As almas que estão lá já estão salvas e sabem que um dia verão Deus face a face, mas ainda precisam se purificar completamente.

Segundo Garrigou-Lagrange, o purgatório é um “lugar passageiro de purificação, onde, sem vê-lo, se ama a Deus acima de tudo” 4. Isso já mostra uma diferença importante em relação ao Inferno: as almas do purgatório não odeiam a Deus nem estão perdidas, mas vivem na esperança e no amor. Elas têm uma “caridade inamissível”, adoram a Deus e reconhecem Sua justiça com humildade 5.

Elas também não cometem mais pecados nem rejeitam a purificação. Pelo contrário, aceitam esse processo com paz. Por isso, a Igreja rejeitou a ideia de Lutero de que essas almas pecam ao buscar alívio 6. Estão “confirmadas em graça”, o que significa que já não podem mais se afastar de Deus 7.

Mas também se diferenciam do Céu porque ainda não contemplam a Deus diretamente. A maior dor dessas almas é justamente esse atraso da visão beatífica. Mesmo sabendo que Deus as espera com amor, elas percebem que ainda não estão prontas. Por isso, se entregam livremente à purificação, desejando estar completamente puras para entrar na presença divina 8.

Saiba como é o Céu segundo a fé católica.

O Purgatório na Bíblia: fundamentos implícitos

A doutrina do Purgatório não aparece de forma explícita na Bíblia, mas está presente de modo implícito em várias passagens. Lidas à luz da Tradição e da fé da Igreja, elas mostram que, após a morte, pode haver uma purificação para quem morre em estado de graça, mas ainda precisa se preparar para estar na presença de Deus. Veja alguns exemplos que sustentam essa compreensão: 

2 Macabeus 12,43-46 – Oração pelos mortos

Nesse episódio, Judas Macabeu organiza uma coleta para oferecer sacrifícios pelos soldados que haviam morrido. Isso mostra que o povo de Israel acreditava que os mortos podiam ser ajudados pelas orações dos vivos. Como comenta Garrigou-Lagrange: “Santo e salutar pensamento este de orar pelos mortos” 9.

“Em seguida, organizou uma coleta e mandou doze mil dracmas de prata a Jerusalém, para serem oferecidos em sacrifício pelos pecados dos mortos, pensando bem e religiosamente da ressurreição (com efeito, se ele não esperasse que os que tinham sido mortos haviam um dia de ressuscitar, teria por uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos) e porque ele considerava que aos que tinham falecido na piedade estava reservada uma grandíssima misericórdia. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.10.

Mateus 12,32 – Perdoado no outro século

E todo o que disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; porém, o que a disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.” 11

Jesus afirma que certos pecados não serão perdoados “nem neste mundo, nem no outro”. Essa frase dá a entender que há pecados que podem ser perdoados depois da morte, como os pecados veniais ou as penas dos pecados já perdoados. Para a Tradição da Igreja, isso é uma forte indicação da existência do Purgatório 12.

1 Coríntios 3,11-15 – Salvo como que através do fogo

Porque ninguém pode pôr outro fundamento, senão o que foi posto, que é Jesus Cristo. Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, estopa, manifestada será a obra de cada um; porque o dia do Senhor a fará conhecer, visto que será revelado no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se subsistir a obra do que a edificou, receberá prêmio. Se a obra de algum arder, ele sofrerá o prejuízo; mas será salvo, apesar disso, como por meio do fogo.13

São Paulo ensina que cada pessoa será julgada conforme suas obras, e que algumas serão purificadas “como que através do fogo”. Esse fogo, segundo Garrigou-Lagrange, simboliza a purificação das intenções imperfeitas — como fazer o bem por vaidade ou para agradar os outros 12.

1 Pedro 1,6-7; 4,6 – Provados pelo fogo e evangelização dos mortos

Então vós exultareis, embora presentemente convenha que sejais afligidos por um pouco de tempo com várias tentações, a fim de que a prova da vossa fé, muito mais preciosa que o ouro (o qual se prova com o fogo), se ache digna de louvor, de glória e de honra, quando Jesus Cristo se manifestar.14

Porque por isto foi o Evangelho também pregado aos mortos: para que, depois de terem sido julgados diante dos homens segundo a carne, vivessem segundo Deus quanto ao espírito.” 15

Essas passagens não falam diretamente do Purgatório, mas apresentam a ideia de que o sofrimento purifica a alma. Garrigou-Lagrange explica que a imagem do fogo aparece em três contextos: na provação nesta vida, na purificação após a morte e no julgamento final 16. Tudo isso ajuda a entender que Deus prepara seus filhos para o Céu com amor e justiça.

O que dizem os Padres da Igreja sobre o Purgatório?

