Formação, Santidade

Os 5 amores de São João Paulo II

Os 5 amores de São João Paulo II
Formação, Santidade

Os 5 amores de São João Paulo II

Data da Publicação: 31/08/2023
Tempo de leitura:
Autor: MBC
Data da Publicação: 31/08/2023
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Autor: MBC

Além de uma biografia impressionante e de um pontificado que impressionou o mundo e moveu multidões, São João Paulo II ficou conhecido também por ter se dedicado, de maneira especial, a alguns temas ao longo de sua vida.

Seja em seus livros, encíclicas, discursos, viagens, ou em seu cotidiano como Bispo de Roma, o Papa sempre voltava a esses aspectos, refletindo e lançando luz para sua compreensão – dedicando-lhes a vida.

Assim, ao escrever a biografia deste grande santo e perceber essas predileções do Papa por alguns assuntos, Jason Evert traçou uma jornada por 5 grandes temas que moveram a vida de São João Paulo II – 5 amores, como ele mesmo chama em seu livro “Vida de São João Paulo II”, publicado agora em janeiro pela Minha Biblioteca Católica.

Com uma escrita fluida e envolvente, Evert nos leva a um caminho de conhecimento profundo sobre a vida de Karol Wojtyla e os maiores chamados que Deus despertou em seu coração.

Neste breve artigo, faremos uma retomada e breve explicação sobre cada um dos grandes amores do Papa. 

Primeiro amor: os jovens


Desde que era jovem, Karol Wojtyla sempre gostou de atividades em grupo, como a prática de esportes, clubes de teatro e momentos de oração entre a juventude. Essa vivência pessoal do próprio Karol foi uma das coisas que despertou em seu coração um amor predileto pelos jovens.

Tendo sido chamado ao sacerdócio em sua própria juventude, e vivendo situações que exigiram uma maturidade e coragem muito grandes, como a perda de sua família e a passagem pela guerra, o futuro Papa sempre viu, em cada jovem, um grande potencial de entrega a Deus, uma abertura de coração genuína.

Por isso, depois de ordenado sacerdote, Karol continuava com um intenso apostolado com a juventude polonesa, promovendo excursões esportivas em que, junto ao lazer, garantia preciosos momentos de partilha, evangelização e celebração dos sacramentos.

Depois de ter se tornado bispo, Karol ainda encontrava tempo para seus jovens – continuava promovendo esses momentos e tinha um carisma irresistível. Podemos dizer que era um amor recíproco: Karol amava estar entre os jovens, e eles também o amavam e o admiravam de forma sem igual.

Isso transborda durante seu pontificado. Já como Papa João Paulo II, os jovens continuavam entre seus prediletos, e o Papa sempre fazia questão de dirigir-se a eles diretamente em seus discursos, inflamando seus corações de amor a Deus. Tanto foi assim que os jovens do mundo todo corresponderam a esse carinho e, depois do ano santo de 1984, aceitaram o chamado de João Paulo II de serem os guardiões da Cruz peregrina. Era o início das Jornadas Mundiais da Juventude, um evento que ocorre periodicamente em diferentes lugares do mundo, e que já reuniu milhões de jovens em suas edições.

Para saber mais sobre as jornadas, você pode acessar nosso texto exclusivo aqui.

Segundo amor: o amor humano


O momento histórico em que o Papa João Paulo II viveu não foi pacífico em muitos aspectos. Primeiro, porque viveu em sua própria juventude os horrores do nazismo e do comunismo soviético. Depois, porque sua geração também assistiu ao advento de uma grande confusão de valores.

A revolução sexual se espalhava pelo mundo, e os jovens ouviam sobre “amor livre”, uma libertação sexual completa e alguns princípios – como castidade, casamento e monogamia – começavam a ser questionados e desprezados por uma parcela da população mundial. Em meio ao furacão, Karol Wojtyla entendeu que era preciso ensinar novamente ao mundo sobre a beleza e a preciosidade do amor humano.

Ao longo de sua vida, ensinou o que era verdadeiramente amar, e dedicou muitas catequeses para que todos entendessem o valor da castidade, da sexualidade humana e da família, segundo os planos divinos.

