Colunistas, Destaque

Por que a Esperança cristã não é mera “energia positiva”?

O otimismo puramente humano não é uma base sólida. Um otimismo cristão, por outro lado, só encontra solidez se nascer da virtude da Esperança.

Por que a Esperança cristã não é mera “energia positiva”?
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Por que a Esperança cristã não é mera “energia positiva”?

O otimismo puramente humano não é uma base sólida. Um otimismo cristão, por outro lado, só encontra solidez se nascer da virtude da Esperança.

Data da Publicação: 23/12/2024
Tempo de leitura:
Autor: Laise Sales
Data da Publicação: 23/12/2024
Tempo de leitura:
Autor: Laise Sales

O tempo do Natal nos é propício para, compreendendo o verdadeiro sentido da esperança cristã, tirar muitos frutos que nos animarão para o ano que começa.

A Esperança se apoia num Deus fiel, num Deus que cumpre as Suas promessas. Podemos contemplar a fidelidade de Deus na imagem do Presépio.

A Encarnação de Deus atende a necessidade que o homem tem de salvação. Com a queda, infligimos uma ordem de Deus; uma ordem que estava dentro dos nossos limites de criatura, isto é, uma ordem que atentava para o nosso próprio bem. Atentando contra a nossa realidade de criaturas, perdermos o vínculo de amizade com Deus.

Vendo todas as consequências desse grande erro na vida do ser humano, Deus mesmo decidiu reparar a falta que cometemos. Deus, por Seu amor, resolveu assumir a nossa natureza e reparar a ofensa. Assim a natureza humana foi também elevada a um valor infinito. Deus cumpriu a Sua promessa amorosa de redenção.

Precisamos aderir, entrar e viver nesse plano de salvação. A Esperança cristã se apoia no cumprimento da promessa de Deus. Nós já sabemos que a promessa foi cumprida em Nosso Senhor Jesus Cristo, de modo que a Esperança está enraizada em algo concreto, em um acontecimento real. Por isso o Natal é tão importante; é o eixo em que se apoia a certeza da nossa felicidade.

O profeta Isaías mencionou expressamente a chegada do Filho de Deus: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho”. Cristo viveu e ainda vive conosco, sem nos deixar sozinhos.

A Esperança é a virtude que está ligada ao nosso desejo de felicidade. Desejamos uma felicidade que seja eterna, que não passa, que não seja frustrada. As felicidades que experimentamos aqui na Terra, no entanto, por maiores que sejam, chegam ao fim. É por esse motivo que o otimismo, reflexo da “energia positiva”, frustra o coração humano; ele esbarra na realidade do sofrimento e do término das alegrias terrenas.

Nós sabemos que nem “tudo vai dar certo”, que as coisas estão fadadas ao fracasso, que a matéria é corruptível, que cairemos mesmo lutando muito contra as más inclinações, etc. O otimismo puramente humano não é uma base sólida. Um otimismo cristão, por outro lado, só encontra solidez se nascer da virtude da Esperança.

Amparando-nos no mero otimismo, frustraremos os nossos corações. Trataremos a Deus como uma espécie de “resolvedor de problemas”, uma figura a quem recorremos quando temos algum “pepino” para resolver. Mas Deus não é um “resolvedor de problemas”. Precisamos ter os olhos postos no Céu, e não num ídolo que atenderia aos nossos caprichos.

Deus é o nosso Pai, que nos ama e nos quer junto a Ele por toda a Eternidade. O que estiver ao Seu alcance para nos salvar, Ele o fará. Ele já fez: tomou carne, morreu e ressuscitou ao terceiro dia – o dia da eternidade. Cumpre-nos aceitar esse amor e fazermos a vontade de Deus nas nossas vidas.

A graça não agirá sobre nós sem nos abrirmos a ela. Deus respeita a nossa liberdade. O homem sempre pode, em última instância, perder a salvação, dar as costas para ela. Mas o homem de boa vontade, mesmo pecador, tem a Esperança de que não perderá a salvação. Ao cumprirmos a vontade de Deus nas nossas vidas, ao respondermos a Quem “nos amou primeiro”, encontramos o fundamento da Esperança cristã.

A garantia da nossa Esperança é a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós já entramos no mundo com a promessa de Deus cumprida. A Esperança também é fundamento da nossa paz: graças a ela, ou não sofremos ou amamos o sofrimento que recebemos.

Enquanto o otimismo humano é um mero afeto, a Esperança é uma virtude. Sendo teologal, ela vem de Deus e tem como alvo o próprio Deus. A paz interior, que reflete a Esperança, está fundada na confiança de que estamos cumprindo a nossa vocação e de que Deus nos retribuirá. A nossa sede pelo casamento perfeito, pela família perfeita, será realizada. Mas o será plenamente no Céu.

