Formação

Inquisição: Caça às bruxas ou combate às heresias?

Conheça o que foi o tribunal da Inquisição, como ele atuava e por que a Igreja precisou usar esse recurso para combater os hereges.

Inquisição: Caça às bruxas ou combate às heresias?
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Inquisição: Caça às bruxas ou combate às heresias?

Conheça o que foi o tribunal da Inquisição, como ele atuava e por que a Igreja precisou usar esse recurso para combater os hereges.

Data da Publicação: 20/06/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 20/06/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Interpretar a História fora do seu contexto é um grande erro, especialmente quando se aplica uma interpretação ideológica. Muitas informações desonestas são propagadas sobre a Igreja Católica quando o assunto é a Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. Diversos santos, doutores da Igreja, bispos e padres não só não se opuseram à Inquisição, como também fizeram parte dela ou a apoiaram, pois, dentro do contexto da época, tal prática foi considerada necessária.

É crucial lembrar que, apesar de eventuais humanos, Deus garantiu a infalibilidade à Igreja em sua doutrina. O Espírito Santo não se contradiz e, portanto, não permite que a Igreja erre no que é fundamental da fé. 1 Neste artigo, apresentamos um panorama geral sobre a Inquisição e seu contexto, explorando os reais motivos que levaram a Igreja a instituir este tribunal.

O que é a inquisição?

A Inquisição foi um tribunal eclesiástico criado pela Igreja Católica durante a Idade Média para conter a proliferação de movimentos heréticos que ameaçavam a unidade da Igreja e a sociedade medieval. Contudo, vale lembrar que a Inquisição é um tribunal que julgava os católicos suspeitos de pecados contra a fé. Sendo assim, em um contexto de crise, a Igreja instituiu a Inquisição com o objetivo de identificar, julgar e converter os hereges. Ela buscava, com isso, proteger a fé e a vida da comunidade cristã, bem como a estabilidade social.

É preciso lembrar que, ao contrário do que muitas vezes se propaga, houve uma pressão popular para que a Igreja criasse este tribunal, ainda que ela relutasse. O objetivo era restaurar a ordem em meio a um clima de barbárie e desordem, onde os próprios civis e muitos reis realizavam práticas de tortura e punição para conter aqueles que geravam caos na sociedade. Mas isso era feito de forma desordenada e muitos inocentes pagavam o preço. Antes da Inquisição, não se obtinham provas concretas sobre quem realmente causava as perturbações e os acusados não tinham oportunidade de defesa.

A Igreja, desejando promover julgamentos justos e misericordiosos e preferindo a conversão dos hereges à punição, estabeleceu a Inquisição. No Tribunal do Santo Ofício, como também era conhecido, os acusados podiam se expressar, apresentar testemunhos e ser julgados de maneira devida. Mas por que todo esse caos estava instaurado? E mais: por que o próprio povo combatia as heresias? Mais adiante vamos entender isso conhecendo o contexto medieval.

Quando começou a Inquisição?

De acordo com dados históricos, muitos hereges causavam incêndios, homicídios, saques — em uma época onde não havia segurança pública ou algo parecido com o que temos hoje. Sendo assim, a Igreja e o Estado tinham o direito e o dever de defender a ordem pública, que era também a ordem cristã, contra o crime e a desordem. 2

Uma vez que a Igreja foi forçada a agir diante de tal situação, a ideia do Tribunal do Santo Ofício começou a amadurecer no Concílio de Latrão II, em 1139. Nesse encontro, decidiu-se que a Igreja, após examinar os casos, indicaria aos poderes públicos os responsáveis pelas perturbações sociais, para que o poder civil pudesse puni-los. 3

Contudo, a Inquisição começou oficialmente em 1233, quando o Papa Gregório IX estabeleceu o Tribunal do Santo Ofício.

A sociedade medieval

Após a queda do Império Romano em 476 d.C., a Europa mergulhou em um período de caos marcado pela invasão dos bárbaros. A Igreja Católica desempenhou um papel crucial na restauração da ordem e da paz, preservando importantes obras através do trabalho dos monges copistas e reorganizando a sociedade em torno de mosteiros e catedrais.

