Formação

Plano de vida espiritual: um caminho de santidade no cotidiano

Entenda o que é um plano de vida espiritual e como organizá-lo com práticas diárias de oração, sacramentos e presença constante de Deus.

Plano de vida espiritual: um caminho de santidade no cotidiano
Formação

Plano de vida espiritual: um caminho de santidade no cotidiano

Entenda o que é um plano de vida espiritual e como organizá-lo com práticas diárias de oração, sacramentos e presença constante de Deus.

Data da Publicação: 08/09/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 08/09/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Como viver uma vida espiritual mais estável e profunda? Como transformar os compromissos diários — trabalho, família, estudo — em momentos de encontro com Deus? Diversos santos ao longo da história, como São Josemaria Escrivá, São Boaventura e Santa Teresa de Jesus, apontaram um caminho muito eficaz: o plano de vida espiritual.

Neste artigo, vamos apresentar de forma clara e acessível o que é esse plano, quais são seus fundamentos e como ele pode ser vivido no cotidiano. Muito mais do que uma lista de tarefas espirituais, trata-se de um caminho para crescer no amor a Deus e alcançar a santidade.

O que é um plano de vida espiritual?

O plano de vida espiritual é uma maneira concreta de organizar o dia a dia à luz da fé. Ele nos ajuda a cultivar uma amizade constante com Deus, transformando os momentos ordinários — trabalho, descanso, relações familiares — em ocasiões de oração e santificação. Não se trata de uma série de obrigações rígidas, mas de um caminho amoroso e fiel, que une a alma a Deus em todas as circunstâncias.

Jesus mesmo nos ensina a importância de planejar e construir com sabedoria: “Qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos e ver se tem com que terminá-la?” 1. Assim também é a vida espiritual: requer discernimento, constância e meios adequados. Por isso, muitos santos recomendam o cultivo de práticas espirituais regulares — oração, sacramentos, meditação da Palavra — organizadas num plano coerente, que ajude a alma a manter-se orientada para Deus em todos os momentos do dia.

A imagem de um plano remete a estrutura, coerência, rumo: uma disposição ordenada de meios que leva à unidade de vida, conforme o chamado universal à santidade. Trata-se, pois, de um caminho de fidelidade, ajustado à realidade concreta de cada pessoa, mas sempre pautado por uma constância amorosa no trato com Deus.

Fundamentos do plano de vida espiritual

A importância do autoconhecimento e da perseverança

O caminho espiritual passa, necessariamente, pelo conhecimento de si mesmo e pela firme decisão de perseverar. São Boaventura afirma com clareza: “Toda vida espiritual deve começar pelo conhecimento de si mesmo, e acabar pela perseverança, que é o auge, a coroa” 2.

Sem saber onde estão suas fragilidades e forças, a alma se expõe a enganos; e sem constância, mesmo os melhores propósitos se dissipam com o tempo.

A ordem como princípio da vida interior

A jornada de santificação exige disciplina, organização e constância. Santa Teresa de Jesus nos recorda que “o recolhimento da alma depende muito da constância” 3.

Essa constância nasce de uma ordem bem estabelecida: horários definidos para rezar, práticas adaptadas à realidade de vida e um propósito claro de união com Deus. Assim como o corpo precisa de cuidados regulares para manter-se saudável, a alma necessita de meios consistentes para corresponder ao chamado divino.

Padre Sertillanges aconselhava inclusive a registrar os propósitos espirituais: “Decidido a pagar, inscreva nas tábuas do coração […] uma resolução firme. Eu o aconselho a escrever também preto no branco […] e renovar a cada dia suas decisões” 4.

Unidade de vida

Um dos fundamentos mais importantes é a unidade de vida: a convicção de que tudo pode e deve ser feito com Deus, em Deus e para Deus. São Josemaria Escrivá ensina: “Há uma única vida, feita de carne e espírito, e é essa que tem que ser — na alma e no corpo — santa e cheia de Deus. A esse Deus invisível, nós o encontramos nas coisas mais visíveis e materiais” 5.

Constância na oração e nos sacramentos

São Josemaria lembrava: “Quem deseja lutar, serve-se dos meios adequados. E os meios não mudaram nestes vinte séculos de cristianismo: oração, mortificação e frequência de Sacramentos” 6. Santo Afonso de Ligório também reforça: “Quem não se dedica todos os dias à oração mental dificilmente perseverará na graça de Deus” 7.

