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Católicos adoram imagens? A verdade sobre o culto às imagens na Igreja Católica

Católicos adoram imagens? Descubra a diferença entre veneração e adoração e o que a Igreja realmente ensina.

Católicos adoram imagens? A verdade sobre o culto às imagens na Igreja Católica
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Católicos adoram imagens? A verdade sobre o culto às imagens na Igreja Católica

Católicos adoram imagens? Descubra a diferença entre veneração e adoração e o que a Igreja realmente ensina.

Data da Publicação: 24/03/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica
Data da Publicação: 24/03/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica

Católicos adoram imagens? Descubra a diferença entre veneração e adoração e o que a Igreja realmente ensina.

Uma das acusações mais comuns contra os católicos é a de que adoram imagens de santos, anjos e da própria Virgem Maria. No entanto, isso não é verdade! Existe uma incompreensão muito grande em relação ao verdadeiro significado do uso de imagens na Bíblia e na fé católica.

Neste artigo, vamos esclarecer a diferença entre veneração e adoração, explorar a base bíblica e histórica para o uso de imagens sagradas e desmontar os mitos sobre esse tema, que é frequentemente mal compreendido pelos próprios católicos e mal interpretado por não-católicos.

O que significa adorar e venerar?

O que é adoração?

A adoração, ou latria em grego, é o culto reservado exclusivamente a Deus. Ela envolve o reconhecimento e a honra devida ao Criador, que é digno de todo louvor e adoração. O Catecismo da Igreja Católica explica que “a adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-Lo como tal, Criador e Salvador, Senhor e Dono de tudo quanto existe, Amor infinito e misericordioso” 1

A Igreja ensina que somente Deus deve ser adorado e que adorar qualquer criatura ou objeto é considerado idolatria. Por isso, é importante compreender que os católicos não adoram imagens, uma vez que, no catolicismo, as imagens não são adoradas como se fossem deuses, elas são representações visíveis de realidades espirituais invisíveis.

O que é veneração?

A veneração (dulia) é um respeito especial e reverente que os católicos oferecem às pessoas que viveram uma vida de santidade, como os santos, reconhecendo sua dedicação a Deus e suas virtudes. Essa veneração é distinta da adoração, que é exclusiva de Deus. Ao venerar um santo, os fiéis não estão adorando a imagem, mas sim reconhecendo a santidade daquela pessoa e pedindo sua intercessão. A veneração nos ajuda a imitar os exemplos de fé e amor a Deus vividos por esses modelos de vida cristã, inspirando-nos a caminhar no mesmo caminho de santidade.

Dentro da veneração, há uma distinção entre a veneração comum (dulia) e a veneração especial, chamada hiperdulia, que é dada unicamente à Virgem Maria. Isso ocorre devido ao papel único que ela desempenhou na história da salvação como Mãe de Deus e mediadora entre os homens e Cristo. Nenhum católico acredita que uma imagem tenha poder por si mesma. As imagens sagradas, portanto, são recordações visíveis de realidades espirituais invisíveis, usadas para inspirar a oração e fortalecer a fé.

Leia o nosso guia completo sobre Nossa Senhora, Mãe de Deus.

A Bíblia condena as imagens?

Muitas pessoas citam passagens da Bíblia, como Êxodo 20,4-5, para afirmar que os católicos adoram imagens. Um dos versículos mais recorrentes nessa discussão é o seguinte: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra.” 2 No entanto, é importante entender o contexto histórico e teológico dessa passagem, muitas vezes mal interpretado.

Em primeiro lugar, nos versículos anteriores, Deus diz: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de minha face.” 3 O mandamento, dado por Deus a Moisés, proíbe imagens criadas para adorar deuses falsos ou ídolos, como era comum nas culturas pagãs ao redor de Israel. Portanto, o que Deus condena não é o uso de imagens em si, mas uma idolatria, ou seja, o ato de adorar uma imagem como se ela fosse Deus, colocando-as no lugar de Deus, como fizeram os israelitas quando criaram o bezerro de ouro.

Confira aqui um guia completo para católicos sobre a Bíblia.

