Em 1660 foi fundada em Londres a Royal Society. O seu lema tem a força de um grito de guerra: Nullius in verba. Tradução muito livre: Pelas palavras de ninguém. Ou seja, o conhecimento que aqueles homens queriam incrementar e promover não tinha nenhuma conexão com a autoridade, mas somente com os fatos demonstráveis e inegáveis à observação e ao intelecto humano.
Na Atenas do século V a.C., Sócrates é considerado o iniciador do projeto filosófico. Ele se considerava um “parteiro de ideais”. Ao dialogar com seus discípulos, indagava-os sobre as consequências de suas ideias, muitas vezes mostrando a incoerência entre ideias que conviviam em uma mesma consciência, apesar da clara contradição existente. Nesse momento, o exercício filosófico partia de uma observação do fato concreto e, daí, se chegava a conclusões que são consideradas verdadeiras, sem que alguém julgasse necessária qualquer demonstração pela experiência, mas somente pela sua lógica ou racionalidade. Por exemplo, o conhecido raciocínio: todo homem é mortal; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal. Chamamos essas ideias encadeadas, necessárias umas às outras, silogismo. A capacidade de alguns filósofos para grandes conclusões, faz deles autoridades. Se Aristóteles falou ele provavelmente está certo.
A metafísica é o ramo da filosofia que talvez melhor exemplifique o prestígio das conclusões lógicas na antiguidade. Ela se pergunta pelo ser em si mesmo, ou seja, o que é algo na sua essência? Porém, qual é a experiência possível que podemos ter do ser em si? Toda a nossa experiência com as coisas que existem se dá através de nossos sentidos. Sinto com o meu tato o pelo do meu cachorro, sinto seu cheiro, vejo seu aspecto, ouço seu latido. Diante de mim há um cachorro. Mas qual dos sentidos percebe o ser existente do meu bichinho? Os vários elementos percebidos vão compor um quadro que nenhum sentido em separado poderia prover. Assim, a metafísica, a partir do observado, chega a conclusões acerca do ser que não são passíveis de uma comprovação experiencial.
Ao longo de toda a Idade Média (476 d.C até 1453), capitaneados pelos homens da Igreja, os povos da Europa ocidental recompõem seus currículos e métodos de ensino a partir do patrimônio da antiguidade a que tinham acesso, chegando a uma conquista significativa no século VIII, sob a condução de Alcuíno de York e o patrocínio do imperador Carlos Magno. Dessa forma, a filosofia, em especial dos padres da Igreja e sobretudo Agostinho (e através dele, Platão), vai ressurgindo no Ocidente. No século XII, os escritos de Aristóteles (considerado o grande metafísico da antiguidade), chegam a Santo Anselmo, que será o mestre de Santo Tomás de Aquino.
Para a mentalidade cristã, sempre houve um equilíbrio entre a autoridade do testemunho, fundado em evidências que lhe deem credibilidade e a experiência de constatar os resultados de pôr em prática os ensinamentos de Cristo, recebidos do testemunho da Igreja. Por isso, durante o período medieval, a capacidade racional do ser humano é naturalmente exercida à luz da experiência vivencial do ensinamento de Jesus Cristo.
Com o passar do tempo, com o desenvolvimento da filosofia e outras disciplinas, a atitude intelectual do Ocidente cresceu na convicção de que a razão humana cada vez menos dependia de qualquer suporte ou garantia, como a Sagrada Revelação na cristandade, de modo que se desenvolveu uma tendência a ver no conhecimento científico, no imediato e palpável, não somente um conhecimento muito importante, mas o único que realmente era digno de pautar a vida e a morte do ser humano.
No final do século XVII, 1696, nasce Santo Afonso de Ligório. Esse é considerado um dos grandes séculos de Revolução Cientifica, com nomes como Newnton, Kepler, Galileu e outros. O século XVIII, século da atuação do fundador dos Redentoristas, dará sequência aos avanços, mas também a uma mentalidade cada vez mais rebelde às autoridades do Estado e da Igreja, sendo que a esse tempo a Reforma Protestante era um fato incontornável, a Inglaterra já havia decapitado Carlos I e a França decapitaria Luís XVI em 1793. Esse é o grande século dos pensadores Iluministas e do movimento Enciclopédico, que pretendia colocar todo o conhecimento até ali adquirido pela humanidade numa coleção de vários volumes. Agora, novamente, sem atender a nenhuma autoridade ou aprovação, se trataria, pretensamente, de todo o conhecimento. Porém, é evidente que misturados a informações objetivas, poderia estar imiscuído a visão filosófica de quem escrevia o verbete.
