Descubra quem foi Santo Elias, profeta do Antigo Testamento e pai espiritual do Carmelo, modelo de oração, coragem e fidelidade a Deus.
Descubra quem foi Santo Elias, profeta do Antigo Testamento e pai espiritual do Carmelo, modelo de oração, coragem e fidelidade a Deus.
Santo Elias, figura imponente do Antigo Testamento, é venerado como um dos maiores profetas da história da salvação e como pai espiritual da Ordem do Carmo. Seu exemplo de fidelidade inabalável à Aliança com Deus, de zelo ardente e de vida contemplativa influenciou profundamente a espiritualidade carmelita ao longo dos séculos. O Carmelo o reconhece não apenas como um modelo de vida eremítica e profética, mas como o início de uma tradição espiritual que une contemplação e missão.
Sua vida foi marcada por uma intimidade extraordinária com Deus, manifestações sobrenaturais e uma coragem profética que o colocou em confronto direto com reis e ídolos. Elias é lembrado como aquele que “permaneceu diante do Senhor” (cf. 1Rs 17,1), um lema que ressoa até hoje no coração da vocação carmelita.
Santo Elias foi um profeta do século IX a.C., no Reino do Norte de Israel, cuja missão foi reconduzir o povo à fidelidade ao Deus único, em meio à idolatria promovida pela rainha Jezabel. A tradição carmelita o considera seu fundador espiritual. Santa Teresa de Jesus, reformadora do Carmelo, reconhece esse vínculo profundo:
“Nosso Pai: Elias, autor do referido sacrifício no cume do Monte Carmelo, é considerado o pai espiritual da Ordem Carmelita” 1.
Confira o artigo completo sobre o Antigo Testamento: origem, divisão e principais temas.
Elias era natural de Tesbe, em Gileade, conforme indica o Primeiro Livro dos Reis (1Rs 17,1). Viveu por volta do século IX antes de Cristo, durante o reinado do rei Acab em Israel. A região de Gileade, situada a leste do rio Jordão, era conhecida por sua paisagem montanhosa e por abrigar comunidades fiéis ao Senhor, mesmo em tempos de idolatria crescente em Israel.
Embora os relatos bíblicos não tragam muitos detalhes sobre seu nascimento, a tradição judaica e cristã sustenta que Elias nasceu em um ambiente profundamente religioso, o que teria favorecido sua consagração precoce ao Deus de Israel. Alguns escritos apócrifos e comentários rabínicos antigos o apresentam como alguém que, desde o ventre materno, teria sido separado para uma missão especial, à semelhança do que ocorreu com Jeremias (cf. Jr 1,5).
Elias não conheceu a morte como os outros homens. Foi arrebatado ao céu em um carro de fogo, diante de Eliseu, seu discípulo (2Rs 2,11), sinal de sua íntima união com Deus e de sua missão profética singular.
Teologicamente, esse arrebatamento é interpretado como figura da glorificação futura dos santos e da vitória final da fidelidade sobre a morte. Os Padres da Igreja, como Santo Efrém e São João Damasceno, viam nesse evento um sinal da esperança escatológica dos fiéis. Elias, como testemunha viva da Aliança, é elevado ao céu como primícias dos que permanecem fiéis a Deus até o fim. Seu arrebatamento é também visto como preparação para seu retorno escatológico, mencionado no livro de Malaquias (Ml 3,23), o que lhe confere um papel singular na história da salvação.
No calendário litúrgico carmelitano, Santo Elias é celebrado no dia 20 de julho, data em que se recorda sua vida e seu legado espiritual. Essa celebração é particularmente viva nos conventos e comunidades carmelitas, onde se realizam novenas, vigílias de oração, eucaristias solenes e momentos de meditação sobre a vida profética do santo.
Em algumas regiões, como no Monte Carmelo, a data é marcada por peregrinações e celebrações especiais, destacando o vínculo histórico da Ordem com o local de sua missão. Há também expressões populares de fé, como a bênção do escapulário e orações comunitárias pedindo zelo, coragem e espírito de contemplação, virtudes pelas quais Santo Elias é especialmente lembrado.
Pouco se sabe sobre sua infância. No entanto, a tradição o apresenta como consagrado ao Deus vivo desde sua juventude, já cultivando uma vida de oração e separação do mundo. Comentadores antigos sugerem que Elias cresceu em meio a uma sociedade dominada por cultos pagãos, o que teria aguçado desde cedo sua sensibilidade à verdade revelada e sua aversão à idolatria.
