Formação

A busca pela santidade segundo Padre Pio

Padre Pio mostra que a busca pela santidade é vocação de todos. Conheça seus ensinamentos para viver a fé no cotidiano cristão.

A busca pela santidade segundo Padre Pio
Formação

A busca pela santidade segundo Padre Pio

Padre Pio mostra que a busca pela santidade é vocação de todos. Conheça seus ensinamentos para viver a fé no cotidiano cristão.

Data da Publicação: 18/08/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 18/08/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

A busca pela santidade é, antes de tudo, um chamado feito por Deus a todos os seus filhos. Longe de ser um ideal reservado aos monges, freiras ou sacerdotes, trata-se da vocação universal de cada cristão: viver unido a Cristo, imitando-O em suas virtudes, sofrimentos e entrega de amor. Conforme nos ensina São Paulo, “esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3).

Ao longo da história da Igreja, muitos santos ensinaram — com palavras e com a vida — que a santidade não se constrói em teorias, mas no cotidiano: nas escolhas, renúncias, orações, provações e obras de caridade. Padre Pio de Pietrelcina, um dos grandes místicos do século XX, é um desses mestres da vida espiritual. Estigmatizado, confessor incansável e profundamente unido ao Crucificado, ele compreendeu que a santidade é uma luta diária e um caminho de transformação interior, guiado pelo Espírito Santo e sustentado pela graça de Deus.

Neste artigo, vamos percorrer os principais ensinamentos de Padre Pio sobre a santidade e iluminá-los com o testemunho de outros santos e doutores da Igreja. Que essa leitura nos inspire a abraçar, com coragem e confiança, o chamado de Deus para vivermos como verdadeiros discípulos.

Quem foi o Padre Pio?

São Pio de Pietrelcina, ou simplesmente Padre Pio, foi um frade capuchinho italiano que viveu entre 1887 e 1968. Conhecido pelos estigmas da Paixão de Cristo e pelos dons místicos que recebeu, tornou-se uma figura central da espiritualidade católica contemporânea. Sua vida foi marcada por oração, sofrimento, caridade e obediência. Canonizado por São João Paulo II em 2002, ele continua sendo um dos santos mais amados do nosso tempo.

Para conhecer a fundo a vida de São Pio de Pietrelcina, leia nosso artigo completo sobre ele aqui: Vida de Padre Pio.

O que é santidade?

A santidade é a vocação comum de todos os batizados. Não se trata de um privilégio para poucos, mas da meta de toda vida cristã autêntica. “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48), disse Jesus no Sermão da Montanha. E o Concílio Vaticano II reafirma: “Todos os fiéis de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” 1.

Essa verdade sempre foi central na espiritualidade de Padre Pio. Para ele, a santidade não era algo abstrato ou inacessível, mas o próprio fim da existência humana: “O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus nesta vida e para gozá-lo depois na outra, no Paraíso” 2. Esse caminho exige perseverança, fé e adesão às virtudes cristãs no ordinário da vida.

Outros mestres espirituais da Igreja também ressaltam essa dimensão integral da santidade. Santo Tomás de Aquino ensina que são necessárias três coisas para a salvação: saber o que crer, o que desejar e o que fazer 3. Complementando essa visão, São Luís Maria Grignion de Montfort afirma que o objetivo da vida cristã é buscar a sabedoria divina e praticar as virtudes, sob a proteção da Santíssima Virgem 4.

Em síntese, a santidade não é um caminho de glória humana, mas de amor a Deus e de conformação à sua vontade. Como lembra São Paulo: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência… se não tiver caridade, não sou nada” (1Cor 13,2).

A santidade como propósito da existência humana

Padre Pio não via a santidade apenas como uma meta opcional ou uma exceção, mas como o sentido mais profundo da vida. Padre Pio reforçava que a vida humana tem um destino de eternidade: fomos criados por Deus para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo neste mundo, a fim de gozarmos da Sua presença no céu. Essa é a meta última da existência cristã, como ele explicava em suas catequeses 2.

Essa compreensão está em perfeita harmonia com o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica, que afirma: “Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em si mesmo, criou livremente o homem para o fazer participar da sua vida bem-aventurada” 5. A santidade, portanto, não é apenas um ideal moral elevado, mas uma realidade profundamente ligada à natureza e à vocação do ser humano.

