Carlo Acutis, Destaque

Entrevista exclusiva com a mãe de São Carlo Acutis: o primeiro santo millennial da Igreja Católica

Entrevista com a mãe de São Carlo Acutis revela detalhes da vida do novo (e primeiro) santo millennial. Leia e assista à conversa exclusiva.

Entrevista exclusiva com a mãe de São Carlo Acutis: o primeiro santo millennial da Igreja Católica
Carlo Acutis, Destaque

Entrevista exclusiva com a mãe de São Carlo Acutis: o primeiro santo millennial da Igreja Católica

Entrevista com a mãe de São Carlo Acutis revela detalhes da vida do novo (e primeiro) santo millennial. Leia e assista à conversa exclusiva.

Data da Publicação: 07/09/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 07/09/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

A entrevista com a mãe de São Carlo Acutis revela um lado íntimo e profundamente comovente da história do novo santo da Igreja. Carlo conquistou o coração de milhões de pessoas com sua vida de fé, pureza e amor à Eucaristia. Agora, reconhecido oficialmente como santo em 7 de setembro de 2025, ele se torna o primeiro millennial elevado à honra dos altares e é considerado o padroeiro da internet — um verdadeiro apóstolo para os tempos digitais.

Nesta conversa exclusiva, Antonia Salzano — mãe de São Carlo Acutis — compartilha memórias, reflexões e episódios tocantes sobre a vida do filho. É um testemunho que nos ajuda a compreender ainda mais a espiritualidade e a missão que Carlo abraçou com tanta simplicidade e profundidade.

Assista ao vídeo abaixo e leia, na íntegra, o conteúdo da entrevista que tivemos a graça de realizar.

Assista à entrevista completa com a mãe de São Carlo Acutis

Saiba mais sobre a vida de São Carlo Acutis.

Entrevista com a mãe de São Carlo Acutis (na íntegra)

Entrevistador: Como foi o dia em que conheceram Rajesh?

Antonia: Rajesh é uma figura de um jovem que veio trabalhar como colaborador doméstico em nossa casa. Podemos dizer que é um dos primeiros convertidos graças a Carlo, no sentido de que ele era de casta sacerdotal Brâmanes, era hindu. E o exemplo de Carlo o tocou tanto que ele quis receber o batismo e a Eucaristia. Então, Carlo foi um evangelizador para ele.

Naturalmente, Carlo sobretudo evangelizava com o exemplo e o testemunho. Mas ele era um grande pregador. Carlo sabia falar muito bem, então claramente explicava bem as coisas. Ele se interessava por Nossa Senhora, Lourdes e certamente também pelas histórias dos santos. Mas, sobretudo, Rajesh estava aberto a acolher essa graça, e por isso foi um dos primeiros frutos. Depois houve outras pessoas, porque certamente, como quando Jesus estava na Terra, há quem ouve e quem não ouve; não é que todos se convertem. Entre aqueles que seguiam Jesus, alguns quiseram até matá-Lo. Nem todos reconheciam as graças que Ele fazia. 

Carlo também tinha uma força enorme na oração e obteve muitas graças através dela. Uma vez fez uma novena 26 vezes e depois obteve a graça que havia pedido. Era muito constante e tinha fé e confiança em Nossa Senhora e em Jesus. Sabia que não falava ao vento, falava a essas Pessoas. E tinha essa confiança filial, que é o que Jesus pede quando diz: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, podereis mover montanhas.” Assim, Carlo obteve conversões, curas, e certamente Rajesh faz parte desse universo. Ele ainda trabalha conosco, é uma pessoa que também testemunha muitas experiências e certamente é um dos primeiros frutos de Carlo.

Entrevistador: Como estava Carlo no hospital? Há um momento em particular que deseja compartilhar?

