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Entenda o rito de exéquias para a morte e funeral de um Papa conforme previsto no documento Ordo Exsequiarum Romani Pontificis.
Entenda o rito de exéquias para a morte e funeral de um Papa conforme previsto no documento Ordo Exsequiarum Romani Pontificis.
Entenda o rito de exéquias para a morte de um Sumo Pontífice
Nos primeiros dias de 2023, a Igreja do mundo todo sofreu com a perda de um de seus mais queridos pastores, o Papa emérito Bento XVI. E, graças ao grande avanço das mídias nos últimos tempos, pudemos acompanhar de perto alguns detalhes dos ritos fúnebres destinados ao Santo Padre, fato que pode despertar muita curiosidade por seus significados e variados símbolos.
Neste texto, vamos conhecer como se dá o funeral – ou rito das exéquias – destinado ao Santo Padre por ocasião de seu falecimento.
Desde seus primórdios, a Igreja compreendeu que o rito para o momento da morte e sepultamento do corpo eram de grande importância, visto que refletiam a fé cristã na ressurreição. Se sabemos que a morte corporal é apenas uma etapa para chegar à vida eterna, essa genuína esperança cristã precisava estar expressa em seu rito.
Com um Papa, isso era ainda mais necessário. O Vigário de Cristo na Terra precisava ser sepultado de modo que expressasse o grande respeito por aquele momento de perda, mas também a esperança genuína na promessa cristã da salvação e da ressurreição.
Sendo assim, o rito das exéquias foi sofrendo modificações ao longo do tempo, até chegar às etapas estabelecidas em um dos documentos mais recentes, que foi empregado em 1978 para as exéquias de São Paulo VI e do Beato João Paulo I. Trata-se do De funere Summi Pontificis.1
Em 5 de fevereiro de 1998, São João Paulo II aprovou o Ordo Exsequiarum Romani Pontificis,2 que fazia algumas alterações ao rito anterior. O Santo Padre sabia que estava aprovando o rito fúnebre que seria usado em sua própria morte, o que se deu apenas 7 anos depois da promulgação do documento.
Depois, em 2005, com o advento das novas mídias e a necessidade de regular com exatidão os meios de comunicação, para que não seja desrespeitoso e invasivo em relação à sacralidade do momento da morte de um Papa, São João Paulo II também estabeleceu mais uma constituição apostólica sobre o tema, a Universi Dominici Gregis.3 A constituição trata especialmente da vacância da Sé apostólica e da eleição do Romano Pontífice. Mas, de forma especial, seu quinto capítulo está destinado a realizar algumas considerações sobre as exéquias papais, especialmente voltadas à mídia, que você encontrará descritas no próximo tópico.
O conjunto dessas novas normativas regeu o rito de exéquias do Papa Bento XVI, mas ainda foram necessárias algumas adaptações. Até então, os documentos previam que a celebração fosse realizada ainda com a Sé vacante, visto que a eleição do sucessor papal ocorreria apenas após as exéquias e os dias de luto. Porém, a situação com Bento XVI foi única e um verdadeiro marco na história, fugindo ao que estava previsto nos documentos. Depois de séculos, o papa antecessor foi sepultado por seu sucessor já escolhido. Um papa sepultou outro papa.
No documento Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, estão previstas três estações para o rito de sepultamento do Santo Padre, dispostas em três capítulos:
Cap. I: Primeira estação: na casa do Pontífice defunto.
Cap. II: Segunda estação: na Basílica Vaticana.
Cap. III: Terceira estação: no local do sepultamento.4
A primeira estação, como disposto no título, ocorre na casa pontifícia e compreende três momentos: Constatação da morte (Constatazione della morte); Exposição do corpo (Esposizione della salma); e Celebração e orações (Celebrazioni e preghiere).
A proximidade da morte do Papa é um momento de profunda oração de caráter eclesial – tudo deve expressar a piedade cristã. Nesse momento, já estão presentes o cardeal camerlengo da Santa Igreja Romana (aquele que assumirá a administração de assuntos temporais da Sé Apostólica durante o período da Sé Vacante, com exceção da morte de Bento XVI, cujo sucessor já estava escolhido), o Substituto da Secretaria de Estado, o Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, os Prelados clérigos, o Secretário da Câmara Apostólica, os familiares e o médico, diretor dos serviços sanitários do Estado da Cidade do Vaticano.
