Devoção, Santidade

Visitas de João Paulo II ao Brasil: um santo entre nós

Visitas de João Paulo II ao Brasil: um santo entre nós
Devoção, Santidade

Visitas de João Paulo II ao Brasil: um santo entre nós

Data da Publicação: 16/01/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 16/01/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

O Brasil teve a honra de receber São João Paulo II em três visitas apostólicas, que ocorreram em 1980, 1991 e 1997. 

Em cada uma delas, milhões de pessoas foram ao encontro do Papa com a esperança de vê-lo de perto. Enquanto isso, as transmissões televisivas garantiam que outros milhões de brasileiros pudessem acompanhar cada passo de nosso querido Papa João Paulo II.

Neste artigo, faremos memória dos acontecimentos mais importantes destas três visitas inesquecíveis.

1980: Primeira visita de João Paulo II ao Brasil


O país inteiro aguardava ansioso a chegada de João Paulo II ao Brasil. No dia 30 de junho de 1980, o avião pousou em Brasília, primeiro destino do papa em solo brasileiro. Além de Brasília, o papa visitou mais 13 cidades: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida do Norte, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza. Foram mais de 14 mil quilômetros rodados em 13 dias de uma atividade intensa. 

João Paulo II permaneceu no Brasil até 12 de julho, percorrendo os lugares programados e conversando com todos. Embora tenha ficado pouco tempo em cada cidade, sua passagem marcou para sempre a vida daqueles que o acompanharam.

Estima-se que 12 milhões de pessoas viram o papa pessoalmente, enquanto que cerca de 50 milhões acompanhavam a visita pela televisão todos os dias. Os recordes de audiência impressionaram: de 85 a 90% dos televisores brasileiros estavam todos ligados acompanhando João Paulo II.

Um presente para Vidigal


Dentre as inúmeras atividades que fez, uma das mais marcantes foi sua visita à favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. Na ocasião, milhares de moradores foram ver o papa e a comunidade recebeu, como um presente inesperado, seu anel episcopal.


São João Paulo II em Aparecida do Norte


São João Paulo II também fez questão de visitar o Santuário de Aparecida, em Aparecida do Norte, que foi incluído em seu roteiro por um pedido pessoal, para expressar sua devoção à Nossa Senhora.

Na ocasião, o papa fez a consagração da Basílica Nova de Aparecida, que estava terminando de ser construída. As atividades religiosas no Santuário começaram oficialmente em 1982, mas já na visita papal os fiéis puderam acompanhar, pessoalmente e pela televisão, a bela consagração da basílica. Na ocasião, o papa fez um apelo aos brasileiros durante sua homilia:

“E vós, devotos de Nossa Senhora e romeiros de Aparecida, aqui presentes e os que nos acompanham pela rádio e pela televisão: conservai zelosamente este terno e confiante amor à Virgem, que vos caracteriza. Não o deixeis nunca arrefecer! Não seja um amor abstrato, mas encarnado. Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de maneira toda especial, o Rosário. Quem dera renascesse o belo costume – outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras – da reza do terço em família.” 1


O encontro com Irmã Dulce


No dia 7 de julho de 1980, São João Paulo II chegou à Bahia e foi recebido com forte chuva e vento, por uma comitiva de autoridades que o esperavam no aeroporto, incluindo Irmã Dulce. O tempo ruim, porém, não afastou as centenas de milhares de pessoas reunidas para a celebração da Santa Missa no Centro Administrativo da Bahia, que se deu logo em seguida.

Na ocasião, o papa chamou Santa Dulce dos Pobres – na época ainda nossa Irmã Dulce – para subir ao altar e receber uma bênção especial. Como registro desse dia, ficam as lindas imagens do abraço entre dois santos. Esse foi o primeiro dos dois encontros do papa com a santa baiana.

O Congresso Eucarístico em Fortaleza


Em 9 de julho de 1980, foi a vez de Fortaleza receber o Santo Padre para a abertura do Congresso Nacional Eucarístico. Uma multidão reunia-se para ver São João Paulo II e escutar suas palavras naquela abertura solene de um momento tão importante para a Igreja de todo o Brasil. Na ocasião, o papa falou de um de seus maiores amores: a Santíssima Eucaristia – o Sacramento do Amor. A ela confiou toda a Igreja de nosso país e seus futuros caminhos de evangelização e pastoreio das almas.