Alguns escritos patrísticos, como os atribuídos a Orígenes e Eusébio de Cesareia, insinuam que Elias foi formado na tradição dos “Filhos dos Profetas”, uma espécie de escola profética que cultivava a escuta de Deus e a fidelidade à Lei. Mesmo sem fontes bíblicas diretas sobre sua infância, a figura de Elias aparece cercada de uma aura de pureza, austeridade e zelo desde os primeiros passos de sua vida, o que o tornou um modelo inspirador para as futuras gerações monásticas e carmelitas.
Chamado por Deus para denunciar a corrupção e idolatria em Israel, Elias confrontou diretamente o rei Acab e sua esposa Jezabel, que promoviam o culto a Baal e corrompiam o coração do povo. Com coragem profética, Elias apresentou-se como porta-voz do Deus vivo, desafiando as autoridades e os falsos profetas com palavras incisivas e sinais extraordinários.
Sua missão foi restaurar a fé no Senhor, relembrando ao povo a Aliança feita no Sinai e convocando todos a uma conversão radical. Ele não apenas pregava com palavras, mas com ações e sinais que confirmavam sua autoridade. Ao declarar: “Vive o Senhor, o Deus de Israel, diante de quem estou” (1Rs 17,1), Elias expressava sua total entrega à missão profética e sua constante presença diante de Deus, característica que se tornaria lema espiritual da Ordem do Carmo.
Entre os feitos de Elias, destacam-se não apenas os milagres, mas também sua firmeza de caráter e a confiança absoluta no Senhor que o enviava. Em todas as situações desafiadoras, sua postura profética era marcada por obediência, coragem e profunda intimidade com Deus. O episódio no Monte Carmelo — em que desafia os profetas de Baal e confia plenamente na resposta divina (cf. 1Rs 18) — constitui a expressão máxima de sua fé inabalável. Elias prepara o altar com zelo, clama com fervor e aguarda que o Senhor manifeste a Sua glória — o que de fato acontece, reacendendo no povo a fé no Deus verdadeiro.
Sua firmeza diante da perseguição, a escuta do Senhor na brisa suave da caverna (cf. 1Rs 19) e a disposição de formar um sucessor fiel, Eliseu, são expressões de virtudes que o tornaram verdadeiro modelo de santidade para os carmelitas e para toda a Igreja. Elias foi mais do que um realizador de prodígios: foi amigo de Deus, servidor da Aliança e mestre espiritual, cujas ações revelam uma profunda união com o Altíssimo.
No Monte Carmelo, Elias atinge o auge de sua missão pública: diante de todo o povo, desafia os 450 profetas de Baal e invoca o Senhor para que manifeste a Sua glória. O fogo que desce do céu e consome o holocausto (cf. 1Rs 18,38) confirma não apenas a veracidade do culto ao Deus de Israel, mas também a santidade de Elias como seu autêntico profeta. O povo, tomado de reverência, prostra-se em adoração e proclama: “O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” (1Rs 18,39).
Elias sofreu perseguição intensa de Jezabel, que queria matá-lo após sua vitória no Carmelo. Refugiou-se no deserto e, em profunda tristeza, desejou a morte. Deus, porém, o fortaleceu com alimento e o conduziu ao Monte Horeb. Ali, teve uma das mais sublimes experiências místicas da Bíblia: encontrou o Senhor não no vento forte, no terremoto ou no fogo, mas na brisa suave (1Rs 19). Como diz São Pedro Apóstolo:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados…” 2. Elias pertence a essa linhagem profética constantemente ameaçada, mas sustentada por Deus.
Leia mais sobre a história do Profeta Elias.
A Ordem do Carmo reconhece em Elias o modelo de sua espiritualidade: vida de oração, contemplação e zelo pela glória de Deus. Como afirma o livro Nossa Senhora do Carmo:
“Esse modo especial de vida, que tem suas raízes no Antigo Testamento, em Elias e nos Filhos dos Profetas” 3.
São Jerônimo chama Elias de “o pai de todos os eremitas e monges”. Em sua epístola a Paulino, ele menciona: Noster princeps Elias, nostri duces, filii Prophetarum [“Nosso príncipe Elias, nossos líderes, os Filhos dos Profetas”] 4. Da mesma forma, Cassiano, em suas conferências, aponta para ele como o grande exemplo de todos os monges.
