Formação

Hierarquia da Igreja Católica

Você conhece a hierarquia da Igreja Católica? Por que tantos cargos, com tantas nomenclaturas diferentes? Entenda a diferença entre eles

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Você conhece a hierarquia da Igreja Católica? Por que tantos cargos, com tantas nomenclaturas diferentes? Entenda a diferença entre eles

Data da Publicação: 03/12/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 03/12/2025
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Autor: Redação MBC

Você conhece a hierarquia da Igreja Católica? Por que a Igreja tem tantos cargos, com tantas nomenclaturas diferentes? Qual é a real diferença entre um bispo, um arcebispo e um cardeal?

Muitas vezes, mesmo sendo católicos, cultivamos um amor pelo Papa sem compreender profundamente por que seu ministério é tão essencial para a vida da Igreja. Ele ocupa o lugar de Pedro e exerce um papel singular na comunhão e na unidade dos fiéis. No entanto, a missão confiada por Cristo à sua Igreja se realiza por meio de uma estrutura mais ampla, formada por bispos, presbíteros e diáconos em comunhão com o Sucessor de Pedro. Neste artigo, vamos explorar como se organiza essa hierarquia, qual é sua missão e por que ela é indispensável para a fidelidade da Igreja à sua origem apostólica.

O que é a hierarquia da Igreja Católica?

Ao ouvir falar em “hierarquia da Igreja”, é comum que alguns imaginem uma espécie de elite que, de cima para baixo, impõe-se de forma autoritária sobre os demais fiéis. Essa visão, contudo, é equivocada e não encontra fundamento na realidade da fé católica.

A hierarquia da Igreja é, na verdade, a estrutura visível instituída pelo próprio Jesus Cristo para servir ao seu Corpo Místico. Trata-se de uma organização desejada por Nosso Senhor desde a fundação da Igreja, com a missão de anunciar e concretizar o projeto de salvação inaugurado na Cruz Redentora.

Ainda que haja distinções de ministérios e serviços dentro da Igreja, estabelecidas pelo próprio Cristo, todos eles cooperam para a mesma unidade e missão, que brotam do sacramento do Batismo — comum a todos os fiéis.

Aos Apóstolos e seus sucessores, o Senhor confiou explicitamente o múnus de ensinar, santificar e governar em Seu nome e com Sua autoridade. Aos fiéis leigos, por sua vez, é conferida a missão própria de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo (cf. Apostolicam Actuositatem, 2).

Além disso, tanto no seio da hierarquia como entre os leigos, há fiéis chamados a viver os conselhos evangélicos — castidade, pobreza e obediência — por meio da vida consagrada. Mesmo sem pertencer formalmente à estrutura hierárquica, os consagrados participam de maneira íntima da vida e da santidade da Igreja (cf. CIC, cân. 207 §2).

A hierarquia da Igreja Católica tem fundamento nas Sagradas Escrituras

A origem da hierarquia da Igreja Católica está enraizada nas próprias palavras e ações de Jesus Cristo, o Pastor Eterno. Foi Ele quem edificou a Igreja, enviando os Apóstolos assim como o Pai O havia enviado: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21).

Depois de rezar ao Pai, Jesus chamou os que Ele quis e escolheu doze para estarem com Ele, enviando-os a pregar o Reino de Deus (cf. Mc 3,13-19; Mt 10,1-42). Constituiu-os Apóstolos (cf. Lc 6,13) e os formou como um colégio, conferindo-lhes estabilidade diante das dificuldades do mundo. Assim, assistidos pelo Espírito Santo, especialmente no dia de Pentecostes (cf. At 2,1-36), puderam anunciar o Evangelho com fidelidade e autoridade (cf. Mc 16,20).

Entre os Doze, Jesus confiou a Pedro uma missão singular: apascentar o seu rebanho e exercer a presidência visível sobre a Igreja (cf. Jo 21,15-17). Os Atos dos Apóstolos testemunham com clareza essa estrutura hierárquica em ação: Pedro conduz a escolha de Matias para substituir Judas (cf. At 1,15-26), toma a palavra no dia de Pentecostes (cf. At 2,14-39), e guia os Apóstolos e anciãos no primeiro Concílio da Igreja, em Jerusalém (cf. At 15,1-35).

Essa configuração hierárquica — querida por Cristo, confirmada pelas Escrituras e transmitida fielmente pela Tradição — garantiu que a Igreja se difundisse rapidamente, de maneira ordenada e perseverante, mesmo em meio a perseguições.

A hierarquia eclesiástica é, portanto, o instrumento visível pelo qual Cristo continua a guiar a sua Igreja, cumprindo a promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Por meio dos pastores sagrados — especialmente no exercício do magistério —, o Senhor continua a apascentar o seu povo com segurança, sobretudo no que se refere à fé e à moral.

O primado de Pedro

Em dois momentos decisivos do Evangelho, Jesus deixa claro aos Doze Apóstolos — e a toda a Igreja nascente — que Simão Pedro teria o primado dentro do colégio apostólico.

O primeiro ocorre antes da Paixão, Morte e Ressurreição, quando, no capítulo 16 do Evangelho segundo São Mateus, Jesus profere palavras fundamentais: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,17-19). É a cena mais emblemática da instituição do primado de Pedro.

O segundo momento se dá após a Ressurreição, em um diálogo profundamente restaurador. Mesmo depois da tríplice negação, Jesus, agora ressuscitado, dirige-se novamente a Pedro para reafirmar sua missão. Às margens do lago, Cristo lhe confia, de modo definitivo, o pastoreio de seu rebanho: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15-19). Com isso, o Senhor confirma Pedro como o chefe visível do colégio apostólico, à frente da Igreja, pouco antes de sua Ascensão aos céus.

Esse primado tem como fundamento a necessidade de unidade. Embora os Apóstolos tenham sido enviados para pregar o mesmo Evangelho, era preciso um princípio de comunhão visível, para garantir a integridade da fé e da missão. Ao constituir Pedro como cabeça do colégio apostólico, Cristo instituiu um sinal perpétuo de unidade doutrinal e eclesial.

Assim, Pedro torna-se o Vigário de Cristo, a cabeça visível da Igreja, e, unido aos demais Apóstolos, governa a casa de Deus vivo (cf. Lumen Gentium, 18).