Com essa missão, já como Papa, João Paulo II dá uma famosa série de catequeses sobre o tema, que depois seria compilada em formato de livro e conhecida como “Teologia do Corpo”. Um verdadeiro marco na compreensão a respeito da plenitude do amor humano à luz da vontade divina.

Este é um dos ensinamentos do Papa sobre o assunto, sobre o qual falou exaustivamente ao longo de sua vida em congressos, sínodos, discursos, homilias e toda sorte de espaços em que pudesse ensinar os homens a voltar a amar. 

João Paulo II foi um verdadeiro farol em meio a um mundo que se perdia e desaprendia a amar.

Terceiro amor: o Santíssimo Sacramento


Já sabemos que João Paulo II empreendeu diversas viagens em seu pontificado. Ao todo, foram 129 países e mais de 1,7 milhões de quilômetros. No entanto, embora passasse por muitos lugares, havia um onde ele sempre poderia ser encontrado: diante do Santíssimo Sacramento.

São João Paulo II sempre teve um amor especial pela Sagrada Eucaristia e lhe reservava o momento mais importante do dia – o primeiro. Levantava-se entre 5h e 5h30 da manhã todos os dias, para poder se colocar em oração. Dedicava os primeiros minutos para sua oração pessoal e, então, se preparava para celebrar a Santa Missa.

Em diversos momentos, João Paulo II expressa seu principal chamado: consagrar pão e vinho para torná-los Corpo e Sangue do Senhor, eis sua vocação primeira. Assim nos conta Jason Evert:

“A Eucaristia era a principal razão de seu sacerdócio. Ele disse: “Para mim, a Missa constitui o centro de minha vida e de todos os meus dias”. Acrescentou: “nada significa mais para mim ou me dá mais prazer do que celebrar a Missa todo dia e servir o povo de Deus na Igreja”. João Paulo II não celebrava simplesmente a Missa, ele a vivia. Como a própria Eucaristia, tornou-se uma imolação de amor – sacrifício vivo oferecido ao Pai para a salvação da humanidade.” 1

Além da manhã, as noites também eram momentos de contemplação para o Papa. Frequentemente, ele passava horas – às vezes a noite toda – prostrado diante da Eucaristia. Era ali, também, que tomava suas principais decisões e escolhia quem seriam os novos bispos, cardeais e demais missões que precisavam ser confiadas.

Essa proximidade com o Sacramento era vista pelo Papa como um dos pilares fundamentais de sua vida e de seu pontificado. Por isso, sempre falava sobre a importância da contemplação e da adoração eucarística na vida de todos os fiéis, e insistia para que essa se tornasse uma prática cada vez mais frequente. Assim ensinava:

“A Eucaristia é o segredo de meu dia. Ela dá força e sentido a todas as atividades de serviço para a Igreja e para o mundo inteiro (…). Deixem Jesus no Santíssimo Sacramento falar a seus corações. É Ele que é a verdadeira resposta de vida que vocês procuram. Ele fica aqui conosco: Ele é Deus conosco. Busquem-no incansavelmente, acolham-no sem reservas, amem-no sem interrupção: hoje, amanhã, sempre.” 2

Quarto amor: a devoção à Virgem Maria


Todas essas grandes missões de vida de João Paulo II sempre foram assistidas por uma profunda vida de oração, que tinha por pilar fundamental a Eucaristia e a devoção à Virgem Maria.

O amor materno de Maria acompanhou João Paulo II desde muito jovem. Quando tinha apenas 8 anos, sua mãe faleceu e ele, ainda menino, viu-se diante de tamanha perda. Graças ao pai, mesmo tão jovem, Karol já entendeu que, embora não tivesse mais sua mãe terrena, ele jamais perderia sua mãe espiritual: a Virgem Maria.

Assim começa uma linda história de devoção, que o acompanhou por toda a vida. Sempre rezando piedosamente o Rosário, a devoção mariana de Karol aumentou quando ele descobriu um precioso livro: o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort.