Essa herança espiritual não é apenas histórica, mas viva e atual. A imagem poética que a tradição carmelita nos oferece reforça esse ideal de vida ardente e fiel:
“Que possais todos ser como as rosas-trepadeiras vermelho-escuras, que sobem pelo Carmelo, abrasadas no fogo do amor, à semelhança do nosso grande modelo, Elias.” 5. Essa imagem, profundamente simbólica, liga a aspiração mística do carmelita à figura do profeta que viveu consumido pelo amor divino e pela busca da glória de Deus. Assim como a rosa se eleva silenciosamente, mesmo entre espinhos, também o carmelita é chamado a subir com perseverança, sustentado pela oração e pelo amor. E esse itinerário espiritual encontra seu cume na união com Cristo. Para aprofundar ainda mais o vínculo de Elias com o mistério de Cristo, é oportuno recordar o ensinamento místico de São João da Cruz:
Ele 6 comenta:
“Desde aquele dia em que desci com meu Espírito sobre Ele no Tabor, dizendo: Este é meu amado Filho, em quem pus todas as minhas complacências; ouvi-o (Mt 17,5), aboli todos esses antigos modos de ensinamentos e respostas, entregando tudo nas mãos d’Ele. Ouvi-O, portanto, porque não tenho mais outra fé para revelar, nem mais nada a manifestar.”
Elias esteve presente no Monte Tabor durante a Transfiguração, testemunhando com Moisés a glória de Cristo. Esta presença ilustra de forma viva aquilo que São João da Cruz havia explicado: a plenitude da revelação concentrada na pessoa de Jesus. Elias, como porta-voz da antiga aliança, aparece justamente naquele momento em que o Pai declara: “Este é meu amado Filho, ouvi-o” (Mt 17,5), marcando a transição definitiva da Lei e dos Profetas para a nova e eterna aliança em Cristo.
Sua presença nesse episódio, ao lado de Jesus transfigurado, não apenas confirma sua importância na história da salvação, mas também simboliza a continuidade entre a antiga e a nova aliança. Assim como representou os profetas no Tabor, Elias continua a ser, para os carmelitas, um elo vivo entre a tradição bíblica e a plenitude da revelação em Cristo, encerrando este bloco como um farol espiritual que aponta para o alto, para o mistério da glória de Deus revelada no Filho.
Conheça mais sobre a Ordem Carmelita.
O exemplo de Elias permanece atual: sua vida inspira todos os que desejam viver na presença de Deus com fervor, coragem e fidelidade. É farol para os carmelitas e todos os que buscam a santidade através da oração e do zelo pela Aliança.
Ele é o patrono da Ordem do Carmo e de todos aqueles que se dedicam a manter viva a Aliança com Deus.
Embora não tenha sido canonizado formalmente, Elias é venerado como santo desde os primeiros séculos da tradição cristã. Sua santidade é reconhecida não por um ato jurídico da Igreja, como ocorre com os santos do Novo Testamento, mas por seu papel central na história da salvação e por sua íntima amizade com Deus, testemunhada nas Escrituras. Essa veneração é reforçada pela liturgia da Igreja e pela espiritualidade carmelita, que o reconhece como modelo e intercessor.
O Catecismo da Igreja Católica esclarece essa compreensão ao afirmar:
“Os patriarcas, os profetas e outras figuras do Antigo Testamento foram e sempre serão venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.” 7
Os relatos bíblicos testemunham muitos milagres realizados por Elias, que servem como prova de sua intimidade com Deus e de sua autoridade profética. Um dos episódios mais impressionantes é o confronto com os profetas de Baal no Monte Carmelo, quando Elias clama ao Senhor e o fogo desce do céu para consumir o holocausto, a lenha, as pedras, o pó e até a água que havia enchido a valeta ao redor do altar (cf. 1Rs 18,38), deixando claro que o Senhor é o verdadeiro Deus.
Outro sinal da providência divina em sua vida é a oração pela volta da chuva, após três anos de seca. Elias sobe ao cume do Carmelo, se prostra e reza intensamente até que uma pequena nuvem surge no horizonte, prenunciando a chuva abundante (cf. 1Rs 18,41-45). Também é célebre o milagre da multiplicação da farinha e do azeite na casa da viúva de Sarepta (cf. 1Rs 17,14-16), garantindo alimento durante o tempo de escassez.