Deus ordena a criação de imagens sagradas

Para compreender melhor esta questão, é importante notar que, no Antigo Testamento, o próprio Deus ordenou a confecção de imagens sagradas em diversos momentos, demonstrando que o mandamento condena imagens feitas para adoração, não imagens em si. A explicação bíblica refere-se apenas à idolatria, ou seja, a adoração de qualquer objeto ou criatura no lugar de Deus. Vamos ver alguns exemplos de quando Deus pede a criação de imagens na Bíblia.

Os Querubins na Arca da Aliança (Êxodo 25,18-22) – Deus recomendou a Moisés que esculpisse querubins de ouro sobre a Arca da Aliança, que simbolizava Sua presença no meio do povo de Israel. Essas imagens eram parte integrante do culto divino e serviam como sinais visíveis da realidade espiritual, mas nunca foram adoradas.

A Serpente de Bronze (Números 21,8-9) – Quando os israelitas foram atacados por serpentes venenosas, Deus instruiu Moisés a fazer uma serpente de bronze e colocá-la sobre uma haste. Quem olhasse para ela com fé seria curado. Essa imagem foi um meio legítimo de graça, apontando simbolicamente para Cristo na cruz 4 — e não foi objeto de idolatria.

O Templo de Salomão (1Rs 6,23-29) – Quando Salomão construiu o templo, planejado pelo próprio Deus, ele adornou o santuário com imagens de anjos, bois e flores em madeira e revestidas de ouro. Essas imagens eram presentes no local mais sagrado do culto judaico e serviam para elevar os corações ao Criador.

Você conhece a diferença entre as bíblias católica e evangélica?

O problema não é a imagem, mas a idolatria

Deus proibiu a adoração de imagens 5, mas não o uso legítimo delas no culto. As imagens são representações visíveis de realidades espirituais invisíveis. Muitos protestantes têm, por exemplo, imagens de familiares, estátuas de heróis nacionais ou símbolos religiosos, como a cruz, sem considerar isso idolatria.

Então, por que negar aos católicos o direito de usar imagens para lembrar-se de Jesus, Maria e os santos? Elas nos ajudam a meditar e a lembrar daquilo que é sagrado, como a vida de Cristo, a Mãe de Deus, os anjos e os santos.

Os exemplos bíblicos citados acima demonstram que a criação e o uso de imagens para fins legítimos faz parte da tradição do povo de Deus. O problema nunca foi a existência de imagens, mas sim a idolatria, ou seja, dar a uma criatura o culto que pertence exclusivamente ao Senhor.

Imagens na Igreja primitiva e na história da fé cristã

O uso das imagens nos primeiros séculos do cristianismo

Desde os primeiros séculos, os cristãos utilizaram imagens para expressar e transmitir a fé. A prova mais evidente disso está nas catacumbas romanas, onde os cristãos perseguidos se reuniam em segredo para celebrar a Eucaristia e sepultar seus mortos.

Nessas catacumbas, foram descobertos diversos afrescos representando cenas bíblicas, como o Bom Pastor carregando a ovelha nos ombros (uma referência a Cristo), a Virgem Maria com o Menino Jesus, os apóstolos e diversos santos. Essas imagens serviram para fortalecer a identidade cristã e transmitir a fé a uma comunidade que, muitas vezes, não tinha acesso aos textos escritos.

Além das catacumbas, registros históricos indicam que os primeiros cristãos possuíam ícones e pinturas religiosas em suas casas e locais de culto. O primeiro ícone conhecido da Virgem Maria com o Menino Jesus data do século III, demonstrando que a veneração a Maria já era uma prática presente entre os fiéis. Além disso, mosaicos e esculturas foram usados ​​nas igrejas para contar a história da salvação e registrar os exemplos de santidade.

Essa prática cresceu ao longo dos séculos e, mesmo diante das perseguições e da destruição de imagens durante o período iconoclasta, a Igreja sempre defendeu o uso legítimo das imagens como uma forma de catequese e expressão de fé. O próprio Jesus, ao se encarnar, tornou-se a “imagem visível do Deus invisível.” 6

O Concílio de Niceia II (787 d.C.) e a defesa das imagens

No século VIII, surgiu uma heresia iconoclasta, que rejeitava o uso de imagens religiosas, alegando que sua veneração seria uma forma de idolatria. Essa controvérsia gerou grande divisão dentro da Igreja, levando à destruição de muitas representações sagradas.