O papa partiu para Roma antes do encerramento do congresso, que se deu no dia 13 de julho. Mesmo assim, fez questão de enviar uma mensagem de encerramento, demonstrando seu carinho e proximidade:

“A Igreja no Brasil veio exatamente procurar uma resposta aos pés da Eucaristia. E espero que tenha encontrado essa resposta; e espero também que irá continuar a encontrá-la constantemente, prestando ouvidos à Palavra do Senhor, entrando no Seu Coração e haurindo neste Amor, que é mais forte do que todos os males, e perseverando naquela fraternidade e na paz que somente Ele, Jesus Cristo, pode dar ao homem e ao mundo.” 2


Um carisma inconfundível


Embora não nos seja possível contar em detalhes toda a atividade do papa nestes dias no Brasil, sabemos que em todas as cidades que passou, São João Paulo II teve grandes momentos de proximidade com os fiéis. Em Belo Horizonte, o papa percorreu diversos quilômetros em seu papamóvel, saudando a população, e celebrou uma missa para milhares de pessoas reunidas aos pés da Serra do Curral.

Já em Porto Alegre,  a multidão também se reunia para a recepção do Papa na praça em frente à Catedral metropolitana, e milhares de jovens acamparam para garantir seu lugar na missa campal que aconteceu no dia seguinte. Muito acolhedor, o Papa aceitou tomar um chimarrão e também colocar um chapéu típico da vestimenta gaúcha.

Quando chegou a Curitiba, a multidão já se aglomerava para ver o papa. Foram mais de 700 mil pessoas reunidas para participar da missa celebrada pelo Santo Padre. Contando com uma grande colônia polonesa no Paraná, o papa recebeu muito carinho dos fiéis e ficou encantado com uma menina que usava um traje típico da Cracóvia, cidade natal dele. Depois, em Recife, foi a vez de celebrar para mais de 500 mil pessoas no viaduto Capitão Temudo, no Centro da cidade. 

Em Belém, 300 mil pessoas reuniram-se para a missa com São João Paulo II. Ele também aproveitou o tempo na capital para visitar, em Marituba, a maior colônia de pessoas com hanseníase na região. Depois, passou por Manaus, onde mais uma multidão o aguardava. Lá, teve a oportunidade de celebrar uma procissão fluvial no Encontro das Águas. Depois, em Teresina, mais uma multidão o esperava com inúmeros presentes, entre eles um chapéu de couro típico da região.

Por fim, em Fortaleza, além da abertura do Congresso Eucarístico, São João Paulo II também foi homenageado por Luiz Gonzaga, que tocou “Asa Branca”, além de reunir mais de 1 milhão de pessoas para a missa campal.

Depois de sua visita por tantos lugares de nosso país fortaleceu-se ainda mais o amor que o Brasil já tinha pelo Santo Padre. Seu carinho pelo povo, proximidade, simplicidade e amor conquistaram a todos, que se emocionaram com sua presença, suas palavras e também com alguns momentos especiais de seu inconfundível carisma.

1991: Segunda visita de João Paulo II ao Brasil


A segunda visita do Santo Padre a nosso país foi tão marcante quanto a primeira. De 12 a 21 de outubro de 1991, São João Paulo II esteve em solo brasileiro e passou por dez capitais: Natal, São Luís, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, Florianópolis, Vitória, Maceió e Salvador.

Como na primeira viagem apostólica, a passagem pelas cidades foi rápida e intensa, garantindo muitos momentos marcantes a todo o povo brasileiro.

Duas ocasiões, de forma especial, marcaram muito a visita papal. A primeira delas ocorreu em Salvador, quando o papa decidiu mudar o roteiro programado para ir à cidade e visitar Irmã Dulce, que se encontrava internada em estado grave de saúde. A segunda se trata da beatificação de Madre Paulina, em Florianópolis.

Além destas, o Santo Padre também visitou as demais cidades. Um dos primeiros destinos do papa foi Natal, onde encerrou o Congresso Nacional Eucarístico, no dia 12 de outubro, com milhares de pessoas reunidas para vê-lo – como já era esperado. No dia seguinte, o Papa já estava na capital do Maranhão, São Luís, para que outra multidão pudesse vê-lo. A missa foi celebrada para mais de 300 mil pessoas. Em Brasília, a cidade parou para ver o Santo Padre e recebeu-o com muito carinho – mais uma multidão se formava para ver um santo em vida.

