Formação

Não levantar falso testemunho: o 8º mandamento

Conheça o oitavo mandamento, não levantar falso testemunho, como aparece na Bíblia e qual o ensinamento da Igreja sobre ele.

Não levantar falso testemunho: o 8º mandamento
Formação

Não levantar falso testemunho: o 8º mandamento

Conheça o oitavo mandamento, não levantar falso testemunho, como aparece na Bíblia e qual o ensinamento da Igreja sobre ele.

Data da Publicação: 21/09/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 21/09/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Conheça o oitavo mandamento, não levantar falso testemunho, como aparece na Bíblia e qual o ensinamento da Igreja sobre ele.

Qualquer ato que deturpe a verdade, por meio de palavras ou ações, reflete uma falta de comprometimento com a integridade moral. O oitavo mandamento, não levantar falso testemunho, mostra-nos que viver na verdade é a nossa vocação, uma vez que somos chamados a ser testemunhas do seu Deus — que é a própria verdade.

No entanto, este mandamento vai além da proibição de contar mentiras, seu conceito é bem mais amplo, desde o Antigo Testamento. Por isso, vamos conhecê-lo de forma mais profunda e detalhada neste artigo, com base nas Escrituras e nos ensinamentos da Tradição da Igreja.

Os 10 mandamentos

Os mandamentos são um caminho para a Vida. Estas são palavras do próprio Deus tanto no antigo quanto no novo testamento. No livro do Deuteronômio, Deus diz “Se amares o teu Deus, andares nos seus caminhos e guardares os seus mandamentos, leis e costumes, viverás e multiplicar-te-ás.” 1 O Decálogo condensa a lei divina, originalmente inscrita em nossos corações.

No Novo Testamento, a resposta ao jovem rico é similar ao versículo acima, “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.” 2 Embora Deus tenha inscrito esses mandamentos em nossos corações, o pecado obscureceu nossa razão, fazendo com que não mais obedecêssemos à voz da consciência. Sendo assim, as Tábuas da Lei, escritas pelo próprio Deus, foram dadas para nos mostrar novamente, e com clareza, o verdadeiro caminho.

Conheça os dez mandamentos na Bíblia e na tradição da Igreja.

Não levantar falso testemunho nas Escrituras

No Livro do Êxodo, encontramos a versão original deste mandamento: “Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.” Essa instrução destaca a necessidade de não proferir mentiras que possam prejudicar a reputação ou a justiça de outra pessoa.

No contexto do Deuteronômio, em que o povo está prestes a entrar na terra prometida, o mandamento é reafirmado. Nesse sentido, a repetição enfatiza sua importância e a responsabilidade de sermos guardiões da verdade e da integridade.

Além disso, Cristo, no Novo Testamento, também reforça a importância da veracidade no Evangelho de Mateus quando cita os mandamentos e inclui o de não dar falso testemunho ao aconselhar um jovem rico sobre a conduta de vida. 3

O oitavo mandamento aparece, ainda que de forma indireta, nas cartas de São Paulo. Ele destaca a importância de viver e falar a verdade, sobretudo para quem é cristão: “Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros.” 4

Todas estas menções das Escrituras sobre não levantar falso testemunho abordam, portanto, a importância da verdade, da honestidade e do amor ao próximo como princípios fundamentais que estão em harmonia com oitavo mandamento.

O que Igreja ensina sobre Não levantar falso testemunho

Viver na verdade

A base para a compreensão desse mandamento é a crença de que Deus é a fonte de toda a verdade. 5 Sua Palavra é verdade e Sua lei é verdade. Os fiéis são chamados a viver na verdade, refletindo, portanto, a natureza divina.

A verdade de Deus manifestou-se plenamente em Jesus Cristo. 6 Ele é a verdade, portanto, segui-lo é viver do Espírito de verdade. Jesus ensinou os seus discípulos a amar incondicionalmente a verdade, destacando a importância de uma linguagem honesta.