Segundo Padre Pio, o próprio Deus se encarrega de conduzir o fiel nesse caminho de perfeição, como um pai que educa o filho com amor, exigência e paciência 6. Isso significa que a vida inteira — com suas alegrias, dores, cruzes e conquistas — pode e deve ser vivida como um itinerário de santificação.

Esse mesmo princípio é reforçado por São Boaventura, que lembra: “Considera, primeiro, de onde Ele te chamou… Certamente te chamou para que o louves e o ames” 7. O propósito da existência não está nas glórias passageiras do mundo, mas em dar glória a Deus com a própria vida.

Com isso, entendemos que buscar a santidade é viver com sentido. É tomar consciência de que fomos criados para algo eterno, e que cada passo nesta vida pode ser uma resposta de amor Àquele que nos chamou à comunhão com Ele.

As características da vida santa segundo Padre Pio

Segundo Padre Pio, a santidade não se expressa em grandes feitos públicos ou títulos eclesiásticos, mas em uma vida marcada por sinceridade de coração, compromisso diário e amor a Deus acima de tudo. Ele dizia: “Nada de triunfos, nem promessas de sucesso fácil na vida ou nos negócios. E o caminho, misterioso e árduo, para alcançar essa meta [a vida eterna] é o da dor, revelado por Cristo em sua morte na cruz” 8.

Essa perspectiva revela que a santidade, para ele, está profundamente ligada à conformidade com o Crucificado e à aceitação do sofrimento como via de purificação e união com Deus.

Esse caminho, longe de estar associado a modismos ou à busca por conforto, é austero e exige fidelidade constante. Padre Pio advertia contra uma religiosidade superficial, voltada apenas a “temas da moda” ou a “curiosidades” espirituais 8. A verdadeira vida santa, para ele, está no exercício perseverante das virtudes, especialmente a caridade, a humildade e a obediência.

Além disso, ele via na experiência mística não um privilégio extraordinário, mas uma consequência natural da intimidade profunda com Deus. Para aqueles que perseveram no caminho da santidade, Deus comunica à alma um conhecimento vivo da realidade sobrenatural — uma sabedoria que transforma o coração, a inteligência e as afeições com uma “vivacidade inimaginável” 9.

Santa Teresa d’Ávila reforça essa visão ao dizer: “Quem vê o Senhor coberto de chagas e aflito com perseguições, que não as abrace e ame e deseje?” 10. A vida santa, portanto, exige também contemplação, sofrimento e alegria no seguimento fiel de Cristo. É um caminho árduo, mas seguro e fecundo.

Virtudes essenciais na busca pela santidade

A vivência das virtudes é o alicerce da santidade. Padre Pio e outros mestres espirituais sempre enfatizaram que não há vida santa sem um coração moldado pela graça e disposto a crescer nas virtudes. A seguir, vamos explorar algumas delas:

Caridade: a rainha das virtudes

A caridade é a virtude que sustenta toda vida cristã autêntica. Amar a Deus, a si mesmo e ao próximo é o cerne da vida espiritual — e até mesmo o desejo de amar já é, por si só, um ato de amor. Por meio da caridade, o cristão encontra paz, júbilo e a medida verdadeira da santidade: o cumprimento da vontade de Deus 11. São Francisco de Sales aprofunda esse entendimento ao afirmar que a caridade “confere valor a todas as nossas obras, de maneira que todo o bem que fizermos deve ser feito por amor de Deus” 12. Para ele, ela é também o “espírito geral” de toda vocação cristã, a aspiração mais elevada de toda alma que deseja a perfeição 13.

Aprofunde-se no conhecimento da virtude da caridade.

Simplicidade: clareza e verdade interior

A simplicidade purifica o coração e orienta o pensamento para o que realmente importa, permitindo que a alma se volte com mais liberdade para Deus 14. É uma virtude que liberta de complicações desnecessárias e aproxima da verdade interior. Jesus se comunica com os simples, estabelecendo com eles uma relação mais profunda e íntima. São Francisco de Sales complementa essa visão ao afirmar que a simplicidade é um ato puro de caridade, que tem como único objetivo conquistar o amor de Deus 15. Essa pureza de intenção mantém o coração recolhido e em paz, afastando a alma da inquietação e da dispersão espiritual 16.