Antonia: A doença do Carlo durou cinco ou seis dias, não mais que isso. Agora não lembro bem, mas me recordo que o Carlo voltou da escola em um sábado. Ele tinha acabado de dar duas voltas correndo no campo de futebol. Voltou e estava com uma pequena manchinha vermelha no olho. Pensava que, de qualquer forma, faz bem praticar um pouco de esporte. “Mens sana in corpore sano” (mente sã, corpo são) dizia São Bento, não? Então, também um pouco de esporte faz bem, contanto que não se torne idolatria. Porque se virar um ídolo, então o esporte não faz bem ao corpo. Carlo dizia que os homens se preocupam muito com a beleza do corpo e pouco com a beleza da alma. Essa é uma sociedade um pouco efêmera, hedonista, que tende a se concentrar muito na beleza física, mas pouco na beleza interior. Acabam esquecendo que, mais cedo ou mais tarde, todos morreremos. Não somos imortais. Carlo dizia que “a cada minuto que passa temos um minuto a menos para nos santificar; o tempo deve ser maximizado para a eternidade.”

E, sobretudo, devemos viver nessa perspectiva do infinito, pensando que somos peregrinos do absoluto, mas não permanentes nesta Terra. A morte de Carlo chegou de forma súbita. Ele havia voltado de uma excursão escolar em um sábado. No domingo, fomos em uma excursão próxima a Milão, no seminário maior de Venegono. Voltamos para casa e Carlo teve febre e dor de garganta. Como metade da classe estava gripada, chamei o médico, que veio duas vezes. Parecia apenas uma tonsilite banal. Mas, na verdade, se escondia uma leucemia.

Nessa situação, Carlo disse: “Ofereço meus sofrimentos ao Papa, à Igreja, para não ir ao purgatório e ir direto ao Paraíso.” Achei um pouco estranho. Meu marido também ouviu, assim como Rajesh, e pensamos que ele estava brincando. Ele era um pouco hipocondríaco, filho único, então eu tinha medo. Até que uma manhã ele acordou com astenia, ou seja, não conseguia se mexer. Liguei para o pediatra antigo, que o conhecia (porque ele [Carlo] já era grande) e perguntei: “Mas que estranho, ele não consegue se mover. Não entendemos.” E ele disse: “Leve-o imediatamente”, porque tinha sido chefe de serviço no hospital De Marchi, em Milão, especializado em doenças infantis.

Quando chegamos, Carlo me disse: “Mãe, daqui não sairei vivo.” Ele já sentia isso. E então logo nos deram a terrível notícia. Lembro que, meses antes, ele havia se filmado dizendo: “Quando pesar 70 quilos, estou destinado a morrer.” E ele pesava 70 quilos quando morreu. Esse vídeo está em um documentário do Vaticano. Ele parecia inspirado.

Quando era pequeno, sempre dizia a Rajesh: “Morrerei porque uma veia se romperá no cérebro.” Eu perguntava: “Carlo, como você sabe como vai morrer?” E, de fato, morreu de hemorragia cerebral causada pela leucemia. Ele previu a causa da própria morte.

E, sobretudo, brincava com Rajesh. Fez um desenho e escreveu “Caro Jesus, te peço: faz com que Rajesh seja menos vaidoso”, porque Carlo já havia entendido que a vaidade pela beleza é um defeito espiritual. Então ele percebeu que havia um problema com Rajesh, porque ele era um belo rapaz – parecia com Sharon Khanna, aquele ator de Bollywood. Se preocupava muito com os cabelos, não tinha um fio de cabelo branco, era muito particular. 

Carlo brincava com Rajesh, dizia: “Vê, você envelhecerá e eu permanecerei jovem.” Nós não entendíamos o que ele queria dizer. De fato, Carlo permanecerá sempre jovem, porque morreu aos 15 anos. Continuará sendo aquele que era aos 15, então às vezes parecia que ele antecipava as coisas. O Senhor o inspirava.