Assim, o plano de vida é como o leito de um rio: dá direção à correnteza da alma. Sem ele, o progresso espiritual tende a tornar-se superficial e frágil diante das tribulações. Com ele, até mesmo as rotinas simples ganham um sentido sobrenatural, pois passam a ser vividas como resposta de amor.

O plano de vida espiritual segundo São Josemaria Escrivá

Para São Josemaria, o plano de vida espiritual não é uma novidade ou invenção pessoal, mas uma reordenação fiel das práticas tradicionais da piedade cristã, vividas com amor e perseverança. Ele o recomenda como um meio para “impregnar de caridade com Deus cada momento do dia” 8.

Seu próprio testemunho de vida confirma a eficácia desse plano: desde a juventude, cultivava a oração, o exame de consciência, a leitura espiritual e a frequência aos sacramentos. Ele mesmo diz: “O núcleo do plano de vida […] é constituído pelo Santo Sacrifício da Missa, centro e raiz da vida espiritual do cristão” 9.

Além da Missa, ele inclui no plano: a Confissão frequente, o Rosário, a visita ao Santíssimo Sacramento, o exame de consciência, as jaculatórias e a direção espiritual. O objetivo de tudo isso é viver na presença de Deus e transformar a rotina em ocasião de santificação 10.

Veja também este artigo: plano de vida de São Josemaria Escrivá.

Outros santos que indicaram um plano de vida

A tradição da Igreja está repleta de santos que, em diferentes épocas e contextos, propuseram esquemas de vida espiritual para orientar os fiéis no caminho da santidade. Embora cada um tenha sua ênfase particular, todos convergem em um mesmo ponto: a necessidade de ordem, constância e meios concretos para sustentar a vida interior.

São Boaventura, doutor seráfico, recordava que a caminhada espiritual começa dentro de nós e só se consolida com perseverança: “Toda vida espiritual deve começar pelo conhecimento de si mesmo, e acabar pela perseverança, que é o auge, a coroa” 11. Esse olhar realista sobre as próprias forças e fraquezas é o primeiro passo para que a alma avance de maneira segura.

Na mesma linha prática, São Francisco de Sales, em sua célebre Filoteia, ofereceu aos leigos um verdadeiro manual para a vida devota. Suas orientações são simples e concretas: orações diárias, meditações, conselhos de prudência e exercícios de caridade, que permitem transformar a rotina ordinária em caminho de santificação 12.

Também Santa Teresa de Jesus insistia que a alma precisa de disciplina para florescer na oração. Para ela, o recolhimento interior não é fruto de improviso, mas de constância: “A vida espiritual requer ordem, pois o recolhimento da alma depende muito da constância” 3.

Santo Afonso de Ligório, por sua vez, reforçava que a perseverança só se sustenta na oração cotidiana. Em suas palavras: “Quem não se dedica todos os dias à oração mental dificilmente perseverará na graça de Deus” 7. A oração, portanto, é não apenas prática recomendada, mas condição de perseverança.

Assim, embora cada santo fale a partir de sua própria experiência, todos oferecem o mesmo ensinamento essencial: a vida espiritual precisa de método, constância e meios bem definidos. O plano de vida, nesse sentido, é como uma bússola que orienta a alma, ajudando-a a avançar com segurança no caminho da santidade.

Estrutura essencial de um plano de vida

Manhã: começar com Deus

O início do dia é o momento ideal para entregar tudo ao Senhor. Práticas como a oferta do dia, a oração mental, uma breve leitura espiritual e, se possível, a participação na Santa Missa, ajudam a colocar a alma em sintonia com Deus desde cedo. Como ensina Santo Afonso, quem começa o dia com oração dificilmente se afastará da graça 13.

Confira 5 orações curtas para fazer no dia a dia.

Durante o dia: presença de Deus e santificação do trabalho

Ao longo do dia, o plano de vida busca manter viva a presença de Deus. Isso pode ser feito com jaculatórias, a recitação do Angelus ao meio-dia, pequenos atos de caridade e a dedicação amorosa ao trabalho, transformando-o em oração.

Conheça e reze a Oração do Angelus.

Noite: exame, gratidão e descanso em Deus

Encerrar o dia com Deus é essencial. A prática do exame de consciência permite reconhecer graças recebidas e pedir perdão pelas faltas. Pode-se também fazer uma leitura espiritual, rezar o terço (caso não tenha sido rezado antes) e concluir com uma oração de entrega, confiando o descanso à providência divina.

