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O que é o Sacramento do Batismo?

Saiba o que é o sacramento do Batismo, como ele é celebrado, como aparece na Bíblia e conheça seus efeitos na vida dos batizados.

“O próprio Senhor afirma que o Sacramento do Batismo é necessário para a salvação. Por isso, ordenou aos seus discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem todas as nações.” ¹ O Batismo, embora invisível aos olhos humanos, imprime em nós um selo eterno do Altíssimo. Após o Batismo, nada pode apagar nossa identidade como filhos de Deus — nem o pecado, embora ele prejudique os frutos do sacramento.

Neste artigo, vamos abordar o que é o Sacramento do Batismo e tudo o que o envolve. Desde como ele é celebrado, passando pela sua prefiguração na Antiga Aliança, sua origem no ministério de Cristo, até a sua prática na nossa vida diária. Assim,  compreenderemos a sua importância em nossa vida.

O que é um sacramento?

Os sacramentos são sinais eficazes da graça divina, Jesus Cristo os estabeleceu e os confiou à Igreja para transmitirem a Sua graça. ² Cada sacramento possui sua própria forma, matéria e graça específicas, por isso através de ritos sensíveis, eles “significam e realizam as graças próprias de cada sacramento.” ² 

Dessa forma, os sacramentos são compostos por uma dimensão sensível, expressa pela matéria e pela forma, isto é, pelas palavras e ações executadas durante a cerimônia, bem como por um aspecto invisível que confere eficácia ao sacramento: a graça.

A origem dos sacramentos encontra-se na vida e nos ensinamentos de Jesus Cristo. Por meio deles, a Igreja continua a dispensar as graças divinas, a fim de nos salvar e santificar. Portanto, eles são fundamentais para a nossa salvação, uma vez que nos unem a Cristo e à Sua obra redentora.

Saiba mais sobre os sacramentos e a ação deles na sua vida.

O que é o sacramento do Batismo?

O sacramento do Batismo é, em primeiro lugar, o fundamento de toda a vida cristã e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. ³ “Pelo Baptismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão.” ³

Assista: Os primeiros passos para viver o catolicismo.

O nome “Batismo” vem do rito central, que envolve a imersão na água. Isso simboliza a jornada de morte e ressurreição de Cristo. A imersão é como uma espécie de sepultura, na qual a nossa antiga vida marcada pelo pecado “morre” e emergimos como uma “nova criatura.” ⁴ Além disso, o Batismo é chamado de “banho da regeneração e renovação no Espírito Santo”, pois representa o novo nascimento pela água e pelo Espírito — que é necessário para entrar no Reino de Deus. ⁵

Sendo assim, os batizados — que se tornam filhos de Deus e membros da Igreja — têm a responsabilidade de declarar e viver a fé que receberam de Deus através da Igreja. Além disso, são chamados a se envolver na missão apostólica do povo de Deus e contribuir ativamente na difusão dos valores cristãos. ⁶

O efeito do batismo, segundo Santo Tomás de Aquino, ⁷ é a remissão do pecado original e atual. Por isso, não se impõem aos batizados, mesmo adultos, qualquer reparação pelos seus pecados passados. De tal modo que “se morressem logo após o Batismo, seriam introduzidos imediatamente na glória de Deus. Por isso o efeito do Batismo é a abertura das portas do Paraíso.” ⁸

Quem pode ser batizado?

Todo o ser humano ainda não batizado pode receber o Batismo ⁹, independentemente da idade. Seja um adulto que abraça o cristianismo, seja um recém-nascido, o Batismo oferece a graça salvífica de Deus necessária para a nossa salvação. No caso das crianças, os pais têm o dever de educá-las na fé católica, e os padrinhos também assumem a responsabilidade de orientá-las na compreensão dos princípios cristãos e da vida espiritual.

Além disso, o Batismo — assim como a Confirmação — imprime na alma do Cristão um sinal espiritual indelével de pertença a Cristo ¹⁰, por isso só se pode receber o sacramento do Batismo uma vez na vida. Aliás, Santo Tomás em sua catequese sobre os sacramentos afirma que o erro dos donatistas era rebatizar aqueles já batizados pelos católicos “contra os quais se diz: Uma só fé, um só batismo (Ef 4,5).” ¹¹

Quem pode batizar?