Após o falecimento, o corpo é preparado e vestido com as respectivas vestes papais, e ocorre a primeira exposição no lugar preparado na casa pontifícia, para que alguns fiéis e clérigos expressem seus pêsames e sua oração pelo Santo Padre. Seguem-se as orações previstas e uma celebração da palavra é presidida pelo Cardeal Camerlengo.
Na segunda estação, ocorrem mais três importantes momentos: Translado do Sumo Pontífice para a Basílica Vaticana (Traslazione della salma del Sommo Pontefice nella Basilica Vaticana); Celebrações e orações (Celebrazioni e preghiere); e Missa de exéquias (Messa Esequiale).
No dia e hora estabelecidos pela Congregação dos Cardeais, o corpo é transportado em uma procissão da casa pontifícia à Basílica. Quem preside o rito e a procissão é, mais uma vez, o cardeal Camerlengo. Ele asperge o corpo do Santo Padre com água benta, e em seguida se inicia a procissão do translado. Durante o caminho, são recitados diversos salmos e cânticos.
Quando o corpo é levado para o interior da Basílica, canta-se a Ladainha de todos os santos de forma solene, com o canto gregoriano em latim. O corpo é colocado no altar da Confissão, na Basílica de São Pedro, de frente para o povo, ou em outro lugar preparado pelos Cardeais da Congregação. Em seguida, o celebrante principal asperge o corpo do Santo Padre com água benta mais uma vez e, depois, o incensa. Enquanto isso, todos os presentes cantam o Responsório “Subvenite Sancti Dei”:
O canto em latim completo pode ser ouvido no vídeo:
Em tradução livre para a língua portuguesa:5
Vinde, santos de Deus,
apressai-vos, anjos do Senhor.
Recebei a sua alma
e apresentai-a ao trono do Altíssimo.
Que Cristo, que vos chamou, vos receba,
e os anjos vos levem com Abraão para o paraíso.
Recebei a sua alma
e apresentai-a ao trono do Altíssimo.
O descanso eterno concedei-lhe, ó Senhor,
e deixai que a luz perpétua brilhe sobre ele.
Recebei a sua alma
e apresentai-a ao trono do Altíssimo.
O momento do translado é concluído com uma breve Liturgia da Palavra, ou com a celebração da Eucaristia.
O corpo do Santo Padre permanece exposto por tempo determinado, para que os fiéis possam se aproximar e fazer suas orações. Enquanto isso, são realizadas orações e celebrações litúrgicas.
Antes da celebração da Missa de exéquias, o corpo do Sumo Pontífice é colocado em um caixão de madeira de cipreste, considerada nobre e com grande durabilidade. Depois, o mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice lê o rogito, ata escrita em latim que relata os principais atos da vida do falecido Papa e, em seguida, estende-se o véu de seda branca sobre o rosto do defunto, que é aspergido com água benta. No caixão, são colocados um saco com as medalhas cunhadas durante o pontificado e um tubo com o rogito, depois de selado com o selo do Departamento das Celebrações Litúrgicas.
Cada um desses momentos possui seu significado especial. O ato de colocar o véu branco sobre o rosto do Papa simboliza a pureza e a santidade. Ilustra a dignidade do ministério que o Santo Padre exerceu, e também a sua passagem: agora ele está separado do mundo, e contempla a beleza do Criador.
Em seguida, inicia-se o rito de fechamento do caixão, presidido pelo cardeal Camerlengo. Então, na hora estabelecida pela Congregação dos cardeais, é celebrada a missa de exéquias, presidida pelo cardeal decano ou, na ausência deste, do vice-decano. A última encomendação e despedida forma parte do rito e está caracterizada pela súplica da Igreja de Roma, presidida pelo Cardeal Vigário, e a súplica das Igrejas orientais, presidida por um Patriarca Oriental.