Quando estava em Maceió, João Paulo II passava pelas ruas, quando avistou um grupo de jovens em situação de vulnerabilidade. Nessa visita, deu ao bispo a missão de criar uma casa de acolhimento para essa juventude e tirá-los das ruas. Dessa incumbência papal nasceu a Fundação João Paulo II, com a Casa Dom Bosco para os meninos, e Casa Maria Auxiliadora para meninas, que funcionam até hoje e atendem jovens de 12 a 17 anos.

Em Goiânia foram poucas horas de permanência, mas inesquecíveis para todo o povo. O papa foi recebido por uma multidão, que o viu passar de papamóvel e depois ouviu seu discurso atentamente, com inúmeros aplausos. Em Campo Grande, outra multidão o esperava para a celebração da Santa Missa, com cerca de 100 mil pessoas.


A beatificação de Madre Paulina


Em 18 de outubro, foi a vez de Santa Catarina receber o papa. Florianópolis acolheu o Santo Padre para a beatificação de Madre Paulina. Sua canonização se daria, posteriormente, em 2002, também por João Paulo II.

Para a beatificação, a cidade estava em festa por ver uma de suas filhas sendo declarada beata da Igreja. Uma multidão acompanhou a celebração e se emocionou com as belas palavras do Santo Padre. Na homilia, São João Paulo II recordou a importância de que, no Brasil surjam cada vez mais santos:

“Que o exemplo de Madre Paulina possa inspirar a todos uma resposta decidida, generosa, ao chamado de Cristo à santidade! Confio à proteção materna da Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Desterro como A venerais aqui em Florianópolis, o presente e o futuro da Igreja no Brasil. Ela precisa, hoje, mais do que nunca, de santos!” 3


Uma visita inesperada: Irmã Dulce recebe a bênção papal no leito de morte


Em 20 de outubro de 1991, o papa teve seu segundo e último encontro com Irmã Dulce. Em um primeiro momento, Salvador não estava incluída nesta segunda visita papal, mas quando São João Paulo II soube que a freira baiana estava hospitalizada e em estado grave, fez questão de mudar a programação para poder visitá-la pessoalmente. 

Irmã Dulce já estava internada havia nove meses por complicações pulmonares, que se agravaram com o passar do tempo e a idade já avançada de 77 anos. Encontrava-se no hospital Santo Antônio, em Salvador, que ela mesmo fundou e que havia sido inaugurado em 1983. Seu estado já era bem debilitado: já não podia falar e se mexer, e precisava de um aparelho de ventilação artificial.

São João Paulo II esteve com ela por cerca de 10 minutos. Segurou sua mão, já emocionado, e fez uma oração. A freira, não podendo falar, olhava-o fixamente com os olhos marejados em lágrimas. Tentou acenar para o papa, mas sem sucesso. Ao final da visita, o Santo Padre deixou-lhe um terço de presente, e recebeu um arranjo de flores como presente da família.

Irmã Dulce morreria em menos de cinco meses após a visita, em 14 de março de 1992.

1997: Terceira visita de João Paulo II ao Brasil


A terceira visita de São João Paulo II ao Brasil foi a mais breve de todas. Dessa vez, o papa permaneceu apenas quatro dias em nosso país, de 2 a 6 de outubro de 1997. A cidade escolhida para sua vinda foi o Rio de Janeiro, por ocasião do Encontro Mundial com as Famílias. 

Em uma missa campal, no aterro do Flamengo, foram reunidas mais de 2 milhões de pessoas. Na homilia, bem como em todo o Encontro, o Santo Padre falou intensamente sobre as grandes questões que assolam as famílias modernas e suas ameaças, como o uso de contraceptivos, o divórcio e o aborto. Em todos os discursos, condenou veementemente todas essas questões, defendendo o valor da família e sua sacralidade. De forma especial, insistiu na defesa da vida desde sua concepção.

Em um de seus discursos, no Cristo Redentor, São João Paulo II conquistou o coração de todos ao fazer uma brincadeira que ganhou o país: “Se Deus é brasileiro, o papa é carioca!”. Embora com a saúde um pouco mais debilitada, o carisma e a simpatia continuavam presentes como sempre.