A partir daquele momento, este livro se tornou seu companheiro fiel – da cabeceira à fábrica na qual trabalhava, Karol o lia constantemente, inclusive entre seus intervalos. O lema da consagração acabou se tornando seu próprio lema papal: “Totus tuus”, do latim “Todo teu”. Preparamos um texto especial sobre isso aqui.

Seu amor por Nossa Senhora sempre esteve presente, e era comum ver a Karol, antes e depois de se tornar papa, sempre com o terço na mão, rezando incansavelmente.

Com o perdão do trocadilho, podemos dizer que, na vida de João Paulo II, “a recíproca é verdadeira”. Ele amava muito Nossa Senhora, mas Ela também demonstrou sempre um cuidado especial por seu filho querido.

Tanto foi assim que, em 13 de maio de 1981, o Papa foi atingido por tiros que quase lhe tiraram a vida. Contra todos os prognósticos médicos, João Paulo II sobreviveu a um tiro fatal dado por um atirador profissional. Como ele mesmo diz: “Uma mão deu o tiro, e outra desviou a bala”. Foi a mão de Nossa Senhora. Os detalhes sobre este atentado estão todos em nosso texto exclusivo sobre o tema.

Sem dúvida, um testemunho de vida no qual vemos um grande amor e devoção a Nossa querida Mãe. Sua devoção se manifestou de muitas formas, inclusive em uma bela oração composta pelo próprio São João Paulo II, que segue abaixo:

Imaculada Conceição, Maria, minha Mãe,
Vive em mim, age em mim,
Fala em mim e por meio de mim,
Tem teus pensamentos em minha mente,
Ama por meio de meu coração,
Dá-me tuas disposições e teus sentimentos,
Ensina-me, conduz-me e me guia a Jesus,
Corrige-me, ilumina e amplia meus pensamentos
e meu comportamento,
Possui minha alma,
Assume toda a minha personalidade e vida,
põe-te no lugar dela,
Inclina-me a constante adoração,
Reza em mim e por meio de mim,
Deixa-me viver em ti e guarda-me sempre nessa união.
Amém.

Quinto amor: a Cruz


Karol Wojtyla, desde o início da vida, sempre encarou o sofrimento com muita coragem. Desde a morte da mãe, aos oito anos, e depois a morte do pai, aos vinte, este jovem já se viu sozinho no mundo desde muito cedo. Mas essa não era a única cruz que a vida lhe reservava.

Ainda na juventude, o papa passou pela morte de seu querido irmão, Edmund, sem ao menos poder se despedir. Também disse adeus a queridos amigos que foram mortos pela guerra e pela perseguição soviética. Não bastassem as perdas, precisou lidar com o próprio contexto em que estava: os longos anos sombrios de nazismo que lhe exigiram muitos sacrifícios. Precisou trabalhar longas horas em minas e fábricas, e estudar clandestinamente, visto que as faculdades estavam fechadas por ordem do Reich

Passados os difíceis anos sob dominação nazista, a Polônia pensou ver um alívio, mas entrava em mais um regime ditatorial. Era o comunismo soviético que tomava conta de todo o país, e restringia estudos, atividades culturais e práticas religiosas. Karol não se abateu: decidiu entregar a vida a Deus e entrou para um seminário clandestino, única forma de iniciar sua preparação para o sacerdócio.

Ainda jovem, sobreviveu a um atropelamento e, em uma ocasião, quase foi capturado pelo regime. Depois, como papa, sobreviveu a dois atentados, sendo o primeiro deles quase fatal.

Apenas sua biografia já nos mostra que Deus o havia preparado para lidar com o sofrimento. A Cruz sempre foi a resposta de Karol para cada situação difícil que passava. A cada nova provação, mais uma oportunidade de unir seus sofrimentos ao de Jesus, de completar com sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo (Cl 1, 24). 

Por isso, São João Paulo II sempre enxergou o sofrimento como um meio de levar sua cruz e uni-la misticamente ao sacrifício redentor. Eis a grande chave para a vida humana: entender que o sacrifício de Nosso Senhor não impede que soframos, mas dá um sentido sobrenatural para nosso sofrimento, e isso foi latente na vida de nosso querido Papa e ao longo de todo o seu pontificado.