Humildade: raiz da verdadeira grandeza espiritual

A humildade consiste em reconhecer-se como nada diante de Deus, sem se vangloriar das próprias virtudes ou méritos e aceitando as ofensas com serenidade 17. Essa atitude interior é essencial para quem deseja trilhar com verdade o caminho da santidade. São Francisco de Sales complementa esse ensinamento ao afirmar que a verdadeira humildade nos leva a desconfiar de nós mesmos — o que, paradoxalmente, abre espaço para uma confiança mais profunda em Deus 18. Segundo ele, é justamente pela medida da humildade que se reconhece o progresso espiritual de uma alma 19.

Leia também o artigo completo sobre a virtude da humildade.

Confiança e abandono filial

Entregar-se totalmente à vontade de Deus é o que mantém a alma firme, mesmo nas tempestades da vida. Trata-se de uma confiança filial, que se apoia na certeza de que o Senhor nunca deixa faltar consolo aos seus filhos 20. São Francisco de Sales aprofunda esse ensinamento ao afirmar: “quanto mais nos reconhecemos miseráveis, tanto mais temos ocasião de confiar em Deus” 21. Esse abandono total, longe de ser fraqueza, é descrito por ele como “a virtude das virtudes” — expressão máxima da caridade, da humildade e da perseverança 22.

Obediência como sustento nas provações

A obediência é, para quem busca a santidade, um firme alicerce nos momentos de provação. Submeter-se à autoridade legítima é um modo seguro de permanecer no caminho da vontade de Deus, mesmo quando tudo parece incerto 23. A obediência, nesse sentido, não se limita a uma mera formalidade externa, mas revela um espírito dócil e disposto a amar por meio da submissão livre.

São Francisco de Sales aprofunda esse entendimento ao dizer que a obediência é “o sal que dá sabor e mérito a todas as nossas ações” 24. Ela é fonte de profunda paz interior, pois liberta a alma da preocupação de agir por conta própria e oferece a serenidade de quem cumpre com alegria a vontade divina. Além disso, ele afirma que aquele que obedece com amor “contará vitórias”, mesmo diante das maiores dificuldades 25.

Vigilância e oração: armas na busca pela santidade

Padre Pio adverte que o cristão vive em constante combate espiritual e precisa, por isso, manter-se atento e orante. A vigilância e a oração são apresentadas como armas indispensáveis contra as tentações e as investidas do demônio, que ele descreve como um inimigo poderoso e presente: “A vida é um combate árduo contra o poder das trevas […] o demônio é fortíssimo: um ser espiritual, inteligente e astuto. Humanamente invencível” 26. No entanto, em vez de gerar medo, essa realidade deve despertar uma postura de confiança ativa, ancorada na graça de Deus e no abandono filial.

Aprenda com o Padre Pio a superar o deserto espiritual.

A tentação como sinal de proximidade com Deus

A presença da tentação não deve ser interpretada como sinal de fraqueza espiritual, mas, muitas vezes, como um indicativo de que a alma está em comunhão com Deus. Quanto mais uma pessoa deseja amar e servir ao Senhor, mais o inimigo se agita, tentando desviá-la de seu propósito. Por isso, as provações interiores não são anomalias no caminho da santidade, mas experiências próprias de quem leva a vida espiritual a sério — desafios que exigem coragem, discernimento e perseverança.

Entenda o que são tentações e como combatê-las.

Oração e vigilância como defesa

A vigilância e a oração constante são, de fato, as armas mais eficazes contra as investidas do mal. “Quando vigiamos, percebemo-lo; quando oramos, dispomos das armas” — Essa breve declaração 27 resume com clareza o modo como a vigilância e a oração atuam em conjunto no combate espiritual, revelando a importância de estar atento às insinuações do mal e ao mesmo tempo confiado ao auxílio divino. Estar vigilante é manter o coração desperto às sutilezas das tentações e às armadilhas do inimigo; orar, por sua vez, é buscar refúgio e força naquele que tem poder de nos sustentar. Essa atitude contínua de atenção e comunhão com Deus conserva o cristão firme, humilde e confiante diante das dificuldades espirituais.

O exemplo de Padre Pio na busca pela santidade

A vida de Padre Pio é, em si, um testemunho vívido dos ensinamentos que transmitiu. Ele não apenas falou sobre oração, sofrimento, humildade e vigilância — ele viveu tudo isso de forma radical. Enfrentou doenças dolorosas, perseguições e humilhações, inclusive dentro da própria Igreja, sem jamais abandonar sua fidelidade a Deus. Aceitava cada sofrimento como um meio de expiação pelos pecados e de união com Cristo crucificado.