No discurso para as famílias, durante o Encontro Mundial, o Papa exortava:

“A família é patrimônio da humanidade, porque é mediante a família que, conforme o desígnio de Deus, deve-se prolongar a presença do homem sobre a terra. Nas famílias cristãs, fundadas no sacramento do matrimônio, a fé nos vislumbra maravilhosamente o rosto de Cristo, esplendor da verdade, que enche de luz e de alegria os lares que inspiram a sua vida no Evangelho.

Hoje, infelizmente, vai-se difundindo pelo mundo uma mensagem enganosa de felicidade impossível e inconsistente, que só arrasta consigo desolação e amargura. A felicidade não se consegue pela via da liberdade sem a verdade, porque esta é a via do egoísmo irresponsável, que divide e corrói a família e a sociedade.

Não é verdade que os esposos, como se fossem escravos condenados à sua própria fragilidade, não possam permanecer fiéis à sua entrega total até à morte! O Senhor, que vos chama a viver na unidade de “uma só carne”, unidade de corpo e alma, unidade da vida toda, dá-vos força para uma fidelidade que enobrece e que faz com que a vossa união não corra o risco da traição que rouba a dignidade e a felicidade e introduz, no seio do lar, divisão e amargura cujas maiores vítimas são os filhos. A melhor defesa do lar está na fidelidade que é uma dádiva do Deus fiel e misericordioso, num amor por Ele redimido.” 4

O Brasil foi privilegiado com tantas visitas deste Santo Papa, que percorreu o país de ponta a ponta e deixou sua marca em cada lugar que visitou. Sem dúvidas, foram muitos os frutos alcançados com sua presença, seja por meio de discursos, missas, ou acenando carinhosamente para as multidões no papamóvel. Como um farol, São João Paulo II passou iluminando toda escuridão com seu rastro de santidade, levando o Evangelho de Nosso Senhor a todas as nações.

Você esteve presente em alguma dessas visitas? Conte sua experiência para nós aqui nos comentários!

São João Paulo II, rogai por nós!

Referências

  1. Homilia do Papa João Paulo II durante a santa missa na Basílica Nacional de Aparecida, 4 de julho de 1980[]
  2. Mensagem do Papa João Paulo II à Igreja do Brasil no Décimo Congresso Eucarístico, 13 de julho de 1980[]
  3. Homilia de São João Paulo II na Beatificação de Madre Paulina, 18 de outubro de 1991[]
  4. Discurso do Papa João Paulo II no Encontro com as Famílias de todo o mundo, em 4 de outubro de 1997[]
Redação MBC

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O Brasil teve a honra de receber São João Paulo II em três visitas apostólicas, que ocorreram em 1980, 1991 e 1997. 

Em cada uma delas, milhões de pessoas foram ao encontro do Papa com a esperança de vê-lo de perto. Enquanto isso, as transmissões televisivas garantiam que outros milhões de brasileiros pudessem acompanhar cada passo de nosso querido Papa João Paulo II.

Neste artigo, faremos memória dos acontecimentos mais importantes destas três visitas inesquecíveis.

1980: Primeira visita de João Paulo II ao Brasil


O país inteiro aguardava ansioso a chegada de João Paulo II ao Brasil. No dia 30 de junho de 1980, o avião pousou em Brasília, primeiro destino do papa em solo brasileiro. Além de Brasília, o papa visitou mais 13 cidades: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida do Norte, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza. Foram mais de 14 mil quilômetros rodados em 13 dias de uma atividade intensa. 

João Paulo II permaneceu no Brasil até 12 de julho, percorrendo os lugares programados e conversando com todos. Embora tenha ficado pouco tempo em cada cidade, sua passagem marcou para sempre a vida daqueles que o acompanharam.

Estima-se que 12 milhões de pessoas viram o papa pessoalmente, enquanto que cerca de 50 milhões acompanhavam a visita pela televisão todos os dias. Os recordes de audiência impressionaram: de 85 a 90% dos televisores brasileiros estavam todos ligados acompanhando João Paulo II.

Um presente para Vidigal


Dentre as inúmeras atividades que fez, uma das mais marcantes foi sua visita à favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. Na ocasião, milhares de moradores foram ver o papa e a comunidade recebeu, como um presente inesperado, seu anel episcopal.


São João Paulo II em Aparecida do Norte


São João Paulo II também fez questão de visitar o Santuário de Aparecida, em Aparecida do Norte, que foi incluído em seu roteiro por um pedido pessoal, para expressar sua devoção à Nossa Senhora.