O ser humano é naturalmente inclinado para a verdade e tem a obrigação moral de buscá-la. 7 Isso inclui a busca da verdade religiosa e a adesão à verdade quando conhecida. A veracidade, ou seja, a retidão na ação e na palavra humana, é uma virtude que implica em ser verdadeiro em ações e palavras, evitando a duplicidade e a hipocrisia. 8

A veracidade é fundamental para a convivência entre as pessoas, 9 pois a confiança mútua depende da sinceridade e da honestidade. Além disso, manter um equilíbrio entre o que deve ser dito e o que deve ficar em segredo é fundamental e envolve tanto a honestidade quanto a discrição.

O discípulo de Cristo é chamado a viver na verdade, seguindo o exemplo do Senhor. 10 “Se dizemos ter comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a verdade.” 11 Sendo assim, a sinceridade e a veracidade são valores essenciais que a Igreja ensina em relação ao mandamento “não levantar falso testemunho”.

Dar testemunho da verdade

O mandamento “Não levantar falso testemunho” não se limita apenas a evitar a mentira, mas também inclui a obrigação de dar testemunho da verdade. 12 Cristo, ao enfrentar Pilatos, afirmou que veio ao mundo para dar testemunho da verdade. Portanto, o cristão é encorajado a não se envergonhar de dar testemunho do Senhor e a professar sua fé de maneira inequívoca, seguindo o exemplo de São Paulo diante de seus juízes. Ou seja, manter uma consciência irrepreensível diante de Deus e dos homens.

A participação ativa na vida da Igreja implica agir como testemunhas do Evangelho e das obrigações que dele derivam. 13 O testemunho dos cristãos envolve transmitir a fé por meio de palavras e ações, isso é considerado um ato de justiça que estabelece ou revela a verdade. Todos os fiéis cristãos são chamados a manifestar, tanto pelo exemplo de vida quanto pelo testemunho verbal, a transformação que ocorreu neles através do Batismo e da virtude do Espírito Santo recebida na Confirmação.

O martírio, por exemplo, é o mais alto testemunho em favor da verdade da fé. 14 É um ato de amor supremo e de coragem extrema. O mártir dá testemunho de Cristo, da verdade da fé e da doutrina cristã, e suporta a morte com fortaleza, unido a Cristo pela caridade.

A Igreja tem preservado com grande cuidado as memórias daqueles que testemunharam sua fé até o fim. 15 As Atas dos Mártires são registros preciosos escritos com “letras de sangue”. Essas memórias são testemunhos vívidos do compromisso de indivíduos que preferiram morrer em Cristo a renunciar à sua fé. Eles glorificaram a Deus por meio de seu martírio, dando um exemplo eterno de fidelidade à verdade e ao Senhor Jesus Cristo.

As ofensas à verdade

Os discípulos de Cristo devem revestir-se do “homem novo”, criado na justiça e na santidade verdadeira 16. Por isso, precisam libertar-se da mentira e rejeitar qualquer malícia, falsidade, hipocrisia, inveja e maledicência.

Falso testemunho e perjúrio, por exemplo, são ofensas graves à verdade. 17 Fornecer informações falsas publicamente ou sob juramento compromete seriamente a justiça e a equidade, podendo resultar na condenação de um inocente, na absolvição de um culpado ou no aumento da pena de um acusado. Essas ações prejudicam o exercício da justiça e a confiança na imparcialidade dos tribunais.

A Igreja também enfatiza o respeito pela reputação das pessoas, proibindo qualquer ação ou palavra que possa causar dano injusto a alguém. 18 Isso inclui evitar o juízo temerário, que envolve aceitar como verdadeira uma falha moral do próximo sem prova suficiente, bem como evitar a maledicência e a calúnia, que consistem em revelar defeitos e faltas de outrem sem motivo válido.

Além disso, a Igreja também destaca a importância de interpretar as palavras e ações do próximo de forma favorável sempre que possível. 19 Os cristãos devem estar dispostos a dar o benefício da dúvida e corrigir com benevolência aqueles que parecem estar equivocados, em vez de condená-los precipitadamente.

Por fim, a Igreja ensina que qualquer falta cometida contra a justiça e a verdade requer reparação. 20 Isso inclui as faltas cometidas contra a reputação de alguém. Mesmo que o autor tenha sido perdoado, o dever de reparação permanece. Se não for possível reparar publicamente, isso deve ser feito em segredo. Se a vítima não puder ser compensada diretamente, uma satisfação moral em nome da caridade é necessária. Esse dever de reparação é avaliado com base no prejuízo causado e é uma obrigação moral em consciência.