Ao terminar a missa de exéquias, passa-se à terceira estação, composta por dois momentos: Procissão ou Translado do féretro ao local da sepultura (Processione) e Sepultamento do corpo do Sumo Pontífice (Tumulazione della salma del Sommo Pontefice defunto).
O corpo é levado até o local da sepultura, onde o cardeal Camerlengo preside o rito de inumação, confiando outra vez o Santo Padre à misericórdia divina. Em seguida, o caixão de cipreste é posto dentro de um caixão de zinco/chumbo, que é fechado com solda. Do lado de fora, encontram-se as inscrições com o nome do Papa e as datas de seu pontificado. Depois, o caixão é posto dentro de outro caixão de madeira, de carvalho, que também é selado, enquanto os presentes cantam a Salve Regina (oração da Salve Rainha cantada em latim).
O costume de sepultar o Papa em três caixões é muito antigo, e remonta à Idade Média. Na época, já era comum que grandes autoridades, como imperadores e pontífices, fossem enterrados com a honraria dos três caixões. Além de demonstrar sua importância, a proteção tripla tem por objetivo proteger o corpo de qualquer roubo ou violação. Os materiais nobres também ajudam a preservá-lo por mais tempo, visto que o protegem da umidade e de outros agentes.
O local de sepultamento do Santo Padre costuma ser a cripta da Basílica de São Pedro, onde estão a maioria dos papas. O lugar muda quando há um pedido expresso do falecido papa por ser sepultado em outro lugar, ou quando o papa sucessor determina o translado do falecido, como foi o caso da transferência de São João Paulo II para uma das capelas superiores da Basílica de São Pedro, a pedido do Papa Bento XVI.
Os novenários
É tradição que a Igreja permaneça de luto por nove dias, em oração pela alma do Santo Padre. Após a missa de exéquias, são celebradas missas por nove dias consecutivos, presididas por cardeais de diferentes origens, representando a imagem de toda a Igreja e sua união no momento de luto por seu maior Pastor na Terra.
As últimas definições de São João Paulo II para o funeral de um papa
Em 2005, o Papa São João Paulo II promulgou a constituição apostólica Universi Dominici Gregis, já mencionada no início deste artigo. Entre as principais disposições a respeito do sepultamento, está o parágrafo 30, que prevê:
“30. Não é lícito a ninguém fotografar nem captar imagens, seja pelo meio que for, do Sumo Pontífice, quer doente na cama, quer já defunto, nem gravar em fita magnética as suas palavras para depois reproduzi-las. Se alguém, depois da morte do Papa, quiser tirar-lhe fotografias a título de documentação, deverá pedir para isso a autorização ao Cardeal Camerlengo da Santa Igreja Romana, o qual, porém, não permitirá que sejam tiradas fotografias ao Sumo Pontífice senão revestido com as vestes pontificais.”6
Como se vê, a constituição apostólica garante um zelo especial pela privacidade do Santo Padre, principalmente no momento sagrado de sua despedida deste mundo terreno. Os outros parágrafos também prevêem outras particularidades que podem ser consultadas, caso seja interessante, diretamente no documento.
Preparados para a morte
A morte de um Papa é, como podemos ver, um dos momentos mais solenes da Igreja. O extenso rito, minuciosamente detalhado no presente artigo, demonstra o cuidado e a seriedade com que se trata este momento em que o maior representante de Nosso Senhor na Terra, pastor de todo o seu rebanho, é levado para as moradas eternas.
Cada um dos momentos aqui descritos expressa, ao mesmo tempo, o amor e respeito do rebanho por seu pastor, e também a genuína esperança cristã na vida eterna e na ressurreição. Por isso, o momento da morte – seja do Papa ou dos demais fiéis da Igreja – é tratado com respeito, solenidade, mas também com zelo, beleza e orações confiantes pela alma daquele que se foi, sabendo que este fiel agora está sob o Juízo divino e Sua misericórdia.
A liturgia da Igreja sabiamente nos convoca a direcionar o momento da morte para uma esperança na vida eterna.7 E, embora em meio à tristeza da perda, deve permanecer a confiança de que esta vida é apenas um sopro, uma porta de entrada para a vida verdadeira.