De fato, a Idade Moderna (1453-1789) foi o período da consolidação das rupturas com a Idade Média, e o século em que se dá a vida de Santo Afonso de Ligório, é o último século aonde aquilo que era ruptura com a intelectualidade medieval, se tornará oposição e difamação do período que foi o parto da civilização ocidental.
Diante de um tempo de clara oposição a autoridade, em especial a autoridade moral e cientifica do pensamento cristão, Santo Afonso teria que enfrentar um monstro que atacava por cima e por baixo a sociedade de seu tempo. Havia uma visão cada vez mais rigorista da moral católica, muitas vezes conduzindo a um pensamento que exagerava a culpa. Por outro lado, o afã revolucionário de Iluministas, enciclopedistas e outros movimentos e grupos assemelhados, afastava uma parcela do povo dos sacramentos e da formação religiosa.
Assim, o padroeiro dos moralistas aparece como uma figura fundamental, não somente para o seu tempo, mas para todos os outros. G.K Chesterton, célebre escritor católico inglês do século XX, diz que existem vários lados para cair e apenas uma posição para se manter de pé. O verdadeiro equilíbrio, só pode ser encontrado nesse lugar, no lugar exclusivo da verdade. Independente da convicção pessoal, a busca da verdade demanda abertura às diversas dimensões da realidade. Enquanto o cientificismo quer reduzir o homem a um animal capaz de calcular, o rigorismo moral leva o homem a frustrar-se por não ser um anjo. Os grandes santos nos lembram em todos os tempos que somos homens, de carne e osso, sim, mas com um destino eterno, que nunca é irracional, mas que vai além da razão porque o eterno não pode ser plenamente compreendido pelos limites de tempo e espaço, mas, para os que tem olhos para ver, toda a criação fala de um fim e um destino que vai além dela.
O maior clube de leitores católicos do Brasil.
Em 1660 foi fundada em Londres a Royal Society. O seu lema tem a força de um grito de guerra: Nullius in verba. Tradução muito livre: Pelas palavras de ninguém. Ou seja, o conhecimento que aqueles homens queriam incrementar e promover não tinha nenhuma conexão com a autoridade, mas somente com os fatos demonstráveis e inegáveis à observação e ao intelecto humano.
Na Atenas do século V a.C., Sócrates é considerado o iniciador do projeto filosófico. Ele se considerava um “parteiro de ideais”. Ao dialogar com seus discípulos, indagava-os sobre as consequências de suas ideias, muitas vezes mostrando a incoerência entre ideias que conviviam em uma mesma consciência, apesar da clara contradição existente. Nesse momento, o exercício filosófico partia de uma observação do fato concreto e, daí, se chegava a conclusões que são consideradas verdadeiras, sem que alguém julgasse necessária qualquer demonstração pela experiência, mas somente pela sua lógica ou racionalidade. Por exemplo, o conhecido raciocínio: todo homem é mortal; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal. Chamamos essas ideias encadeadas, necessárias umas às outras, silogismo. A capacidade de alguns filósofos para grandes conclusões, faz deles autoridades. Se Aristóteles falou ele provavelmente está certo.
A metafísica é o ramo da filosofia que talvez melhor exemplifique o prestígio das conclusões lógicas na antiguidade. Ela se pergunta pelo ser em si mesmo, ou seja, o que é algo na sua essência? Porém, qual é a experiência possível que podemos ter do ser em si? Toda a nossa experiência com as coisas que existem se dá através de nossos sentidos. Sinto com o meu tato o pelo do meu cachorro, sinto seu cheiro, vejo seu aspecto, ouço seu latido. Diante de mim há um cachorro. Mas qual dos sentidos percebe o ser existente do meu bichinho? Os vários elementos percebidos vão compor um quadro que nenhum sentido em separado poderia prover. Assim, a metafísica, a partir do observado, chega a conclusões acerca do ser que não são passíveis de uma comprovação experiencial.