Em situações normais, o Batismo é administrado pelos ministros ordenados da Igreja, como padres e diáconos. No entanto, em circunstâncias de emergência, qualquer pessoa pode realizar o Batismo — até um pagão ⁷ — desde que tenha a intenção correta e siga a fórmula trinitária. Isso ocorre porque o Batismo é considerado essencial para a salvação, e a igreja reconhece a vontade de Deus de que todos se salvem. ¹²

Nesse sentido, uma vez que o Batismo é necessário para a nossa salvação, a Igreja confia à misericórdia de Deus as crianças que morrem sem receber este sacramento. ¹³ “De facto, a grande misericórdia de Deus […] e a ternura de Jesus para com as crianças […] permitem-nos esperar que haja um caminho de salvação para as crianças que morrem sem Baptismo.” ¹³ 

Um erro dos pelagianos, aponta Santo Tomás na sua catequese sobre os sacramentos, era acreditar que as crianças batizadas são admitidas no reino de Deus como alguém que passa de um estado bom a um melhor, e não como alguém que foi liberada de um mal ao qual estava ligada. ¹⁴ Por isso, é forte o apelo da Igreja para que não adiem ou impeçam o Batismo das crianças, em qualquer circunstância, sobretudo nas situações emergenciais.

Sacramento do Batismo na Bíblia

O Sacramento do Batismo encontra suas raízes na Bíblia e na história cristã, tendo sua origem no ministério de Jesus Cristo. No entanto, na Antiga Aliança, já se podiam ver indícios do Batismo em momentos marcantes. A travessia do Mar Vermelho, bem como a história da arca de Noé e a passagem do Jordão foram eventos que apontaram para a salvação trazida pelo Batismo. ¹⁵ Além disso, a água, símbolo de vida, foi sendo preparada ao longo do tempo para manifestar a graça do Batismo. ¹⁶

Tais prefigurações encontram a sua realização em Jesus Cristo, que dá início à sua vida pública  ao ser batizado por São João Batista no rio Jordão, deixando um exemplo e uma base para o sacramento. ¹⁷. Assim, Jesus também demonstrou Sua humildade e inaugurou uma nova fase da história da redenção. 

Nesse sentido, a Páscoa de Cristo abriu as fontes do Batismo para toda a humanidade, e Seu sangue e água simbolizaram o Batismo e a Eucaristia como sacramentos de vida nova. ¹⁸ Ademais, Ele confiou aos Seus discípulos a missão de batizar todas as nações em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” ¹⁹ 

E os apóstolos, obedientes ao Mestre, começaram a praticar o Batismo logo após o Dia de Pentecostes. Pedro, ao pregar à multidão em Jerusalém, declarou: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” ²⁰ O Batismo, então, tornou-se uma cerimônia de entrada na comunidade cristã e um sinal visível de pertencimento à família de Deus.

O Apóstolo Paulo também enfatizou o significado profundo deste sacramento, dizendo que ao sermos batizados, participamos da morte e ressurreição de Cristo, sendo sepultados com Ele no Batismo e ressurgindo para uma nova vida. ²¹

Como é celebrado o sacramento do Batismo?

O rito se inicia com o sinal da cruz que “manifesta a marca de Cristo impressa naquele que vai passar a pertencer-Lhe, e […] a graça da redenção que Cristo nos adquiriu pela sua cruz.” ²² 

A matéria do Batismo é a água, que é um símbolo profundo de purificação, vida e renovação espiritual. ²³ Essa água é consagrada por uma oração de epiclese, na qual a Igreja invoca o Espírito Santo sobre a água, tornando-a um veículo de graça divina. ²⁴ Nesse momento, a água torna-se não apenas um elemento físico, mas um canal sagrado de transformação espiritual.