Em meio aos escombros da queda do Império romano, a Igreja se tornou o único refúgio para as populações desorientadas, feridas, amedrontadas, a única fonte de cultura, de progresso, de proteção, de moral, de esperança, de vida. 4

Essa reorganização social levou a uma estreita união entre o Estado e a Igreja, de modo que os governantes consideravam pecados como crimes. Além disso, a sociedade tinha grande estima pela Igreja, por tudo que ela fez, por isso repudiavam às ofensas feitas a ela.

A união entre o poder secular e religioso significava que os governantes não só promoviam leis inspiradas nos ensinamentos da Igreja, mas também participavam ativamente na condenação de heresias. A Igreja, por sua vez, era vista como o pilar da estabilidade social, e qualquer ofensa contra ela era fortemente repudiada pela população. Este contexto criou uma sociedade intensamente cristã, onde a fé católica era central na vida diária e na estrutura política, sendo assim

[…] como a heresia negava ou deturpava quase todas as doutrinas do cristianismo, a seita era detestada pelo povo de modo geral e este perseguia seus adeptos. Às vezes, cátaros eram arrancados dos tribunais seculares ou eclesiásticos e lançados ao fogo, pelo povo. 5

Até aqui já percebemos como essa realidade era diferente da que vivemos hoje, e isso é extremamente importante para compreendermos o contexto da inquisição e não cairmos no erro de enxergarmos a sociedade medieval sob a ótima da sociedade atual. Pois é justamente isso que leva a muitos erros ao julgar a inquisição.

A heresia dos cátaros

Nesse contexto, surgiram os cátaros, um grupo religioso originário da Bulgária que contrariava não apenas a doutrina católica, mas também os juramentos políticos da Idade Média — ou seja, todo tecido social, uma vez que a aliança entre os reis baseava-se nos juramentos. Eles acreditavam em dois deuses: um bom, criador do espírito, e um mau, criador da matéria. Desse modo, eles rejeitavam tudo que fosse relacionado à carne, inclusive alimentos e relações sexuais, e se consideravam “puros” e “perfeitos”.

Suas práticas extremas de purificação, como a endura, muitas vezes levavam ao suicídio, resultando em muitas mortes na Europa, por isso

muitas pessoas tinham medo de serem vítimas dos cátaros e mortos se não aderissem à seita. Após muitas revoltas populares contra eles, o povo passou a exigir punição mais pesada da Igreja e do Estado contra esses grupos. Por exigência do povo, então, Igreja e o Estado se uniram para defender a sociedade. 6

Portanto, pode-se dizer que a instituição da inquisição salvou muitas vidas. A autoridade da Igreja viu que as autoridades seculares passaram a exercer a sua força de forma despreparada, condenando inclusive inocentes, uma vez que não havia um julgamento correto. A multidão, muitas vezes, arrancava os presos da cadeia e os matava ou ateava neles fogo — o que demonstra a fúria da sociedade contra a heresia.

Agora é possível compreender a necessidade que havia de um tribunal preparado em matéria teológica, a fim de que os hereges também pudessem ter a chance de se converterem. A Igreja, mãe misericordiosa, enxergava os hereges como ovelhas perdidas e queria que eles se convertessem.

De longe a maior parte dos culpados arrependia-se e era admitida à reconciliação, o que era o fim principal da inquisição. 7

Caça às bruxas ou combate às heresias?

Inquisição ou inquisições?

A Inquisição é frequentemente associada à Igreja Católica e seus tribunais para combater a heresia, mas é importante reconhecer que houve diferentes formas de inquisições, inclusive protestantes, que adotaram medidas severas contra o que consideravam heresias.

Na Alemanha, durante o período da Reforma Protestante e posteriormente, os tribunais protestantes estabeleceram seus próprios mecanismos de repressão religiosa. Estes tribunais foram, em muitos casos, mais ferozes e rigorosos que a Inquisição Católica.