Acesse aqui um artigo completo sobre o Exame de Consciência.

Viver o plano de vida com amor e flexibilidade

Amor, não formalismo

Mais importante do que cumprir uma lista de tarefas espirituais é vivê-las como encontros amorosos com Deus. São Josemaria Escrivá recorda: “A vida interior robustece-se com a luta nas práticas diárias de piedade, que deves cumprir – mais: que deves viver! – amorosamente, porque o nosso caminho de filhos de Deus é de Amor” 14.

Padre Pio também sublinhava que a oração feita com amor verdadeiro era mais eficaz do que qualquer quantidade de palavras repetidas sem coração. Assim, o plano de vida só produz frutos se for vivido com sinceridade, afeto e entrega, e não como um ritual vazio.

Firmeza sem rigidez

O plano espiritual deve ser constante, mas não inflexível. São Josemaria utiliza a imagem de uma luva de borracha: “O teu plano de vida tem de ser como essa luva de borracha que se adapta com perfeição à mão que a usa” 15.

Isso significa que as práticas fundamentais precisam permanecer — oração, sacramentos, leitura espiritual —, mas o modo de vivê-las pode variar conforme as circunstâncias da vida. O essencial é a fidelidade interior, mesmo quando o ritmo muda por causa do trabalho, da saúde ou de imprevistos.

Santa Teresa de Jesus também ensina que o recolhimento da alma nasce da constância, mas pede paciência e liberdade interior, sem escrúpulos nem pressões sufocantes 16.

Direção espiritual como apoio

A direção espiritual é um grande auxílio para manter o plano de vida equilibrado, vivo e fecundo. Um orientador ajuda a perceber se o plano está adequado à própria vocação, corrige desvios e estimula o crescimento. Como lembrava São Boaventura, a alma deve levantar o edifício da vida espiritual sobre fundamentos sólidos, e a presença de um guia é um dom precioso para esse processo 2.

Com o apoio da direção espiritual, o fiel aprende a viver o plano com constância, sem cair no relaxamento nem no peso do formalismo, ajustando-o com humildade às exigências da vida real.

Saiba mais sobre o papel da direção espiritual.

Um convite a começar (ou recomeçar) hoje

Por fim, o plano de vida não é apenas para quem já está avançado na fé. Ao contrário: é um caminho para quem deseja crescer. Nunca é tarde para começar. Santa Teresinha nos recorda, citando o Eclesiástico: “Não se acaba, é preciso sempre recomeçar… Quando o homem tiver acabado, então estará no começo” 17.

O convite está feito: com simplicidade e coragem, comece hoje mesmo — ou recomece. Deus acolhe cada esforço e multiplica cada pequena fidelidade. Um plano de vida bem vivido transforma o comum em sagrado e faz da rotina um caminho de santidade.

Referências

  1. Lc 14,28[]
  2. São Boaventura, A Direção da Alma, Minha Biblioteca Católica, 2021, p. 11[][]
  3. Santa Teresa de Jesus, As Moradas do Castelo Interior, Minha Biblioteca Católica, 2019[][]
  4. Padre Sertillanges, A Vida Intelectual, Editora Biblioteca Católica, 2025, p. 182[]
  5. São Josemaria Escrivá, Conversas, Quadrante, 1993, n. 114[]
  6. São Josemaria Escrivá, É Cristo que Passa, Quadrante, 1993, p. 78[]
  7. Santo Afonso de Ligório, A Oração, Minha Biblioteca Católica[][]
  8. São Josemaria Escrivá, “Amigos de Deus”, Quadrante, 1993, p. 62[]
  9. São Josemaria Escrivá, “É Cristo que Passa”, p. 87[]
  10. São Josemaria Escrivá, “Sulco”, Quadrante, 1993, n. 497[]
  11. São Boaventura, A Direção da Alma, Minha Biblioteca Católica, 2021[]
  12. São Francisco de Sales, Filoteia: Introdução à Vida Devota, Minha Biblioteca Católica, 2019[]
  13. Santo Afonso de Ligório, A Oração, Minha Biblioteca Católica[]
  14. São Josemaria Escrivá, Forja, Quadrante, 1993, n. 83[]
  15. São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, Quadrante, 1993, p. 149[]
  16. Santa Teresa de Jesus, Caminho de Perfeição, Minha Biblioteca Católica[]
  17. Eclesiástico 18,6, citado em História de uma Alma, Santa Teresinha, Minha Biblioteca Católica, 2018[]
Redação MBC

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Como viver uma vida espiritual mais estável e profunda? Como transformar os compromissos diários — trabalho, família, estudo — em momentos de encontro com Deus? Diversos santos ao longo da história, como São Josemaria Escrivá, São Boaventura e Santa Teresa de Jesus, apontaram um caminho muito eficaz: o plano de vida espiritual.