Além disso, Elias realiza a ressurreição do filho dessa mesma viúva, suplicando a Deus com insistência até que “a vida voltou ao menino, e ele reviveu” (1Rs 17,22). Esses sinais não apenas manifestam o poder de Deus atuando através dele, mas também confirmam Elias como homem de Deus, portador da Palavra e da bênção divinas.
O espírito de Elias inspirou muitos santos e missionários que, ao longo da história, encarnaram o mesmo zelo ardente e a fidelidade profética. Um exemplo marcante é São José de Anchieta, apóstolo do Brasil, cuja vida foi comparada à de grandes figuras bíblicas:
“No dizer de um dos seus biógrafos, era ‘um José na castidade, um Abraão na obediência, um Moisés nos segredos do Céu, um Elias no zelo e um Davi na humildade’” 8. Essa comparação destaca como o fervor apostólico e o espírito de sacrifício de Anchieta o alinham à missão de Elias, especialmente em seu ardente desejo de conduzir almas a Deus e em sua coragem frente às adversidades.
Também no pensamento contemporâneo, Elias permanece como modelo de profeta comprometido com os pobres e os marginalizados. Thomas Merton, monge trapista e escritor espiritual, reconheceu essa dimensão social da profecia de Elias ao afirmar:
“Quase todo o Antigo Testamento já tinha falado da predileção de Deus pelos deserdados da terra…” 9. Essa observação de Merton encontra eco direto na missão profética de Elias, que não hesitou em denunciar a injustiça dos reis, como no caso do assassinato de Nabote por ordem de Jezabel para satisfazer o desejo do rei Acab (cf. 1Rs 21). Nesse episódio, Elias se ergue como a voz de Deus em defesa do inocente, repreendendo o rei com coragem e verdade.
Assim, Elias não é apenas exemplo de oração e contemplação, mas também de justiça profética: um homem que protege os frágeis, enfrenta o poder corrompido e age movido pelo zelo pela lei de Deus — missão que tantos santos, inspirados por ele, continuaram em diversas épocas e culturas.
A devoção popular a Elias é viva, especialmente nos ambientes carmelitas. Ele é visto como intercessor junto à Virgem do Carmo, e muitos o invocam em tempos de necessidade espiritual.
“Não é providencial que os primeiros monges da Ordem do Carmo, imitando Elias em atos simbólicos, tenham bebido a água da fonte que leva seu nome?” 4. Esse gesto, carregado de significado espiritual, expressa a sede pela mesma graça que sustentou o profeta em sua missão. Beber da fonte de Elias, no coração da espiritualidade carmelitana, é desejar participar de sua fidelidade, coragem e intimidade com Deus. Os monges do Carmo buscavam nessa fonte não apenas água para o corpo, mas inspiração para viver como Elias: atentos à voz do Senhor, firmes na fé e abrasados no zelo pela glória divina.
Existem orações próprias da tradição carmelitana em honra a Santo Elias, utilizadas em retiros e celebrações da Ordem. São súplicas por zelo, coragem e vida de intimidade com Deus.
Uma dessas orações, frequentemente usada nas novenas em preparação ao seu dia, diz:
“Ó glorioso Profeta Elias, inflamado no zelo pela glória de Deus, intercede por nós, para que também sejamos fiéis à Aliança e perseverantes na oração. Ensina-nos a escutar a voz do Senhor na brisa suave e a servir com coragem, mesmo em tempos de provação. Amém.”
Essa oração é acompanhada de meditações diárias, nas quais se contempla a vida do profeta, suas virtudes e seus milagres, pedindo a graça de imitá-lo em sua entrega radical a Deus.
Que tal rezar a Novena a Nossa Senhora do Carmo?
O Monte Carmelo, em Israel, abriga um dos principais santuários dedicados a Santo Elias. No alto do monte, próximo à gruta onde, segundo a tradição, Elias teria se refugiado e orado, ergue-se o Mosteiro Stella Maris, administrado pela Ordem do Carmo. Este santuário é um local de intensa peregrinação, especialmente em julho, por ocasião da festa do profeta.
Além disso, no Brasil, há diversos conventos e igrejas carmelitas que guardam e promovem essa devoção, como o Convento do Carmo em São Paulo, o Convento da Lapa na Bahia, e comunidades em Minas Gerais e no Sul do país. Nesses locais, celebra-se com fervor o dia de Santo Elias, com novenas, missas solenes e bênção do escapulário, perpetuando sua memória como fiel servidor da Aliança e amigo de Deus.