Os sucessores dos Apóstolos

Durante sua vida terrena, Jesus escolheu doze homens para serem Apóstolos — testemunhas autênticas de seus ensinamentos e de sua Ressurreição. Após a Ascensão, com a ausência de Judas Iscariotes, que havia traído o Senhor e deixado vago o seu ministério, tornou-se necessário escolher um substituto. É nesse contexto que ocorre a eleição de São Matias, como narrado em Atos 1,15-26 — um momento marcante que inaugura o princípio da sucessão apostólica.

Essa sucessão garante que a hierarquia da Igreja permaneça em comunhão com o próprio Cristo e com a verdade do Evangelho. Mesmo após a morte dos Apóstolos, a missão confiada por Jesus continuou por meio de homens escolhidos e formados por eles, encarregados de perpetuar o anúncio da salvação.

Desde os primeiros tempos, entre os diversos ministérios da Igreja, o episcopado sempre ocupou lugar central. Como ensina o Concílio Vaticano II: “Entre os vários ministérios que na Igreja se exercem desde os primeiros tempos, consta da Tradição que o principal é o daqueles que, constituídos no episcopado em sucessão ininterrupta, são transmissores do múnus apostólico. E assim, como testemunha Santo Irineu, a Tradição apostólica é manifestada em todo o mundo e guardada por aqueles que, pelos Apóstolos, foram constituídos bispos e seus sucessores” (Lumen Gentium, 20).

Isso significa que, se tomarmos qualquer bispo católico hoje e rastrearmos, passo a passo, a linhagem de ordenações episcopais que o precedeu, chegaremos, com certeza, até os próprios Apóstolos. Todos os bispos, portanto, sucedem aos Apóstolos como pastores da Igreja. É por isso que a Igreja reconhece: “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos rejeita, a mim rejeita” (Lc 10,16).

A hierarquia da Igreja Católica: Papa, bispos, padres… quem são todas essas figuras?

Antes de detalharmos os diferentes cargos eclesiásticos, é importante compreender que, sob o aspecto sacramental, a hierarquia da Igreja Católica se estrutura em três graus do Sacramento da Ordem: o diaconato (primeiro grau), o presbiterato (segundo grau) e o episcopado (terceiro grau), este último considerado a plenitude do sacramento.

Os dois primeiros graus — diáconos e presbíteros (padres) — serão explicados mais adiante. Quanto ao episcopado, vale destacar que ele constitui o mais alto grau da ordem sagrada, mas que dentro dele há distinções de função e autoridade, não de sacramento. Isso significa que Papa, cardeais (em sua maioria), arcebispos, bispos e patriarcas recebem o mesmo sacramento — o episcopado — embora exerçam ministérios diferentes dentro da estrutura da Igreja.

Muitas vezes, as diferenças nos títulos e nos hábitos eclesiásticos podem causar confusão, mas todos esses ministros partilham do mesmo grau sacramental e estão unidos no serviço ao povo de Deus, conforme a missão que lhes foi confiada.

Papa

O Papa é o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, a quem Cristo confiou um múnus singular: ser princípio visível de unidade da fé, cabeça do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e Pastor da Igreja universal aqui na terra (cf. CIC, cân. 331).

Por esse múnus, o Papa possui, na Igreja, um poder ordinário, supremo, pleno, imediato e universal, que pode exercer sempre, livremente e em qualquer lugar (cf. Pastor Aeternus).

Além de sua autoridade espiritual sobre toda a Igreja, o Papa também é Chefe da Igreja Latina, Bispo da Diocese de Roma, Primaz da Itália e Chefe do Estado da Cidade do Vaticano. Historicamente assumiu ainda o título de Patriarca do Ocidente.

Atualmente, a Cátedra de Pedro está ocupada por Robert Francis Prevost, eleito em 8 de maio de 2025 como 267.º Sucessor de Pedro, com o nome pontifical Leão XIV. Nascido em Chicago (EUA), Prevost pertence à Ordem de Santo Agostinho, é o primeiro papa americano e o segundo pontífice das Américas, assumindo o ministério petrino num momento importante para a Igreja. 

A eleição do Papa é realizada pelo Colégio de Cardeais, reunido em conclave, sem limite de idade para eleição e com mandato vitalício, salvo renúncia (como prevê o Código de Direito Canônico).

Cardeais

Os cardeais da Santa Igreja Romana formam um Colégio cuja principal missão é eleger o novo Papa, conforme as normas estabelecidas pelo Direito Canônico. Além disso, auxiliam o Sumo Pontífice em seu governo da Igreja: seja individualmente, nos ofícios que lhes são confiados, seja de forma colegiada, quando convocados para tratar de questões importantes (cf. CIC, cân. 349).

Os cardeais podem ser escolhidos entre bispos, padres ou até diáconos. Contudo, é costume que, ao serem nomeados, sejam também ordenados bispos, caso ainda não o sejam. Essa ordenação episcopal, porém, não é obrigatória: o Papa pode dispensar dela em casos particulares. Um exemplo notável é o do teólogo Henri de Lubac (1896–1991), que foi criado cardeal mesmo sem ter recebido a ordenação episcopal.

O número de cardeais variou ao longo da história. Hoje, o limite de cardeais eleitores — ou seja, com menos de 80 anos e, portanto, aptos a votar em um conclave — é de 120. Já o número total de cardeais, incluindo os com mais de 80 anos, pode ser maior e varia conforme as circunstâncias e as necessidades da Igreja.

Bispos

Os bispos, por instituição divina, são os legítimos sucessores dos Apóstolos e, por isso, verdadeiros pastores da Igreja. A eles compete o tríplice múnus: ensinar, santificar e governar o povo de Deus. São mestres da doutrina, ministros do culto sagrado e guias espirituais das comunidades que lhes são confiadas.

Esse ministério só pode ser exercido em comunhão com a cabeça do Colégio — o Papa — e com os demais bispos, formando juntos a unidade visível da Igreja (cf. CIC, cân. 375).

Quando um bispo é encarregado do cuidado de uma diocese, é chamado bispo diocesano. Aqueles que não possuem jurisdição sobre uma diocese específica, mas exercem outras funções, são denominados bispos titulares. O Papa é quem nomeia diretamente os bispos ou confirma legitimamente os que foram eleitos.

Para que um sacerdote seja escolhido e ordenado bispo, deve reunir algumas condições: fé sólida, piedade, zelo pastoral, boa reputação, idade mínima de 35 anos, ao menos cinco anos de sacerdócio, e, geralmente, possuir o grau de doutorado ou especialização em teologia ou disciplinas afins.