Neste artigo, vamos apresentar de forma clara e acessível o que é esse plano, quais são seus fundamentos e como ele pode ser vivido no cotidiano. Muito mais do que uma lista de tarefas espirituais, trata-se de um caminho para crescer no amor a Deus e alcançar a santidade.

O que é um plano de vida espiritual?

O plano de vida espiritual é uma maneira concreta de organizar o dia a dia à luz da fé. Ele nos ajuda a cultivar uma amizade constante com Deus, transformando os momentos ordinários — trabalho, descanso, relações familiares — em ocasiões de oração e santificação. Não se trata de uma série de obrigações rígidas, mas de um caminho amoroso e fiel, que une a alma a Deus em todas as circunstâncias.

Jesus mesmo nos ensina a importância de planejar e construir com sabedoria: “Qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos e ver se tem com que terminá-la?” 1. Assim também é a vida espiritual: requer discernimento, constância e meios adequados. Por isso, muitos santos recomendam o cultivo de práticas espirituais regulares — oração, sacramentos, meditação da Palavra — organizadas num plano coerente, que ajude a alma a manter-se orientada para Deus em todos os momentos do dia.

A imagem de um plano remete a estrutura, coerência, rumo: uma disposição ordenada de meios que leva à unidade de vida, conforme o chamado universal à santidade. Trata-se, pois, de um caminho de fidelidade, ajustado à realidade concreta de cada pessoa, mas sempre pautado por uma constância amorosa no trato com Deus.

Fundamentos do plano de vida espiritual

A importância do autoconhecimento e da perseverança

O caminho espiritual passa, necessariamente, pelo conhecimento de si mesmo e pela firme decisão de perseverar. São Boaventura afirma com clareza: “Toda vida espiritual deve começar pelo conhecimento de si mesmo, e acabar pela perseverança, que é o auge, a coroa” 2.

Sem saber onde estão suas fragilidades e forças, a alma se expõe a enganos; e sem constância, mesmo os melhores propósitos se dissipam com o tempo.

A ordem como princípio da vida interior

A jornada de santificação exige disciplina, organização e constância. Santa Teresa de Jesus nos recorda que “o recolhimento da alma depende muito da constância” 3.

Essa constância nasce de uma ordem bem estabelecida: horários definidos para rezar, práticas adaptadas à realidade de vida e um propósito claro de união com Deus. Assim como o corpo precisa de cuidados regulares para manter-se saudável, a alma necessita de meios consistentes para corresponder ao chamado divino.

Padre Sertillanges aconselhava inclusive a registrar os propósitos espirituais: “Decidido a pagar, inscreva nas tábuas do coração […] uma resolução firme. Eu o aconselho a escrever também preto no branco […] e renovar a cada dia suas decisões” 4.

Unidade de vida

Um dos fundamentos mais importantes é a unidade de vida: a convicção de que tudo pode e deve ser feito com Deus, em Deus e para Deus. São Josemaria Escrivá ensina: “Há uma única vida, feita de carne e espírito, e é essa que tem que ser — na alma e no corpo — santa e cheia de Deus. A esse Deus invisível, nós o encontramos nas coisas mais visíveis e materiais” 5.

Constância na oração e nos sacramentos

São Josemaria lembrava: “Quem deseja lutar, serve-se dos meios adequados. E os meios não mudaram nestes vinte séculos de cristianismo: oração, mortificação e frequência de Sacramentos” 6. Santo Afonso de Ligório também reforça: “Quem não se dedica todos os dias à oração mental dificilmente perseverará na graça de Deus” 7.

Assim, o plano de vida é como o leito de um rio: dá direção à correnteza da alma. Sem ele, o progresso espiritual tende a tornar-se superficial e frágil diante das tribulações. Com ele, até mesmo as rotinas simples ganham um sentido sobrenatural, pois passam a ser vividas como resposta de amor.