Durante o rito, o óleo dos catecúmenos também é aplicado antes do Batismo, como um sinal de proteção espiritual contra o mal, enquanto o santo crisma é usado após o Batismo, simbolizando a presença do Espírito Santo e a incorporação em Cristo. Esses óleos carregam significados profundos de preparação espiritual e compromisso com a fé. ²⁵

O momento central do rito do Batismo envolve a imersão do candidato na água ou a aspersão da água sobre sua cabeça enquanto o ministro pronuncia a fórmula trinitária “N., eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” ²⁶ Tal gesto simboliza a morte para o pecado e o renascimento em uma nova vida em Cristo. Aqui, a matéria e a forma se entrelaçam: a matéria é a água, e a forma consiste nas palavras pronunciadas pelo ministro. 

Ao pronunciar essa fórmula, o ministro confere o caráter sacramental ao ato, selando a participação do candidato na vida divina e na comunidade de fé. Nesse momento, a graça do Batismo é infundida, removendo o pecado original e inaugurando a vida divina na alma do batizado. ²⁷ Essa graça, além de purificação, capacita o batizado a viver de acordo com os princípios cristãos e a desempenhar um papel ativo na comunidade da Igreja. ²⁸ 

Sacramento do Batismo na nossa vida diária

Papa Bento XVI, em sua homilia da Festa do Batismo do Senhor, enfatizou que o Batismo é mais do que uma mera fórmula ritual; é uma adoção e incorporação na família divina, uma união com a Santíssima Trindade. “Estas palavras [a forma] não são apenas uma fórmula, mas uma realidade. Assinalam o momento em que os vossos filhos renascem como filhos de Deus. De filhos de pais humanos que são, passam a ser também filhos de Deus no Filho de Deus vivo.” ²⁹

O Batismo é o sacramento que abre as portas para os demais. É o início da vida de fé, o começo de uma vida em sintonia com a nova identidade de filho de Deus. Por isso, desde a infância, os padrinhos e pais têm o papel de guiar os batizados nesse caminho ³⁰, a fim de que cresçam em conhecimento e fé até a Confirmação e perseverem.

Após o Batismo, somos exortados a “viver de acordo com o Espírito” ³¹, ou seja, adotar um estilo de vida guiado pelo Espírito Santo. Sendo assim, a vivência dos frutos do Espírito — amor, alegria, paz, paciência, autodomínio, entre outros ³² — expressa a atuação do Espírito Santo em nossas vidas como batizados.

Por fim, ao nos tornarmos membros da Igreja, deixamos de pertencer apenas a nós mesmos e passamos a pertencer àquele que se sacrificou e ressurgiu por nós — Cristo. Nesse sentido, somos chamados a nos submeter aos outros, servir em comunhão na Igreja e a demonstrar obediência e humildade diante da hierarquia eclesial. Assim como o Batismo traz consigo responsabilidades e deveres, também nos confere direitos, como receber os sacramentos, nutrir-nos com a Palavra de Deus e ser amparados por outros auxílios espirituais. 

Referências

1. CIC, 1257[↩]
2. CIC, 1131[↩][↩]
3. CIC, 1213[↩][↩]
4. CIC, 1214[↩]
5. CIC, 1215[↩]
6. CIC, 1270[↩]
7. Catequeses de Santo Tomás, p.319[↩][↩]
8. Catequeses de Santo Tomás, p.319-320[↩]
9. CIC, 1246[↩]
10. CIC, 1317[↩]
11. Catequeses de Santo Tomás, p.320[↩]
12. CIC, 1256[↩]
13. CIC, 1261[↩][↩]
14. Catequeses de Santo Tomás, p.320-321[↩]
15. CIC 1218-1220[↩]
16. CIC 1217[↩]
17. CIC 1223[↩]
18. CIC 1225[↩]
19. Mateus 28, 19[↩]
20. Atos 2, 38[↩]
21. Romanos 6,3-4[↩]
22. CIC, 1235[↩]
23. CIC, 1262[↩]
24. CIC, 1238[↩]
25. CIC, 1239[↩]
26. CIC, 1240[↩]
27. CIC, 1279[↩]
28. CIC, 1269[↩]
29. Homilia do Papa Bento XVI na Festa do Baptismo do Senhor, janeiro de 2007[↩]
30. CIC, 1255[↩]
31. CIC 1266[↩]
32. Gl 5, 22-23[↩]