Na ocasião, o papa fez a consagração da Basílica Nova de Aparecida, que estava terminando de ser construída. As atividades religiosas no Santuário começaram oficialmente em 1982, mas já na visita papal os fiéis puderam acompanhar, pessoalmente e pela televisão, a bela consagração da basílica. Na ocasião, o papa fez um apelo aos brasileiros durante sua homilia:

“E vós, devotos de Nossa Senhora e romeiros de Aparecida, aqui presentes e os que nos acompanham pela rádio e pela televisão: conservai zelosamente este terno e confiante amor à Virgem, que vos caracteriza. Não o deixeis nunca arrefecer! Não seja um amor abstrato, mas encarnado. Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de maneira toda especial, o Rosário. Quem dera renascesse o belo costume – outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras – da reza do terço em família.” 1


O encontro com Irmã Dulce


No dia 7 de julho de 1980, São João Paulo II chegou à Bahia e foi recebido com forte chuva e vento, por uma comitiva de autoridades que o esperavam no aeroporto, incluindo Irmã Dulce. O tempo ruim, porém, não afastou as centenas de milhares de pessoas reunidas para a celebração da Santa Missa no Centro Administrativo da Bahia, que se deu logo em seguida.

Na ocasião, o papa chamou Santa Dulce dos Pobres – na época ainda nossa Irmã Dulce – para subir ao altar e receber uma bênção especial. Como registro desse dia, ficam as lindas imagens do abraço entre dois santos. Esse foi o primeiro dos dois encontros do papa com a santa baiana.

O Congresso Eucarístico em Fortaleza


Em 9 de julho de 1980, foi a vez de Fortaleza receber o Santo Padre para a abertura do Congresso Nacional Eucarístico. Uma multidão reunia-se para ver São João Paulo II e escutar suas palavras naquela abertura solene de um momento tão importante para a Igreja de todo o Brasil. Na ocasião, o papa falou de um de seus maiores amores: a Santíssima Eucaristia – o Sacramento do Amor. A ela confiou toda a Igreja de nosso país e seus futuros caminhos de evangelização e pastoreio das almas.

O papa partiu para Roma antes do encerramento do congresso, que se deu no dia 13 de julho. Mesmo assim, fez questão de enviar uma mensagem de encerramento, demonstrando seu carinho e proximidade:

“A Igreja no Brasil veio exatamente procurar uma resposta aos pés da Eucaristia. E espero que tenha encontrado essa resposta; e espero também que irá continuar a encontrá-la constantemente, prestando ouvidos à Palavra do Senhor, entrando no Seu Coração e haurindo neste Amor, que é mais forte do que todos os males, e perseverando naquela fraternidade e na paz que somente Ele, Jesus Cristo, pode dar ao homem e ao mundo.” 2


Um carisma inconfundível


Embora não nos seja possível contar em detalhes toda a atividade do papa nestes dias no Brasil, sabemos que em todas as cidades que passou, São João Paulo II teve grandes momentos de proximidade com os fiéis. Em Belo Horizonte, o papa percorreu diversos quilômetros em seu papamóvel, saudando a população, e celebrou uma missa para milhares de pessoas reunidas aos pés da Serra do Curral.

Já em Porto Alegre,  a multidão também se reunia para a recepção do Papa na praça em frente à Catedral metropolitana, e milhares de jovens acamparam para garantir seu lugar na missa campal que aconteceu no dia seguinte. Muito acolhedor, o Papa aceitou tomar um chimarrão e também colocar um chapéu típico da vestimenta gaúcha.

Quando chegou a Curitiba, a multidão já se aglomerava para ver o papa. Foram mais de 700 mil pessoas reunidas para participar da missa celebrada pelo Santo Padre. Contando com uma grande colônia polonesa no Paraná, o papa recebeu muito carinho dos fiéis e ficou encantado com uma menina que usava um traje típico da Cracóvia, cidade natal dele. Depois, em Recife, foi a vez de celebrar para mais de 500 mil pessoas no viaduto Capitão Temudo, no Centro da cidade. 

Em Belém, 300 mil pessoas reuniram-se para a missa com São João Paulo II. Ele também aproveitou o tempo na capital para visitar, em Marituba, a maior colônia de pessoas com hanseníase na região. Depois, passou por Manaus, onde mais uma multidão o aguardava. Lá, teve a oportunidade de celebrar uma procissão fluvial no Encontro das Águas. Depois, em Teresina, mais uma multidão o esperava com inúmeros presentes, entre eles um chapéu de couro típico da região.