Desde os primeiros séculos, os cristãos já acreditavam na purificação post-mortem — isto é, na necessidade de uma purificação após a morte para algumas almas antes de entrarem na glória eterna. Os Padres da Igreja, ao escreverem sobre a fé, deixaram claro que essa etapa era parte do caminho rumo à visão beatífica. Essa convicção se manifestava tanto nas liturgias quanto nas orações oferecidas pelos falecidos.

Tertuliano – Oblações pelos mortos

Tertuliano é um dos primeiros escritores cristãos a falar sobre isso. Ele comenta: “Fazemos oblações pelos falecidos um ano após sua morte” 17, mostrando que já havia uma prática consolidada de rezar e oferecer sacrifícios pelos mortos. Em outro texto, ele relata o gesto de uma mulher que reza por seu marido falecido, pedindo por ele o refrigerium, ou seja, um alívio das penas do além 18.

Santo Agostinho – As penas temporais

Com Santo Agostinho, a doutrina da purificação após a morte ganhou ainda mais clareza. Ele passou a ensinar abertamente que as almas dos justos, quando não expiam suficientemente seus pecados nesta vida, passam por uma purificação no além. Para ele, esse processo envolve uma pena temporária, necessária para que a alma se torne digna da visão de Deus.

O teólogo Garrigou-Lagrange explica que, a partir de Agostinho, “se fala em termos explícitos do purgatório e da pena do fogo” 19.

Agostinho descreve essa purificação como algo muito sério. Em seu comentário ao Salmo 37, ele afirma que “o fogo do purgatório será mais penoso que tudo quanto possa o homem sofrer nesta vida” 20. Isso mostra como a Igreja sempre viu esse estado como uma etapa de grande importância espiritual.

Catacumbas cristãs – Inscrições e orações pelos mortos

As catacumbas dos primeiros séculos do cristianismo guardam testemunhos tocantes da fé na purificação post-mortem. Nesses locais de sepultamento, era comum encontrar inscrições pedindo a Deus conforto e paz para os falecidos — uma prova concreta de que os primeiros cristãos acreditavam na eficácia das orações pelos mortos.

Segundo Garrigou-Lagrange, “em confirmação disso, numerosíssimas inscrições de catacumbas datadas do século I pedem que Deus reconforte o espírito do falecido — ‘Spiritum tuum Deus refrigeret’ — Que Deus reconforte teu espírito; ‘Ursula accepta sis in Christo’ — Ursula, sejas acolhida em Cristo — manifestas referências à pena sofrida pelas almas do purgatório” 21.

Ele também cita exemplos como: “Victoria, refrigereris spiritus tuus in bono” — Vitória, que teu espírito seja reconfortado no bem; e “Kalimere, Deus refrigeret spiritum tuum una cum sororis tuae Hilare” — Calímero, que Deus reconforte teu espírito junto com o de tua irmã Hilara 22.

Essas orações gravadas nas paredes das catacumbas são mais que palavras: expressam a esperança de que as almas, mesmo após a morte, são acolhidas e purificadas por Deus. Muito antes de a doutrina do purgatório ser oficialmente definida, a Igreja já vivia essa fé com simplicidade e confiança.

A Tradição e o Magistério sobre o Purgatório

A doutrina do Purgatório não é uma invenção recente. Desde os primeiros séculos, a Igreja foi amadurecendo sua compreensão sobre a necessidade de uma purificação para as almas salvas que ainda não estão plenamente preparadas para a visão de Deus. Esse ensinamento foi sendo confirmado por meio do Magistério, especialmente nos Concílios Ecumênicos.

Concílio de Trento – Pena temporal e necessidade de satisfação

O Concílio de Trento reafirmou que, mesmo após o perdão da culpa, permanecem penas temporais a serem satisfeitas. Esse ponto foi importante para esclarecer que o perdão sacramental não elimina automaticamente todas as consequências do pecado.

Trento também reforçou que, após o batismo, os pecados devem ser expiados com obras de penitência e caridade. Essa doutrina fundamenta a prática de reparação e o sentido do sofrimento unido à graça.

Concílio de Florença – Purificação e recompensa conforme os méritos

O Concílio de Florença ensinou que as almas que morrem em estado de graça, mas ainda necessitam de purificação, passam pelo Purgatório antes de entrarem no céu. Ali, são purificadas e, segundo seus méritos, recebem maior ou menor glória na visão de Deus.

Essa verdade mostra como a salvação é dom de Deus, mas também leva em conta a colaboração livre da pessoa. O Purgatório, nesse contexto, é sinal da justiça divina, que recompensa cada um segundo suas obras, mas também da misericórdia, que permite essa purificação mesmo após a morte.