O bispo diocesano permanece no governo pastoral da diocese até os 75 anos, quando, conforme o Código de Direito Canônico, deve apresentar sua renúncia ao Santo Padre (cf. CIC, cân. 401). Ao se tornar bispo emérito, mantém toda a dignidade própria do sacramento da ordem episcopal, embora fique dispensado das responsabilidades administrativas.

Em dioceses muito extensas ou com necessidades pastorais particulares, podem ser nomeados bispos coadjutores — com direito à sucessão — ou bispos auxiliares, que colaboram com o bispo diocesano no cuidado do rebanho (cf. CIC, cân. 403).

Arcebispo

O arcebispo é um bispo que lidera uma arquidiocese, geralmente uma das dioceses mais antigas e importantes de uma determinada região. Essa arquidiocese forma, com outras dioceses próximas, uma província eclesiástica (cf. CIC, cân. 435).

As dioceses que pertencem a essa mesma província são chamadas dioceses sufragâneas — ou seja, dioceses ligadas à arquidiocese principal, formando uma região pastoral. O arcebispo, também chamado metropolita, não governa essas dioceses, mas tem um papel de unidade, orientação e auxílio, especialmente em situações específicas previstas pela Igreja.

Por exemplo, a Arquidiocese de São Paulo é a sede metropolitana de uma província eclesiástica que inclui outras dioceses vizinhas, como Santo Amaro e Campo Limpo.

Patriarca e Primaz

A palavra patriarca significa literalmente “superpai” e é um título antigo na tradição da Igreja. No Ocidente, o único patriarca com jurisdição real é o Papa, que é o Patriarca do Ocidente — embora esse título seja hoje raramente utilizado.

No Oriente, porém, o título de patriarca tem valor canônico mais forte. Devido à diversidade de ritos orientais católicos, há vários patriarcas, cada um com jurisdição própria sobre os metropolitas, bispos e fiéis de seu respectivo rito e território. Nesses casos, o patriarca exerce uma verdadeira autoridade eclesiástica, embora sempre em comunhão com o Papa.

No rito latino, o título de patriarca é, em geral, honorífico e não confere poderes adicionais de governo. O Papa pode concedê-lo a alguns bispos em reconhecimento à importância histórica de suas sedes. É o caso, por exemplo, do Arcebispo de Lisboa e de alguns bispos da Espanha. Esses patriarcas ocidentais, porém, não têm jurisdição própria por causa do título (cf. CIC, cân. 438).

Já o título de primaz — que significa “o primeiro” — também é honorífico. Ele costuma ser concedido à diocese mais antiga de um país, independentemente de sua importância atual. No Brasil, por exemplo, a Arquidiocese de São Salvador da Bahia é reconhecida como a Sé Primacial, por ter sido a primeira sede episcopal do país. Esse título, porém, não dá ao arcebispo qualquer autoridade sobre as outras dioceses.

Presbíteros

Os presbíteros — também chamados padres — são ministros ordenados que participam do sacerdócio de Cristo em grau distinto dos bispos. Desde os primeiros séculos da Igreja, são reconhecidos como cooperadores diretos da ordem episcopal no serviço ao povo de Deus.

Como ensina o Concílio Vaticano II:

“Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), tornou os Bispos, sucessores dos Apóstolos, participantes da sua consagração e missão. Estes, por sua vez, transmitiram o múnus do seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos. Assim, o ministério eclesiástico, instituído por Deus, é exercido em ordens diversas por aqueles que, desde a Antiguidade, são chamados bispos, presbíteros e diáconos.” (Lumen Gentium, 28)

Constituindo o segundo grau do Sacramento da Ordem, os presbíteros são configurados a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, especialmente para a celebração da Eucaristia, o anúncio da Palavra e a administração dos sacramentos. De modo particular, celebram o Santo Sacrifício da Missa e o Sacramento da Reconciliação “in persona Christi”, ou seja, na pessoa do próprio Cristo.

A formação sacerdotal exige fé sólida, vida espiritual profunda, maturidade afetiva e intelectual, além de adequada preparação filosófico-teológica. A idade mínima para a ordenação presbiteral é, de modo ordinário, 25 anos.

Descubra mais: Qual é a importância do sacerdote para a Igreja?

Diferentes funções exercidas pelos presbíteros

Dentro da vida diocesana, muitos presbíteros exercem funções específicas, além do ministério paroquial. Algumas dessas atribuições têm caráter administrativo ou pastoral; outras são honoríficas. A seguir, apresentamos as principais:

Vigário geral: sacerdote escolhido pelo bispo para auxiliá-lo no governo da diocese, exercendo autoridade executiva ordinária em nome do bispo (cf. CIC, cân. 475).

Chanceler: responsável pela redação, autenticação e conservação dos documentos oficiais da cúria diocesana. Embora costume ser um sacerdote, o cargo também pode ser confiado a leigos (cf. CIC, cân. 482).

Ecônomo diocesano: cuida da administração financeira da diocese, organizando o orçamento e as despesas. Normalmente atua com o apoio de um conselho administrativo (cf. CIC, cân. 493).

Conselho presbiteral e colégio de consultores: grupos de sacerdotes que auxiliam o bispo nas decisões pastorais e administrativas da diocese (cf. CIC, cân. 495).

Cabido dos cônegos: corpo de presbíteros encarregado das funções litúrgicas mais solenes na catedral. Em muitas dioceses, é um título honorífico concedido a sacerdotes de destaque (cf. CIC, cân. 503).

Conselho pastoral diocesano: órgão consultivo composto por clérigos, religiosos e leigos, que auxilia o bispo na avaliação e planejamento das atividades pastorais (cf. CIC, cân. 511).

Pároco: sacerdote encarregado do cuidado de uma paróquia. É o pastor próprio da comunidade, com responsabilidade espiritual, administrativa e jurídica sobre o território paroquial (cf. CIC, cân. 519).

Vigário paroquial: sacerdote que colabora com o pároco nas tarefas pastorais e sacramentais da paróquia, conforme a necessidade local (cf. CIC, cân. 545).

Reitor de igreja ou santuário: presbítero designado para cuidar de uma igreja que não seja paroquial, como um santuário, capela pública ou igreja histórica (cf. CIC, cân. 556).

Capelão: sacerdote encarregado da assistência espiritual de uma comunidade ou grupo específico de fiéis, como hospitais, universidades, prisões ou instituições militares (cf. CIC, cân. 564).