Mesmo quando foi proibido de exercer o ministério público, ou privado de manter correspondência com os fiéis, manteve-se obediente às ordens da Igreja, confiando que Deus o sustentaria. Sua vida interior era profundamente marcada pela oração constante, pela penitência e pelo amor aos que sofrem.

O que ele pregava era, antes de tudo, uma vivência pessoal: uma santidade concreta, silenciosa, moldada no sacrifício e na confiança. É justamente por isso que seu testemunho continua a tocar tantos corações. Ele mostrou que a santidade é possível e acessível — mesmo quando custa tudo.

São Pio de Pietrelcina, rogai por nós!

Referências

  1. Lumen Gentium, n. 40[]
  2. O Catecismo do Padre Pio, p. 495[][]
  3. Catequeses de S. Tomás, Minha Biblioteca Católica, 2024, p. 151[]
  4. São Luís Maria Grignion de Montfort, Editora Biblioteca Católica, 2024, p. 424[]
  5. Catecismo da Igreja Católica, n. 1[]
  6. O Catecismo do Padre Pio, p. 68[]
  7. Direção da Alma, Minha Biblioteca Católica, 2025, p. 208[]
  8. O Catecismo do Padre Pio, p. 23[][]
  9. O Catecismo do Padre Pio, p. 32[]
  10. O Livro da Vida, Editora Biblioteca Católica, 2020, p. 248[]
  11. O Catecismo do Padre Pio, p. 51, 55, 309, 310[]
  12. O Caminho das Virtudes: Conselhos espirituais de São Francisco de Sales, Minha Biblioteca Católica, 2025, p. 165[]
  13. p. 209[]
  14. O Catecismo do Padre Pio, p. 59[]
  15. p. 192[]
  16. p. 217[]
  17. O Catecismo do Padre Pio, p. 329, 331[]
  18. p. 85[]
  19. p. 305[]
  20. O Catecismo do Padre Pio, p. 197, 320[]
  21. p. 32[]
  22. p. 37[]
  23. O Catecismo do Padre Pio, p. 327, 328[]
  24. p. 252[]
  25. p. 180–182[]
  26. O Catecismo do Padre Pio, p. 178[]
  27. O Catecismo do Padre Pio, p. 305[]
Redação MBC

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A busca pela santidade é, antes de tudo, um chamado feito por Deus a todos os seus filhos. Longe de ser um ideal reservado aos monges, freiras ou sacerdotes, trata-se da vocação universal de cada cristão: viver unido a Cristo, imitando-O em suas virtudes, sofrimentos e entrega de amor. Conforme nos ensina São Paulo, “esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3).

Ao longo da história da Igreja, muitos santos ensinaram — com palavras e com a vida — que a santidade não se constrói em teorias, mas no cotidiano: nas escolhas, renúncias, orações, provações e obras de caridade. Padre Pio de Pietrelcina, um dos grandes místicos do século XX, é um desses mestres da vida espiritual. Estigmatizado, confessor incansável e profundamente unido ao Crucificado, ele compreendeu que a santidade é uma luta diária e um caminho de transformação interior, guiado pelo Espírito Santo e sustentado pela graça de Deus.

Neste artigo, vamos percorrer os principais ensinamentos de Padre Pio sobre a santidade e iluminá-los com o testemunho de outros santos e doutores da Igreja. Que essa leitura nos inspire a abraçar, com coragem e confiança, o chamado de Deus para vivermos como verdadeiros discípulos.

Quem foi o Padre Pio?

São Pio de Pietrelcina, ou simplesmente Padre Pio, foi um frade capuchinho italiano que viveu entre 1887 e 1968. Conhecido pelos estigmas da Paixão de Cristo e pelos dons místicos que recebeu, tornou-se uma figura central da espiritualidade católica contemporânea. Sua vida foi marcada por oração, sofrimento, caridade e obediência. Canonizado por São João Paulo II em 2002, ele continua sendo um dos santos mais amados do nosso tempo.

Para conhecer a fundo a vida de São Pio de Pietrelcina, leia nosso artigo completo sobre ele aqui: Vida de Padre Pio.

O que é santidade?