Com esses ensinamentos, a Igreja confirma que o Purgatório faz parte do caminho para a plena comunhão com Deus. Não é um castigo cruel, mas uma etapa necessária para que a alma esteja totalmente preparada para o Céu.

O Purgatório e a vida espiritual

A doutrina do Purgatório não trata apenas da realidade futura das almas, mas tem um forte impacto na vida espiritual dos fiéis ainda nesta terra. Ela nos lembra da santidade de Deus e da importância de buscar uma vida de conversão constante.

Um ensinamento sábio e consolador

Crer no Purgatório é reconhecer que nada impuro pode entrar no céu e que, mesmo após o perdão, é preciso reparar os efeitos do pecado. Essa verdade inspira reverência diante de Deus e encoraja uma vida mais santa.

“A doutrina do purgatório é mesmo cheia de sabedoria e de consolação. Dá ela uma alta ideia da santidade e da majestade de Deus — nada contaminado pode aparecer perante Ele —; fortalece o nosso sentido de justiça; manifesta a desordem tantas vezes inadvertida das faltas veniais, se bem que a fé no purgatório venha a nos purificar já nesta vida.” 23

O sofrimento de quem adiou o encontro com Deus

O sofrimento no Purgatório não é apenas físico ou simbólico: é uma dor espiritual profunda pela ausência de Deus. A alma compreende, com clareza, que poderia já estar com Ele, mas não está, por conta de seus próprios pecados:

“Aprenderemos melhor o que é o purgatório, o estado da alma que não pode ainda possuir a Deus, e que da visão dele fica privada por um tempo maior ou menor, na medida em que, por sua culpa, faltou ao encontro marcado com Ele.” 24

“A alma no purgatório agora vê que por sua culpa faltou ao encontro com Deus; e, porque ela não o procurou o bastante, agora Ele se esconde.” 25

“A alma separada entende que já teria chegado a hora de possuir a Deus se não tivessem posto entre elas e Ele o obstáculo das faltas ainda por expiar.” 26

Essa perspectiva leva o fiel a valorizar mais a graça do momento presente, entendendo que a vida terrena é o tempo oportuno para amar a Deus de todo o coração e purificar-se com generosidade.

Por que devemos rezar pelas almas do Purgatório?

Rezar pelas almas do Purgatório é uma expressão concreta de caridade espiritual. Essas almas estão salvas, mas ainda em processo de purificação, e já não podem fazer nada por si mesmas. Por isso, dependem da intercessão dos vivos para alcançar a libertação.

A oração como ato de caridade espiritual

A Igreja ensina que rezar pelas almas do Purgatório é uma das formas mais belas de amar ao próximo. Essas almas, santificadas pela graça, são membros da mesma família espiritual que nós, e muitas vezes também da nossa própria família terrena. Como diz Garrigou-Lagrange, é dever de caridade amar a Deus e, por consequência, amar também os seus filhos — incluindo aqueles que ainda padecem no Purgatório 27.

Essas almas, explica ele, “são, pela graça santificante, filhos de Deus, e para sempre; a Santa Trindade habita-as, Jesus vive no íntimo delas”. Por já não poderem merecer nem satisfazer, tornam-se completamente dependentes da nossa caridade: “não podem senão aceitar e oferecer o seu sofrimento”. E o que fazemos por elas, garante o autor, “não se perderá jamais” 28.

Que tal fazer uma oração pelas almas do purgatório?

A Missa: o maior dos sufrágios

A caridade pelos falecidos se expressa de forma mais plena na Santa Missa. Oferecer o sacrifício eucarístico pelas almas do Purgatório é um gesto de fé e esperança que une a dor da saudade ao poder redentor de Cristo.

Segundo Garrigou-Lagrange, essa ajuda se realiza “com nossos méritos de conveniência, nossas orações, nossas satisfações, nossas esmolas, com o ganho de indulgências e sobretudo com o sacrifício da Missa oferecida pelo descanso dessas almas” 29.

Na Missa, a Igreja nos faz rezar por elas no Memento dos defuntos e abre-lhes “amplamente o tesouro dos méritos do Cristo e dos santos mediante as indulgências aplicáveis” 29. Participar da Missa por elas faz com que “o sangue redentor se derrame sobre as pobres almas do purgatório” e acelera seu tempo de purificação 30.

Essa prática é eficaz porque, como diz o autor, “o efeito de uma causa universal é limitado somente pela capacidade dos sujeitos para receber a influência dela” — e o sacrifício da Missa é, por excelência, essa causa universal.

Rezar pelas almas do Purgatório, especialmente por meio da Missa, é, portanto, um ato de confiança e amor. O que fazemos por elas jamais se perde, pois sua libertação está garantida — apenas aguardam a hora da plena união com Deus.

Como podemos evitar ou abreviar o Purgatório?