As realidades humanas lícitas e especialmente sacramentais, como é a do matrimônio ou a do Celibato por amor a Deus, antecipam-nos um pouco a realidade do Céu. O sacramento é um sinal visível da graça invisível, da experiência esponsal a ser vivida no Céu.

Não podemos depositar a nossa felicidade nos êxitos humanos. Os verdadeiros êxitos são sobrenaturais, superiores e transcendentais; eles não se apoiam no sucesso humano. O único movimento válido do afeto é o que tem fundamento na Esperança em Deus.

O que esperamos vai além das nossas forças, além do que somos capazes de ver. Não devemos ficar presos aos aspectos puramente materiais da realidade. Mesmo que as circunstâncias pareçam desfavoráveis e fracassadas, a virtude da Esperança nos dá a paz pela confiança de que realizamos a vontade de Deus.

A virtude da Esperança, que nos projeta ao futuro, impede que nos acomodemos a uma vida “aburguesada”, materialmente tranquila, como se nada nos fizesse falta. A Esperança aponta que a nossa felicidade tende à expansão ilimitada pelo amor de Deus. Pela Esperança, crescemos no amor.

A Esperança nos impele à ação, a concretizar os desígnios de Deus nas nossas vidas. Para meditar nessa virtude, podemos contemplar a sua figura natalina: o Presépio. Olhando a cena do Presépio, rememoramos a cada dia a promessa que Deus já cumpriu. O Menino Jesus é a própria Esperança e, ao contemplá-lo, somos levados à Beleza.

Dentre os transcendentais do Ser – Verdade, Bondade e Beleza –, o que está mais ligado à virtude da Esperança é a Beleza. Se temos Fé em algo que é verdadeiro, se amamos (Caridade) o que é bom, a experiência da beleza que vemos na realidade aponta para algo transcendente, enchendo o nosso coração com a vontade de permanência e comunhão.

A Beleza está diretamente ligada à nossa imaginação. São as imagens belas que mobilizam os nossos sonhos, anseios, desejos e projetos. A contemplação do Presépio e a concentração da imaginação para compreender, amando a figura de Deus Menino, pode nos ajudar a pensar no amor de Deus por nós. A imagem do Deus Menino representa um amor que não tem limites e nem medidas, que se entrega por completo para nos salvar e nos mostrar como somos infinitamente amados.

A contemplação da cena do nascimento de Jesus pode mobilizar a nossa Esperança.

Laise Sales

Laise Sales

Professora, doutora em História da Cultura, esposa e mãe, fundadora da Comunidade Entre Esposas, aborda temas de Antropologia Filosófica.

O que você vai encontrar neste artigo?

O tempo do Natal nos é propício para, compreendendo o verdadeiro sentido da esperança cristã, tirar muitos frutos que nos animarão para o ano que começa.

A Esperança se apoia num Deus fiel, num Deus que cumpre as Suas promessas. Podemos contemplar a fidelidade de Deus na imagem do Presépio.

A Encarnação de Deus atende a necessidade que o homem tem de salvação. Com a queda, infligimos uma ordem de Deus; uma ordem que estava dentro dos nossos limites de criatura, isto é, uma ordem que atentava para o nosso próprio bem. Atentando contra a nossa realidade de criaturas, perdermos o vínculo de amizade com Deus.

Vendo todas as consequências desse grande erro na vida do ser humano, Deus mesmo decidiu reparar a falta que cometemos. Deus, por Seu amor, resolveu assumir a nossa natureza e reparar a ofensa. Assim a natureza humana foi também elevada a um valor infinito. Deus cumpriu a Sua promessa amorosa de redenção.

Precisamos aderir, entrar e viver nesse plano de salvação. A Esperança cristã se apoia no cumprimento da promessa de Deus. Nós já sabemos que a promessa foi cumprida em Nosso Senhor Jesus Cristo, de modo que a Esperança está enraizada em algo concreto, em um acontecimento real. Por isso o Natal é tão importante; é o eixo em que se apoia a certeza da nossa felicidade.

O profeta Isaías mencionou expressamente a chegada do Filho de Deus: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho”. Cristo viveu e ainda vive conosco, sem nos deixar sozinhos.

A Esperança é a virtude que está ligada ao nosso desejo de felicidade. Desejamos uma felicidade que seja eterna, que não passa, que não seja frustrada. As felicidades que experimentamos aqui na Terra, no entanto, por maiores que sejam, chegam ao fim. É por esse motivo que o otimismo, reflexo da “energia positiva”, frustra o coração humano; ele esbarra na realidade do sofrimento e do término das alegrias terrenas.