Ao longo de toda a Idade Média (476 d.C até 1453), capitaneados pelos homens da Igreja, os povos da Europa ocidental recompõem seus currículos e métodos de ensino a partir do patrimônio da antiguidade a que tinham acesso, chegando a uma conquista significativa no século VIII, sob a condução de Alcuíno de York e o patrocínio do imperador Carlos Magno. Dessa forma, a filosofia, em especial dos padres da Igreja e sobretudo Agostinho (e através dele, Platão), vai ressurgindo no Ocidente. No século XII, os escritos de Aristóteles (considerado o grande metafísico da antiguidade), chegam a Santo Anselmo, que será o mestre de Santo Tomás de Aquino.
Para a mentalidade cristã, sempre houve um equilíbrio entre a autoridade do testemunho, fundado em evidências que lhe deem credibilidade e a experiência de constatar os resultados de pôr em prática os ensinamentos de Cristo, recebidos do testemunho da Igreja. Por isso, durante o período medieval, a capacidade racional do ser humano é naturalmente exercida à luz da experiência vivencial do ensinamento de Jesus Cristo.
Com o passar do tempo, com o desenvolvimento da filosofia e outras disciplinas, a atitude intelectual do Ocidente cresceu na convicção de que a razão humana cada vez menos dependia de qualquer suporte ou garantia, como a Sagrada Revelação na cristandade, de modo que se desenvolveu uma tendência a ver no conhecimento científico, no imediato e palpável, não somente um conhecimento muito importante, mas o único que realmente era digno de pautar a vida e a morte do ser humano.
No final do século XVII, 1696, nasce Santo Afonso de Ligório. Esse é considerado um dos grandes séculos de Revolução Cientifica, com nomes como Newnton, Kepler, Galileu e outros. O século XVIII, século da atuação do fundador dos Redentoristas, dará sequência aos avanços, mas também a uma mentalidade cada vez mais rebelde às autoridades do Estado e da Igreja, sendo que a esse tempo a Reforma Protestante era um fato incontornável, a Inglaterra já havia decapitado Carlos I e a França decapitaria Luís XVI em 1793. Esse é o grande século dos pensadores Iluministas e do movimento Enciclopédico, que pretendia colocar todo o conhecimento até ali adquirido pela humanidade numa coleção de vários volumes. Agora, novamente, sem atender a nenhuma autoridade ou aprovação, se trataria, pretensamente, de todo o conhecimento. Porém, é evidente que misturados a informações objetivas, poderia estar imiscuído a visão filosófica de quem escrevia o verbete.
De fato, a Idade Moderna (1453-1789) foi o período da consolidação das rupturas com a Idade Média, e o século em que se dá a vida de Santo Afonso de Ligório, é o último século aonde aquilo que era ruptura com a intelectualidade medieval, se tornará oposição e difamação do período que foi o parto da civilização ocidental.
Diante de um tempo de clara oposição a autoridade, em especial a autoridade moral e cientifica do pensamento cristão, Santo Afonso teria que enfrentar um monstro que atacava por cima e por baixo a sociedade de seu tempo. Havia uma visão cada vez mais rigorista da moral católica, muitas vezes conduzindo a um pensamento que exagerava a culpa. Por outro lado, o afã revolucionário de Iluministas, enciclopedistas e outros movimentos e grupos assemelhados, afastava uma parcela do povo dos sacramentos e da formação religiosa.
Assim, o padroeiro dos moralistas aparece como uma figura fundamental, não somente para o seu tempo, mas para todos os outros. G.K Chesterton, célebre escritor católico inglês do século XX, diz que existem vários lados para cair e apenas uma posição para se manter de pé. O verdadeiro equilíbrio, só pode ser encontrado nesse lugar, no lugar exclusivo da verdade. Independente da convicção pessoal, a busca da verdade demanda abertura às diversas dimensões da realidade. Enquanto o cientificismo quer reduzir o homem a um animal capaz de calcular, o rigorismo moral leva o homem a frustrar-se por não ser um anjo. Os grandes santos nos lembram em todos os tempos que somos homens, de carne e osso, sim, mas com um destino eterno, que nunca é irracional, mas que vai além da razão porque o eterno não pode ser plenamente compreendido pelos limites de tempo e espaço, mas, para os que tem olhos para ver, toda a criação fala de um fim e um destino que vai além dela.