A doutrina do Purgatório nos lembra que a vida presente é o tempo de mérito e de purificação. Aproveitar esse tempo com generosidade pode nos livrar ou abreviar o tempo no Purgatório.

Sofrimentos oferecidos e boas obras em vida

Oferecer os sofrimentos e viver com caridade e penitência já nesta vida é o caminho mais eficaz de purificação. Garrigou-Lagrange afirma: “Bem-aventuradas as almas que façam grande parte do seu purgatório cá sobre a terra, por aceitação generosa das adversidades cotidianas” 31. A aceitação voluntária dessas penas tem valor reparador, pois “não basta deixar de pecar; é preciso que a violada ordem da justiça se restabeleça” 32.

A caridade na hora da morte

O grau de amor com que a pessoa morre influencia o quanto ela ainda precisará se purificar. Como ensina Garrigou-Lagrange, “no ocaso da nossa vida, seremos julgados segundo o amor” 33. Quanto maior esse amor, menor será a pena temporal a ser satisfeita.

Sufrágios e indulgências

A Igreja ensina que podemos ajudar os defuntos com nossas orações, indulgências e obras de misericórdia. O sacrifício da Missa é o sufrágio mais eficaz, como já vimos. Além disso, a certeza da salvação dessas almas torna esse esforço um ato de amor seguro: “o que fazemos por elas jamais se perde” 29.

O valor do tempo presente

Por fim, a vida presente é o tempo mais oportuno para a purificação: “Devemos viver de tal maneira que a nossa alma se purifique já na vida presente, com mérito, e necessite menos ser purificada, sem mérito, após a morte” 34. O Purgatório é como um crisol espiritual, onde o amor de Deus purifica com dor e paz: “Vejo raios de fogo a purificarem a alma como o ouro no crisol se depura de suas escórias” 35, e esse amor “confere-lhes uma paz inexprimível” 36.

  1. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 226[]
  2. Denz. 3047, 3050[]
  3. Denz. 807[]
  4. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 304[]
  5. p. 263[]
  6. Denz. 779[]
  7. p. 304-305[]
  8. p. 305[]
  9. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 166-167[]
  10. 2Mc 12,43-46 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  11. Mt 12,32 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  12. p. 167[][]
  13. 1Cor 3,11-15 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  14. 1Pd 1,6-7 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  15. 1Pd 4,6 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  16. p. 168[]
  17. De corona militis, c. 4[]
  18. De monogamia, c. 10[]
  19. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 170[]
  20. p. 182[]
  21. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 169[]
  22. ibid., p. 170[]
  23. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 173[]
  24. ibid., p. 15[]
  25. ibid., p. 185[]
  26. ibid., p. 184[]
  27. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 221[]
  28. ibid., p. 227[]
  29. ibid., p. 222[][][]
  30. ibid., p. 224[]
  31. ibid., p. 121[]
  32. ibid., p. 254[]
  33. ibid., p. 92[]
  34. ibid., p. 337[]
  35. ibid., p. 344[]
  36. ibid., p. 345[]
Redação MBC

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Embora a palavra “purgatório” não apareça literalmente nas Escrituras, a doutrina do purgatório na Bíblia encontra respaldo implícito em diversas passagens e está profundamente enraizada na Tradição e no Magistério da Igreja. Neste artigo, convidamos você a explorar os fundamentos bíblicos, teológicos e espirituais dessa verdade de fé, essencial para compreender a justiça e a misericórdia divinas.

O que é o Purgatório segundo a Igreja?

A Igreja ensina que o Purgatório é um estado de purificação para quem morre em amizade com Deus, mas ainda precisa se purificar de faltas leves ou das consequências dos pecados já perdoados. Não é um castigo eterno, mas uma etapa necessária para que a alma esteja pronta para ver a Deus face a face.

O teólogo Réginald Garrigou-Lagrange descreve esse estado como “o lugar e o estado em que sofrem as almas dos justos que morreram com a obrigação de submeter-se ainda a uma pena temporária”. Essas almas, embora salvas, ainda têm algo a reparar — e é justamente isso que acontece no Purgatório.

Essa purificação não é mérito da alma, pois o tempo de merecer termina com a morte. Mas ela acontece por um ato de amor: as almas aceitam, com confiança, passar por essa última etapa de purificação. Ainda segundo Garrigou-Lagrange, isso é necessário porque, ao morrer, muitas vezes ainda restam “pecados veniais” e as chamadas “reliquiae peccati“, isto é, vestígios do pecado. Como nada contaminado pode entrar no céu, essa purificação final é uma expressão da misericórdia de Deus.

Não deixe de conferir o nosso Guia completo para católicos sobre a Doutrina do Purgatório.