O respeito pela verdade

“O direito à comunicação da verdade não é absoluto” 21, em primeiro lugar, cada indivíduo deve considerar o preceito do amor fraterno ao decidir se deve ou não revelar a verdade em determinadas situações. 21 A caridade e o respeito pela verdade devem orientar a resposta a qualquer pedido de informação ou comunicação.

Em algumas circunstâncias, o bem e a segurança de outrem, assim como o respeito pela vida privada e pelo bem comum podem justificar o silêncio ou o uso de linguagem discreta. O dever de evitar o escândalo muitas vezes exige discrição estrita, e ninguém é obrigado a revelar a verdade a quem não tem o direito de conhecê-la. 22

O sigilo do sacramento da Reconciliação é sagrado e inviolável. 23 Sendo assim, o confessor não pode denunciar o penitente de forma alguma. Essa proteção do sigilo sacramental é absoluta e destinada a garantir que os penitentes possam confessar livremente — sem medo de que seus pecados sejam divulgados.

Os segredos profissionais (como os feitos por médicos e juristas) e confidências feitas sob sigilo também devem ser mantidos. Além disso, mesmo que não estejam sob sigilo, não se deve divulgar informações particulares prejudiciais a outras pessoas sem uma razão grave e proporcionada.

A Igreja enfatiza a necessidade de observar uma justa reserva em relação à vida privada das pessoas. 24 Os responsáveis pela comunicação devem equilibrar as exigências do bem comum com o respeito pelos direitos individuais. Também a intromissão dos meios de comunicação na vida privada das pessoas envolvidas em atividades políticas ou públicas é condenável, pois viola sua intimidade e liberdade. 

O uso dos meios de comunicação social

A Igreja reconhece o papel significativo dos meios de comunicação social na sociedade moderna. 25 No entanto, a informação mediática deve estar a serviço do bem comum 26, pois a sociedade tem o direito a uma informação baseada na verdade, liberdade, justiça e solidariedade.

Para isso, é necessário que a comunicação seja sempre verídica em seu conteúdo e respeite as exigências da justiça e da caridade. Além disso, a forma como a informação é obtida e divulgada deve obedecer estritamente às leis morais, aos direitos e à dignidade do ser humano. Todos os membros da sociedade devem utilizar os meios de comunicação para a formação de uma opinião pública reta. 27

Os meios de comunicação social, especialmente os mass media, podem levar à passividade dos usuários, tornando-os consumidores desatentos de mensagens e entretenimento. 28 Portanto, é necessário que os usuários exerçam moderação e disciplina em relação aos meios de comunicação e desenvolvam uma consciência informada para resistir a influências menos honestas.

Os profissionais da mídia têm o dever de servir a verdade sem ofender a caridade e de respeitar tanto a natureza dos fatos quanto os limites do julgamento crítico em relação às pessoas 29, bem como evitar qualquer forma de difamação.

As autoridades civis também têm obrigações específicas no que diz respeito ao bem comum. 30 Elas devem promulgar leis que protejam a verdadeira e justa liberdade de informação, evitem o mau uso dos meios de comunicação e sancionem a violação dos direitos individuais, assim como o bom nome e a privacidade.

A Igreja condena veementemente os estados totalitários que falsificam sistematicamente a verdade e manipulam a opinião pública através dos meios de comunicação. 31 Esses regimes reprimem a liberdade de expressão, sufocam a oposição e distorcem a verdade para manter seu controle político. 

Verdade, beleza e arte sacra

A Igreja reconhece que a verdade e a beleza estão intrinsecamente ligadas. 32 A verdade não é apenas uma expressão racional do conhecimento, mas também uma fonte de alegria e beleza espiritual. Deus se revela não apenas em palavras, mas também na linguagem universal da criação. A ordem e harmonia do cosmos refletem Sua Sabedoria e levam à contemplação de Seu Autor. 32

A Sabedoria de Deus é descrita como o esplendor da luz eterna, e Sua criação é um reflexo de Sua beleza. A arte também é uma expressão da verdade e da beleza humanas, sendo uma forma de sabedoria prática que busca dar forma à verdade de uma realidade. 32 Ela é inspirada na verdade e no amor e reflete a semelhança com a atividade de Deus na criação.