Quando estava no hospital, lembro que os médicos perguntavam se ele sofria, porque a dor era forte. Não conseguia se mexer pelos líquidos que tinha, porque a leucemia fulminante, que hoje em dia se trata, na época era uma sentença de morte, era devastadora. E Carlo respondia: “Há pessoas – e falava sorrindo – que sofrem muito mais do que eu”. Nunca se lamentava porque não queria incomodar. Se preocupava até com as enfermeiras, que eram frágeis e precisavam levantá-lo, já que ele tinha 1,82 metros e pesava 70 quilos. Sempre pensava nos outros.

Ele me disse: “Mãe, não se preocupe, porque te darei muitos sinais.” Depois me fez entender que ele não morreria. Eu tinha esperança até o fim de que o Senhor o faria viver, mas ele tinha plena consciência de que morreria. Depois que ele morreu, sonhei com ele, e ele me disse: “Mãe, me beatificarão e depois me canonizarão.” Ele também me anunciou o nascimento dos meus dois filhos, porque quatro anos depois que ele morreu eu tinha 39 anos. Carlo era filho único quando morreu e me disse: “Não se preocupe, ainda será mãe.” De fato, depois tive gêmeos.

Lembro também que sonhei com Jacinta (de Fátima), e sou devota dos pastorinhos. Ela me disse: “Não se pode lamentar, porque Carlo será como eu, só que eu sofri muito mais do que seu filho.” De fato, ela passou meses no hospital sofrendo pelos pecadores. Nossa Senhora havia perguntado se ela queria oferecer ainda sofrimentos, e ela disse sim. Morreu sozinha. Já a doença de Carlo durou apenas cinco dias. Vi nisso sinais claros.

Desde que Carlo morreu, o primeiro milagre aconteceu no dia do funeral: uma senhora com câncer rezou a ele e o câncer desapareceu completamente. Outra senhora, de 44 anos, não podia ter filhos, rezou a ele e ficou grávida um mês depois. As pessoas espontaneamente começaram a rezar para ele, porque Carlo já tinha fama de santidade. Era um garoto especial, ia à missa todos os dias, rezava, ensinava catecismo, e todos o amavam pela bondade e generosidade. Mesmo colegas distantes da fé o amavam, porque quando alguém tem o coração puro, os outros reconhecem.

Este foi um dos momentos mais importantes: ele disse que morreria sereno, porque viveu toda a vida sem desperdiçar tempo com coisas que não agradam a Deus. Estava consciente de estar em graça, sempre querendo fazer a vontade de Deus. Se confessava toda semana, todas as noites fazia exame de consciência, e dizia que nossa alma é como um balão de ar quente que precisa do fogo para subir ao céu. O fogo é a confissão que se acende e o balão às vezes para no céu. E por quê? Talvez o vento esteja parado e não o faça voar. Então, ele dizia que devemos jogar fora os sacos de terra, nossos pecados veniais, que precisam ser eliminados. Assim, o balão sobe novamente com nossa alma; caso contrário, permaneceremos na mediocridade. E isso é um problema, porque o Senhor nos chama a grandes coisas. Todos somos especiais, mas precisamos realizar isso, depende da nossa livre vontade.

Entrevistador: Como você viveu a perda do Carlo?

Antonia: Eu vivi cristãmente, porque já havia iniciado um caminho de conversão em 1994. Eu via as coisas na perspectiva da justiça: “O Senhor me pede esse sacrifício.” No hospital, me vinham à mente as palavras do livro de Jó: “O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor.” Sempre devemos aceitar a vontade de Deus, porque Ele só quer o bem para nós. A morte é a passagem para a vida verdadeira. Se o Senhor chamou Carlo, será uma razão de alegria. No meu caso isso se manifestou com a canonização. Mas também encontro muitos pais que perderam filhos prematuramente e não entendem. Devem confiar em Deus; a morte não é o fim, é o início da vida verdadeira. É maravilhoso!  Muitas vezes, quando são jovens, Ele os leva já amadurecidos, poupando-os das dificuldades da vida e conduzindo-os diretamente ao céu.