Diáconos

O diaconato é o primeiro grau do Sacramento da Ordem e tem suas raízes na própria Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja. No livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos a eleição dos sete primeiros diáconos, escolhidos para servir às necessidades concretas da comunidade cristã nascente. A eles foi confiada a assistência aos pobres, órfãos e viúvas, bem como o serviço à mesa, para que os Apóstolos pudessem dedicar-se inteiramente à oração e à pregação da Palavra (cf. At 6,1-7).

Os diáconos integram o primeiro grau da hierarquia da Igreja, servindo de modo singular ao povo de Deus no anúncio da Palavra, na caridade e no altar. São colaboradores dos bispos e presbíteros, especialmente na proclamação do Evangelho, na administração de alguns sacramentos — como o Batismo e o Matrimônio — e na distribuição da Eucaristia.

Na Igreja, há dois tipos de diáconos: os diáconos transitórios e os diáconos permanentes.
Os diáconos transitórios são aqueles que recebem o primeiro grau da ordem como etapa do caminho rumo ao presbiterato — normalmente seminaristas em fase final de formação. Já os diáconos permanentes são homens que permanecem neste grau, podendo ser casados (se o matrimônio tiver ocorrido antes da ordenação), e se dedicam estável e vitaliciamente ao serviço da Palavra, do altar e da caridade, conforme as normas da Igreja (cf. Lumen Gentium, 29).

Mesmo não sendo sacerdotes, os diáconos são ordenados para servir sacramentalmente ao povo de Deus, configurando-se a Cristo Servo.

Leigos

“Por leigos entendem-se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, a missão de todo o Povo cristão na Igreja e no mundo.”
(Lumen Gentium, 31)

Embora não façam parte da hierarquia da Igreja, os leigos têm um papel essencial na vida e na missão da Igreja. Eles são chamados a santificar o mundo a partir de dentro, transformando as realidades temporais com o espírito do Evangelho e testemunhando Cristo nas mais diversas situações da vida cotidiana. Quando vivem sua vocação de forma fiel, segundo os dons e carismas que receberam, sua contribuição se torna indispensável para o bem e a fecundidade da Igreja (cf. LG 30).

A relação entre os leigos e os pastores da Igreja deve ser marcada por colaboração respeitosa, escuta recíproca e comunhão de missão. Os leigos têm não apenas o direito, mas também o dever de manifestar seus pareceres, sobretudo nas questões que tocam o bem da Igreja, seja em aspectos espirituais, seja temporais. Essa participação é um verdadeiro serviço ao Corpo de Cristo, e os pastores são chamados a escutar com atenção e discernimento as contribuições dos fiéis. Por outro lado, os leigos, em espírito de fé e comunhão, são chamados a acolher com docilidade e obediência cristã as orientações legítimas dos pastores — que não governam em nome próprio, mas como servos da Palavra e guias instituídos por Cristo (cf. Lumen Gentium, 37).

A dimensão secular é própria da vocação leiga. Os leigos são chamados a viver sua fé no meio do mundo, santificando o tempo, a cultura, o trabalho, a política e a família. É no cotidiano que devem anunciar o Evangelho com a vida, sendo sinal da Ressurreição de Cristo para todos.

“Todos em conjunto, e cada um por sua parte, devem alimentar o mundo com frutos espirituais (cf. Gl 5,22) e nele difundir aquele espírito que anima os pobres, mansos e pacíficos, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (cf. Mt 5,3-9). Numa palavra, sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo.”
(Lumen Gentium, 38)

Consagrados e religiosos na Hierarquia da Igreja Católica

Os religiosos e consagrados oferecem, por meio de seu estado de vida, um testemunho eloquente de que o mundo só pode ser verdadeiramente transformado e oferecido a Deus no espírito das bem-aventuranças (cf. Lumen Gentium, 43–47). Com seus votos de castidade, pobreza e obediência, entregam-se totalmente a Cristo, antecipando, já neste mundo, a realidade escatológica do Reino de Deus.

A Igreja sempre reconheceu esse estado de vida como um dom divino, e o incentivou tanto em formas solitárias quanto comunitárias, seja de vida contemplativa ou apostólica.

O estado de vida consagrado não é um “meio-termo” entre leigos e clérigos. Trata-se de uma vocação distinta, comum a ambos os estados: existem leigos consagrados e também clérigos religiosos — homens e mulheres que, respondendo ao chamado de Deus, vivem os conselhos evangélicos em uma consagração pública reconhecida pela Igreja (cf. Lumen Gentium, 43).

Cabe à hierarquia da Igreja, com prudência e sabedoria pastoral, acompanhar, discernir e orientar a vivência dos conselhos evangélicos nas diversas formas de vida consagrada. Trata-se de um estado de vida legítimo, estável e reconhecido canonicamente, que enriquece a Igreja com seu testemunho radical do seguimento de Cristo (cf. Lumen Gentium, 45).

Hierarquia e vida laical complementam-se

Ainda que leigos e religiosos não façam parte da estrutura hierárquica da Igreja, exercem um papel complementar e essencial para a vida eclesial. A missão confiada por Cristo à hierarquia só se realiza plenamente com a participação ativa, orante e fiel de todo o povo de Deus.

Uma das mais importantes responsabilidades dos leigos é sustentar os pastores com a oração constante. No Evangelho, vemos o próprio Jesus advertindo Pedro sobre os perigos espirituais que enfrentaria, e ao mesmo tempo garantindo-lhe sua intercessão:

“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.”
(cf. Lc 22,31-32)

A confiança na hierarquia da Igreja não se baseia em perfeições humanas, mas na certeza de que ela foi instituída por Cristo e é assistida pelo Espírito Santo. Por meio dela, o Senhor continua a conduzir sua Igreja na verdade, mesmo após ter subido aos céus. Embora composta por homens limitados e pecadores, a hierarquia, quando ensina oficialmente em matéria de fé e moral, conta com o dom da infalibilidade, garantido pelo próprio Cristo à sua Igreja.

É verdade que, ao longo da história, não faltaram momentos em que alguns pastores falharam gravemente em sua missão de guardar o rebanho e preservar a pureza da fé. Em tempos assim, a tentação é pensar que a Igreja foi abandonada por Deus. No entanto, é justamente nesses momentos que somos chamados a professar, com ainda mais fé e esperança, que Cristo permanece à frente da barca — e que, por mais que vacile a fidelidade humana, o Espírito Santo jamais deixa de assistir a sua Igreja.