Diante dessa crise, o Concílio de Niceia II, realizado em 787 dC, reafirmou o ensino tradicional da Igreja e condenou a iconoclastia. Os bispos reunidos declararam que as imagens sagradas de Cristo, da Virgem Maria, dos santos e dos anjos não deveriam ser destruídas, pois serviam como sinais visíveis da fé. O Concílio esclareceu que os católicos não adoram imagens, mas as veneram com respeito e amor, como forma de recordar aqueles que viveram em santidade e promovem a devoção e o amor a Deus.

As imagens e a liturgia católica

O uso das imagens como “Bíblias dos pobres”

Durante muitos séculos, grande parte da população não sabia ler, tornando a transmissão da fé um desafio. Nesse contexto, as imagens sagradas desempenharam um papel fundamental na evangelização e na catequese, elas ajudavam a ensinar a fé. Antes da invenção da imprensa e da ampla distribuição da Bíblia em diferentes idiomas, pinturas, afrescos, ícones e esculturas serviam como uma forma de catequese visual.

Nas grandes catedrais medievais, as paredes eram decoradas com imagens que retratavam cenas do Antigo e do Novo Testamento, ajudando os fiéis a compreender as verdades da fé. Os vitrais coloridos representavam passagens bíblicas e a vida dos santos, permitindo que mesmo aqueles que não tinham acesso a isso de outro modo meditassem sobre a história da salvação.

Além disso, os ícones no Oriente e as imagens esculpidas no Ocidente eram usados ​​não apenas como elementos decorativos, mas como instrumentos pedagógicos que reforçavam os ensinamentos da Igreja. Através dessas representações visuais, muitos cristãos puderam contemplar os mistérios da fé e ser inspirados a seguir os exemplos de santidade. Assim, as imagens sagradas nunca foram objetos de adoração, mas sempre auxiliares para aproximar o coração dos fiéis de Deus.

As imagens na vida de oração

As imagens sagradas desempenham um papel importante na vida espiritual dos fiéis. Assim como mantemos fotos de entes queridos para recordá-los com carinho, as representações dos santos, de Jesus e de Maria nos ajudam a lembrar seus exemplos e nos inspirar na vida cristã. Elas não são objetos de adoração, mas instrumentos que nos remetem a realidades espirituais mais elevadas.

O uso das imagens na oração pessoal e comunitária auxilia na meditação e na contemplação dos mistérios divinos. Muitos santos rezavam diante das imagens, não porque acreditavam que elas tinham poder por si mesmas, mas porque serviam como meios para elevar o coração a Deus. O Catecismo da Igreja Católica ensina que

A contemplação dos sagrados ícones, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se imprima na memória do coração e se exprima depois na vida nova dos fiéis. 7

Portanto, as imagens são uma ajuda para a oração, conduzindo-nos a uma experiência mais profunda com Deus e com a comunhão dos santos que intercedem por nós no céu.

O que a Igreja ensina oficialmente sobre as imagens?

O Catecismo da Igreja Católica e as imagens

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a veneração das imagens sagradas tem sua base no mistério da Encarnação do Verbo de Deus, como aponta o Catecismo

Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens. 8

Isso significa que, porque Deus se fez homem em Jesus Cristo, tornou-se legítimo representá-lo em imagens, assim como se pode representar Maria e os santos. Essas imagens não são adoradas, mas veneradas, pois remetem às realidades espirituais que representam. Desde os primeiros séculos, os cristãos compreenderam que o uso de imagens é uma expressão exclusiva da fé e um meio de fortalecer a devoção.

O que os Papas dizem sobre as imagens?

Os Papas, ao longo da história, sempre defenderam o uso legítimo das imagens na vida da Igreja. São João Paulo II afirmou que os ícones e outras representações sagradas são uma expressão autêntica da fé cristã e jamais podem ser confundidos com idolatria. Em sua Carta Apostólica Duodecimum Saeculum (1987), ele reafirmou o ensinamento do Concílio de Niceia II (787), que confirmou a veneração das imagens como parte essencial da Tradição da Igreja.