A santidade é a vocação comum de todos os batizados. Não se trata de um privilégio para poucos, mas da meta de toda vida cristã autêntica. “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48), disse Jesus no Sermão da Montanha. E o Concílio Vaticano II reafirma: “Todos os fiéis de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” 1.

Essa verdade sempre foi central na espiritualidade de Padre Pio. Para ele, a santidade não era algo abstrato ou inacessível, mas o próprio fim da existência humana: “O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus nesta vida e para gozá-lo depois na outra, no Paraíso” 2. Esse caminho exige perseverança, fé e adesão às virtudes cristãs no ordinário da vida.

Outros mestres espirituais da Igreja também ressaltam essa dimensão integral da santidade. Santo Tomás de Aquino ensina que são necessárias três coisas para a salvação: saber o que crer, o que desejar e o que fazer 3. Complementando essa visão, São Luís Maria Grignion de Montfort afirma que o objetivo da vida cristã é buscar a sabedoria divina e praticar as virtudes, sob a proteção da Santíssima Virgem 4.

Em síntese, a santidade não é um caminho de glória humana, mas de amor a Deus e de conformação à sua vontade. Como lembra São Paulo: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência… se não tiver caridade, não sou nada” (1Cor 13,2).

A santidade como propósito da existência humana

Padre Pio não via a santidade apenas como uma meta opcional ou uma exceção, mas como o sentido mais profundo da vida. Padre Pio reforçava que a vida humana tem um destino de eternidade: fomos criados por Deus para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo neste mundo, a fim de gozarmos da Sua presença no céu. Essa é a meta última da existência cristã, como ele explicava em suas catequeses 2.

Essa compreensão está em perfeita harmonia com o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica, que afirma: “Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em si mesmo, criou livremente o homem para o fazer participar da sua vida bem-aventurada” 5. A santidade, portanto, não é apenas um ideal moral elevado, mas uma realidade profundamente ligada à natureza e à vocação do ser humano.

Segundo Padre Pio, o próprio Deus se encarrega de conduzir o fiel nesse caminho de perfeição, como um pai que educa o filho com amor, exigência e paciência 6. Isso significa que a vida inteira — com suas alegrias, dores, cruzes e conquistas — pode e deve ser vivida como um itinerário de santificação.

Esse mesmo princípio é reforçado por São Boaventura, que lembra: “Considera, primeiro, de onde Ele te chamou… Certamente te chamou para que o louves e o ames” 7. O propósito da existência não está nas glórias passageiras do mundo, mas em dar glória a Deus com a própria vida.

Com isso, entendemos que buscar a santidade é viver com sentido. É tomar consciência de que fomos criados para algo eterno, e que cada passo nesta vida pode ser uma resposta de amor Àquele que nos chamou à comunhão com Ele.

As características da vida santa segundo Padre Pio

Segundo Padre Pio, a santidade não se expressa em grandes feitos públicos ou títulos eclesiásticos, mas em uma vida marcada por sinceridade de coração, compromisso diário e amor a Deus acima de tudo. Ele dizia: “Nada de triunfos, nem promessas de sucesso fácil na vida ou nos negócios. E o caminho, misterioso e árduo, para alcançar essa meta [a vida eterna] é o da dor, revelado por Cristo em sua morte na cruz” 8.

Essa perspectiva revela que a santidade, para ele, está profundamente ligada à conformidade com o Crucificado e à aceitação do sofrimento como via de purificação e união com Deus.

Esse caminho, longe de estar associado a modismos ou à busca por conforto, é austero e exige fidelidade constante. Padre Pio advertia contra uma religiosidade superficial, voltada apenas a “temas da moda” ou a “curiosidades” espirituais 8. A verdadeira vida santa, para ele, está no exercício perseverante das virtudes, especialmente a caridade, a humildade e a obediência.

Além disso, ele via na experiência mística não um privilégio extraordinário, mas uma consequência natural da intimidade profunda com Deus. Para aqueles que perseveram no caminho da santidade, Deus comunica à alma um conhecimento vivo da realidade sobrenatural — uma sabedoria que transforma o coração, a inteligência e as afeições com uma “vivacidade inimaginável” 9.

Santa Teresa d’Ávila reforça essa visão ao dizer: “Quem vê o Senhor coberto de chagas e aflito com perseguições, que não as abrace e ame e deseje?” 10. A vida santa, portanto, exige também contemplação, sofrimento e alegria no seguimento fiel de Cristo. É um caminho árduo, mas seguro e fecundo.