“Não morro, entro na Vida.” Santa Teresinha
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Entenda o rito de exéquias para a morte de um Sumo Pontífice
Nos primeiros dias de 2023, a Igreja do mundo todo sofreu com a perda de um de seus mais queridos pastores, o Papa emérito Bento XVI. E, graças ao grande avanço das mídias nos últimos tempos, pudemos acompanhar de perto alguns detalhes dos ritos fúnebres destinados ao Santo Padre, fato que pode despertar muita curiosidade por seus significados e variados símbolos.
Neste texto, vamos conhecer como se dá o funeral – ou rito das exéquias – destinado ao Santo Padre por ocasião de seu falecimento.
Desde seus primórdios, a Igreja compreendeu que o rito para o momento da morte e sepultamento do corpo eram de grande importância, visto que refletiam a fé cristã na ressurreição. Se sabemos que a morte corporal é apenas uma etapa para chegar à vida eterna, essa genuína esperança cristã precisava estar expressa em seu rito.
Com um Papa, isso era ainda mais necessário. O Vigário de Cristo na Terra precisava ser sepultado de modo que expressasse o grande respeito por aquele momento de perda, mas também a esperança genuína na promessa cristã da salvação e da ressurreição.
Sendo assim, o rito das exéquias foi sofrendo modificações ao longo do tempo, até chegar às etapas estabelecidas em um dos documentos mais recentes, que foi empregado em 1978 para as exéquias de São Paulo VI e do Beato João Paulo I. Trata-se do De funere Summi Pontificis.1
Em 5 de fevereiro de 1998, São João Paulo II aprovou o Ordo Exsequiarum Romani Pontificis,2 que fazia algumas alterações ao rito anterior. O Santo Padre sabia que estava aprovando o rito fúnebre que seria usado em sua própria morte, o que se deu apenas 7 anos depois da promulgação do documento.
Depois, em 2005, com o advento das novas mídias e a necessidade de regular com exatidão os meios de comunicação, para que não seja desrespeitoso e invasivo em relação à sacralidade do momento da morte de um Papa, São João Paulo II também estabeleceu mais uma constituição apostólica sobre o tema, a Universi Dominici Gregis.3 A constituição trata especialmente da vacância da Sé apostólica e da eleição do Romano Pontífice. Mas, de forma especial, seu quinto capítulo está destinado a realizar algumas considerações sobre as exéquias papais, especialmente voltadas à mídia, que você encontrará descritas no próximo tópico.
O conjunto dessas novas normativas regeu o rito de exéquias do Papa Bento XVI, mas ainda foram necessárias algumas adaptações. Até então, os documentos previam que a celebração fosse realizada ainda com a Sé vacante, visto que a eleição do sucessor papal ocorreria apenas após as exéquias e os dias de luto. Porém, a situação com Bento XVI foi única e um verdadeiro marco na história, fugindo ao que estava previsto nos documentos. Depois de séculos, o papa antecessor foi sepultado por seu sucessor já escolhido. Um papa sepultou outro papa.
No documento Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, estão previstas três estações para o rito de sepultamento do Santo Padre, dispostas em três capítulos:
Cap. I: Primeira estação: na casa do Pontífice defunto.
Cap. II: Segunda estação: na Basílica Vaticana.
Cap. III: Terceira estação: no local do sepultamento.4
A primeira estação, como disposto no título, ocorre na casa pontifícia e compreende três momentos: Constatação da morte (Constatazione della morte); Exposição do corpo (Esposizione della salma); e Celebração e orações (Celebrazioni e preghiere).
A proximidade da morte do Papa é um momento de profunda oração de caráter eclesial – tudo deve expressar a piedade cristã. Nesse momento, já estão presentes o cardeal camerlengo da Santa Igreja Romana (aquele que assumirá a administração de assuntos temporais da Sé Apostólica durante o período da Sé Vacante, com exceção da morte de Bento XVI, cujo sucessor já estava escolhido), o Substituto da Secretaria de Estado, o Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, os Prelados clérigos, o Secretário da Câmara Apostólica, os familiares e o médico, diretor dos serviços sanitários do Estado da Cidade do Vaticano.