Contra a corrente iconoclasta, que também tinha apelado para a Escritura e para a Tradição dos Padres, especialmente para o pseudo-sínodo de Hiéria de 754, o II Concílio de Nicéía sanciona a legitimidade da veneração das imagens, confirmando “o ensino divinamente inspirado dos santos Padres e da Tradição da Igreja católica” 9

O Papa Francisco também destacou a importância das imagens na evangelização e na catequese. Em muitas ocasiões, ele enfatizou que as representações sagradas ajudam os fiéis a se conectar com a fé e a refletirem sobre a vida de Cristo e dos santos. Ele recorda que, desde os primeiros séculos do cristianismo, as imagens foram usadas para transmitir a fé, especialmente para aqueles que não sabiam ler, tornando-se um poderoso instrumento de evangelização e catequese.

Resumindo: Católicos adoram imagens?

Os católicos não adoram imagens. A adoração (latria) é um culto exclusivo a Deus. Os católicos usam as imagens como uma forma legítima de honrar a Deus e lembrar-se dos santos. A veneração (dulia) não é adoração, mas um sinal de respeito e reconhecimento da ação de Deus na vida daqueles que foram fiéis a Ele. A Virgem Maria, por seu papel único na salvação, recebe uma veneração especial (hiperdulia), mas isso não equivale à adoração.

A Bíblia condena a idolatria, ou seja, colocar qualquer criatura ou objeto no lugar de Deus. No entanto, não proíbe o uso legítimo de imagens para o culto e a devoção. O próprio Deus planejou a confecção de imagens sagradas, como os querubins sobre a Arca da Aliança 10 e a serpente de bronze que trouxe cura ao povo de Israel 11.

Desde os primeiros séculos, os cristãos cultivaram imagens para ensinar a fé e aprofundar a espiritualidade dos fiéis, especialmente quando a maioria da população era analfabeta. A Igreja sempre aprovou o uso de imagens como um auxílio à devoção, sem jamais considerá-las divinas. Se Deus permitiu imagens no Antigo Testamento, se os cristãos primitivos as utilizavam e se a Igreja sempre as aprovou, por que deveríamos rejeitá-las?

Conheça uma oração para recitar diante da imagem da Sagrada Família.

Referências

  1. CIC, 2096[]
  2. Êxodo 20,4-5[]
  3. Ex 20, 2-3[]
  4. cf. Jo 3,14[]
  5. Levítico 26,1[]
  6. Cl 1, 15 e CIC, 2131[]
  7. CIC, 1162[]
  8. CIC, 2131[]
  9. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica
    Duodecimum Saeculum sobre o culto das imagens sagradas. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1987/documents/hf_jp-ii_apl_19871204_duodecimum-saeculum.html[]
  10. Êx 25,18-22[]
  11. Nm 21,8-9[]

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Católicos adoram imagens? Descubra a diferença entre veneração e adoração e o que a Igreja realmente ensina.

Uma das acusações mais comuns contra os católicos é a de que adoram imagens de santos, anjos e da própria Virgem Maria. No entanto, isso não é verdade! Existe uma incompreensão muito grande em relação ao verdadeiro significado do uso de imagens na Bíblia e na fé católica.

Neste artigo, vamos esclarecer a diferença entre veneração e adoração, explorar a base bíblica e histórica para o uso de imagens sagradas e desmontar os mitos sobre esse tema, que é frequentemente mal compreendido pelos próprios católicos e mal interpretado por não-católicos.

O que significa adorar e venerar?

O que é adoração?

A adoração, ou latria em grego, é o culto reservado exclusivamente a Deus. Ela envolve o reconhecimento e a honra devida ao Criador, que é digno de todo louvor e adoração. O Catecismo da Igreja Católica explica que “a adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-Lo como tal, Criador e Salvador, Senhor e Dono de tudo quanto existe, Amor infinito e misericordioso” 1

A Igreja ensina que somente Deus deve ser adorado e que adorar qualquer criatura ou objeto é considerado idolatria. Por isso, é importante compreender que os católicos não adoram imagens, uma vez que, no catolicismo, as imagens não são adoradas como se fossem deuses, elas são representações visíveis de realidades espirituais invisíveis.

O que é veneração?

A veneração (dulia) é um respeito especial e reverente que os católicos oferecem às pessoas que viveram uma vida de santidade, como os santos, reconhecendo sua dedicação a Deus e suas virtudes. Essa veneração é distinta da adoração, que é exclusiva de Deus. Ao venerar um santo, os fiéis não estão adorando a imagem, mas sim reconhecendo a santidade daquela pessoa e pedindo sua intercessão. A veneração nos ajuda a imitar os exemplos de fé e amor a Deus vividos por esses modelos de vida cristã, inspirando-nos a caminhar no mesmo caminho de santidade.