Para quem fica, é um purgatório que, se for vivido bem e oferecido a Deus, torna-se motivo não só de expiação, mas também de ajuda para muitas outras almas. Nossa Senhora disse em Fátima que muitas almas vão ao inferno porque não há quem reze ou se sacrifique por elas. Nossa vida, como dizia São Paulo, completa o que falta à Paixão de Cristo. Se oferecida, pode ajudar muitas outras pessoas. O bem pode ser feito materialmente, mas também espiritualmente, rezando e sacrificando-se pelos pecadores, como Nossa Senhora pediu. Carlo sempre fez isso: além das obras materiais, rezava muito pelos outros.

Entrevistador: Como foi o momento em que encontraram o corpo de Carlo incorrupto? Como foi vê-lo pela primeira vez?

Antonia: Eu não usaria o termo “incorrupto”, mas “intacto”. Na exumação do corpo, ele estava intacto. Os órgãos precisaram ser tratados, mas alguns permaneceram intactos, como o coração. Normalmente, os órgãos se decompõem primeiro, mas depois de alguns meses a decomposição chega. Foi um pequeno sinal de Deus: Carlo pôde ser exposto com suas roupas, até os sapatos, porque estava intacto. Naturalmente, incorrupto só Nossa Senhora e Jesus, porque a pele sofre, se deteriora. Mas ele estava intacto, e isso impressiona os jovens, que veem alguém da idade deles. É um belo sinal que o Senhor deu. Mas há muitos santos maravilhosos que não permanecem intactos; isso não significa que não fossem santos. Pequenos sinais nos fortalecem na fé.

Entrevistador: É verdade que Carlo foi a porta de conversão para toda a família?

Antonia: Concluo falando da lembrança do batismo. Estávamos em Londres quando Carlo nasceu, em 3 de maio de 1991. Fato curioso: a clínica onde dei à luz publicava os nascimentos no jornal The Times, de Londres, e o bebê Carlo apareceu nos jornais. Parecia quase um destino ter que sair sempre em todos os jornais. Poucos dias depois, em 18 de maio, foi batizado. O dia 18 de maio é importante, porque é aniversário de João Paulo II. Carlo tinha sangue polonês, e a Beata que o batizou também era polonesa, nascida também nesse dia. Sempre vejo nisso uma união com João Paulo II, que se preocupava muito com os jovens. Carlo teve um pouco a missão de ajudá-lo, porque ele fez muito por eles. Todos os dias recebemos notícias de milagres e conversões. Milagres contínuos. O Senhor usa Carlo para conceder graças. Carlo é um instrumento. Mas, sobretudo, sua missão é mostrar a importância dos sacramentos.

Os sacramentos são sinais eficazes escolhidos pela Santíssima Trindade para nos dar graça e santificar-nos. Do lado ferido de Jesus saiu sangue e água. Ali nasce a Igreja e os sacramentos, que são a misericórdia de Deus para nós. Através deles nos santificamos. Vemos a confissão e a misericórdia, podemos sempre recomeçar apesar de nossas fragilidades. Os sacramentos são o mais sobrenatural da Terra, porque nos permitem alcançar o Céu, fazer o caminho de santificação. 

Carlo nos ensina a focar no essencial, como dizia o Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos; só se vê com o coração.” Muitos não vão à missa porque se escandalizam com padres ou pessoas, mas isso é errado, porque não se confia em Deus, na promessa de que através dos sacramentos chega a salvação.

Devemos rezar por vocações, porque sem sacerdotes não há Eucaristia. Deus decidiu que fossem os sacerdotes ordenados. Então, temos que rezar pelas vocações. Devemo, se possível, lembrar também da amostra que Carlo fez com tanto esforço, trabalhando à noite e no verão, porque via a falta de consciência sobre a importância da Eucaristia. A missão principal de Carlo é nos lembrar de colocar os sacramentos, a Igreja, a oração, o rosário, o que é essencial para a salvação.

Carlo criou um “kit de santidade”, que ele resume assim: fazer obras de caridade, ler a Palavra de Deus, rezar ao anjo da guarda, ir à missa todos os dias, adoração eucarística, rezar o rosário diariamente, confissão semanal se possível. Até os pecados veniais devem ser confessados, senão voltamos sempre para baixo. Mas somos chamados a grandes coisas. 