O que o Catecismo ensina sobre o Purgatório?

O Catecismo da Igreja Católica e os Concílios Ecumênicos deixam claro que a purificação após a morte é uma realidade para aqueles que, embora salvos, ainda precisem reparar as consequências temporais do pecado. Essa doutrina, que pode parecer difícil à primeira vista, é na verdade uma expressão da misericórdia e da justiça de Deus.

O Segundo Concílio de Lyon, o Concílio de Florença e o Concílio de Trento reafirmaram que essa purificação existe e que, mesmo após o perdão da culpa no sacramento da Confissão, pode haver uma pena a ser satisfeita. O Concílio de Trento chegou a declarar: “Se alguém disser que […] não lhe reste nenhuma obrigação de pena temporária por pagar […] seja então objeto de anátema” 1.

Além disso, a Igreja ensina que as almas do Purgatório passam por uma purificação real, que a tradição chama de “pena do fogo” (igne cruciuntur), mencionada também nos documentos doutrinais 2. Isso não significa que seja um fogo material como o do inferno, mas uma imagem forte para expressar a dor da alma que anseia por Deus e ainda não pode vê-Lo.

A doutrina também lembra que os fiéis podem e devem fazer penitência nesta vida — com orações, jejuns, esmolas e outros atos de caridade — para reparar o que seus pecados causaram. Como ensina o Concílio de Trento, essa prática é importante porque nem sempre a pena temporal é perdoada por completo, como acontece no batismo 3.

Purgatório é diferente de céu e inferno?

O Purgatório é um estado diferente do Céu e do Inferno. Ele não é definitivo, mas passageiro. As almas que estão lá já estão salvas e sabem que um dia verão Deus face a face, mas ainda precisam se purificar completamente.

Segundo Garrigou-Lagrange, o purgatório é um “lugar passageiro de purificação, onde, sem vê-lo, se ama a Deus acima de tudo” 4. Isso já mostra uma diferença importante em relação ao Inferno: as almas do purgatório não odeiam a Deus nem estão perdidas, mas vivem na esperança e no amor. Elas têm uma “caridade inamissível”, adoram a Deus e reconhecem Sua justiça com humildade 5.

Elas também não cometem mais pecados nem rejeitam a purificação. Pelo contrário, aceitam esse processo com paz. Por isso, a Igreja rejeitou a ideia de Lutero de que essas almas pecam ao buscar alívio 6. Estão “confirmadas em graça”, o que significa que já não podem mais se afastar de Deus 7.

Mas também se diferenciam do Céu porque ainda não contemplam a Deus diretamente. A maior dor dessas almas é justamente esse atraso da visão beatífica. Mesmo sabendo que Deus as espera com amor, elas percebem que ainda não estão prontas. Por isso, se entregam livremente à purificação, desejando estar completamente puras para entrar na presença divina 8.

Saiba como é o Céu segundo a fé católica.

O Purgatório na Bíblia: fundamentos implícitos

A doutrina do Purgatório não aparece de forma explícita na Bíblia, mas está presente de modo implícito em várias passagens. Lidas à luz da Tradição e da fé da Igreja, elas mostram que, após a morte, pode haver uma purificação para quem morre em estado de graça, mas ainda precisa se preparar para estar na presença de Deus. Veja alguns exemplos que sustentam essa compreensão: 

2 Macabeus 12,43-46 – Oração pelos mortos

Nesse episódio, Judas Macabeu organiza uma coleta para oferecer sacrifícios pelos soldados que haviam morrido. Isso mostra que o povo de Israel acreditava que os mortos podiam ser ajudados pelas orações dos vivos. Como comenta Garrigou-Lagrange: “Santo e salutar pensamento este de orar pelos mortos” 9.

“Em seguida, organizou uma coleta e mandou doze mil dracmas de prata a Jerusalém, para serem oferecidos em sacrifício pelos pecados dos mortos, pensando bem e religiosamente da ressurreição (com efeito, se ele não esperasse que os que tinham sido mortos haviam um dia de ressuscitar, teria por uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos) e porque ele considerava que aos que tinham falecido na piedade estava reservada uma grandíssima misericórdia. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.10.

Mateus 12,32 – Perdoado no outro século

E todo o que disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; porém, o que a disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.” 11

Jesus afirma que certos pecados não serão perdoados “nem neste mundo, nem no outro”. Essa frase dá a entender que há pecados que podem ser perdoados depois da morte, como os pecados veniais ou as penas dos pecados já perdoados. Para a Tradição da Igreja, isso é uma forte indicação da existência do Purgatório 12.