A arte sacra desempenha um papel importante na fé e adoração, evocando o mistério transcendente de Deus. Ela leva as pessoas à adoração, à oração e ao amor de Deus, manifestando Sua beleza espiritual em Cristo, na Virgem Maria, nos anjos e nos santos. 33 A Igreja promove a arte sacra, portanto, como uma forma de elevar os corações para Deus, ao mesmo tempo em que se esforça para preservar a autenticidade e a fidelidade à fé nas obras de arte religiosa. 34

“Por isso, os bispos devem, por si próprios ou por delegados, velar pela promoção da arte sacra, antiga e nova, sob todas as suas formas e, com o mesmo religioso cuidado, afastar da liturgia e dos lugares de culto tudo o que não for conforme com a verdade da fé e a autêntica beleza da arte sacra.” 34

Santo Tomás de Aquino sobre o mandamento Não levantar falso testemunho

Santo Tomás de Aquino analisa como este mandamento se aplica em diferentes contextos. Em primeiro lugar, ele menciona que este preceito se estende a situações de testemunho falso em juízo, destacando que acusar falsamente alguém é prejudicial, assim como mentir ou condenar injustamente como juiz. 35 Ele argumenta que a mentira, além de ser prejudicial à comunidade, destruir a confiança entre as pessoas e manchar a reputação, faz perder a alma. 36

Ele também aborda as formas de mentira que ocorrem em conversas cotidianas37, como a difamação, a maledicência e a fofoca. Ele adverte contra essas práticas, ao ressaltar que a mentira é prejudicial para a alma e pode afetar negativamente a reputação de alguém. O Doutor Angélico reconhece que, em algumas situações, as pessoas podem ser tentadas a mentir por humildade, vergonha, utilidade ou para evitar incômodos, mas enfatiza que a mentira não deve ser usada como um refúgio. 37

Por fim, Santo Tomás conclui que a mentira é um pecado mortal quando envolve assuntos relacionados à fé ou prejudica gravemente o próximo. No entanto, ele também observa que deve-se evitar o hábito de mentir por diversão, pois ele pode conduzir ao pecado mortal. A análise de Santo Tomás evidencia, portanto, a importância de sempre falar a verdade, ser honesto e não prejudicar o próximo com falsas declarações.

Conheça a vida e o legado de Santo Tomás

Como se aprofundar no estudo dos 10 Mandamentos?

Se você se interessou pelo tema dos 10 Mandamentos e gostaria de se aprofundar nele, Santo Tomás de Aquino deu algumas catequeses sobre cada um dos mandamentos, incluindo amar a Deus sobre todas as coisas. A obra Catequeses de Santo Tomás reúne não só essas catequeses, como também sermões do santo sobre o Pai Nosso, a Ave Maria, os Sacramentos e o Credo. Para saber como adquirir essa obra, acesse: Catequeses de Santo Tomás.

Referências

  1. Dt 30, 16[]
  2. Mt 19,17[]
  3. Mt 19, 18[]
  4. Ef 4, 25[]
  5. CIC, 2465[]
  6. CIC, 2466[]
  7. CIC, 2467[]
  8. CIC, 2468[]
  9. CIC, 2469[]
  10. CIC, 2470[]
  11. I Jo 1, 6[]
  12. CIC, 2471[]
  13. CIC, 2472[]
  14. CIC, 2473[]
  15. CIC, 2474[]
  16. CIC, 2475[]
  17. CIC, 2476[]
  18. CIC, 2477[]
  19. CIC, 2478[]
  20. CIC, 2487[]
  21. CIC, 2488[][]
  22. CIC, 2489[]
  23. CIC, 2490[]
  24. CIC, 2492[]
  25. CIC, 2493[]
  26. CIC, 2494[]
  27. CIC, 2495[]
  28. CIC, 2496[]
  29. CIC, 2497[]
  30. CIC, 2498[]
  31. CIC, 2499[]
  32. CIC, 2500[][][]
  33. CIC, 2501[]
  34. CIC, 2503[][]
  35. Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2023., p.211[]
  36. Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2023., p.213[]
  37. Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2023., p.212[][]
Redação MBC

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Conheça o oitavo mandamento, não levantar falso testemunho, como aparece na Bíblia e qual o ensinamento da Igreja sobre ele.