Durante o século XVI, quando a caça às bruxas varreu a Europa, nas regiões onde as inquisições eram mais bem desenvolvidas, a histeria foi contida. Na Espanha e na Itália, inquisidores treinados investigaram as acusações de ‘Sabbath das feiticeiras’ e concluíram que eram infundadas.

Além disso, as perseguições às bruxas não foram por iniciativa da Igreja, e sim manifestações populares e protestantes. 8 Vale lembrar que a Igreja não teria perseguido os hereges, se eles guardassem suas crenças erradas para si mesmos. No entanto, seu modo de agir ameaçava a ordem social e a fé de muitos fiéis. Ainda assim

A Inquisição foi um tribunal criado não para punir, mas para ser um meio de conversão e reconciliação. Vários historiadores afirmam que nenhum tribunal civil da época foi mais benevolente que os da Inquisição. Uma prova disso é que os Templários da França pediram expressamente para serem julgados pela Inquisição; mas o rei Felipe IV o Belo, indeferiu o processo. 9

Portanto, no que se refere a tal “caça às bruxas”, historiadores constatam que os tribunais eclesiásticos foram muito mais indulgentes que os civis. 10

A devoção a Deus e às coisas sagradas também inspirou os cristãos a lutar nas Cruzadas Medievais, que tal conhecer mais sobre essa parte da História da Igreja?

A inquisição ainda existe hoje?

No contexto da Idade Média, a sociedade vivia em um ambiente majoritariamente rudimentar e brutal. As pestes, a fome, a barbárie e a guerra faziam parte do cotidiano dos homens dessa época. Por isso, é preciso muita honestidade ao analisar os seus costumes e métodos. Estamos falando de um período em que não existia iluminação ou polícia nas ruas para manter a ordem, e o esgoto era a céu aberto. A expectativa de vida, quando muito, chegava aos 50 anos para os nobres e reis, mas a maioria da população não chegava aos 30. Tudo isso para que entendamos o cenário no qual surgiu o Tribunal do Santo Ofício.

Hoje, sem dúvida, a Inquisição é para nós impensável. A vida do homem moderno é extremamente diferente do medieval, a começar pelo fato de que já não vivemos na Cristandade. Aquela era uma época em que praticamente tudo se desenvolveu impulsionado pela Igreja ou dependia dela — artes, música, arquitetura, economia —, e a maioria da população era católica.

No entanto, ainda é preciso atualmente que se proteja a fé e a doutrina da Santa Igreja. Os homens não são os mesmos, mas Deus e os seus ensinamentos são imutáveis, independentemente da época. Por isso, foi estabelecida, em 1542, a Congregação para a Doutrina da Fé. Ela é responsável por promover e proteger a doutrina e a moral da Igreja em todo o mundo. Desse modo, ela avalia teólogos, doutrinas e publicações para assegurar que estejam em conformidade com os ensinamentos da Igreja.

Portanto, a Congregação para a Doutrina da Fé é a instituição mais próxima que temos da Inquisição pelo fato de atuar na defesa da fé, ainda que por meios diferentes daqueles da época medieval.

Saiba mais sobre a história da Igreja e a história do mundo.

Livro sobre a história da Igreja

De forma acessível e cativante, o livro “História da Igreja: marcas da presença de Cristo no mundo” narra os principais acontecimentos da história da Igreja, desde Pentecostes até o pontificado de São João Paulo II.

Escrito por Angela Pellicciari, renomada historiadora e professora no seminário Mater Ecclesiae, na Itália, o livro conta com um prefácio do Cardeal Robert Sarah, uma das mais importantes personalidades católicas na atualidade.

O box ainda acompanha brindes especiais para você e sua família mergulharem nessa história e, assim, conhecerem como Cristo se fez presente no mundo por meio da Sua Igreja!

Saiba mais sobre a obra e sobre o clube nesta página!