Crer na hierarquia da Igreja é crer que, por meio dela, a mesma fé dos Apóstolos continua a ser anunciada com fidelidade, até que Cristo venha.

Redação MBC

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Muitas vezes, mesmo sendo católicos, cultivamos um amor pelo Papa sem compreender profundamente por que seu ministério é tão essencial para a vida da Igreja. Ele ocupa o lugar de Pedro e exerce um papel singular na comunhão e na unidade dos fiéis. No entanto, a missão confiada por Cristo à sua Igreja se realiza por meio de uma estrutura mais ampla, formada por bispos, presbíteros e diáconos em comunhão com o Sucessor de Pedro. Neste artigo, vamos explorar como se organiza essa hierarquia, qual é sua missão e por que ela é indispensável para a fidelidade da Igreja à sua origem apostólica.

O que é a hierarquia da Igreja Católica?

Ao ouvir falar em “hierarquia da Igreja”, é comum que alguns imaginem uma espécie de elite que, de cima para baixo, impõe-se de forma autoritária sobre os demais fiéis. Essa visão, contudo, é equivocada e não encontra fundamento na realidade da fé católica.

A hierarquia da Igreja é, na verdade, a estrutura visível instituída pelo próprio Jesus Cristo para servir ao seu Corpo Místico. Trata-se de uma organização desejada por Nosso Senhor desde a fundação da Igreja, com a missão de anunciar e concretizar o projeto de salvação inaugurado na Cruz Redentora.

Ainda que haja distinções de ministérios e serviços dentro da Igreja, estabelecidas pelo próprio Cristo, todos eles cooperam para a mesma unidade e missão, que brotam do sacramento do Batismo — comum a todos os fiéis.

Aos Apóstolos e seus sucessores, o Senhor confiou explicitamente o múnus de ensinar, santificar e governar em Seu nome e com Sua autoridade. Aos fiéis leigos, por sua vez, é conferida a missão própria de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo (cf. Apostolicam Actuositatem, 2).

Além disso, tanto no seio da hierarquia como entre os leigos, há fiéis chamados a viver os conselhos evangélicos — castidade, pobreza e obediência — por meio da vida consagrada. Mesmo sem pertencer formalmente à estrutura hierárquica, os consagrados participam de maneira íntima da vida e da santidade da Igreja (cf. CIC, cân. 207 §2).

A hierarquia da Igreja Católica tem fundamento nas Sagradas Escrituras

A origem da hierarquia da Igreja Católica está enraizada nas próprias palavras e ações de Jesus Cristo, o Pastor Eterno. Foi Ele quem edificou a Igreja, enviando os Apóstolos assim como o Pai O havia enviado: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21).

Depois de rezar ao Pai, Jesus chamou os que Ele quis e escolheu doze para estarem com Ele, enviando-os a pregar o Reino de Deus (cf. Mc 3,13-19; Mt 10,1-42). Constituiu-os Apóstolos (cf. Lc 6,13) e os formou como um colégio, conferindo-lhes estabilidade diante das dificuldades do mundo. Assim, assistidos pelo Espírito Santo, especialmente no dia de Pentecostes (cf. At 2,1-36), puderam anunciar o Evangelho com fidelidade e autoridade (cf. Mc 16,20).

Entre os Doze, Jesus confiou a Pedro uma missão singular: apascentar o seu rebanho e exercer a presidência visível sobre a Igreja (cf. Jo 21,15-17). Os Atos dos Apóstolos testemunham com clareza essa estrutura hierárquica em ação: Pedro conduz a escolha de Matias para substituir Judas (cf. At 1,15-26), toma a palavra no dia de Pentecostes (cf. At 2,14-39), e guia os Apóstolos e anciãos no primeiro Concílio da Igreja, em Jerusalém (cf. At 15,1-35).

Essa configuração hierárquica — querida por Cristo, confirmada pelas Escrituras e transmitida fielmente pela Tradição — garantiu que a Igreja se difundisse rapidamente, de maneira ordenada e perseverante, mesmo em meio a perseguições.

A hierarquia eclesiástica é, portanto, o instrumento visível pelo qual Cristo continua a guiar a sua Igreja, cumprindo a promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Por meio dos pastores sagrados — especialmente no exercício do magistério —, o Senhor continua a apascentar o seu povo com segurança, sobretudo no que se refere à fé e à moral.

O primado de Pedro

Em dois momentos decisivos do Evangelho, Jesus deixa claro aos Doze Apóstolos — e a toda a Igreja nascente — que Simão Pedro teria o primado dentro do colégio apostólico.

O primeiro ocorre antes da Paixão, Morte e Ressurreição, quando, no capítulo 16 do Evangelho segundo São Mateus, Jesus profere palavras fundamentais: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,17-19). É a cena mais emblemática da instituição do primado de Pedro.

O segundo momento se dá após a Ressurreição, em um diálogo profundamente restaurador. Mesmo depois da tríplice negação, Jesus, agora ressuscitado, dirige-se novamente a Pedro para reafirmar sua missão. Às margens do lago, Cristo lhe confia, de modo definitivo, o pastoreio de seu rebanho: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15-19). Com isso, o Senhor confirma Pedro como o chefe visível do colégio apostólico, à frente da Igreja, pouco antes de sua Ascensão aos céus.

Esse primado tem como fundamento a necessidade de unidade. Embora os Apóstolos tenham sido enviados para pregar o mesmo Evangelho, era preciso um princípio de comunhão visível, para garantir a integridade da fé e da missão. Ao constituir Pedro como cabeça do colégio apostólico, Cristo instituiu um sinal perpétuo de unidade doutrinal e eclesial.

Assim, Pedro torna-se o Vigário de Cristo, a cabeça visível da Igreja, e, unido aos demais Apóstolos, governa a casa de Deus vivo (cf. Lumen Gentium, 18).

Os sucessores dos Apóstolos

Durante sua vida terrena, Jesus escolheu doze homens para serem Apóstolos — testemunhas autênticas de seus ensinamentos e de sua Ressurreição. Após a Ascensão, com a ausência de Judas Iscariotes, que havia traído o Senhor e deixado vago o seu ministério, tornou-se necessário escolher um substituto. É nesse contexto que ocorre a eleição de São Matias, como narrado em Atos 1,15-26 — um momento marcante que inaugura o princípio da sucessão apostólica.