Por fim, em Fortaleza, além da abertura do Congresso Eucarístico, São João Paulo II também foi homenageado por Luiz Gonzaga, que tocou “Asa Branca”, além de reunir mais de 1 milhão de pessoas para a missa campal.

Depois de sua visita por tantos lugares de nosso país fortaleceu-se ainda mais o amor que o Brasil já tinha pelo Santo Padre. Seu carinho pelo povo, proximidade, simplicidade e amor conquistaram a todos, que se emocionaram com sua presença, suas palavras e também com alguns momentos especiais de seu inconfundível carisma.

1991: Segunda visita de João Paulo II ao Brasil


A segunda visita do Santo Padre a nosso país foi tão marcante quanto a primeira. De 12 a 21 de outubro de 1991, São João Paulo II esteve em solo brasileiro e passou por dez capitais: Natal, São Luís, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, Florianópolis, Vitória, Maceió e Salvador.

Como na primeira viagem apostólica, a passagem pelas cidades foi rápida e intensa, garantindo muitos momentos marcantes a todo o povo brasileiro.

Duas ocasiões, de forma especial, marcaram muito a visita papal. A primeira delas ocorreu em Salvador, quando o papa decidiu mudar o roteiro programado para ir à cidade e visitar Irmã Dulce, que se encontrava internada em estado grave de saúde. A segunda se trata da beatificação de Madre Paulina, em Florianópolis.

Além destas, o Santo Padre também visitou as demais cidades. Um dos primeiros destinos do papa foi Natal, onde encerrou o Congresso Nacional Eucarístico, no dia 12 de outubro, com milhares de pessoas reunidas para vê-lo – como já era esperado. No dia seguinte, o Papa já estava na capital do Maranhão, São Luís, para que outra multidão pudesse vê-lo. A missa foi celebrada para mais de 300 mil pessoas. Em Brasília, a cidade parou para ver o Santo Padre e recebeu-o com muito carinho – mais uma multidão se formava para ver um santo em vida.

Quando estava em Maceió, João Paulo II passava pelas ruas, quando avistou um grupo de jovens em situação de vulnerabilidade. Nessa visita, deu ao bispo a missão de criar uma casa de acolhimento para essa juventude e tirá-los das ruas. Dessa incumbência papal nasceu a Fundação João Paulo II, com a Casa Dom Bosco para os meninos, e Casa Maria Auxiliadora para meninas, que funcionam até hoje e atendem jovens de 12 a 17 anos.

Em Goiânia foram poucas horas de permanência, mas inesquecíveis para todo o povo. O papa foi recebido por uma multidão, que o viu passar de papamóvel e depois ouviu seu discurso atentamente, com inúmeros aplausos. Em Campo Grande, outra multidão o esperava para a celebração da Santa Missa, com cerca de 100 mil pessoas.


A beatificação de Madre Paulina


Em 18 de outubro, foi a vez de Santa Catarina receber o papa. Florianópolis acolheu o Santo Padre para a beatificação de Madre Paulina. Sua canonização se daria, posteriormente, em 2002, também por João Paulo II.

Para a beatificação, a cidade estava em festa por ver uma de suas filhas sendo declarada beata da Igreja. Uma multidão acompanhou a celebração e se emocionou com as belas palavras do Santo Padre. Na homilia, São João Paulo II recordou a importância de que, no Brasil surjam cada vez mais santos:

“Que o exemplo de Madre Paulina possa inspirar a todos uma resposta decidida, generosa, ao chamado de Cristo à santidade! Confio à proteção materna da Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Desterro como A venerais aqui em Florianópolis, o presente e o futuro da Igreja no Brasil. Ela precisa, hoje, mais do que nunca, de santos!” 3


Uma visita inesperada: Irmã Dulce recebe a bênção papal no leito de morte


Em 20 de outubro de 1991, o papa teve seu segundo e último encontro com Irmã Dulce. Em um primeiro momento, Salvador não estava incluída nesta segunda visita papal, mas quando São João Paulo II soube que a freira baiana estava hospitalizada e em estado grave, fez questão de mudar a programação para poder visitá-la pessoalmente. 