Qualquer ato que deturpe a verdade, por meio de palavras ou ações, reflete uma falta de comprometimento com a integridade moral. O oitavo mandamento, não levantar falso testemunho, mostra-nos que viver na verdade é a nossa vocação, uma vez que somos chamados a ser testemunhas do seu Deus — que é a própria verdade.

No entanto, este mandamento vai além da proibição de contar mentiras, seu conceito é bem mais amplo, desde o Antigo Testamento. Por isso, vamos conhecê-lo de forma mais profunda e detalhada neste artigo, com base nas Escrituras e nos ensinamentos da Tradição da Igreja.

Os 10 mandamentos

Os mandamentos são um caminho para a Vida. Estas são palavras do próprio Deus tanto no antigo quanto no novo testamento. No livro do Deuteronômio, Deus diz “Se amares o teu Deus, andares nos seus caminhos e guardares os seus mandamentos, leis e costumes, viverás e multiplicar-te-ás.” 1 O Decálogo condensa a lei divina, originalmente inscrita em nossos corações.

No Novo Testamento, a resposta ao jovem rico é similar ao versículo acima, “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.” 2 Embora Deus tenha inscrito esses mandamentos em nossos corações, o pecado obscureceu nossa razão, fazendo com que não mais obedecêssemos à voz da consciência. Sendo assim, as Tábuas da Lei, escritas pelo próprio Deus, foram dadas para nos mostrar novamente, e com clareza, o verdadeiro caminho.

Conheça os dez mandamentos na Bíblia e na tradição da Igreja.

Não levantar falso testemunho nas Escrituras

No Livro do Êxodo, encontramos a versão original deste mandamento: “Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.” Essa instrução destaca a necessidade de não proferir mentiras que possam prejudicar a reputação ou a justiça de outra pessoa.

No contexto do Deuteronômio, em que o povo está prestes a entrar na terra prometida, o mandamento é reafirmado. Nesse sentido, a repetição enfatiza sua importância e a responsabilidade de sermos guardiões da verdade e da integridade.

Além disso, Cristo, no Novo Testamento, também reforça a importância da veracidade no Evangelho de Mateus quando cita os mandamentos e inclui o de não dar falso testemunho ao aconselhar um jovem rico sobre a conduta de vida. 3

O oitavo mandamento aparece, ainda que de forma indireta, nas cartas de São Paulo. Ele destaca a importância de viver e falar a verdade, sobretudo para quem é cristão: “Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros.” 4

Todas estas menções das Escrituras sobre não levantar falso testemunho abordam, portanto, a importância da verdade, da honestidade e do amor ao próximo como princípios fundamentais que estão em harmonia com oitavo mandamento.

O que Igreja ensina sobre Não levantar falso testemunho

Viver na verdade

A base para a compreensão desse mandamento é a crença de que Deus é a fonte de toda a verdade. 5 Sua Palavra é verdade e Sua lei é verdade. Os fiéis são chamados a viver na verdade, refletindo, portanto, a natureza divina.

A verdade de Deus manifestou-se plenamente em Jesus Cristo. 6 Ele é a verdade, portanto, segui-lo é viver do Espírito de verdade. Jesus ensinou os seus discípulos a amar incondicionalmente a verdade, destacando a importância de uma linguagem honesta.

O ser humano é naturalmente inclinado para a verdade e tem a obrigação moral de buscá-la. 7 Isso inclui a busca da verdade religiosa e a adesão à verdade quando conhecida. A veracidade, ou seja, a retidão na ação e na palavra humana, é uma virtude que implica em ser verdadeiro em ações e palavras, evitando a duplicidade e a hipocrisia. 8

A veracidade é fundamental para a convivência entre as pessoas, 9 pois a confiança mútua depende da sinceridade e da honestidade. Além disso, manter um equilíbrio entre o que deve ser dito e o que deve ficar em segredo é fundamental e envolve tanto a honestidade quanto a discrição.