Cada um é especial, único, irrepetível. Temos impressões digitais diferentes, cada um é único. Carlo é santo, mas todos devem ser santos como ele. Esta é a vocação cristã: a santidade. Todos originais, nunca uma cópia.

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Redação MBC

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A entrevista com a mãe de São Carlo Acutis revela um lado íntimo e profundamente comovente da história do novo santo da Igreja. Carlo conquistou o coração de milhões de pessoas com sua vida de fé, pureza e amor à Eucaristia. Agora, reconhecido oficialmente como santo em 7 de setembro de 2025, ele se torna o primeiro millennial elevado à honra dos altares e é considerado o padroeiro da internet — um verdadeiro apóstolo para os tempos digitais.

Nesta conversa exclusiva, Antonia Salzano — mãe de São Carlo Acutis — compartilha memórias, reflexões e episódios tocantes sobre a vida do filho. É um testemunho que nos ajuda a compreender ainda mais a espiritualidade e a missão que Carlo abraçou com tanta simplicidade e profundidade.

Assista ao vídeo abaixo e leia, na íntegra, o conteúdo da entrevista que tivemos a graça de realizar.

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Saiba mais sobre a vida de São Carlo Acutis.

Entrevista com a mãe de São Carlo Acutis (na íntegra)

Entrevistador: Como foi o dia em que conheceram Rajesh?

Antonia: Rajesh é uma figura de um jovem que veio trabalhar como colaborador doméstico em nossa casa. Podemos dizer que é um dos primeiros convertidos graças a Carlo, no sentido de que ele era de casta sacerdotal Brâmanes, era hindu. E o exemplo de Carlo o tocou tanto que ele quis receber o batismo e a Eucaristia. Então, Carlo foi um evangelizador para ele.

Naturalmente, Carlo sobretudo evangelizava com o exemplo e o testemunho. Mas ele era um grande pregador. Carlo sabia falar muito bem, então claramente explicava bem as coisas. Ele se interessava por Nossa Senhora, Lourdes e certamente também pelas histórias dos santos. Mas, sobretudo, Rajesh estava aberto a acolher essa graça, e por isso foi um dos primeiros frutos. Depois houve outras pessoas, porque certamente, como quando Jesus estava na Terra, há quem ouve e quem não ouve; não é que todos se convertem. Entre aqueles que seguiam Jesus, alguns quiseram até matá-Lo. Nem todos reconheciam as graças que Ele fazia. 

Carlo também tinha uma força enorme na oração e obteve muitas graças através dela. Uma vez fez uma novena 26 vezes e depois obteve a graça que havia pedido. Era muito constante e tinha fé e confiança em Nossa Senhora e em Jesus. Sabia que não falava ao vento, falava a essas Pessoas. E tinha essa confiança filial, que é o que Jesus pede quando diz: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, podereis mover montanhas.” Assim, Carlo obteve conversões, curas, e certamente Rajesh faz parte desse universo. Ele ainda trabalha conosco, é uma pessoa que também testemunha muitas experiências e certamente é um dos primeiros frutos de Carlo.

Entrevistador: Como estava Carlo no hospital? Há um momento em particular que deseja compartilhar?

Antonia: A doença do Carlo durou cinco ou seis dias, não mais que isso. Agora não lembro bem, mas me recordo que o Carlo voltou da escola em um sábado. Ele tinha acabado de dar duas voltas correndo no campo de futebol. Voltou e estava com uma pequena manchinha vermelha no olho. Pensava que, de qualquer forma, faz bem praticar um pouco de esporte. “Mens sana in corpore sano” (mente sã, corpo são) dizia São Bento, não? Então, também um pouco de esporte faz bem, contanto que não se torne idolatria. Porque se virar um ídolo, então o esporte não faz bem ao corpo. Carlo dizia que os homens se preocupam muito com a beleza do corpo e pouco com a beleza da alma. Essa é uma sociedade um pouco efêmera, hedonista, que tende a se concentrar muito na beleza física, mas pouco na beleza interior. Acabam esquecendo que, mais cedo ou mais tarde, todos morreremos. Não somos imortais. Carlo dizia que “a cada minuto que passa temos um minuto a menos para nos santificar; o tempo deve ser maximizado para a eternidade.”