1 Coríntios 3,11-15 – Salvo como que através do fogo

Porque ninguém pode pôr outro fundamento, senão o que foi posto, que é Jesus Cristo. Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, estopa, manifestada será a obra de cada um; porque o dia do Senhor a fará conhecer, visto que será revelado no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se subsistir a obra do que a edificou, receberá prêmio. Se a obra de algum arder, ele sofrerá o prejuízo; mas será salvo, apesar disso, como por meio do fogo.13

São Paulo ensina que cada pessoa será julgada conforme suas obras, e que algumas serão purificadas “como que através do fogo”. Esse fogo, segundo Garrigou-Lagrange, simboliza a purificação das intenções imperfeitas — como fazer o bem por vaidade ou para agradar os outros 12.

1 Pedro 1,6-7; 4,6 – Provados pelo fogo e evangelização dos mortos

Então vós exultareis, embora presentemente convenha que sejais afligidos por um pouco de tempo com várias tentações, a fim de que a prova da vossa fé, muito mais preciosa que o ouro (o qual se prova com o fogo), se ache digna de louvor, de glória e de honra, quando Jesus Cristo se manifestar.14

Porque por isto foi o Evangelho também pregado aos mortos: para que, depois de terem sido julgados diante dos homens segundo a carne, vivessem segundo Deus quanto ao espírito.” 15

Essas passagens não falam diretamente do Purgatório, mas apresentam a ideia de que o sofrimento purifica a alma. Garrigou-Lagrange explica que a imagem do fogo aparece em três contextos: na provação nesta vida, na purificação após a morte e no julgamento final 16. Tudo isso ajuda a entender que Deus prepara seus filhos para o Céu com amor e justiça.

O que dizem os Padres da Igreja sobre o Purgatório?

Desde os primeiros séculos, os cristãos já acreditavam na purificação post-mortem — isto é, na necessidade de uma purificação após a morte para algumas almas antes de entrarem na glória eterna. Os Padres da Igreja, ao escreverem sobre a fé, deixaram claro que essa etapa era parte do caminho rumo à visão beatífica. Essa convicção se manifestava tanto nas liturgias quanto nas orações oferecidas pelos falecidos.

Tertuliano – Oblações pelos mortos

Tertuliano é um dos primeiros escritores cristãos a falar sobre isso. Ele comenta: “Fazemos oblações pelos falecidos um ano após sua morte” 17, mostrando que já havia uma prática consolidada de rezar e oferecer sacrifícios pelos mortos. Em outro texto, ele relata o gesto de uma mulher que reza por seu marido falecido, pedindo por ele o refrigerium, ou seja, um alívio das penas do além 18.

Santo Agostinho – As penas temporais

Com Santo Agostinho, a doutrina da purificação após a morte ganhou ainda mais clareza. Ele passou a ensinar abertamente que as almas dos justos, quando não expiam suficientemente seus pecados nesta vida, passam por uma purificação no além. Para ele, esse processo envolve uma pena temporária, necessária para que a alma se torne digna da visão de Deus.

O teólogo Garrigou-Lagrange explica que, a partir de Agostinho, “se fala em termos explícitos do purgatório e da pena do fogo” 19.

Agostinho descreve essa purificação como algo muito sério. Em seu comentário ao Salmo 37, ele afirma que “o fogo do purgatório será mais penoso que tudo quanto possa o homem sofrer nesta vida” 20. Isso mostra como a Igreja sempre viu esse estado como uma etapa de grande importância espiritual.

Catacumbas cristãs – Inscrições e orações pelos mortos

As catacumbas dos primeiros séculos do cristianismo guardam testemunhos tocantes da fé na purificação post-mortem. Nesses locais de sepultamento, era comum encontrar inscrições pedindo a Deus conforto e paz para os falecidos — uma prova concreta de que os primeiros cristãos acreditavam na eficácia das orações pelos mortos.

Segundo Garrigou-Lagrange, “em confirmação disso, numerosíssimas inscrições de catacumbas datadas do século I pedem que Deus reconforte o espírito do falecido — ‘Spiritum tuum Deus refrigeret’ — Que Deus reconforte teu espírito; ‘Ursula accepta sis in Christo’ — Ursula, sejas acolhida em Cristo — manifestas referências à pena sofrida pelas almas do purgatório” 21.

Ele também cita exemplos como: “Victoria, refrigereris spiritus tuus in bono” — Vitória, que teu espírito seja reconfortado no bem; e “Kalimere, Deus refrigeret spiritum tuum una cum sororis tuae Hilare” — Calímero, que Deus reconforte teu espírito junto com o de tua irmã Hilara 22.

Essas orações gravadas nas paredes das catacumbas são mais que palavras: expressam a esperança de que as almas, mesmo após a morte, são acolhidas e purificadas por Deus. Muito antes de a doutrina do purgatório ser oficialmente definida, a Igreja já vivia essa fé com simplicidade e confiança.