O discípulo de Cristo é chamado a viver na verdade, seguindo o exemplo do Senhor. 10 “Se dizemos ter comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a verdade.” 11 Sendo assim, a sinceridade e a veracidade são valores essenciais que a Igreja ensina em relação ao mandamento “não levantar falso testemunho”.

Dar testemunho da verdade

O mandamento “Não levantar falso testemunho” não se limita apenas a evitar a mentira, mas também inclui a obrigação de dar testemunho da verdade. 12 Cristo, ao enfrentar Pilatos, afirmou que veio ao mundo para dar testemunho da verdade. Portanto, o cristão é encorajado a não se envergonhar de dar testemunho do Senhor e a professar sua fé de maneira inequívoca, seguindo o exemplo de São Paulo diante de seus juízes. Ou seja, manter uma consciência irrepreensível diante de Deus e dos homens.

A participação ativa na vida da Igreja implica agir como testemunhas do Evangelho e das obrigações que dele derivam. 13 O testemunho dos cristãos envolve transmitir a fé por meio de palavras e ações, isso é considerado um ato de justiça que estabelece ou revela a verdade. Todos os fiéis cristãos são chamados a manifestar, tanto pelo exemplo de vida quanto pelo testemunho verbal, a transformação que ocorreu neles através do Batismo e da virtude do Espírito Santo recebida na Confirmação.

O martírio, por exemplo, é o mais alto testemunho em favor da verdade da fé. 14 É um ato de amor supremo e de coragem extrema. O mártir dá testemunho de Cristo, da verdade da fé e da doutrina cristã, e suporta a morte com fortaleza, unido a Cristo pela caridade.

A Igreja tem preservado com grande cuidado as memórias daqueles que testemunharam sua fé até o fim. 15 As Atas dos Mártires são registros preciosos escritos com “letras de sangue”. Essas memórias são testemunhos vívidos do compromisso de indivíduos que preferiram morrer em Cristo a renunciar à sua fé. Eles glorificaram a Deus por meio de seu martírio, dando um exemplo eterno de fidelidade à verdade e ao Senhor Jesus Cristo.

As ofensas à verdade

Os discípulos de Cristo devem revestir-se do “homem novo”, criado na justiça e na santidade verdadeira 16. Por isso, precisam libertar-se da mentira e rejeitar qualquer malícia, falsidade, hipocrisia, inveja e maledicência.

Falso testemunho e perjúrio, por exemplo, são ofensas graves à verdade. 17 Fornecer informações falsas publicamente ou sob juramento compromete seriamente a justiça e a equidade, podendo resultar na condenação de um inocente, na absolvição de um culpado ou no aumento da pena de um acusado. Essas ações prejudicam o exercício da justiça e a confiança na imparcialidade dos tribunais.

A Igreja também enfatiza o respeito pela reputação das pessoas, proibindo qualquer ação ou palavra que possa causar dano injusto a alguém. 18 Isso inclui evitar o juízo temerário, que envolve aceitar como verdadeira uma falha moral do próximo sem prova suficiente, bem como evitar a maledicência e a calúnia, que consistem em revelar defeitos e faltas de outrem sem motivo válido.

Além disso, a Igreja também destaca a importância de interpretar as palavras e ações do próximo de forma favorável sempre que possível. 19 Os cristãos devem estar dispostos a dar o benefício da dúvida e corrigir com benevolência aqueles que parecem estar equivocados, em vez de condená-los precipitadamente.

Por fim, a Igreja ensina que qualquer falta cometida contra a justiça e a verdade requer reparação. 20 Isso inclui as faltas cometidas contra a reputação de alguém. Mesmo que o autor tenha sido perdoado, o dever de reparação permanece. Se não for possível reparar publicamente, isso deve ser feito em segredo. Se a vítima não puder ser compensada diretamente, uma satisfação moral em nome da caridade é necessária. Esse dever de reparação é avaliado com base no prejuízo causado e é uma obrigação moral em consciência.