O maior clube de leitores católicos do Brasil.
Santo Elias, figura imponente do Antigo Testamento, é venerado como um dos maiores profetas da história da salvação e como pai espiritual da Ordem do Carmo. Seu exemplo de fidelidade inabalável à Aliança com Deus, de zelo ardente e de vida contemplativa influenciou profundamente a espiritualidade carmelita ao longo dos séculos. O Carmelo o reconhece não apenas como um modelo de vida eremítica e profética, mas como o início de uma tradição espiritual que une contemplação e missão.
Sua vida foi marcada por uma intimidade extraordinária com Deus, manifestações sobrenaturais e uma coragem profética que o colocou em confronto direto com reis e ídolos. Elias é lembrado como aquele que “permaneceu diante do Senhor” (cf. 1Rs 17,1), um lema que ressoa até hoje no coração da vocação carmelita.
Santo Elias foi um profeta do século IX a.C., no Reino do Norte de Israel, cuja missão foi reconduzir o povo à fidelidade ao Deus único, em meio à idolatria promovida pela rainha Jezabel. A tradição carmelita o considera seu fundador espiritual. Santa Teresa de Jesus, reformadora do Carmelo, reconhece esse vínculo profundo:
“Nosso Pai: Elias, autor do referido sacrifício no cume do Monte Carmelo, é considerado o pai espiritual da Ordem Carmelita” 1.
Confira o artigo completo sobre o Antigo Testamento: origem, divisão e principais temas.
Elias era natural de Tesbe, em Gileade, conforme indica o Primeiro Livro dos Reis (1Rs 17,1). Viveu por volta do século IX antes de Cristo, durante o reinado do rei Acab em Israel. A região de Gileade, situada a leste do rio Jordão, era conhecida por sua paisagem montanhosa e por abrigar comunidades fiéis ao Senhor, mesmo em tempos de idolatria crescente em Israel.
Embora os relatos bíblicos não tragam muitos detalhes sobre seu nascimento, a tradição judaica e cristã sustenta que Elias nasceu em um ambiente profundamente religioso, o que teria favorecido sua consagração precoce ao Deus de Israel. Alguns escritos apócrifos e comentários rabínicos antigos o apresentam como alguém que, desde o ventre materno, teria sido separado para uma missão especial, à semelhança do que ocorreu com Jeremias (cf. Jr 1,5).
Elias não conheceu a morte como os outros homens. Foi arrebatado ao céu em um carro de fogo, diante de Eliseu, seu discípulo (2Rs 2,11), sinal de sua íntima união com Deus e de sua missão profética singular.
Teologicamente, esse arrebatamento é interpretado como figura da glorificação futura dos santos e da vitória final da fidelidade sobre a morte. Os Padres da Igreja, como Santo Efrém e São João Damasceno, viam nesse evento um sinal da esperança escatológica dos fiéis. Elias, como testemunha viva da Aliança, é elevado ao céu como primícias dos que permanecem fiéis a Deus até o fim. Seu arrebatamento é também visto como preparação para seu retorno escatológico, mencionado no livro de Malaquias (Ml 3,23), o que lhe confere um papel singular na história da salvação.
No calendário litúrgico carmelitano, Santo Elias é celebrado no dia 20 de julho, data em que se recorda sua vida e seu legado espiritual. Essa celebração é particularmente viva nos conventos e comunidades carmelitas, onde se realizam novenas, vigílias de oração, eucaristias solenes e momentos de meditação sobre a vida profética do santo.
Em algumas regiões, como no Monte Carmelo, a data é marcada por peregrinações e celebrações especiais, destacando o vínculo histórico da Ordem com o local de sua missão. Há também expressões populares de fé, como a bênção do escapulário e orações comunitárias pedindo zelo, coragem e espírito de contemplação, virtudes pelas quais Santo Elias é especialmente lembrado.
Pouco se sabe sobre sua infância. No entanto, a tradição o apresenta como consagrado ao Deus vivo desde sua juventude, já cultivando uma vida de oração e separação do mundo. Comentadores antigos sugerem que Elias cresceu em meio a uma sociedade dominada por cultos pagãos, o que teria aguçado desde cedo sua sensibilidade à verdade revelada e sua aversão à idolatria.