Dentro da veneração, há uma distinção entre a veneração comum (dulia) e a veneração especial, chamada hiperdulia, que é dada unicamente à Virgem Maria. Isso ocorre devido ao papel único que ela desempenhou na história da salvação como Mãe de Deus e mediadora entre os homens e Cristo. Nenhum católico acredita que uma imagem tenha poder por si mesma. As imagens sagradas, portanto, são recordações visíveis de realidades espirituais invisíveis, usadas para inspirar a oração e fortalecer a fé.

Leia o nosso guia completo sobre Nossa Senhora, Mãe de Deus.

A Bíblia condena as imagens?

Muitas pessoas citam passagens da Bíblia, como Êxodo 20,4-5, para afirmar que os católicos adoram imagens. Um dos versículos mais recorrentes nessa discussão é o seguinte: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra.” 2 No entanto, é importante entender o contexto histórico e teológico dessa passagem, muitas vezes mal interpretado.

Em primeiro lugar, nos versículos anteriores, Deus diz: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de minha face.” 3 O mandamento, dado por Deus a Moisés, proíbe imagens criadas para adorar deuses falsos ou ídolos, como era comum nas culturas pagãs ao redor de Israel. Portanto, o que Deus condena não é o uso de imagens em si, mas uma idolatria, ou seja, o ato de adorar uma imagem como se ela fosse Deus, colocando-as no lugar de Deus, como fizeram os israelitas quando criaram o bezerro de ouro.

Confira aqui um guia completo para católicos sobre a Bíblia.

Deus ordena a criação de imagens sagradas

Para compreender melhor esta questão, é importante notar que, no Antigo Testamento, o próprio Deus ordenou a confecção de imagens sagradas em diversos momentos, demonstrando que o mandamento condena imagens feitas para adoração, não imagens em si. A explicação bíblica refere-se apenas à idolatria, ou seja, a adoração de qualquer objeto ou criatura no lugar de Deus. Vamos ver alguns exemplos de quando Deus pede a criação de imagens na Bíblia.

Os Querubins na Arca da Aliança (Êxodo 25,18-22) – Deus recomendou a Moisés que esculpisse querubins de ouro sobre a Arca da Aliança, que simbolizava Sua presença no meio do povo de Israel. Essas imagens eram parte integrante do culto divino e serviam como sinais visíveis da realidade espiritual, mas nunca foram adoradas.

A Serpente de Bronze (Números 21,8-9) – Quando os israelitas foram atacados por serpentes venenosas, Deus instruiu Moisés a fazer uma serpente de bronze e colocá-la sobre uma haste. Quem olhasse para ela com fé seria curado. Essa imagem foi um meio legítimo de graça, apontando simbolicamente para Cristo na cruz 4 — e não foi objeto de idolatria.

O Templo de Salomão (1Rs 6,23-29) – Quando Salomão construiu o templo, planejado pelo próprio Deus, ele adornou o santuário com imagens de anjos, bois e flores em madeira e revestidas de ouro. Essas imagens eram presentes no local mais sagrado do culto judaico e serviam para elevar os corações ao Criador.

Você conhece a diferença entre as bíblias católica e evangélica?

O problema não é a imagem, mas a idolatria

Deus proibiu a adoração de imagens 5, mas não o uso legítimo delas no culto. As imagens são representações visíveis de realidades espirituais invisíveis. Muitos protestantes têm, por exemplo, imagens de familiares, estátuas de heróis nacionais ou símbolos religiosos, como a cruz, sem considerar isso idolatria.

Então, por que negar aos católicos o direito de usar imagens para lembrar-se de Jesus, Maria e os santos? Elas nos ajudam a meditar e a lembrar daquilo que é sagrado, como a vida de Cristo, a Mãe de Deus, os anjos e os santos.

Os exemplos bíblicos citados acima demonstram que a criação e o uso de imagens para fins legítimos faz parte da tradição do povo de Deus. O problema nunca foi a existência de imagens, mas sim a idolatria, ou seja, dar a uma criatura o culto que pertence exclusivamente ao Senhor.