O plano de vida espiritual segundo São Josemaria Escrivá

Para São Josemaria, o plano de vida espiritual não é uma novidade ou invenção pessoal, mas uma reordenação fiel das práticas tradicionais da piedade cristã, vividas com amor e perseverança. Ele o recomenda como um meio para “impregnar de caridade com Deus cada momento do dia” 8.

Seu próprio testemunho de vida confirma a eficácia desse plano: desde a juventude, cultivava a oração, o exame de consciência, a leitura espiritual e a frequência aos sacramentos. Ele mesmo diz: “O núcleo do plano de vida […] é constituído pelo Santo Sacrifício da Missa, centro e raiz da vida espiritual do cristão” 9.

Além da Missa, ele inclui no plano: a Confissão frequente, o Rosário, a visita ao Santíssimo Sacramento, o exame de consciência, as jaculatórias e a direção espiritual. O objetivo de tudo isso é viver na presença de Deus e transformar a rotina em ocasião de santificação 10.

Veja também este artigo: plano de vida de São Josemaria Escrivá.

Outros santos que indicaram um plano de vida

A tradição da Igreja está repleta de santos que, em diferentes épocas e contextos, propuseram esquemas de vida espiritual para orientar os fiéis no caminho da santidade. Embora cada um tenha sua ênfase particular, todos convergem em um mesmo ponto: a necessidade de ordem, constância e meios concretos para sustentar a vida interior.

São Boaventura, doutor seráfico, recordava que a caminhada espiritual começa dentro de nós e só se consolida com perseverança: “Toda vida espiritual deve começar pelo conhecimento de si mesmo, e acabar pela perseverança, que é o auge, a coroa” 11. Esse olhar realista sobre as próprias forças e fraquezas é o primeiro passo para que a alma avance de maneira segura.

Na mesma linha prática, São Francisco de Sales, em sua célebre Filoteia, ofereceu aos leigos um verdadeiro manual para a vida devota. Suas orientações são simples e concretas: orações diárias, meditações, conselhos de prudência e exercícios de caridade, que permitem transformar a rotina ordinária em caminho de santificação 12.

Também Santa Teresa de Jesus insistia que a alma precisa de disciplina para florescer na oração. Para ela, o recolhimento interior não é fruto de improviso, mas de constância: “A vida espiritual requer ordem, pois o recolhimento da alma depende muito da constância” 3.

Santo Afonso de Ligório, por sua vez, reforçava que a perseverança só se sustenta na oração cotidiana. Em suas palavras: “Quem não se dedica todos os dias à oração mental dificilmente perseverará na graça de Deus” 7. A oração, portanto, é não apenas prática recomendada, mas condição de perseverança.

Assim, embora cada santo fale a partir de sua própria experiência, todos oferecem o mesmo ensinamento essencial: a vida espiritual precisa de método, constância e meios bem definidos. O plano de vida, nesse sentido, é como uma bússola que orienta a alma, ajudando-a a avançar com segurança no caminho da santidade.

Estrutura essencial de um plano de vida

Manhã: começar com Deus

O início do dia é o momento ideal para entregar tudo ao Senhor. Práticas como a oferta do dia, a oração mental, uma breve leitura espiritual e, se possível, a participação na Santa Missa, ajudam a colocar a alma em sintonia com Deus desde cedo. Como ensina Santo Afonso, quem começa o dia com oração dificilmente se afastará da graça 13.

Confira 5 orações curtas para fazer no dia a dia.

Durante o dia: presença de Deus e santificação do trabalho

Ao longo do dia, o plano de vida busca manter viva a presença de Deus. Isso pode ser feito com jaculatórias, a recitação do Angelus ao meio-dia, pequenos atos de caridade e a dedicação amorosa ao trabalho, transformando-o em oração.

Conheça e reze a Oração do Angelus.

Noite: exame, gratidão e descanso em Deus

Encerrar o dia com Deus é essencial. A prática do exame de consciência permite reconhecer graças recebidas e pedir perdão pelas faltas. Pode-se também fazer uma leitura espiritual, rezar o terço (caso não tenha sido rezado antes) e concluir com uma oração de entrega, confiando o descanso à providência divina.

Acesse aqui um artigo completo sobre o Exame de Consciência.