E, sobretudo, devemos viver nessa perspectiva do infinito, pensando que somos peregrinos do absoluto, mas não permanentes nesta Terra. A morte de Carlo chegou de forma súbita. Ele havia voltado de uma excursão escolar em um sábado. No domingo, fomos em uma excursão próxima a Milão, no seminário maior de Venegono. Voltamos para casa e Carlo teve febre e dor de garganta. Como metade da classe estava gripada, chamei o médico, que veio duas vezes. Parecia apenas uma tonsilite banal. Mas, na verdade, se escondia uma leucemia.

Nessa situação, Carlo disse: “Ofereço meus sofrimentos ao Papa, à Igreja, para não ir ao purgatório e ir direto ao Paraíso.” Achei um pouco estranho. Meu marido também ouviu, assim como Rajesh, e pensamos que ele estava brincando. Ele era um pouco hipocondríaco, filho único, então eu tinha medo. Até que uma manhã ele acordou com astenia, ou seja, não conseguia se mexer. Liguei para o pediatra antigo, que o conhecia (porque ele [Carlo] já era grande) e perguntei: “Mas que estranho, ele não consegue se mover. Não entendemos.” E ele disse: “Leve-o imediatamente”, porque tinha sido chefe de serviço no hospital De Marchi, em Milão, especializado em doenças infantis.

Quando chegamos, Carlo me disse: “Mãe, daqui não sairei vivo.” Ele já sentia isso. E então logo nos deram a terrível notícia. Lembro que, meses antes, ele havia se filmado dizendo: “Quando pesar 70 quilos, estou destinado a morrer.” E ele pesava 70 quilos quando morreu. Esse vídeo está em um documentário do Vaticano. Ele parecia inspirado.

Quando era pequeno, sempre dizia a Rajesh: “Morrerei porque uma veia se romperá no cérebro.” Eu perguntava: “Carlo, como você sabe como vai morrer?” E, de fato, morreu de hemorragia cerebral causada pela leucemia. Ele previu a causa da própria morte.

E, sobretudo, brincava com Rajesh. Fez um desenho e escreveu “Caro Jesus, te peço: faz com que Rajesh seja menos vaidoso”, porque Carlo já havia entendido que a vaidade pela beleza é um defeito espiritual. Então ele percebeu que havia um problema com Rajesh, porque ele era um belo rapaz – parecia com Sharon Khanna, aquele ator de Bollywood. Se preocupava muito com os cabelos, não tinha um fio de cabelo branco, era muito particular. 

Carlo brincava com Rajesh, dizia: “Vê, você envelhecerá e eu permanecerei jovem.” Nós não entendíamos o que ele queria dizer. De fato, Carlo permanecerá sempre jovem, porque morreu aos 15 anos. Continuará sendo aquele que era aos 15, então às vezes parecia que ele antecipava as coisas. O Senhor o inspirava.

Quando estava no hospital, lembro que os médicos perguntavam se ele sofria, porque a dor era forte. Não conseguia se mexer pelos líquidos que tinha, porque a leucemia fulminante, que hoje em dia se trata, na época era uma sentença de morte, era devastadora. E Carlo respondia: “Há pessoas – e falava sorrindo – que sofrem muito mais do que eu”. Nunca se lamentava porque não queria incomodar. Se preocupava até com as enfermeiras, que eram frágeis e precisavam levantá-lo, já que ele tinha 1,82 metros e pesava 70 quilos. Sempre pensava nos outros.