O respeito pela verdade

“O direito à comunicação da verdade não é absoluto” 21, em primeiro lugar, cada indivíduo deve considerar o preceito do amor fraterno ao decidir se deve ou não revelar a verdade em determinadas situações. 21 A caridade e o respeito pela verdade devem orientar a resposta a qualquer pedido de informação ou comunicação.

Em algumas circunstâncias, o bem e a segurança de outrem, assim como o respeito pela vida privada e pelo bem comum podem justificar o silêncio ou o uso de linguagem discreta. O dever de evitar o escândalo muitas vezes exige discrição estrita, e ninguém é obrigado a revelar a verdade a quem não tem o direito de conhecê-la. 22

O sigilo do sacramento da Reconciliação é sagrado e inviolável. 23 Sendo assim, o confessor não pode denunciar o penitente de forma alguma. Essa proteção do sigilo sacramental é absoluta e destinada a garantir que os penitentes possam confessar livremente — sem medo de que seus pecados sejam divulgados.

Os segredos profissionais (como os feitos por médicos e juristas) e confidências feitas sob sigilo também devem ser mantidos. Além disso, mesmo que não estejam sob sigilo, não se deve divulgar informações particulares prejudiciais a outras pessoas sem uma razão grave e proporcionada.

A Igreja enfatiza a necessidade de observar uma justa reserva em relação à vida privada das pessoas. 24 Os responsáveis pela comunicação devem equilibrar as exigências do bem comum com o respeito pelos direitos individuais. Também a intromissão dos meios de comunicação na vida privada das pessoas envolvidas em atividades políticas ou públicas é condenável, pois viola sua intimidade e liberdade. 

O uso dos meios de comunicação social

A Igreja reconhece o papel significativo dos meios de comunicação social na sociedade moderna. 25 No entanto, a informação mediática deve estar a serviço do bem comum 26, pois a sociedade tem o direito a uma informação baseada na verdade, liberdade, justiça e solidariedade.

Para isso, é necessário que a comunicação seja sempre verídica em seu conteúdo e respeite as exigências da justiça e da caridade. Além disso, a forma como a informação é obtida e divulgada deve obedecer estritamente às leis morais, aos direitos e à dignidade do ser humano. Todos os membros da sociedade devem utilizar os meios de comunicação para a formação de uma opinião pública reta. 27

Os meios de comunicação social, especialmente os mass media, podem levar à passividade dos usuários, tornando-os consumidores desatentos de mensagens e entretenimento. 28 Portanto, é necessário que os usuários exerçam moderação e disciplina em relação aos meios de comunicação e desenvolvam uma consciência informada para resistir a influências menos honestas.

Os profissionais da mídia têm o dever de servir a verdade sem ofender a caridade e de respeitar tanto a natureza dos fatos quanto os limites do julgamento crítico em relação às pessoas 29, bem como evitar qualquer forma de difamação.

As autoridades civis também têm obrigações específicas no que diz respeito ao bem comum. 30 Elas devem promulgar leis que protejam a verdadeira e justa liberdade de informação, evitem o mau uso dos meios de comunicação e sancionem a violação dos direitos individuais, assim como o bom nome e a privacidade.

A Igreja condena veementemente os estados totalitários que falsificam sistematicamente a verdade e manipulam a opinião pública através dos meios de comunicação. 31 Esses regimes reprimem a liberdade de expressão, sufocam a oposição e distorcem a verdade para manter seu controle político. 

Verdade, beleza e arte sacra

A Igreja reconhece que a verdade e a beleza estão intrinsecamente ligadas. 32 A verdade não é apenas uma expressão racional do conhecimento, mas também uma fonte de alegria e beleza espiritual. Deus se revela não apenas em palavras, mas também na linguagem universal da criação. A ordem e harmonia do cosmos refletem Sua Sabedoria e levam à contemplação de Seu Autor. 32

A Sabedoria de Deus é descrita como o esplendor da luz eterna, e Sua criação é um reflexo de Sua beleza. A arte também é uma expressão da verdade e da beleza humanas, sendo uma forma de sabedoria prática que busca dar forma à verdade de uma realidade. 32 Ela é inspirada na verdade e no amor e reflete a semelhança com a atividade de Deus na criação.