A Tradição e o Magistério sobre o Purgatório

A doutrina do Purgatório não é uma invenção recente. Desde os primeiros séculos, a Igreja foi amadurecendo sua compreensão sobre a necessidade de uma purificação para as almas salvas que ainda não estão plenamente preparadas para a visão de Deus. Esse ensinamento foi sendo confirmado por meio do Magistério, especialmente nos Concílios Ecumênicos.

Concílio de Trento – Pena temporal e necessidade de satisfação

O Concílio de Trento reafirmou que, mesmo após o perdão da culpa, permanecem penas temporais a serem satisfeitas. Esse ponto foi importante para esclarecer que o perdão sacramental não elimina automaticamente todas as consequências do pecado.

Trento também reforçou que, após o batismo, os pecados devem ser expiados com obras de penitência e caridade. Essa doutrina fundamenta a prática de reparação e o sentido do sofrimento unido à graça.

Concílio de Florença – Purificação e recompensa conforme os méritos

O Concílio de Florença ensinou que as almas que morrem em estado de graça, mas ainda necessitam de purificação, passam pelo Purgatório antes de entrarem no céu. Ali, são purificadas e, segundo seus méritos, recebem maior ou menor glória na visão de Deus.

Essa verdade mostra como a salvação é dom de Deus, mas também leva em conta a colaboração livre da pessoa. O Purgatório, nesse contexto, é sinal da justiça divina, que recompensa cada um segundo suas obras, mas também da misericórdia, que permite essa purificação mesmo após a morte.

Com esses ensinamentos, a Igreja confirma que o Purgatório faz parte do caminho para a plena comunhão com Deus. Não é um castigo cruel, mas uma etapa necessária para que a alma esteja totalmente preparada para o Céu.

O Purgatório e a vida espiritual

A doutrina do Purgatório não trata apenas da realidade futura das almas, mas tem um forte impacto na vida espiritual dos fiéis ainda nesta terra. Ela nos lembra da santidade de Deus e da importância de buscar uma vida de conversão constante.

Um ensinamento sábio e consolador

Crer no Purgatório é reconhecer que nada impuro pode entrar no céu e que, mesmo após o perdão, é preciso reparar os efeitos do pecado. Essa verdade inspira reverência diante de Deus e encoraja uma vida mais santa.

“A doutrina do purgatório é mesmo cheia de sabedoria e de consolação. Dá ela uma alta ideia da santidade e da majestade de Deus — nada contaminado pode aparecer perante Ele —; fortalece o nosso sentido de justiça; manifesta a desordem tantas vezes inadvertida das faltas veniais, se bem que a fé no purgatório venha a nos purificar já nesta vida.” 23

O sofrimento de quem adiou o encontro com Deus

O sofrimento no Purgatório não é apenas físico ou simbólico: é uma dor espiritual profunda pela ausência de Deus. A alma compreende, com clareza, que poderia já estar com Ele, mas não está, por conta de seus próprios pecados:

“Aprenderemos melhor o que é o purgatório, o estado da alma que não pode ainda possuir a Deus, e que da visão dele fica privada por um tempo maior ou menor, na medida em que, por sua culpa, faltou ao encontro marcado com Ele.” 24

“A alma no purgatório agora vê que por sua culpa faltou ao encontro com Deus; e, porque ela não o procurou o bastante, agora Ele se esconde.” 25

“A alma separada entende que já teria chegado a hora de possuir a Deus se não tivessem posto entre elas e Ele o obstáculo das faltas ainda por expiar.” 26

Essa perspectiva leva o fiel a valorizar mais a graça do momento presente, entendendo que a vida terrena é o tempo oportuno para amar a Deus de todo o coração e purificar-se com generosidade.

Por que devemos rezar pelas almas do Purgatório?

Rezar pelas almas do Purgatório é uma expressão concreta de caridade espiritual. Essas almas estão salvas, mas ainda em processo de purificação, e já não podem fazer nada por si mesmas. Por isso, dependem da intercessão dos vivos para alcançar a libertação.

A oração como ato de caridade espiritual

A Igreja ensina que rezar pelas almas do Purgatório é uma das formas mais belas de amar ao próximo. Essas almas, santificadas pela graça, são membros da mesma família espiritual que nós, e muitas vezes também da nossa própria família terrena. Como diz Garrigou-Lagrange, é dever de caridade amar a Deus e, por consequência, amar também os seus filhos — incluindo aqueles que ainda padecem no Purgatório 27.

Essas almas, explica ele, “são, pela graça santificante, filhos de Deus, e para sempre; a Santa Trindade habita-as, Jesus vive no íntimo delas”. Por já não poderem merecer nem satisfazer, tornam-se completamente dependentes da nossa caridade: “não podem senão aceitar e oferecer o seu sofrimento”. E o que fazemos por elas, garante o autor, “não se perderá jamais” 28.