Essa sucessão garante que a hierarquia da Igreja permaneça em comunhão com o próprio Cristo e com a verdade do Evangelho. Mesmo após a morte dos Apóstolos, a missão confiada por Jesus continuou por meio de homens escolhidos e formados por eles, encarregados de perpetuar o anúncio da salvação.

Desde os primeiros tempos, entre os diversos ministérios da Igreja, o episcopado sempre ocupou lugar central. Como ensina o Concílio Vaticano II: “Entre os vários ministérios que na Igreja se exercem desde os primeiros tempos, consta da Tradição que o principal é o daqueles que, constituídos no episcopado em sucessão ininterrupta, são transmissores do múnus apostólico. E assim, como testemunha Santo Irineu, a Tradição apostólica é manifestada em todo o mundo e guardada por aqueles que, pelos Apóstolos, foram constituídos bispos e seus sucessores” (Lumen Gentium, 20).

Isso significa que, se tomarmos qualquer bispo católico hoje e rastrearmos, passo a passo, a linhagem de ordenações episcopais que o precedeu, chegaremos, com certeza, até os próprios Apóstolos. Todos os bispos, portanto, sucedem aos Apóstolos como pastores da Igreja. É por isso que a Igreja reconhece: “Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos rejeita, a mim rejeita” (Lc 10,16).

A hierarquia da Igreja Católica: Papa, bispos, padres… quem são todas essas figuras?

Antes de detalharmos os diferentes cargos eclesiásticos, é importante compreender que, sob o aspecto sacramental, a hierarquia da Igreja Católica se estrutura em três graus do Sacramento da Ordem: o diaconato (primeiro grau), o presbiterato (segundo grau) e o episcopado (terceiro grau), este último considerado a plenitude do sacramento.

Os dois primeiros graus — diáconos e presbíteros (padres) — serão explicados mais adiante. Quanto ao episcopado, vale destacar que ele constitui o mais alto grau da ordem sagrada, mas que dentro dele há distinções de função e autoridade, não de sacramento. Isso significa que Papa, cardeais (em sua maioria), arcebispos, bispos e patriarcas recebem o mesmo sacramento — o episcopado — embora exerçam ministérios diferentes dentro da estrutura da Igreja.

Muitas vezes, as diferenças nos títulos e nos hábitos eclesiásticos podem causar confusão, mas todos esses ministros partilham do mesmo grau sacramental e estão unidos no serviço ao povo de Deus, conforme a missão que lhes foi confiada.

Papa

O Papa é o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, a quem Cristo confiou um múnus singular: ser princípio visível de unidade da fé, cabeça do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e Pastor da Igreja universal aqui na terra (cf. CIC, cân. 331).

Por esse múnus, o Papa possui, na Igreja, um poder ordinário, supremo, pleno, imediato e universal, que pode exercer sempre, livremente e em qualquer lugar (cf. Pastor Aeternus).

Além de sua autoridade espiritual sobre toda a Igreja, o Papa também é Chefe da Igreja Latina, Bispo da Diocese de Roma, Primaz da Itália e Chefe do Estado da Cidade do Vaticano. Historicamente assumiu ainda o título de Patriarca do Ocidente.

Atualmente, a Cátedra de Pedro está ocupada por Robert Francis Prevost, eleito em 8 de maio de 2025 como 267.º Sucessor de Pedro, com o nome pontifical Leão XIV. Nascido em Chicago (EUA), Prevost pertence à Ordem de Santo Agostinho, é o primeiro papa americano e o segundo pontífice das Américas, assumindo o ministério petrino num momento importante para a Igreja. 

A eleição do Papa é realizada pelo Colégio de Cardeais, reunido em conclave, sem limite de idade para eleição e com mandato vitalício, salvo renúncia (como prevê o Código de Direito Canônico).

Cardeais

Os cardeais da Santa Igreja Romana formam um Colégio cuja principal missão é eleger o novo Papa, conforme as normas estabelecidas pelo Direito Canônico. Além disso, auxiliam o Sumo Pontífice em seu governo da Igreja: seja individualmente, nos ofícios que lhes são confiados, seja de forma colegiada, quando convocados para tratar de questões importantes (cf. CIC, cân. 349).

Os cardeais podem ser escolhidos entre bispos, padres ou até diáconos. Contudo, é costume que, ao serem nomeados, sejam também ordenados bispos, caso ainda não o sejam. Essa ordenação episcopal, porém, não é obrigatória: o Papa pode dispensar dela em casos particulares. Um exemplo notável é o do teólogo Henri de Lubac (1896–1991), que foi criado cardeal mesmo sem ter recebido a ordenação episcopal.

O número de cardeais variou ao longo da história. Hoje, o limite de cardeais eleitores — ou seja, com menos de 80 anos e, portanto, aptos a votar em um conclave — é de 120. Já o número total de cardeais, incluindo os com mais de 80 anos, pode ser maior e varia conforme as circunstâncias e as necessidades da Igreja.

Bispos

Os bispos, por instituição divina, são os legítimos sucessores dos Apóstolos e, por isso, verdadeiros pastores da Igreja. A eles compete o tríplice múnus: ensinar, santificar e governar o povo de Deus. São mestres da doutrina, ministros do culto sagrado e guias espirituais das comunidades que lhes são confiadas.

Esse ministério só pode ser exercido em comunhão com a cabeça do Colégio — o Papa — e com os demais bispos, formando juntos a unidade visível da Igreja (cf. CIC, cân. 375).

Quando um bispo é encarregado do cuidado de uma diocese, é chamado bispo diocesano. Aqueles que não possuem jurisdição sobre uma diocese específica, mas exercem outras funções, são denominados bispos titulares. O Papa é quem nomeia diretamente os bispos ou confirma legitimamente os que foram eleitos.

Para que um sacerdote seja escolhido e ordenado bispo, deve reunir algumas condições: fé sólida, piedade, zelo pastoral, boa reputação, idade mínima de 35 anos, ao menos cinco anos de sacerdócio, e, geralmente, possuir o grau de doutorado ou especialização em teologia ou disciplinas afins.

O bispo diocesano permanece no governo pastoral da diocese até os 75 anos, quando, conforme o Código de Direito Canônico, deve apresentar sua renúncia ao Santo Padre (cf. CIC, cân. 401). Ao se tornar bispo emérito, mantém toda a dignidade própria do sacramento da ordem episcopal, embora fique dispensado das responsabilidades administrativas.