Referências

  1. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.16[]
  2. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.88[]
  3. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.85[]
  4. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.38[]
  5. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.73[]
  6. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.74[]
  7. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.179[]
  8. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p. 118[]
  9. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.131[]
  10. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.23[]
Redação MBC

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Interpretar a História fora do seu contexto é um grande erro, especialmente quando se aplica uma interpretação ideológica. Muitas informações desonestas são propagadas sobre a Igreja Católica quando o assunto é a Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. Diversos santos, doutores da Igreja, bispos e padres não só não se opuseram à Inquisição, como também fizeram parte dela ou a apoiaram, pois, dentro do contexto da época, tal prática foi considerada necessária.

É crucial lembrar que, apesar de eventuais humanos, Deus garantiu a infalibilidade à Igreja em sua doutrina. O Espírito Santo não se contradiz e, portanto, não permite que a Igreja erre no que é fundamental da fé. 1 Neste artigo, apresentamos um panorama geral sobre a Inquisição e seu contexto, explorando os reais motivos que levaram a Igreja a instituir este tribunal.

O que é a inquisição?

A Inquisição foi um tribunal eclesiástico criado pela Igreja Católica durante a Idade Média para conter a proliferação de movimentos heréticos que ameaçavam a unidade da Igreja e a sociedade medieval. Contudo, vale lembrar que a Inquisição é um tribunal que julgava os católicos suspeitos de pecados contra a fé. Sendo assim, em um contexto de crise, a Igreja instituiu a Inquisição com o objetivo de identificar, julgar e converter os hereges. Ela buscava, com isso, proteger a fé e a vida da comunidade cristã, bem como a estabilidade social.

É preciso lembrar que, ao contrário do que muitas vezes se propaga, houve uma pressão popular para que a Igreja criasse este tribunal, ainda que ela relutasse. O objetivo era restaurar a ordem em meio a um clima de barbárie e desordem, onde os próprios civis e muitos reis realizavam práticas de tortura e punição para conter aqueles que geravam caos na sociedade. Mas isso era feito de forma desordenada e muitos inocentes pagavam o preço. Antes da Inquisição, não se obtinham provas concretas sobre quem realmente causava as perturbações e os acusados não tinham oportunidade de defesa.

A Igreja, desejando promover julgamentos justos e misericordiosos e preferindo a conversão dos hereges à punição, estabeleceu a Inquisição. No Tribunal do Santo Ofício, como também era conhecido, os acusados podiam se expressar, apresentar testemunhos e ser julgados de maneira devida. Mas por que todo esse caos estava instaurado? E mais: por que o próprio povo combatia as heresias? Mais adiante vamos entender isso conhecendo o contexto medieval.

Quando começou a Inquisição?

De acordo com dados históricos, muitos hereges causavam incêndios, homicídios, saques — em uma época onde não havia segurança pública ou algo parecido com o que temos hoje. Sendo assim, a Igreja e o Estado tinham o direito e o dever de defender a ordem pública, que era também a ordem cristã, contra o crime e a desordem. 2

Uma vez que a Igreja foi forçada a agir diante de tal situação, a ideia do Tribunal do Santo Ofício começou a amadurecer no Concílio de Latrão II, em 1139. Nesse encontro, decidiu-se que a Igreja, após examinar os casos, indicaria aos poderes públicos os responsáveis pelas perturbações sociais, para que o poder civil pudesse puni-los. 3

Contudo, a Inquisição começou oficialmente em 1233, quando o Papa Gregório IX estabeleceu o Tribunal do Santo Ofício.

A sociedade medieval

Após a queda do Império Romano em 476 d.C., a Europa mergulhou em um período de caos marcado pela invasão dos bárbaros. A Igreja Católica desempenhou um papel crucial na restauração da ordem e da paz, preservando importantes obras através do trabalho dos monges copistas e reorganizando a sociedade em torno de mosteiros e catedrais.