Nós sabemos que nem “tudo vai dar certo”, que as coisas estão fadadas ao fracasso, que a matéria é corruptível, que cairemos mesmo lutando muito contra as más inclinações, etc. O otimismo puramente humano não é uma base sólida. Um otimismo cristão, por outro lado, só encontra solidez se nascer da virtude da Esperança.

Amparando-nos no mero otimismo, frustraremos os nossos corações. Trataremos a Deus como uma espécie de “resolvedor de problemas”, uma figura a quem recorremos quando temos algum “pepino” para resolver. Mas Deus não é um “resolvedor de problemas”. Precisamos ter os olhos postos no Céu, e não num ídolo que atenderia aos nossos caprichos.

Deus é o nosso Pai, que nos ama e nos quer junto a Ele por toda a Eternidade. O que estiver ao Seu alcance para nos salvar, Ele o fará. Ele já fez: tomou carne, morreu e ressuscitou ao terceiro dia – o dia da eternidade. Cumpre-nos aceitar esse amor e fazermos a vontade de Deus nas nossas vidas.

A graça não agirá sobre nós sem nos abrirmos a ela. Deus respeita a nossa liberdade. O homem sempre pode, em última instância, perder a salvação, dar as costas para ela. Mas o homem de boa vontade, mesmo pecador, tem a Esperança de que não perderá a salvação. Ao cumprirmos a vontade de Deus nas nossas vidas, ao respondermos a Quem “nos amou primeiro”, encontramos o fundamento da Esperança cristã.

A garantia da nossa Esperança é a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós já entramos no mundo com a promessa de Deus cumprida. A Esperança também é fundamento da nossa paz: graças a ela, ou não sofremos ou amamos o sofrimento que recebemos.

Enquanto o otimismo humano é um mero afeto, a Esperança é uma virtude. Sendo teologal, ela vem de Deus e tem como alvo o próprio Deus. A paz interior, que reflete a Esperança, está fundada na confiança de que estamos cumprindo a nossa vocação e de que Deus nos retribuirá. A nossa sede pelo casamento perfeito, pela família perfeita, será realizada. Mas o será plenamente no Céu.

As realidades humanas lícitas e especialmente sacramentais, como é a do matrimônio ou a do Celibato por amor a Deus, antecipam-nos um pouco a realidade do Céu. O sacramento é um sinal visível da graça invisível, da experiência esponsal a ser vivida no Céu.

Não podemos depositar a nossa felicidade nos êxitos humanos. Os verdadeiros êxitos são sobrenaturais, superiores e transcendentais; eles não se apoiam no sucesso humano. O único movimento válido do afeto é o que tem fundamento na Esperança em Deus.

O que esperamos vai além das nossas forças, além do que somos capazes de ver. Não devemos ficar presos aos aspectos puramente materiais da realidade. Mesmo que as circunstâncias pareçam desfavoráveis e fracassadas, a virtude da Esperança nos dá a paz pela confiança de que realizamos a vontade de Deus.

A virtude da Esperança, que nos projeta ao futuro, impede que nos acomodemos a uma vida “aburguesada”, materialmente tranquila, como se nada nos fizesse falta. A Esperança aponta que a nossa felicidade tende à expansão ilimitada pelo amor de Deus. Pela Esperança, crescemos no amor.

A Esperança nos impele à ação, a concretizar os desígnios de Deus nas nossas vidas. Para meditar nessa virtude, podemos contemplar a sua figura natalina: o Presépio. Olhando a cena do Presépio, rememoramos a cada dia a promessa que Deus já cumpriu. O Menino Jesus é a própria Esperança e, ao contemplá-lo, somos levados à Beleza.

Dentre os transcendentais do Ser – Verdade, Bondade e Beleza –, o que está mais ligado à virtude da Esperança é a Beleza. Se temos Fé em algo que é verdadeiro, se amamos (Caridade) o que é bom, a experiência da beleza que vemos na realidade aponta para algo transcendente, enchendo o nosso coração com a vontade de permanência e comunhão.

A Beleza está diretamente ligada à nossa imaginação. São as imagens belas que mobilizam os nossos sonhos, anseios, desejos e projetos. A contemplação do Presépio e a concentração da imaginação para compreender, amando a figura de Deus Menino, pode nos ajudar a pensar no amor de Deus por nós. A imagem do Deus Menino representa um amor que não tem limites e nem medidas, que se entrega por completo para nos salvar e nos mostrar como somos infinitamente amados.

A contemplação da cena do nascimento de Jesus pode mobilizar a nossa Esperança.

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