Imagens na Igreja primitiva e na história da fé cristã

O uso das imagens nos primeiros séculos do cristianismo

Desde os primeiros séculos, os cristãos utilizaram imagens para expressar e transmitir a fé. A prova mais evidente disso está nas catacumbas romanas, onde os cristãos perseguidos se reuniam em segredo para celebrar a Eucaristia e sepultar seus mortos.

Nessas catacumbas, foram descobertos diversos afrescos representando cenas bíblicas, como o Bom Pastor carregando a ovelha nos ombros (uma referência a Cristo), a Virgem Maria com o Menino Jesus, os apóstolos e diversos santos. Essas imagens serviram para fortalecer a identidade cristã e transmitir a fé a uma comunidade que, muitas vezes, não tinha acesso aos textos escritos.

Além das catacumbas, registros históricos indicam que os primeiros cristãos possuíam ícones e pinturas religiosas em suas casas e locais de culto. O primeiro ícone conhecido da Virgem Maria com o Menino Jesus data do século III, demonstrando que a veneração a Maria já era uma prática presente entre os fiéis. Além disso, mosaicos e esculturas foram usados ​​nas igrejas para contar a história da salvação e registrar os exemplos de santidade.

Essa prática cresceu ao longo dos séculos e, mesmo diante das perseguições e da destruição de imagens durante o período iconoclasta, a Igreja sempre defendeu o uso legítimo das imagens como uma forma de catequese e expressão de fé. O próprio Jesus, ao se encarnar, tornou-se a “imagem visível do Deus invisível.” 6

O Concílio de Niceia II (787 d.C.) e a defesa das imagens

No século VIII, surgiu uma heresia iconoclasta, que rejeitava o uso de imagens religiosas, alegando que sua veneração seria uma forma de idolatria. Essa controvérsia gerou grande divisão dentro da Igreja, levando à destruição de muitas representações sagradas.

Diante dessa crise, o Concílio de Niceia II, realizado em 787 dC, reafirmou o ensino tradicional da Igreja e condenou a iconoclastia. Os bispos reunidos declararam que as imagens sagradas de Cristo, da Virgem Maria, dos santos e dos anjos não deveriam ser destruídas, pois serviam como sinais visíveis da fé. O Concílio esclareceu que os católicos não adoram imagens, mas as veneram com respeito e amor, como forma de recordar aqueles que viveram em santidade e promovem a devoção e o amor a Deus.

As imagens e a liturgia católica

O uso das imagens como “Bíblias dos pobres”

Durante muitos séculos, grande parte da população não sabia ler, tornando a transmissão da fé um desafio. Nesse contexto, as imagens sagradas desempenharam um papel fundamental na evangelização e na catequese, elas ajudavam a ensinar a fé. Antes da invenção da imprensa e da ampla distribuição da Bíblia em diferentes idiomas, pinturas, afrescos, ícones e esculturas serviam como uma forma de catequese visual.

Nas grandes catedrais medievais, as paredes eram decoradas com imagens que retratavam cenas do Antigo e do Novo Testamento, ajudando os fiéis a compreender as verdades da fé. Os vitrais coloridos representavam passagens bíblicas e a vida dos santos, permitindo que mesmo aqueles que não tinham acesso a isso de outro modo meditassem sobre a história da salvação.

Além disso, os ícones no Oriente e as imagens esculpidas no Ocidente eram usados ​​não apenas como elementos decorativos, mas como instrumentos pedagógicos que reforçavam os ensinamentos da Igreja. Através dessas representações visuais, muitos cristãos puderam contemplar os mistérios da fé e ser inspirados a seguir os exemplos de santidade. Assim, as imagens sagradas nunca foram objetos de adoração, mas sempre auxiliares para aproximar o coração dos fiéis de Deus.

As imagens na vida de oração

As imagens sagradas desempenham um papel importante na vida espiritual dos fiéis. Assim como mantemos fotos de entes queridos para recordá-los com carinho, as representações dos santos, de Jesus e de Maria nos ajudam a lembrar seus exemplos e nos inspirar na vida cristã. Elas não são objetos de adoração, mas instrumentos que nos remetem a realidades espirituais mais elevadas.