Assim ele nos ensina:

“(…) as fraquezas de todos os sofrimentos humanos podem ser infundidas com o mesmo poder de Deus manifestado na Cruz de Cristo (…). Nela Deus confirmou seu desejo de agir principalmente por meio do sofrimento (…). Cristo obteve completamente a Redenção até os limites extremos, mas, ao mesmo tempo, não o encerrou (…) toda forma de sofrimento; uma vez recebida nova vida pelo poder dessa Cruz, não deve mais ser a fraqueza do homem, mas a força de Deus.” 3

Para saber mais sobre os cinco amores de São João Paulo II, assista à nossa live exclusiva no YouTube sobre o assunto.

Referências

  1. EVERT, Jason. Vida de São João Paulo II. Dois Irmãos/RS: Minha Biblioteca Católica, 2023. p. 161.[]
  2. Papa João Paulo II, L’Osservatore Romano, 41, 8 de outubro de 1997, p. 7.[]
  3. Papa João Paulo II, Salvifici Doloris, pp. 23,24 e 26.[]

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    MBC

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    Além de uma biografia impressionante e de um pontificado que impressionou o mundo e moveu multidões, São João Paulo II ficou conhecido também por ter se dedicado, de maneira especial, a alguns temas ao longo de sua vida.

    Seja em seus livros, encíclicas, discursos, viagens, ou em seu cotidiano como Bispo de Roma, o Papa sempre voltava a esses aspectos, refletindo e lançando luz para sua compreensão – dedicando-lhes a vida.

    Assim, ao escrever a biografia deste grande santo e perceber essas predileções do Papa por alguns assuntos, Jason Evert traçou uma jornada por 5 grandes temas que moveram a vida de São João Paulo II – 5 amores, como ele mesmo chama em seu livro “Vida de São João Paulo II”, publicado agora em janeiro pela Minha Biblioteca Católica.

    Com uma escrita fluida e envolvente, Evert nos leva a um caminho de conhecimento profundo sobre a vida de Karol Wojtyla e os maiores chamados que Deus despertou em seu coração.

    Neste breve artigo, faremos uma retomada e breve explicação sobre cada um dos grandes amores do Papa. 

    Primeiro amor: os jovens


    Desde que era jovem, Karol Wojtyla sempre gostou de atividades em grupo, como a prática de esportes, clubes de teatro e momentos de oração entre a juventude. Essa vivência pessoal do próprio Karol foi uma das coisas que despertou em seu coração um amor predileto pelos jovens.

    Tendo sido chamado ao sacerdócio em sua própria juventude, e vivendo situações que exigiram uma maturidade e coragem muito grandes, como a perda de sua família e a passagem pela guerra, o futuro Papa sempre viu, em cada jovem, um grande potencial de entrega a Deus, uma abertura de coração genuína.

    Por isso, depois de ordenado sacerdote, Karol continuava com um intenso apostolado com a juventude polonesa, promovendo excursões esportivas em que, junto ao lazer, garantia preciosos momentos de partilha, evangelização e celebração dos sacramentos.

    Depois de ter se tornado bispo, Karol ainda encontrava tempo para seus jovens – continuava promovendo esses momentos e tinha um carisma irresistível. Podemos dizer que era um amor recíproco: Karol amava estar entre os jovens, e eles também o amavam e o admiravam de forma sem igual.

    Isso transborda durante seu pontificado. Já como Papa João Paulo II, os jovens continuavam entre seus prediletos, e o Papa sempre fazia questão de dirigir-se a eles diretamente em seus discursos, inflamando seus corações de amor a Deus. Tanto foi assim que os jovens do mundo todo corresponderam a esse carinho e, depois do ano santo de 1984, aceitaram o chamado de João Paulo II de serem os guardiões da Cruz peregrina. Era o início das Jornadas Mundiais da Juventude, um evento que ocorre periodicamente em diferentes lugares do mundo, e que já reuniu milhões de jovens em suas edições.

    Para saber mais sobre as jornadas, você pode acessar nosso texto exclusivo aqui.