Alguns escritos patrísticos, como os atribuídos a Orígenes e Eusébio de Cesareia, insinuam que Elias foi formado na tradição dos “Filhos dos Profetas”, uma espécie de escola profética que cultivava a escuta de Deus e a fidelidade à Lei. Mesmo sem fontes bíblicas diretas sobre sua infância, a figura de Elias aparece cercada de uma aura de pureza, austeridade e zelo desde os primeiros passos de sua vida, o que o tornou um modelo inspirador para as futuras gerações monásticas e carmelitas.
Chamado por Deus para denunciar a corrupção e idolatria em Israel, Elias confrontou diretamente o rei Acab e sua esposa Jezabel, que promoviam o culto a Baal e corrompiam o coração do povo. Com coragem profética, Elias apresentou-se como porta-voz do Deus vivo, desafiando as autoridades e os falsos profetas com palavras incisivas e sinais extraordinários.
Sua missão foi restaurar a fé no Senhor, relembrando ao povo a Aliança feita no Sinai e convocando todos a uma conversão radical. Ele não apenas pregava com palavras, mas com ações e sinais que confirmavam sua autoridade. Ao declarar: “Vive o Senhor, o Deus de Israel, diante de quem estou” (1Rs 17,1), Elias expressava sua total entrega à missão profética e sua constante presença diante de Deus, característica que se tornaria lema espiritual da Ordem do Carmo.
Entre os feitos de Elias, destacam-se não apenas os milagres, mas também sua firmeza de caráter e a confiança absoluta no Senhor que o enviava. Em todas as situações desafiadoras, sua postura profética era marcada por obediência, coragem e profunda intimidade com Deus. O episódio no Monte Carmelo — em que desafia os profetas de Baal e confia plenamente na resposta divina (cf. 1Rs 18) — constitui a expressão máxima de sua fé inabalável. Elias prepara o altar com zelo, clama com fervor e aguarda que o Senhor manifeste a Sua glória — o que de fato acontece, reacendendo no povo a fé no Deus verdadeiro.
Sua firmeza diante da perseguição, a escuta do Senhor na brisa suave da caverna (cf. 1Rs 19) e a disposição de formar um sucessor fiel, Eliseu, são expressões de virtudes que o tornaram verdadeiro modelo de santidade para os carmelitas e para toda a Igreja. Elias foi mais do que um realizador de prodígios: foi amigo de Deus, servidor da Aliança e mestre espiritual, cujas ações revelam uma profunda união com o Altíssimo.
No Monte Carmelo, Elias atinge o auge de sua missão pública: diante de todo o povo, desafia os 450 profetas de Baal e invoca o Senhor para que manifeste a Sua glória. O fogo que desce do céu e consome o holocausto (cf. 1Rs 18,38) confirma não apenas a veracidade do culto ao Deus de Israel, mas também a santidade de Elias como seu autêntico profeta. O povo, tomado de reverência, prostra-se em adoração e proclama: “O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” (1Rs 18,39).
Elias sofreu perseguição intensa de Jezabel, que queria matá-lo após sua vitória no Carmelo. Refugiou-se no deserto e, em profunda tristeza, desejou a morte. Deus, porém, o fortaleceu com alimento e o conduziu ao Monte Horeb. Ali, teve uma das mais sublimes experiências místicas da Bíblia: encontrou o Senhor não no vento forte, no terremoto ou no fogo, mas na brisa suave (1Rs 19). Como diz São Pedro Apóstolo:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados…” 2. Elias pertence a essa linhagem profética constantemente ameaçada, mas sustentada por Deus.
Leia mais sobre a história do Profeta Elias.
A Ordem do Carmo reconhece em Elias o modelo de sua espiritualidade: vida de oração, contemplação e zelo pela glória de Deus. Como afirma o livro Nossa Senhora do Carmo:
“Esse modo especial de vida, que tem suas raízes no Antigo Testamento, em Elias e nos Filhos dos Profetas” 3.
São Jerônimo chama Elias de “o pai de todos os eremitas e monges”. Em sua epístola a Paulino, ele menciona: Noster princeps Elias, nostri duces, filii Prophetarum [“Nosso príncipe Elias, nossos líderes, os Filhos dos Profetas”] 4. Da mesma forma, Cassiano, em suas conferências, aponta para ele como o grande exemplo de todos os monges.