Virtudes essenciais na busca pela santidade

A vivência das virtudes é o alicerce da santidade. Padre Pio e outros mestres espirituais sempre enfatizaram que não há vida santa sem um coração moldado pela graça e disposto a crescer nas virtudes. A seguir, vamos explorar algumas delas:

Caridade: a rainha das virtudes

A caridade é a virtude que sustenta toda vida cristã autêntica. Amar a Deus, a si mesmo e ao próximo é o cerne da vida espiritual — e até mesmo o desejo de amar já é, por si só, um ato de amor. Por meio da caridade, o cristão encontra paz, júbilo e a medida verdadeira da santidade: o cumprimento da vontade de Deus 11. São Francisco de Sales aprofunda esse entendimento ao afirmar que a caridade “confere valor a todas as nossas obras, de maneira que todo o bem que fizermos deve ser feito por amor de Deus” 12. Para ele, ela é também o “espírito geral” de toda vocação cristã, a aspiração mais elevada de toda alma que deseja a perfeição 13.

Aprofunde-se no conhecimento da virtude da caridade.

Simplicidade: clareza e verdade interior

A simplicidade purifica o coração e orienta o pensamento para o que realmente importa, permitindo que a alma se volte com mais liberdade para Deus 14. É uma virtude que liberta de complicações desnecessárias e aproxima da verdade interior. Jesus se comunica com os simples, estabelecendo com eles uma relação mais profunda e íntima. São Francisco de Sales complementa essa visão ao afirmar que a simplicidade é um ato puro de caridade, que tem como único objetivo conquistar o amor de Deus 15. Essa pureza de intenção mantém o coração recolhido e em paz, afastando a alma da inquietação e da dispersão espiritual 16.

Humildade: raiz da verdadeira grandeza espiritual

A humildade consiste em reconhecer-se como nada diante de Deus, sem se vangloriar das próprias virtudes ou méritos e aceitando as ofensas com serenidade 17. Essa atitude interior é essencial para quem deseja trilhar com verdade o caminho da santidade. São Francisco de Sales complementa esse ensinamento ao afirmar que a verdadeira humildade nos leva a desconfiar de nós mesmos — o que, paradoxalmente, abre espaço para uma confiança mais profunda em Deus 18. Segundo ele, é justamente pela medida da humildade que se reconhece o progresso espiritual de uma alma 19.

Leia também o artigo completo sobre a virtude da humildade.

Confiança e abandono filial

Entregar-se totalmente à vontade de Deus é o que mantém a alma firme, mesmo nas tempestades da vida. Trata-se de uma confiança filial, que se apoia na certeza de que o Senhor nunca deixa faltar consolo aos seus filhos 20. São Francisco de Sales aprofunda esse ensinamento ao afirmar: “quanto mais nos reconhecemos miseráveis, tanto mais temos ocasião de confiar em Deus” 21. Esse abandono total, longe de ser fraqueza, é descrito por ele como “a virtude das virtudes” — expressão máxima da caridade, da humildade e da perseverança 22.

Obediência como sustento nas provações

A obediência é, para quem busca a santidade, um firme alicerce nos momentos de provação. Submeter-se à autoridade legítima é um modo seguro de permanecer no caminho da vontade de Deus, mesmo quando tudo parece incerto 23. A obediência, nesse sentido, não se limita a uma mera formalidade externa, mas revela um espírito dócil e disposto a amar por meio da submissão livre.

São Francisco de Sales aprofunda esse entendimento ao dizer que a obediência é “o sal que dá sabor e mérito a todas as nossas ações” 24. Ela é fonte de profunda paz interior, pois liberta a alma da preocupação de agir por conta própria e oferece a serenidade de quem cumpre com alegria a vontade divina. Além disso, ele afirma que aquele que obedece com amor “contará vitórias”, mesmo diante das maiores dificuldades 25.

Vigilância e oração: armas na busca pela santidade

Padre Pio adverte que o cristão vive em constante combate espiritual e precisa, por isso, manter-se atento e orante. A vigilância e a oração são apresentadas como armas indispensáveis contra as tentações e as investidas do demônio, que ele descreve como um inimigo poderoso e presente: “A vida é um combate árduo contra o poder das trevas […] o demônio é fortíssimo: um ser espiritual, inteligente e astuto. Humanamente invencível” 26. No entanto, em vez de gerar medo, essa realidade deve despertar uma postura de confiança ativa, ancorada na graça de Deus e no abandono filial.