Irmã Dulce já estava internada havia nove meses por complicações pulmonares, que se agravaram com o passar do tempo e a idade já avançada de 77 anos. Encontrava-se no hospital Santo Antônio, em Salvador, que ela mesmo fundou e que havia sido inaugurado em 1983. Seu estado já era bem debilitado: já não podia falar e se mexer, e precisava de um aparelho de ventilação artificial.

São João Paulo II esteve com ela por cerca de 10 minutos. Segurou sua mão, já emocionado, e fez uma oração. A freira, não podendo falar, olhava-o fixamente com os olhos marejados em lágrimas. Tentou acenar para o papa, mas sem sucesso. Ao final da visita, o Santo Padre deixou-lhe um terço de presente, e recebeu um arranjo de flores como presente da família.

Irmã Dulce morreria em menos de cinco meses após a visita, em 14 de março de 1992.

1997: Terceira visita de João Paulo II ao Brasil


A terceira visita de São João Paulo II ao Brasil foi a mais breve de todas. Dessa vez, o papa permaneceu apenas quatro dias em nosso país, de 2 a 6 de outubro de 1997. A cidade escolhida para sua vinda foi o Rio de Janeiro, por ocasião do Encontro Mundial com as Famílias. 

Em uma missa campal, no aterro do Flamengo, foram reunidas mais de 2 milhões de pessoas. Na homilia, bem como em todo o Encontro, o Santo Padre falou intensamente sobre as grandes questões que assolam as famílias modernas e suas ameaças, como o uso de contraceptivos, o divórcio e o aborto. Em todos os discursos, condenou veementemente todas essas questões, defendendo o valor da família e sua sacralidade. De forma especial, insistiu na defesa da vida desde sua concepção.

Em um de seus discursos, no Cristo Redentor, São João Paulo II conquistou o coração de todos ao fazer uma brincadeira que ganhou o país: “Se Deus é brasileiro, o papa é carioca!”. Embora com a saúde um pouco mais debilitada, o carisma e a simpatia continuavam presentes como sempre.

No discurso para as famílias, durante o Encontro Mundial, o Papa exortava:

“A família é patrimônio da humanidade, porque é mediante a família que, conforme o desígnio de Deus, deve-se prolongar a presença do homem sobre a terra. Nas famílias cristãs, fundadas no sacramento do matrimônio, a fé nos vislumbra maravilhosamente o rosto de Cristo, esplendor da verdade, que enche de luz e de alegria os lares que inspiram a sua vida no Evangelho.

Hoje, infelizmente, vai-se difundindo pelo mundo uma mensagem enganosa de felicidade impossível e inconsistente, que só arrasta consigo desolação e amargura. A felicidade não se consegue pela via da liberdade sem a verdade, porque esta é a via do egoísmo irresponsável, que divide e corrói a família e a sociedade.

Não é verdade que os esposos, como se fossem escravos condenados à sua própria fragilidade, não possam permanecer fiéis à sua entrega total até à morte! O Senhor, que vos chama a viver na unidade de “uma só carne”, unidade de corpo e alma, unidade da vida toda, dá-vos força para uma fidelidade que enobrece e que faz com que a vossa união não corra o risco da traição que rouba a dignidade e a felicidade e introduz, no seio do lar, divisão e amargura cujas maiores vítimas são os filhos. A melhor defesa do lar está na fidelidade que é uma dádiva do Deus fiel e misericordioso, num amor por Ele redimido.” 4

O Brasil foi privilegiado com tantas visitas deste Santo Papa, que percorreu o país de ponta a ponta e deixou sua marca em cada lugar que visitou. Sem dúvidas, foram muitos os frutos alcançados com sua presença, seja por meio de discursos, missas, ou acenando carinhosamente para as multidões no papamóvel. Como um farol, São João Paulo II passou iluminando toda escuridão com seu rastro de santidade, levando o Evangelho de Nosso Senhor a todas as nações.

Você esteve presente em alguma dessas visitas? Conte sua experiência para nós aqui nos comentários!

São João Paulo II, rogai por nós!

Referências

  1. Homilia do Papa João Paulo II durante a santa missa na Basílica Nacional de Aparecida, 4 de julho de 1980[]
  2. Mensagem do Papa João Paulo II à Igreja do Brasil no Décimo Congresso Eucarístico, 13 de julho de 1980[]
  3. Homilia de São João Paulo II na Beatificação de Madre Paulina, 18 de outubro de 1991[]
  4. Discurso do Papa João Paulo II no Encontro com as Famílias de todo o mundo, em 4 de outubro de 1997[]

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