Essa herança espiritual não é apenas histórica, mas viva e atual. A imagem poética que a tradição carmelita nos oferece reforça esse ideal de vida ardente e fiel:
“Que possais todos ser como as rosas-trepadeiras vermelho-escuras, que sobem pelo Carmelo, abrasadas no fogo do amor, à semelhança do nosso grande modelo, Elias.” 5. Essa imagem, profundamente simbólica, liga a aspiração mística do carmelita à figura do profeta que viveu consumido pelo amor divino e pela busca da glória de Deus. Assim como a rosa se eleva silenciosamente, mesmo entre espinhos, também o carmelita é chamado a subir com perseverança, sustentado pela oração e pelo amor. E esse itinerário espiritual encontra seu cume na união com Cristo. Para aprofundar ainda mais o vínculo de Elias com o mistério de Cristo, é oportuno recordar o ensinamento místico de São João da Cruz:
Ele 6 comenta:
“Desde aquele dia em que desci com meu Espírito sobre Ele no Tabor, dizendo: Este é meu amado Filho, em quem pus todas as minhas complacências; ouvi-o (Mt 17,5), aboli todos esses antigos modos de ensinamentos e respostas, entregando tudo nas mãos d’Ele. Ouvi-O, portanto, porque não tenho mais outra fé para revelar, nem mais nada a manifestar.”
Elias esteve presente no Monte Tabor durante a Transfiguração, testemunhando com Moisés a glória de Cristo. Esta presença ilustra de forma viva aquilo que São João da Cruz havia explicado: a plenitude da revelação concentrada na pessoa de Jesus. Elias, como porta-voz da antiga aliança, aparece justamente naquele momento em que o Pai declara: “Este é meu amado Filho, ouvi-o” (Mt 17,5), marcando a transição definitiva da Lei e dos Profetas para a nova e eterna aliança em Cristo.
Sua presença nesse episódio, ao lado de Jesus transfigurado, não apenas confirma sua importância na história da salvação, mas também simboliza a continuidade entre a antiga e a nova aliança. Assim como representou os profetas no Tabor, Elias continua a ser, para os carmelitas, um elo vivo entre a tradição bíblica e a plenitude da revelação em Cristo, encerrando este bloco como um farol espiritual que aponta para o alto, para o mistério da glória de Deus revelada no Filho.
Conheça mais sobre a Ordem Carmelita.
O exemplo de Elias permanece atual: sua vida inspira todos os que desejam viver na presença de Deus com fervor, coragem e fidelidade. É farol para os carmelitas e todos os que buscam a santidade através da oração e do zelo pela Aliança.
Ele é o patrono da Ordem do Carmo e de todos aqueles que se dedicam a manter viva a Aliança com Deus.
Embora não tenha sido canonizado formalmente, Elias é venerado como santo desde os primeiros séculos da tradição cristã. Sua santidade é reconhecida não por um ato jurídico da Igreja, como ocorre com os santos do Novo Testamento, mas por seu papel central na história da salvação e por sua íntima amizade com Deus, testemunhada nas Escrituras. Essa veneração é reforçada pela liturgia da Igreja e pela espiritualidade carmelita, que o reconhece como modelo e intercessor.
O Catecismo da Igreja Católica esclarece essa compreensão ao afirmar:
“Os patriarcas, os profetas e outras figuras do Antigo Testamento foram e sempre serão venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.” 7
Os relatos bíblicos testemunham muitos milagres realizados por Elias, que servem como prova de sua intimidade com Deus e de sua autoridade profética. Um dos episódios mais impressionantes é o confronto com os profetas de Baal no Monte Carmelo, quando Elias clama ao Senhor e o fogo desce do céu para consumir o holocausto, a lenha, as pedras, o pó e até a água que havia enchido a valeta ao redor do altar (cf. 1Rs 18,38), deixando claro que o Senhor é o verdadeiro Deus.
Outro sinal da providência divina em sua vida é a oração pela volta da chuva, após três anos de seca. Elias sobe ao cume do Carmelo, se prostra e reza intensamente até que uma pequena nuvem surge no horizonte, prenunciando a chuva abundante (cf. 1Rs 18,41-45). Também é célebre o milagre da multiplicação da farinha e do azeite na casa da viúva de Sarepta (cf. 1Rs 17,14-16), garantindo alimento durante o tempo de escassez.