Viver o plano de vida com amor e flexibilidade

Amor, não formalismo

Mais importante do que cumprir uma lista de tarefas espirituais é vivê-las como encontros amorosos com Deus. São Josemaria Escrivá recorda: “A vida interior robustece-se com a luta nas práticas diárias de piedade, que deves cumprir – mais: que deves viver! – amorosamente, porque o nosso caminho de filhos de Deus é de Amor” 14.

Padre Pio também sublinhava que a oração feita com amor verdadeiro era mais eficaz do que qualquer quantidade de palavras repetidas sem coração. Assim, o plano de vida só produz frutos se for vivido com sinceridade, afeto e entrega, e não como um ritual vazio.

Firmeza sem rigidez

O plano espiritual deve ser constante, mas não inflexível. São Josemaria utiliza a imagem de uma luva de borracha: “O teu plano de vida tem de ser como essa luva de borracha que se adapta com perfeição à mão que a usa” 15.

Isso significa que as práticas fundamentais precisam permanecer — oração, sacramentos, leitura espiritual —, mas o modo de vivê-las pode variar conforme as circunstâncias da vida. O essencial é a fidelidade interior, mesmo quando o ritmo muda por causa do trabalho, da saúde ou de imprevistos.

Santa Teresa de Jesus também ensina que o recolhimento da alma nasce da constância, mas pede paciência e liberdade interior, sem escrúpulos nem pressões sufocantes 16.

Direção espiritual como apoio

A direção espiritual é um grande auxílio para manter o plano de vida equilibrado, vivo e fecundo. Um orientador ajuda a perceber se o plano está adequado à própria vocação, corrige desvios e estimula o crescimento. Como lembrava São Boaventura, a alma deve levantar o edifício da vida espiritual sobre fundamentos sólidos, e a presença de um guia é um dom precioso para esse processo 2.

Com o apoio da direção espiritual, o fiel aprende a viver o plano com constância, sem cair no relaxamento nem no peso do formalismo, ajustando-o com humildade às exigências da vida real.

Saiba mais sobre o papel da direção espiritual.

Um convite a começar (ou recomeçar) hoje

Por fim, o plano de vida não é apenas para quem já está avançado na fé. Ao contrário: é um caminho para quem deseja crescer. Nunca é tarde para começar. Santa Teresinha nos recorda, citando o Eclesiástico: “Não se acaba, é preciso sempre recomeçar… Quando o homem tiver acabado, então estará no começo” 17.

O convite está feito: com simplicidade e coragem, comece hoje mesmo — ou recomece. Deus acolhe cada esforço e multiplica cada pequena fidelidade. Um plano de vida bem vivido transforma o comum em sagrado e faz da rotina um caminho de santidade.

Referências

  1. Lc 14,28[]
  2. São Boaventura, A Direção da Alma, Minha Biblioteca Católica, 2021, p. 11[][]
  3. Santa Teresa de Jesus, As Moradas do Castelo Interior, Minha Biblioteca Católica, 2019[][]
  4. Padre Sertillanges, A Vida Intelectual, Editora Biblioteca Católica, 2025, p. 182[]
  5. São Josemaria Escrivá, Conversas, Quadrante, 1993, n. 114[]
  6. São Josemaria Escrivá, É Cristo que Passa, Quadrante, 1993, p. 78[]
  7. Santo Afonso de Ligório, A Oração, Minha Biblioteca Católica[][]
  8. São Josemaria Escrivá, “Amigos de Deus”, Quadrante, 1993, p. 62[]
  9. São Josemaria Escrivá, “É Cristo que Passa”, p. 87[]
  10. São Josemaria Escrivá, “Sulco”, Quadrante, 1993, n. 497[]
  11. São Boaventura, A Direção da Alma, Minha Biblioteca Católica, 2021[]
  12. São Francisco de Sales, Filoteia: Introdução à Vida Devota, Minha Biblioteca Católica, 2019[]
  13. Santo Afonso de Ligório, A Oração, Minha Biblioteca Católica[]
  14. São Josemaria Escrivá, Forja, Quadrante, 1993, n. 83[]
  15. São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, Quadrante, 1993, p. 149[]
  16. Santa Teresa de Jesus, Caminho de Perfeição, Minha Biblioteca Católica[]
  17. Eclesiástico 18,6, citado em História de uma Alma, Santa Teresinha, Minha Biblioteca Católica, 2018[]

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