Aprenda com o Padre Pio a superar o deserto espiritual.

A tentação como sinal de proximidade com Deus

A presença da tentação não deve ser interpretada como sinal de fraqueza espiritual, mas, muitas vezes, como um indicativo de que a alma está em comunhão com Deus. Quanto mais uma pessoa deseja amar e servir ao Senhor, mais o inimigo se agita, tentando desviá-la de seu propósito. Por isso, as provações interiores não são anomalias no caminho da santidade, mas experiências próprias de quem leva a vida espiritual a sério — desafios que exigem coragem, discernimento e perseverança.

Entenda o que são tentações e como combatê-las.

Oração e vigilância como defesa

A vigilância e a oração constante são, de fato, as armas mais eficazes contra as investidas do mal. “Quando vigiamos, percebemo-lo; quando oramos, dispomos das armas” — Essa breve declaração 27 resume com clareza o modo como a vigilância e a oração atuam em conjunto no combate espiritual, revelando a importância de estar atento às insinuações do mal e ao mesmo tempo confiado ao auxílio divino. Estar vigilante é manter o coração desperto às sutilezas das tentações e às armadilhas do inimigo; orar, por sua vez, é buscar refúgio e força naquele que tem poder de nos sustentar. Essa atitude contínua de atenção e comunhão com Deus conserva o cristão firme, humilde e confiante diante das dificuldades espirituais.

O exemplo de Padre Pio na busca pela santidade

A vida de Padre Pio é, em si, um testemunho vívido dos ensinamentos que transmitiu. Ele não apenas falou sobre oração, sofrimento, humildade e vigilância — ele viveu tudo isso de forma radical. Enfrentou doenças dolorosas, perseguições e humilhações, inclusive dentro da própria Igreja, sem jamais abandonar sua fidelidade a Deus. Aceitava cada sofrimento como um meio de expiação pelos pecados e de união com Cristo crucificado.

Mesmo quando foi proibido de exercer o ministério público, ou privado de manter correspondência com os fiéis, manteve-se obediente às ordens da Igreja, confiando que Deus o sustentaria. Sua vida interior era profundamente marcada pela oração constante, pela penitência e pelo amor aos que sofrem.

O que ele pregava era, antes de tudo, uma vivência pessoal: uma santidade concreta, silenciosa, moldada no sacrifício e na confiança. É justamente por isso que seu testemunho continua a tocar tantos corações. Ele mostrou que a santidade é possível e acessível — mesmo quando custa tudo.

São Pio de Pietrelcina, rogai por nós!

Referências

  1. Lumen Gentium, n. 40[]
  2. O Catecismo do Padre Pio, p. 495[][]
  3. Catequeses de S. Tomás, Minha Biblioteca Católica, 2024, p. 151[]
  4. São Luís Maria Grignion de Montfort, Editora Biblioteca Católica, 2024, p. 424[]
  5. Catecismo da Igreja Católica, n. 1[]
  6. O Catecismo do Padre Pio, p. 68[]
  7. Direção da Alma, Minha Biblioteca Católica, 2025, p. 208[]
  8. O Catecismo do Padre Pio, p. 23[][]
  9. O Catecismo do Padre Pio, p. 32[]
  10. O Livro da Vida, Editora Biblioteca Católica, 2020, p. 248[]
  11. O Catecismo do Padre Pio, p. 51, 55, 309, 310[]
  12. O Caminho das Virtudes: Conselhos espirituais de São Francisco de Sales, Minha Biblioteca Católica, 2025, p. 165[]
  13. p. 209[]
  14. O Catecismo do Padre Pio, p. 59[]
  15. p. 192[]
  16. p. 217[]
  17. O Catecismo do Padre Pio, p. 329, 331[]
  18. p. 85[]
  19. p. 305[]
  20. O Catecismo do Padre Pio, p. 197, 320[]
  21. p. 32[]
  22. p. 37[]
  23. O Catecismo do Padre Pio, p. 327, 328[]
  24. p. 252[]
  25. p. 180–182[]
  26. O Catecismo do Padre Pio, p. 178[]
  27. O Catecismo do Padre Pio, p. 305[]

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