Além disso, Elias realiza a ressurreição do filho dessa mesma viúva, suplicando a Deus com insistência até que “a vida voltou ao menino, e ele reviveu” (1Rs 17,22). Esses sinais não apenas manifestam o poder de Deus atuando através dele, mas também confirmam Elias como homem de Deus, portador da Palavra e da bênção divinas.
O espírito de Elias inspirou muitos santos e missionários que, ao longo da história, encarnaram o mesmo zelo ardente e a fidelidade profética. Um exemplo marcante é São José de Anchieta, apóstolo do Brasil, cuja vida foi comparada à de grandes figuras bíblicas:
“No dizer de um dos seus biógrafos, era ‘um José na castidade, um Abraão na obediência, um Moisés nos segredos do Céu, um Elias no zelo e um Davi na humildade’” 8. Essa comparação destaca como o fervor apostólico e o espírito de sacrifício de Anchieta o alinham à missão de Elias, especialmente em seu ardente desejo de conduzir almas a Deus e em sua coragem frente às adversidades.
Também no pensamento contemporâneo, Elias permanece como modelo de profeta comprometido com os pobres e os marginalizados. Thomas Merton, monge trapista e escritor espiritual, reconheceu essa dimensão social da profecia de Elias ao afirmar:
“Quase todo o Antigo Testamento já tinha falado da predileção de Deus pelos deserdados da terra…” 9. Essa observação de Merton encontra eco direto na missão profética de Elias, que não hesitou em denunciar a injustiça dos reis, como no caso do assassinato de Nabote por ordem de Jezabel para satisfazer o desejo do rei Acab (cf. 1Rs 21). Nesse episódio, Elias se ergue como a voz de Deus em defesa do inocente, repreendendo o rei com coragem e verdade.
Assim, Elias não é apenas exemplo de oração e contemplação, mas também de justiça profética: um homem que protege os frágeis, enfrenta o poder corrompido e age movido pelo zelo pela lei de Deus — missão que tantos santos, inspirados por ele, continuaram em diversas épocas e culturas.
A devoção popular a Elias é viva, especialmente nos ambientes carmelitas. Ele é visto como intercessor junto à Virgem do Carmo, e muitos o invocam em tempos de necessidade espiritual.
“Não é providencial que os primeiros monges da Ordem do Carmo, imitando Elias em atos simbólicos, tenham bebido a água da fonte que leva seu nome?” 4. Esse gesto, carregado de significado espiritual, expressa a sede pela mesma graça que sustentou o profeta em sua missão. Beber da fonte de Elias, no coração da espiritualidade carmelitana, é desejar participar de sua fidelidade, coragem e intimidade com Deus. Os monges do Carmo buscavam nessa fonte não apenas água para o corpo, mas inspiração para viver como Elias: atentos à voz do Senhor, firmes na fé e abrasados no zelo pela glória divina.
Existem orações próprias da tradição carmelitana em honra a Santo Elias, utilizadas em retiros e celebrações da Ordem. São súplicas por zelo, coragem e vida de intimidade com Deus.
Uma dessas orações, frequentemente usada nas novenas em preparação ao seu dia, diz:
“Ó glorioso Profeta Elias, inflamado no zelo pela glória de Deus, intercede por nós, para que também sejamos fiéis à Aliança e perseverantes na oração. Ensina-nos a escutar a voz do Senhor na brisa suave e a servir com coragem, mesmo em tempos de provação. Amém.”
Essa oração é acompanhada de meditações diárias, nas quais se contempla a vida do profeta, suas virtudes e seus milagres, pedindo a graça de imitá-lo em sua entrega radical a Deus.
Que tal rezar a Novena a Nossa Senhora do Carmo?
O Monte Carmelo, em Israel, abriga um dos principais santuários dedicados a Santo Elias. No alto do monte, próximo à gruta onde, segundo a tradição, Elias teria se refugiado e orado, ergue-se o Mosteiro Stella Maris, administrado pela Ordem do Carmo. Este santuário é um local de intensa peregrinação, especialmente em julho, por ocasião da festa do profeta.
Além disso, no Brasil, há diversos conventos e igrejas carmelitas que guardam e promovem essa devoção, como o Convento do Carmo em São Paulo, o Convento da Lapa na Bahia, e comunidades em Minas Gerais e no Sul do país. Nesses locais, celebra-se com fervor o dia de Santo Elias, com novenas, missas solenes e bênção do escapulário, perpetuando sua memória como fiel servidor da Aliança e amigo de Deus.