Em dioceses muito extensas ou com necessidades pastorais particulares, podem ser nomeados bispos coadjutores — com direito à sucessão — ou bispos auxiliares, que colaboram com o bispo diocesano no cuidado do rebanho (cf. CIC, cân. 403).

Arcebispo

O arcebispo é um bispo que lidera uma arquidiocese, geralmente uma das dioceses mais antigas e importantes de uma determinada região. Essa arquidiocese forma, com outras dioceses próximas, uma província eclesiástica (cf. CIC, cân. 435).

As dioceses que pertencem a essa mesma província são chamadas dioceses sufragâneas — ou seja, dioceses ligadas à arquidiocese principal, formando uma região pastoral. O arcebispo, também chamado metropolita, não governa essas dioceses, mas tem um papel de unidade, orientação e auxílio, especialmente em situações específicas previstas pela Igreja.

Por exemplo, a Arquidiocese de São Paulo é a sede metropolitana de uma província eclesiástica que inclui outras dioceses vizinhas, como Santo Amaro e Campo Limpo.

Patriarca e Primaz

A palavra patriarca significa literalmente “superpai” e é um título antigo na tradição da Igreja. No Ocidente, o único patriarca com jurisdição real é o Papa, que é o Patriarca do Ocidente — embora esse título seja hoje raramente utilizado.

No Oriente, porém, o título de patriarca tem valor canônico mais forte. Devido à diversidade de ritos orientais católicos, há vários patriarcas, cada um com jurisdição própria sobre os metropolitas, bispos e fiéis de seu respectivo rito e território. Nesses casos, o patriarca exerce uma verdadeira autoridade eclesiástica, embora sempre em comunhão com o Papa.

No rito latino, o título de patriarca é, em geral, honorífico e não confere poderes adicionais de governo. O Papa pode concedê-lo a alguns bispos em reconhecimento à importância histórica de suas sedes. É o caso, por exemplo, do Arcebispo de Lisboa e de alguns bispos da Espanha. Esses patriarcas ocidentais, porém, não têm jurisdição própria por causa do título (cf. CIC, cân. 438).

Já o título de primaz — que significa “o primeiro” — também é honorífico. Ele costuma ser concedido à diocese mais antiga de um país, independentemente de sua importância atual. No Brasil, por exemplo, a Arquidiocese de São Salvador da Bahia é reconhecida como a Sé Primacial, por ter sido a primeira sede episcopal do país. Esse título, porém, não dá ao arcebispo qualquer autoridade sobre as outras dioceses.

Presbíteros

Os presbíteros — também chamados padres — são ministros ordenados que participam do sacerdócio de Cristo em grau distinto dos bispos. Desde os primeiros séculos da Igreja, são reconhecidos como cooperadores diretos da ordem episcopal no serviço ao povo de Deus.

Como ensina o Concílio Vaticano II:

“Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), tornou os Bispos, sucessores dos Apóstolos, participantes da sua consagração e missão. Estes, por sua vez, transmitiram o múnus do seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos. Assim, o ministério eclesiástico, instituído por Deus, é exercido em ordens diversas por aqueles que, desde a Antiguidade, são chamados bispos, presbíteros e diáconos.” (Lumen Gentium, 28)

Constituindo o segundo grau do Sacramento da Ordem, os presbíteros são configurados a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, especialmente para a celebração da Eucaristia, o anúncio da Palavra e a administração dos sacramentos. De modo particular, celebram o Santo Sacrifício da Missa e o Sacramento da Reconciliação “in persona Christi”, ou seja, na pessoa do próprio Cristo.

A formação sacerdotal exige fé sólida, vida espiritual profunda, maturidade afetiva e intelectual, além de adequada preparação filosófico-teológica. A idade mínima para a ordenação presbiteral é, de modo ordinário, 25 anos.

Descubra mais: Qual é a importância do sacerdote para a Igreja?

Diferentes funções exercidas pelos presbíteros

Dentro da vida diocesana, muitos presbíteros exercem funções específicas, além do ministério paroquial. Algumas dessas atribuições têm caráter administrativo ou pastoral; outras são honoríficas. A seguir, apresentamos as principais:

Vigário geral: sacerdote escolhido pelo bispo para auxiliá-lo no governo da diocese, exercendo autoridade executiva ordinária em nome do bispo (cf. CIC, cân. 475).

Chanceler: responsável pela redação, autenticação e conservação dos documentos oficiais da cúria diocesana. Embora costume ser um sacerdote, o cargo também pode ser confiado a leigos (cf. CIC, cân. 482).

Ecônomo diocesano: cuida da administração financeira da diocese, organizando o orçamento e as despesas. Normalmente atua com o apoio de um conselho administrativo (cf. CIC, cân. 493).

Conselho presbiteral e colégio de consultores: grupos de sacerdotes que auxiliam o bispo nas decisões pastorais e administrativas da diocese (cf. CIC, cân. 495).

Cabido dos cônegos: corpo de presbíteros encarregado das funções litúrgicas mais solenes na catedral. Em muitas dioceses, é um título honorífico concedido a sacerdotes de destaque (cf. CIC, cân. 503).

Conselho pastoral diocesano: órgão consultivo composto por clérigos, religiosos e leigos, que auxilia o bispo na avaliação e planejamento das atividades pastorais (cf. CIC, cân. 511).

Pároco: sacerdote encarregado do cuidado de uma paróquia. É o pastor próprio da comunidade, com responsabilidade espiritual, administrativa e jurídica sobre o território paroquial (cf. CIC, cân. 519).

Vigário paroquial: sacerdote que colabora com o pároco nas tarefas pastorais e sacramentais da paróquia, conforme a necessidade local (cf. CIC, cân. 545).

Reitor de igreja ou santuário: presbítero designado para cuidar de uma igreja que não seja paroquial, como um santuário, capela pública ou igreja histórica (cf. CIC, cân. 556).

Capelão: sacerdote encarregado da assistência espiritual de uma comunidade ou grupo específico de fiéis, como hospitais, universidades, prisões ou instituições militares (cf. CIC, cân. 564).