Após o falecimento, o corpo é preparado e vestido com as respectivas vestes papais, e ocorre a primeira exposição no lugar preparado na casa pontifícia, para que alguns fiéis e clérigos expressem seus pêsames e sua oração pelo Santo Padre. Seguem-se as orações previstas e uma celebração da palavra é presidida pelo Cardeal Camerlengo.
Na segunda estação, ocorrem mais três importantes momentos: Translado do Sumo Pontífice para a Basílica Vaticana (Traslazione della salma del Sommo Pontefice nella Basilica Vaticana); Celebrações e orações (Celebrazioni e preghiere); e Missa de exéquias (Messa Esequiale).
No dia e hora estabelecidos pela Congregação dos Cardeais, o corpo é transportado em uma procissão da casa pontifícia à Basílica. Quem preside o rito e a procissão é, mais uma vez, o cardeal Camerlengo. Ele asperge o corpo do Santo Padre com água benta, e em seguida se inicia a procissão do translado. Durante o caminho, são recitados diversos salmos e cânticos.
Quando o corpo é levado para o interior da Basílica, canta-se a Ladainha de todos os santos de forma solene, com o canto gregoriano em latim. O corpo é colocado no altar da Confissão, na Basílica de São Pedro, de frente para o povo, ou em outro lugar preparado pelos Cardeais da Congregação. Em seguida, o celebrante principal asperge o corpo do Santo Padre com água benta mais uma vez e, depois, o incensa. Enquanto isso, todos os presentes cantam o Responsório “Subvenite Sancti Dei”:
O canto em latim completo pode ser ouvido no vídeo:
Em tradução livre para a língua portuguesa:5
Vinde, santos de Deus,
apressai-vos, anjos do Senhor.
Recebei a sua alma
e apresentai-a ao trono do Altíssimo.
Que Cristo, que vos chamou, vos receba,
e os anjos vos levem com Abraão para o paraíso.
Recebei a sua alma
e apresentai-a ao trono do Altíssimo.
O descanso eterno concedei-lhe, ó Senhor,
e deixai que a luz perpétua brilhe sobre ele.
Recebei a sua alma
e apresentai-a ao trono do Altíssimo.
O momento do translado é concluído com uma breve Liturgia da Palavra, ou com a celebração da Eucaristia.
O corpo do Santo Padre permanece exposto por tempo determinado, para que os fiéis possam se aproximar e fazer suas orações. Enquanto isso, são realizadas orações e celebrações litúrgicas.
Antes da celebração da Missa de exéquias, o corpo do Sumo Pontífice é colocado em um caixão de madeira de cipreste, considerada nobre e com grande durabilidade. Depois, o mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice lê o rogito, ata escrita em latim que relata os principais atos da vida do falecido Papa e, em seguida, estende-se o véu de seda branca sobre o rosto do defunto, que é aspergido com água benta. No caixão, são colocados um saco com as medalhas cunhadas durante o pontificado e um tubo com o rogito, depois de selado com o selo do Departamento das Celebrações Litúrgicas.
Cada um desses momentos possui seu significado especial. O ato de colocar o véu branco sobre o rosto do Papa simboliza a pureza e a santidade. Ilustra a dignidade do ministério que o Santo Padre exerceu, e também a sua passagem: agora ele está separado do mundo, e contempla a beleza do Criador.
Em seguida, inicia-se o rito de fechamento do caixão, presidido pelo cardeal Camerlengo. Então, na hora estabelecida pela Congregação dos cardeais, é celebrada a missa de exéquias, presidida pelo cardeal decano ou, na ausência deste, do vice-decano. A última encomendação e despedida forma parte do rito e está caracterizada pela súplica da Igreja de Roma, presidida pelo Cardeal Vigário, e a súplica das Igrejas orientais, presidida por um Patriarca Oriental.
Ao terminar a missa de exéquias, passa-se à terceira estação, composta por dois momentos: Procissão ou Translado do féretro ao local da sepultura (Processione) e Sepultamento do corpo do Sumo Pontífice (Tumulazione della salma del Sommo Pontefice defunto).