    Segundo amor: o amor humano


    O momento histórico em que o Papa João Paulo II viveu não foi pacífico em muitos aspectos. Primeiro, porque viveu em sua própria juventude os horrores do nazismo e do comunismo soviético. Depois, porque sua geração também assistiu ao advento de uma grande confusão de valores.

    A revolução sexual se espalhava pelo mundo, e os jovens ouviam sobre “amor livre”, uma libertação sexual completa e alguns princípios – como castidade, casamento e monogamia – começavam a ser questionados e desprezados por uma parcela da população mundial. Em meio ao furacão, Karol Wojtyla entendeu que era preciso ensinar novamente ao mundo sobre a beleza e a preciosidade do amor humano.

    Ao longo de sua vida, ensinou o que era verdadeiramente amar, e dedicou muitas catequeses para que todos entendessem o valor da castidade, da sexualidade humana e da família, segundo os planos divinos.

    Com essa missão, já como Papa, João Paulo II dá uma famosa série de catequeses sobre o tema, que depois seria compilada em formato de livro e conhecida como “Teologia do Corpo”. Um verdadeiro marco na compreensão a respeito da plenitude do amor humano à luz da vontade divina.

    Este é um dos ensinamentos do Papa sobre o assunto, sobre o qual falou exaustivamente ao longo de sua vida em congressos, sínodos, discursos, homilias e toda sorte de espaços em que pudesse ensinar os homens a voltar a amar. 

    João Paulo II foi um verdadeiro farol em meio a um mundo que se perdia e desaprendia a amar.

    Terceiro amor: o Santíssimo Sacramento


    Já sabemos que João Paulo II empreendeu diversas viagens em seu pontificado. Ao todo, foram 129 países e mais de 1,7 milhões de quilômetros. No entanto, embora passasse por muitos lugares, havia um onde ele sempre poderia ser encontrado: diante do Santíssimo Sacramento.

    São João Paulo II sempre teve um amor especial pela Sagrada Eucaristia e lhe reservava o momento mais importante do dia – o primeiro. Levantava-se entre 5h e 5h30 da manhã todos os dias, para poder se colocar em oração. Dedicava os primeiros minutos para sua oração pessoal e, então, se preparava para celebrar a Santa Missa.

    Em diversos momentos, João Paulo II expressa seu principal chamado: consagrar pão e vinho para torná-los Corpo e Sangue do Senhor, eis sua vocação primeira. Assim nos conta Jason Evert:

    “A Eucaristia era a principal razão de seu sacerdócio. Ele disse: “Para mim, a Missa constitui o centro de minha vida e de todos os meus dias”. Acrescentou: “nada significa mais para mim ou me dá mais prazer do que celebrar a Missa todo dia e servir o povo de Deus na Igreja”. João Paulo II não celebrava simplesmente a Missa, ele a vivia. Como a própria Eucaristia, tornou-se uma imolação de amor – sacrifício vivo oferecido ao Pai para a salvação da humanidade.” 1

    Além da manhã, as noites também eram momentos de contemplação para o Papa. Frequentemente, ele passava horas – às vezes a noite toda – prostrado diante da Eucaristia. Era ali, também, que tomava suas principais decisões e escolhia quem seriam os novos bispos, cardeais e demais missões que precisavam ser confiadas.

    Essa proximidade com o Sacramento era vista pelo Papa como um dos pilares fundamentais de sua vida e de seu pontificado. Por isso, sempre falava sobre a importância da contemplação e da adoração eucarística na vida de todos os fiéis, e insistia para que essa se tornasse uma prática cada vez mais frequente. Assim ensinava:

    “A Eucaristia é o segredo de meu dia. Ela dá força e sentido a todas as atividades de serviço para a Igreja e para o mundo inteiro (…). Deixem Jesus no Santíssimo Sacramento falar a seus corações. É Ele que é a verdadeira resposta de vida que vocês procuram. Ele fica aqui conosco: Ele é Deus conosco. Busquem-no incansavelmente, acolham-no sem reservas, amem-no sem interrupção: hoje, amanhã, sempre.” 2

    Quarto amor: a devoção à Virgem Maria


    Todas essas grandes missões de vida de João Paulo II sempre foram assistidas por uma profunda vida de oração, que tinha por pilar fundamental a Eucaristia e a devoção à Virgem Maria.