Ele me disse: “Mãe, não se preocupe, porque te darei muitos sinais.” Depois me fez entender que ele não morreria. Eu tinha esperança até o fim de que o Senhor o faria viver, mas ele tinha plena consciência de que morreria. Depois que ele morreu, sonhei com ele, e ele me disse: “Mãe, me beatificarão e depois me canonizarão.” Ele também me anunciou o nascimento dos meus dois filhos, porque quatro anos depois que ele morreu eu tinha 39 anos. Carlo era filho único quando morreu e me disse: “Não se preocupe, ainda será mãe.” De fato, depois tive gêmeos.

Lembro também que sonhei com Jacinta (de Fátima), e sou devota dos pastorinhos. Ela me disse: “Não se pode lamentar, porque Carlo será como eu, só que eu sofri muito mais do que seu filho.” De fato, ela passou meses no hospital sofrendo pelos pecadores. Nossa Senhora havia perguntado se ela queria oferecer ainda sofrimentos, e ela disse sim. Morreu sozinha. Já a doença de Carlo durou apenas cinco dias. Vi nisso sinais claros.

Desde que Carlo morreu, o primeiro milagre aconteceu no dia do funeral: uma senhora com câncer rezou a ele e o câncer desapareceu completamente. Outra senhora, de 44 anos, não podia ter filhos, rezou a ele e ficou grávida um mês depois. As pessoas espontaneamente começaram a rezar para ele, porque Carlo já tinha fama de santidade. Era um garoto especial, ia à missa todos os dias, rezava, ensinava catecismo, e todos o amavam pela bondade e generosidade. Mesmo colegas distantes da fé o amavam, porque quando alguém tem o coração puro, os outros reconhecem.

Este foi um dos momentos mais importantes: ele disse que morreria sereno, porque viveu toda a vida sem desperdiçar tempo com coisas que não agradam a Deus. Estava consciente de estar em graça, sempre querendo fazer a vontade de Deus. Se confessava toda semana, todas as noites fazia exame de consciência, e dizia que nossa alma é como um balão de ar quente que precisa do fogo para subir ao céu. O fogo é a confissão que se acende e o balão às vezes para no céu. E por quê? Talvez o vento esteja parado e não o faça voar. Então, ele dizia que devemos jogar fora os sacos de terra, nossos pecados veniais, que precisam ser eliminados. Assim, o balão sobe novamente com nossa alma; caso contrário, permaneceremos na mediocridade. E isso é um problema, porque o Senhor nos chama a grandes coisas. Todos somos especiais, mas precisamos realizar isso, depende da nossa livre vontade.

Entrevistador: Como você viveu a perda do Carlo?

Antonia: Eu vivi cristãmente, porque já havia iniciado um caminho de conversão em 1994. Eu via as coisas na perspectiva da justiça: “O Senhor me pede esse sacrifício.” No hospital, me vinham à mente as palavras do livro de Jó: “O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor.” Sempre devemos aceitar a vontade de Deus, porque Ele só quer o bem para nós. A morte é a passagem para a vida verdadeira. Se o Senhor chamou Carlo, será uma razão de alegria. No meu caso isso se manifestou com a canonização. Mas também encontro muitos pais que perderam filhos prematuramente e não entendem. Devem confiar em Deus; a morte não é o fim, é o início da vida verdadeira. É maravilhoso!  Muitas vezes, quando são jovens, Ele os leva já amadurecidos, poupando-os das dificuldades da vida e conduzindo-os diretamente ao céu.

Para quem fica, é um purgatório que, se for vivido bem e oferecido a Deus, torna-se motivo não só de expiação, mas também de ajuda para muitas outras almas. Nossa Senhora disse em Fátima que muitas almas vão ao inferno porque não há quem reze ou se sacrifique por elas. Nossa vida, como dizia São Paulo, completa o que falta à Paixão de Cristo. Se oferecida, pode ajudar muitas outras pessoas. O bem pode ser feito materialmente, mas também espiritualmente, rezando e sacrificando-se pelos pecadores, como Nossa Senhora pediu. Carlo sempre fez isso: além das obras materiais, rezava muito pelos outros.