Em meio aos escombros da queda do Império romano, a Igreja se tornou o único refúgio para as populações desorientadas, feridas, amedrontadas, a única fonte de cultura, de progresso, de proteção, de moral, de esperança, de vida. 4

Essa reorganização social levou a uma estreita união entre o Estado e a Igreja, de modo que os governantes consideravam pecados como crimes. Além disso, a sociedade tinha grande estima pela Igreja, por tudo que ela fez, por isso repudiavam às ofensas feitas a ela.

A união entre o poder secular e religioso significava que os governantes não só promoviam leis inspiradas nos ensinamentos da Igreja, mas também participavam ativamente na condenação de heresias. A Igreja, por sua vez, era vista como o pilar da estabilidade social, e qualquer ofensa contra ela era fortemente repudiada pela população. Este contexto criou uma sociedade intensamente cristã, onde a fé católica era central na vida diária e na estrutura política, sendo assim

[…] como a heresia negava ou deturpava quase todas as doutrinas do cristianismo, a seita era detestada pelo povo de modo geral e este perseguia seus adeptos. Às vezes, cátaros eram arrancados dos tribunais seculares ou eclesiásticos e lançados ao fogo, pelo povo. 5

Até aqui já percebemos como essa realidade era diferente da que vivemos hoje, e isso é extremamente importante para compreendermos o contexto da inquisição e não cairmos no erro de enxergarmos a sociedade medieval sob a ótima da sociedade atual. Pois é justamente isso que leva a muitos erros ao julgar a inquisição.

A heresia dos cátaros

Nesse contexto, surgiram os cátaros, um grupo religioso originário da Bulgária que contrariava não apenas a doutrina católica, mas também os juramentos políticos da Idade Média — ou seja, todo tecido social, uma vez que a aliança entre os reis baseava-se nos juramentos. Eles acreditavam em dois deuses: um bom, criador do espírito, e um mau, criador da matéria. Desse modo, eles rejeitavam tudo que fosse relacionado à carne, inclusive alimentos e relações sexuais, e se consideravam “puros” e “perfeitos”.

Suas práticas extremas de purificação, como a endura, muitas vezes levavam ao suicídio, resultando em muitas mortes na Europa, por isso

muitas pessoas tinham medo de serem vítimas dos cátaros e mortos se não aderissem à seita. Após muitas revoltas populares contra eles, o povo passou a exigir punição mais pesada da Igreja e do Estado contra esses grupos. Por exigência do povo, então, Igreja e o Estado se uniram para defender a sociedade. 6

Portanto, pode-se dizer que a instituição da inquisição salvou muitas vidas. A autoridade da Igreja viu que as autoridades seculares passaram a exercer a sua força de forma despreparada, condenando inclusive inocentes, uma vez que não havia um julgamento correto. A multidão, muitas vezes, arrancava os presos da cadeia e os matava ou ateava neles fogo — o que demonstra a fúria da sociedade contra a heresia.

Agora é possível compreender a necessidade que havia de um tribunal preparado em matéria teológica, a fim de que os hereges também pudessem ter a chance de se converterem. A Igreja, mãe misericordiosa, enxergava os hereges como ovelhas perdidas e queria que eles se convertessem.

De longe a maior parte dos culpados arrependia-se e era admitida à reconciliação, o que era o fim principal da inquisição. 7

Caça às bruxas ou combate às heresias?

Inquisição ou inquisições?

A Inquisição é frequentemente associada à Igreja Católica e seus tribunais para combater a heresia, mas é importante reconhecer que houve diferentes formas de inquisições, inclusive protestantes, que adotaram medidas severas contra o que consideravam heresias.

Na Alemanha, durante o período da Reforma Protestante e posteriormente, os tribunais protestantes estabeleceram seus próprios mecanismos de repressão religiosa. Estes tribunais foram, em muitos casos, mais ferozes e rigorosos que a Inquisição Católica.

Durante o século XVI, quando a caça às bruxas varreu a Europa, nas regiões onde as inquisições eram mais bem desenvolvidas, a histeria foi contida. Na Espanha e na Itália, inquisidores treinados investigaram as acusações de ‘Sabbath das feiticeiras’ e concluíram que eram infundadas.