O corpo é levado até o local da sepultura, onde o cardeal Camerlengo preside o rito de inumação, confiando outra vez o Santo Padre à misericórdia divina. Em seguida, o caixão de cipreste é posto dentro de um caixão de zinco/chumbo, que é fechado com solda. Do lado de fora, encontram-se as inscrições com o nome do Papa e as datas de seu pontificado. Depois, o caixão é posto dentro de outro caixão de madeira, de carvalho, que também é selado, enquanto os presentes cantam a Salve Regina (oração da Salve Rainha cantada em latim).
O costume de sepultar o Papa em três caixões é muito antigo, e remonta à Idade Média. Na época, já era comum que grandes autoridades, como imperadores e pontífices, fossem enterrados com a honraria dos três caixões. Além de demonstrar sua importância, a proteção tripla tem por objetivo proteger o corpo de qualquer roubo ou violação. Os materiais nobres também ajudam a preservá-lo por mais tempo, visto que o protegem da umidade e de outros agentes.
O local de sepultamento do Santo Padre costuma ser a cripta da Basílica de São Pedro, onde estão a maioria dos papas. O lugar muda quando há um pedido expresso do falecido papa por ser sepultado em outro lugar, ou quando o papa sucessor determina o translado do falecido, como foi o caso da transferência de São João Paulo II para uma das capelas superiores da Basílica de São Pedro, a pedido do Papa Bento XVI.
Os novenários
É tradição que a Igreja permaneça de luto por nove dias, em oração pela alma do Santo Padre. Após a missa de exéquias, são celebradas missas por nove dias consecutivos, presididas por cardeais de diferentes origens, representando a imagem de toda a Igreja e sua união no momento de luto por seu maior Pastor na Terra.
As últimas definições de São João Paulo II para o funeral de um papa
Em 2005, o Papa São João Paulo II promulgou a constituição apostólica Universi Dominici Gregis, já mencionada no início deste artigo. Entre as principais disposições a respeito do sepultamento, está o parágrafo 30, que prevê:
“30. Não é lícito a ninguém fotografar nem captar imagens, seja pelo meio que for, do Sumo Pontífice, quer doente na cama, quer já defunto, nem gravar em fita magnética as suas palavras para depois reproduzi-las. Se alguém, depois da morte do Papa, quiser tirar-lhe fotografias a título de documentação, deverá pedir para isso a autorização ao Cardeal Camerlengo da Santa Igreja Romana, o qual, porém, não permitirá que sejam tiradas fotografias ao Sumo Pontífice senão revestido com as vestes pontificais.”6
Como se vê, a constituição apostólica garante um zelo especial pela privacidade do Santo Padre, principalmente no momento sagrado de sua despedida deste mundo terreno. Os outros parágrafos também prevêem outras particularidades que podem ser consultadas, caso seja interessante, diretamente no documento.
Preparados para a morte
A morte de um Papa é, como podemos ver, um dos momentos mais solenes da Igreja. O extenso rito, minuciosamente detalhado no presente artigo, demonstra o cuidado e a seriedade com que se trata este momento em que o maior representante de Nosso Senhor na Terra, pastor de todo o seu rebanho, é levado para as moradas eternas.
Cada um dos momentos aqui descritos expressa, ao mesmo tempo, o amor e respeito do rebanho por seu pastor, e também a genuína esperança cristã na vida eterna e na ressurreição. Por isso, o momento da morte – seja do Papa ou dos demais fiéis da Igreja – é tratado com respeito, solenidade, mas também com zelo, beleza e orações confiantes pela alma daquele que se foi, sabendo que este fiel agora está sob o Juízo divino e Sua misericórdia.
A liturgia da Igreja sabiamente nos convoca a direcionar o momento da morte para uma esperança na vida eterna.7 E, embora em meio à tristeza da perda, deve permanecer a confiança de que esta vida é apenas um sopro, uma porta de entrada para a vida verdadeira.
“Não morro, entro na Vida.” Santa Teresinha
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