Diáconos

O diaconato é o primeiro grau do Sacramento da Ordem e tem suas raízes na própria Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja. No livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos a eleição dos sete primeiros diáconos, escolhidos para servir às necessidades concretas da comunidade cristã nascente. A eles foi confiada a assistência aos pobres, órfãos e viúvas, bem como o serviço à mesa, para que os Apóstolos pudessem dedicar-se inteiramente à oração e à pregação da Palavra (cf. At 6,1-7).

Os diáconos integram o primeiro grau da hierarquia da Igreja, servindo de modo singular ao povo de Deus no anúncio da Palavra, na caridade e no altar. São colaboradores dos bispos e presbíteros, especialmente na proclamação do Evangelho, na administração de alguns sacramentos — como o Batismo e o Matrimônio — e na distribuição da Eucaristia.

Na Igreja, há dois tipos de diáconos: os diáconos transitórios e os diáconos permanentes.
Os diáconos transitórios são aqueles que recebem o primeiro grau da ordem como etapa do caminho rumo ao presbiterato — normalmente seminaristas em fase final de formação. Já os diáconos permanentes são homens que permanecem neste grau, podendo ser casados (se o matrimônio tiver ocorrido antes da ordenação), e se dedicam estável e vitaliciamente ao serviço da Palavra, do altar e da caridade, conforme as normas da Igreja (cf. Lumen Gentium, 29).

Mesmo não sendo sacerdotes, os diáconos são ordenados para servir sacramentalmente ao povo de Deus, configurando-se a Cristo Servo.

Leigos

“Por leigos entendem-se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, a missão de todo o Povo cristão na Igreja e no mundo.”
(Lumen Gentium, 31)

Embora não façam parte da hierarquia da Igreja, os leigos têm um papel essencial na vida e na missão da Igreja. Eles são chamados a santificar o mundo a partir de dentro, transformando as realidades temporais com o espírito do Evangelho e testemunhando Cristo nas mais diversas situações da vida cotidiana. Quando vivem sua vocação de forma fiel, segundo os dons e carismas que receberam, sua contribuição se torna indispensável para o bem e a fecundidade da Igreja (cf. LG 30).

A relação entre os leigos e os pastores da Igreja deve ser marcada por colaboração respeitosa, escuta recíproca e comunhão de missão. Os leigos têm não apenas o direito, mas também o dever de manifestar seus pareceres, sobretudo nas questões que tocam o bem da Igreja, seja em aspectos espirituais, seja temporais. Essa participação é um verdadeiro serviço ao Corpo de Cristo, e os pastores são chamados a escutar com atenção e discernimento as contribuições dos fiéis. Por outro lado, os leigos, em espírito de fé e comunhão, são chamados a acolher com docilidade e obediência cristã as orientações legítimas dos pastores — que não governam em nome próprio, mas como servos da Palavra e guias instituídos por Cristo (cf. Lumen Gentium, 37).

A dimensão secular é própria da vocação leiga. Os leigos são chamados a viver sua fé no meio do mundo, santificando o tempo, a cultura, o trabalho, a política e a família. É no cotidiano que devem anunciar o Evangelho com a vida, sendo sinal da Ressurreição de Cristo para todos.

“Todos em conjunto, e cada um por sua parte, devem alimentar o mundo com frutos espirituais (cf. Gl 5,22) e nele difundir aquele espírito que anima os pobres, mansos e pacíficos, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (cf. Mt 5,3-9). Numa palavra, sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo.”
(Lumen Gentium, 38)

Consagrados e religiosos na Hierarquia da Igreja Católica

Os religiosos e consagrados oferecem, por meio de seu estado de vida, um testemunho eloquente de que o mundo só pode ser verdadeiramente transformado e oferecido a Deus no espírito das bem-aventuranças (cf. Lumen Gentium, 43–47). Com seus votos de castidade, pobreza e obediência, entregam-se totalmente a Cristo, antecipando, já neste mundo, a realidade escatológica do Reino de Deus.

A Igreja sempre reconheceu esse estado de vida como um dom divino, e o incentivou tanto em formas solitárias quanto comunitárias, seja de vida contemplativa ou apostólica.

O estado de vida consagrado não é um “meio-termo” entre leigos e clérigos. Trata-se de uma vocação distinta, comum a ambos os estados: existem leigos consagrados e também clérigos religiosos — homens e mulheres que, respondendo ao chamado de Deus, vivem os conselhos evangélicos em uma consagração pública reconhecida pela Igreja (cf. Lumen Gentium, 43).

Cabe à hierarquia da Igreja, com prudência e sabedoria pastoral, acompanhar, discernir e orientar a vivência dos conselhos evangélicos nas diversas formas de vida consagrada. Trata-se de um estado de vida legítimo, estável e reconhecido canonicamente, que enriquece a Igreja com seu testemunho radical do seguimento de Cristo (cf. Lumen Gentium, 45).

Hierarquia e vida laical complementam-se

Ainda que leigos e religiosos não façam parte da estrutura hierárquica da Igreja, exercem um papel complementar e essencial para a vida eclesial. A missão confiada por Cristo à hierarquia só se realiza plenamente com a participação ativa, orante e fiel de todo o povo de Deus.

Uma das mais importantes responsabilidades dos leigos é sustentar os pastores com a oração constante. No Evangelho, vemos o próprio Jesus advertindo Pedro sobre os perigos espirituais que enfrentaria, e ao mesmo tempo garantindo-lhe sua intercessão:

“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.”
(cf. Lc 22,31-32)

A confiança na hierarquia da Igreja não se baseia em perfeições humanas, mas na certeza de que ela foi instituída por Cristo e é assistida pelo Espírito Santo. Por meio dela, o Senhor continua a conduzir sua Igreja na verdade, mesmo após ter subido aos céus. Embora composta por homens limitados e pecadores, a hierarquia, quando ensina oficialmente em matéria de fé e moral, conta com o dom da infalibilidade, garantido pelo próprio Cristo à sua Igreja.

É verdade que, ao longo da história, não faltaram momentos em que alguns pastores falharam gravemente em sua missão de guardar o rebanho e preservar a pureza da fé. Em tempos assim, a tentação é pensar que a Igreja foi abandonada por Deus. No entanto, é justamente nesses momentos que somos chamados a professar, com ainda mais fé e esperança, que Cristo permanece à frente da barca — e que, por mais que vacile a fidelidade humana, o Espírito Santo jamais deixa de assistir a sua Igreja.

Crer na hierarquia da Igreja é crer que, por meio dela, a mesma fé dos Apóstolos continua a ser anunciada com fidelidade, até que Cristo venha.

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