O uso das imagens na oração pessoal e comunitária auxilia na meditação e na contemplação dos mistérios divinos. Muitos santos rezavam diante das imagens, não porque acreditavam que elas tinham poder por si mesmas, mas porque serviam como meios para elevar o coração a Deus. O Catecismo da Igreja Católica ensina que

A contemplação dos sagrados ícones, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se imprima na memória do coração e se exprima depois na vida nova dos fiéis. 7

Portanto, as imagens são uma ajuda para a oração, conduzindo-nos a uma experiência mais profunda com Deus e com a comunhão dos santos que intercedem por nós no céu.

O que a Igreja ensina oficialmente sobre as imagens?

O Catecismo da Igreja Católica e as imagens

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a veneração das imagens sagradas tem sua base no mistério da Encarnação do Verbo de Deus, como aponta o Catecismo

Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens. 8

Isso significa que, porque Deus se fez homem em Jesus Cristo, tornou-se legítimo representá-lo em imagens, assim como se pode representar Maria e os santos. Essas imagens não são adoradas, mas veneradas, pois remetem às realidades espirituais que representam. Desde os primeiros séculos, os cristãos compreenderam que o uso de imagens é uma expressão exclusiva da fé e um meio de fortalecer a devoção.

O que os Papas dizem sobre as imagens?

Os Papas, ao longo da história, sempre defenderam o uso legítimo das imagens na vida da Igreja. São João Paulo II afirmou que os ícones e outras representações sagradas são uma expressão autêntica da fé cristã e jamais podem ser confundidos com idolatria. Em sua Carta Apostólica Duodecimum Saeculum (1987), ele reafirmou o ensinamento do Concílio de Niceia II (787), que confirmou a veneração das imagens como parte essencial da Tradição da Igreja.

Contra a corrente iconoclasta, que também tinha apelado para a Escritura e para a Tradição dos Padres, especialmente para o pseudo-sínodo de Hiéria de 754, o II Concílio de Nicéía sanciona a legitimidade da veneração das imagens, confirmando “o ensino divinamente inspirado dos santos Padres e da Tradição da Igreja católica” 9

O Papa Francisco também destacou a importância das imagens na evangelização e na catequese. Em muitas ocasiões, ele enfatizou que as representações sagradas ajudam os fiéis a se conectar com a fé e a refletirem sobre a vida de Cristo e dos santos. Ele recorda que, desde os primeiros séculos do cristianismo, as imagens foram usadas para transmitir a fé, especialmente para aqueles que não sabiam ler, tornando-se um poderoso instrumento de evangelização e catequese.

Resumindo: Católicos adoram imagens?

Os católicos não adoram imagens. A adoração (latria) é um culto exclusivo a Deus. Os católicos usam as imagens como uma forma legítima de honrar a Deus e lembrar-se dos santos. A veneração (dulia) não é adoração, mas um sinal de respeito e reconhecimento da ação de Deus na vida daqueles que foram fiéis a Ele. A Virgem Maria, por seu papel único na salvação, recebe uma veneração especial (hiperdulia), mas isso não equivale à adoração.

A Bíblia condena a idolatria, ou seja, colocar qualquer criatura ou objeto no lugar de Deus. No entanto, não proíbe o uso legítimo de imagens para o culto e a devoção. O próprio Deus planejou a confecção de imagens sagradas, como os querubins sobre a Arca da Aliança 10 e a serpente de bronze que trouxe cura ao povo de Israel 11.

Desde os primeiros séculos, os cristãos cultivaram imagens para ensinar a fé e aprofundar a espiritualidade dos fiéis, especialmente quando a maioria da população era analfabeta. A Igreja sempre aprovou o uso de imagens como um auxílio à devoção, sem jamais considerá-las divinas. Se Deus permitiu imagens no Antigo Testamento, se os cristãos primitivos as utilizavam e se a Igreja sempre as aprovou, por que deveríamos rejeitá-las?

Conheça uma oração para recitar diante da imagem da Sagrada Família.

Referências

  1. CIC, 2096[]
  2. Êxodo 20,4-5[]
  3. Ex 20, 2-3[]
  4. cf. Jo 3,14[]
  5. Levítico 26,1[]
  6. Cl 1, 15 e CIC, 2131[]
  7. CIC, 1162[]
  8. CIC, 2131[]
  9. JOÃO PAULO II. Carta Apostólica
    Duodecimum Saeculum sobre o culto das imagens sagradas. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1987/documents/hf_jp-ii_apl_19871204_duodecimum-saeculum.html[]
  10. Êx 25,18-22[]
  11. Nm 21,8-9[]

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