Entrevistador: Como foi o momento em que encontraram o corpo de Carlo incorrupto? Como foi vê-lo pela primeira vez?

Antonia: Eu não usaria o termo “incorrupto”, mas “intacto”. Na exumação do corpo, ele estava intacto. Os órgãos precisaram ser tratados, mas alguns permaneceram intactos, como o coração. Normalmente, os órgãos se decompõem primeiro, mas depois de alguns meses a decomposição chega. Foi um pequeno sinal de Deus: Carlo pôde ser exposto com suas roupas, até os sapatos, porque estava intacto. Naturalmente, incorrupto só Nossa Senhora e Jesus, porque a pele sofre, se deteriora. Mas ele estava intacto, e isso impressiona os jovens, que veem alguém da idade deles. É um belo sinal que o Senhor deu. Mas há muitos santos maravilhosos que não permanecem intactos; isso não significa que não fossem santos. Pequenos sinais nos fortalecem na fé.

Entrevistador: É verdade que Carlo foi a porta de conversão para toda a família?

Antonia: Concluo falando da lembrança do batismo. Estávamos em Londres quando Carlo nasceu, em 3 de maio de 1991. Fato curioso: a clínica onde dei à luz publicava os nascimentos no jornal The Times, de Londres, e o bebê Carlo apareceu nos jornais. Parecia quase um destino ter que sair sempre em todos os jornais. Poucos dias depois, em 18 de maio, foi batizado. O dia 18 de maio é importante, porque é aniversário de João Paulo II. Carlo tinha sangue polonês, e a Beata que o batizou também era polonesa, nascida também nesse dia. Sempre vejo nisso uma união com João Paulo II, que se preocupava muito com os jovens. Carlo teve um pouco a missão de ajudá-lo, porque ele fez muito por eles. Todos os dias recebemos notícias de milagres e conversões. Milagres contínuos. O Senhor usa Carlo para conceder graças. Carlo é um instrumento. Mas, sobretudo, sua missão é mostrar a importância dos sacramentos.

Os sacramentos são sinais eficazes escolhidos pela Santíssima Trindade para nos dar graça e santificar-nos. Do lado ferido de Jesus saiu sangue e água. Ali nasce a Igreja e os sacramentos, que são a misericórdia de Deus para nós. Através deles nos santificamos. Vemos a confissão e a misericórdia, podemos sempre recomeçar apesar de nossas fragilidades. Os sacramentos são o mais sobrenatural da Terra, porque nos permitem alcançar o Céu, fazer o caminho de santificação. 

Carlo nos ensina a focar no essencial, como dizia o Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos; só se vê com o coração.” Muitos não vão à missa porque se escandalizam com padres ou pessoas, mas isso é errado, porque não se confia em Deus, na promessa de que através dos sacramentos chega a salvação.

Devemos rezar por vocações, porque sem sacerdotes não há Eucaristia. Deus decidiu que fossem os sacerdotes ordenados. Então, temos que rezar pelas vocações. Devemo, se possível, lembrar também da amostra que Carlo fez com tanto esforço, trabalhando à noite e no verão, porque via a falta de consciência sobre a importância da Eucaristia. A missão principal de Carlo é nos lembrar de colocar os sacramentos, a Igreja, a oração, o rosário, o que é essencial para a salvação.

Carlo criou um “kit de santidade”, que ele resume assim: fazer obras de caridade, ler a Palavra de Deus, rezar ao anjo da guarda, ir à missa todos os dias, adoração eucarística, rezar o rosário diariamente, confissão semanal se possível. Até os pecados veniais devem ser confessados, senão voltamos sempre para baixo. Mas somos chamados a grandes coisas. 

Cada um é especial, único, irrepetível. Temos impressões digitais diferentes, cada um é único. Carlo é santo, mas todos devem ser santos como ele. Esta é a vocação cristã: a santidade. Todos originais, nunca uma cópia.

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