Além disso, as perseguições às bruxas não foram por iniciativa da Igreja, e sim manifestações populares e protestantes. 8 Vale lembrar que a Igreja não teria perseguido os hereges, se eles guardassem suas crenças erradas para si mesmos. No entanto, seu modo de agir ameaçava a ordem social e a fé de muitos fiéis. Ainda assim

A Inquisição foi um tribunal criado não para punir, mas para ser um meio de conversão e reconciliação. Vários historiadores afirmam que nenhum tribunal civil da época foi mais benevolente que os da Inquisição. Uma prova disso é que os Templários da França pediram expressamente para serem julgados pela Inquisição; mas o rei Felipe IV o Belo, indeferiu o processo. 9

Portanto, no que se refere a tal “caça às bruxas”, historiadores constatam que os tribunais eclesiásticos foram muito mais indulgentes que os civis. 10

A devoção a Deus e às coisas sagradas também inspirou os cristãos a lutar nas Cruzadas Medievais, que tal conhecer mais sobre essa parte da História da Igreja?

A inquisição ainda existe hoje?

No contexto da Idade Média, a sociedade vivia em um ambiente majoritariamente rudimentar e brutal. As pestes, a fome, a barbárie e a guerra faziam parte do cotidiano dos homens dessa época. Por isso, é preciso muita honestidade ao analisar os seus costumes e métodos. Estamos falando de um período em que não existia iluminação ou polícia nas ruas para manter a ordem, e o esgoto era a céu aberto. A expectativa de vida, quando muito, chegava aos 50 anos para os nobres e reis, mas a maioria da população não chegava aos 30. Tudo isso para que entendamos o cenário no qual surgiu o Tribunal do Santo Ofício.

Hoje, sem dúvida, a Inquisição é para nós impensável. A vida do homem moderno é extremamente diferente do medieval, a começar pelo fato de que já não vivemos na Cristandade. Aquela era uma época em que praticamente tudo se desenvolveu impulsionado pela Igreja ou dependia dela — artes, música, arquitetura, economia —, e a maioria da população era católica.

No entanto, ainda é preciso atualmente que se proteja a fé e a doutrina da Santa Igreja. Os homens não são os mesmos, mas Deus e os seus ensinamentos são imutáveis, independentemente da época. Por isso, foi estabelecida, em 1542, a Congregação para a Doutrina da Fé. Ela é responsável por promover e proteger a doutrina e a moral da Igreja em todo o mundo. Desse modo, ela avalia teólogos, doutrinas e publicações para assegurar que estejam em conformidade com os ensinamentos da Igreja.

Portanto, a Congregação para a Doutrina da Fé é a instituição mais próxima que temos da Inquisição pelo fato de atuar na defesa da fé, ainda que por meios diferentes daqueles da época medieval.

Saiba mais sobre a história da Igreja e a história do mundo.

Livro sobre a história da Igreja

De forma acessível e cativante, o livro “História da Igreja: marcas da presença de Cristo no mundo” narra os principais acontecimentos da história da Igreja, desde Pentecostes até o pontificado de São João Paulo II.

Escrito por Angela Pellicciari, renomada historiadora e professora no seminário Mater Ecclesiae, na Itália, o livro conta com um prefácio do Cardeal Robert Sarah, uma das mais importantes personalidades católicas na atualidade.

O box ainda acompanha brindes especiais para você e sua família mergulharem nessa história e, assim, conhecerem como Cristo se fez presente no mundo por meio da Sua Igreja!

Saiba mais sobre a obra e sobre o clube nesta página!

Referências

  1. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.16[]
  2. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.88[]
  3. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.85[]
  4. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.38[]
  5. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.73[]
  6. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.74[]
  7. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.179[]
  8. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p. 118[]
  9. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.131[]
  10. Aquino, Felipe. Para entender a Inquisição. 10ª edição Lorena, SP: Cléofas, 2017, p.23[]

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