A arte sacra desempenha um papel importante na fé e adoração, evocando o mistério transcendente de Deus. Ela leva as pessoas à adoração, à oração e ao amor de Deus, manifestando Sua beleza espiritual em Cristo, na Virgem Maria, nos anjos e nos santos. 33 A Igreja promove a arte sacra, portanto, como uma forma de elevar os corações para Deus, ao mesmo tempo em que se esforça para preservar a autenticidade e a fidelidade à fé nas obras de arte religiosa. 34

“Por isso, os bispos devem, por si próprios ou por delegados, velar pela promoção da arte sacra, antiga e nova, sob todas as suas formas e, com o mesmo religioso cuidado, afastar da liturgia e dos lugares de culto tudo o que não for conforme com a verdade da fé e a autêntica beleza da arte sacra.” 34

Santo Tomás de Aquino sobre o mandamento Não levantar falso testemunho

Santo Tomás de Aquino analisa como este mandamento se aplica em diferentes contextos. Em primeiro lugar, ele menciona que este preceito se estende a situações de testemunho falso em juízo, destacando que acusar falsamente alguém é prejudicial, assim como mentir ou condenar injustamente como juiz. 35 Ele argumenta que a mentira, além de ser prejudicial à comunidade, destruir a confiança entre as pessoas e manchar a reputação, faz perder a alma. 36

Ele também aborda as formas de mentira que ocorrem em conversas cotidianas37, como a difamação, a maledicência e a fofoca. Ele adverte contra essas práticas, ao ressaltar que a mentira é prejudicial para a alma e pode afetar negativamente a reputação de alguém. O Doutor Angélico reconhece que, em algumas situações, as pessoas podem ser tentadas a mentir por humildade, vergonha, utilidade ou para evitar incômodos, mas enfatiza que a mentira não deve ser usada como um refúgio. 37

Por fim, Santo Tomás conclui que a mentira é um pecado mortal quando envolve assuntos relacionados à fé ou prejudica gravemente o próximo. No entanto, ele também observa que deve-se evitar o hábito de mentir por diversão, pois ele pode conduzir ao pecado mortal. A análise de Santo Tomás evidencia, portanto, a importância de sempre falar a verdade, ser honesto e não prejudicar o próximo com falsas declarações.

Conheça a vida e o legado de Santo Tomás

Como se aprofundar no estudo dos 10 Mandamentos?

Se você se interessou pelo tema dos 10 Mandamentos e gostaria de se aprofundar nele, Santo Tomás de Aquino deu algumas catequeses sobre cada um dos mandamentos, incluindo amar a Deus sobre todas as coisas. A obra Catequeses de Santo Tomás reúne não só essas catequeses, como também sermões do santo sobre o Pai Nosso, a Ave Maria, os Sacramentos e o Credo. Para saber como adquirir essa obra, acesse: Catequeses de Santo Tomás.

Referências

  1. Dt 30, 16[]
  2. Mt 19,17[]
  3. Mt 19, 18[]
  4. Ef 4, 25[]
  5. CIC, 2465[]
  6. CIC, 2466[]
  7. CIC, 2467[]
  8. CIC, 2468[]
  9. CIC, 2469[]
  10. CIC, 2470[]
  11. I Jo 1, 6[]
  12. CIC, 2471[]
  13. CIC, 2472[]
  14. CIC, 2473[]
  15. CIC, 2474[]
  16. CIC, 2475[]
  17. CIC, 2476[]
  18. CIC, 2477[]
  19. CIC, 2478[]
  20. CIC, 2487[]
  21. CIC, 2488[][]
  22. CIC, 2489[]
  23. CIC, 2490[]
  24. CIC, 2492[]
  25. CIC, 2493[]
  26. CIC, 2494[]
  27. CIC, 2495[]
  28. CIC, 2496[]
  29. CIC, 2497[]
  30. CIC, 2498[]
  31. CIC, 2499[]
  32. CIC, 2500[][][]
  33. CIC, 2501[]
  34. CIC, 2503[][]
  35. Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2023., p.211[]
  36. Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2023., p.213[]
  37. Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS : Minha Biblioteca Católica, 2023., p.212[][]

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