Que tal fazer uma oração pelas almas do purgatório?

A Missa: o maior dos sufrágios

A caridade pelos falecidos se expressa de forma mais plena na Santa Missa. Oferecer o sacrifício eucarístico pelas almas do Purgatório é um gesto de fé e esperança que une a dor da saudade ao poder redentor de Cristo.

Segundo Garrigou-Lagrange, essa ajuda se realiza “com nossos méritos de conveniência, nossas orações, nossas satisfações, nossas esmolas, com o ganho de indulgências e sobretudo com o sacrifício da Missa oferecida pelo descanso dessas almas” 29.

Na Missa, a Igreja nos faz rezar por elas no Memento dos defuntos e abre-lhes “amplamente o tesouro dos méritos do Cristo e dos santos mediante as indulgências aplicáveis” 29. Participar da Missa por elas faz com que “o sangue redentor se derrame sobre as pobres almas do purgatório” e acelera seu tempo de purificação 30.

Essa prática é eficaz porque, como diz o autor, “o efeito de uma causa universal é limitado somente pela capacidade dos sujeitos para receber a influência dela” — e o sacrifício da Missa é, por excelência, essa causa universal.

Rezar pelas almas do Purgatório, especialmente por meio da Missa, é, portanto, um ato de confiança e amor. O que fazemos por elas jamais se perde, pois sua libertação está garantida — apenas aguardam a hora da plena união com Deus.

Como podemos evitar ou abreviar o Purgatório?

A doutrina do Purgatório nos lembra que a vida presente é o tempo de mérito e de purificação. Aproveitar esse tempo com generosidade pode nos livrar ou abreviar o tempo no Purgatório.

Sofrimentos oferecidos e boas obras em vida

Oferecer os sofrimentos e viver com caridade e penitência já nesta vida é o caminho mais eficaz de purificação. Garrigou-Lagrange afirma: “Bem-aventuradas as almas que façam grande parte do seu purgatório cá sobre a terra, por aceitação generosa das adversidades cotidianas” 31. A aceitação voluntária dessas penas tem valor reparador, pois “não basta deixar de pecar; é preciso que a violada ordem da justiça se restabeleça” 32.

A caridade na hora da morte

O grau de amor com que a pessoa morre influencia o quanto ela ainda precisará se purificar. Como ensina Garrigou-Lagrange, “no ocaso da nossa vida, seremos julgados segundo o amor” 33. Quanto maior esse amor, menor será a pena temporal a ser satisfeita.

Sufrágios e indulgências

A Igreja ensina que podemos ajudar os defuntos com nossas orações, indulgências e obras de misericórdia. O sacrifício da Missa é o sufrágio mais eficaz, como já vimos. Além disso, a certeza da salvação dessas almas torna esse esforço um ato de amor seguro: “o que fazemos por elas jamais se perde” 29.

O valor do tempo presente

Por fim, a vida presente é o tempo mais oportuno para a purificação: “Devemos viver de tal maneira que a nossa alma se purifique já na vida presente, com mérito, e necessite menos ser purificada, sem mérito, após a morte” 34. O Purgatório é como um crisol espiritual, onde o amor de Deus purifica com dor e paz: “Vejo raios de fogo a purificarem a alma como o ouro no crisol se depura de suas escórias” 35, e esse amor “confere-lhes uma paz inexprimível” 36.

  1. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 226[]
  2. Denz. 3047, 3050[]
  3. Denz. 807[]
  4. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 304[]
  5. p. 263[]
  6. Denz. 779[]
  7. p. 304-305[]
  8. p. 305[]
  9. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 166-167[]
  10. 2Mc 12,43-46 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  11. Mt 12,32 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  12. p. 167[][]
  13. 1Cor 3,11-15 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  14. 1Pd 1,6-7 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  15. 1Pd 4,6 – Bíblia da Minha Biblioteca Católica[]
  16. p. 168[]
  17. De corona militis, c. 4[]
  18. De monogamia, c. 10[]
  19. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 170[]
  20. p. 182[]
  21. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 169[]
  22. ibid., p. 170[]
  23. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 173[]
  24. ibid., p. 15[]
  25. ibid., p. 185[]
  26. ibid., p. 184[]
  27. A vida eterna e a profundidade da alma, p. 221[]
  28. ibid., p. 227[]
  29. ibid., p. 222[][][]
  30. ibid., p. 224[]
  31. ibid., p. 121[]
  32. ibid., p. 254[]
  33. ibid., p. 92[]
  34. ibid., p. 337[]
  35. ibid., p. 344[]
  36. ibid., p. 345[]

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