    O amor materno de Maria acompanhou João Paulo II desde muito jovem. Quando tinha apenas 8 anos, sua mãe faleceu e ele, ainda menino, viu-se diante de tamanha perda. Graças ao pai, mesmo tão jovem, Karol já entendeu que, embora não tivesse mais sua mãe terrena, ele jamais perderia sua mãe espiritual: a Virgem Maria.

    Assim começa uma linda história de devoção, que o acompanhou por toda a vida. Sempre rezando piedosamente o Rosário, a devoção mariana de Karol aumentou quando ele descobriu um precioso livro: o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort.

    A partir daquele momento, este livro se tornou seu companheiro fiel – da cabeceira à fábrica na qual trabalhava, Karol o lia constantemente, inclusive entre seus intervalos. O lema da consagração acabou se tornando seu próprio lema papal: “Totus tuus”, do latim “Todo teu”. Preparamos um texto especial sobre isso aqui.

    Seu amor por Nossa Senhora sempre esteve presente, e era comum ver a Karol, antes e depois de se tornar papa, sempre com o terço na mão, rezando incansavelmente.

    Com o perdão do trocadilho, podemos dizer que, na vida de João Paulo II, “a recíproca é verdadeira”. Ele amava muito Nossa Senhora, mas Ela também demonstrou sempre um cuidado especial por seu filho querido.

    Tanto foi assim que, em 13 de maio de 1981, o Papa foi atingido por tiros que quase lhe tiraram a vida. Contra todos os prognósticos médicos, João Paulo II sobreviveu a um tiro fatal dado por um atirador profissional. Como ele mesmo diz: “Uma mão deu o tiro, e outra desviou a bala”. Foi a mão de Nossa Senhora. Os detalhes sobre este atentado estão todos em nosso texto exclusivo sobre o tema.

    Sem dúvida, um testemunho de vida no qual vemos um grande amor e devoção a Nossa querida Mãe. Sua devoção se manifestou de muitas formas, inclusive em uma bela oração composta pelo próprio São João Paulo II, que segue abaixo:

    Imaculada Conceição, Maria, minha Mãe,
    Vive em mim, age em mim,
    Fala em mim e por meio de mim,
    Tem teus pensamentos em minha mente,
    Ama por meio de meu coração,
    Dá-me tuas disposições e teus sentimentos,
    Ensina-me, conduz-me e me guia a Jesus,
    Corrige-me, ilumina e amplia meus pensamentos
    e meu comportamento,
    Possui minha alma,
    Assume toda a minha personalidade e vida,
    põe-te no lugar dela,
    Inclina-me a constante adoração,
    Reza em mim e por meio de mim,
    Deixa-me viver em ti e guarda-me sempre nessa união.
    Amém.

    Quinto amor: a Cruz


    Karol Wojtyla, desde o início da vida, sempre encarou o sofrimento com muita coragem. Desde a morte da mãe, aos oito anos, e depois a morte do pai, aos vinte, este jovem já se viu sozinho no mundo desde muito cedo. Mas essa não era a única cruz que a vida lhe reservava.

    Ainda na juventude, o papa passou pela morte de seu querido irmão, Edmund, sem ao menos poder se despedir. Também disse adeus a queridos amigos que foram mortos pela guerra e pela perseguição soviética. Não bastassem as perdas, precisou lidar com o próprio contexto em que estava: os longos anos sombrios de nazismo que lhe exigiram muitos sacrifícios. Precisou trabalhar longas horas em minas e fábricas, e estudar clandestinamente, visto que as faculdades estavam fechadas por ordem do Reich

    Passados os difíceis anos sob dominação nazista, a Polônia pensou ver um alívio, mas entrava em mais um regime ditatorial. Era o comunismo soviético que tomava conta de todo o país, e restringia estudos, atividades culturais e práticas religiosas. Karol não se abateu: decidiu entregar a vida a Deus e entrou para um seminário clandestino, única forma de iniciar sua preparação para o sacerdócio.

    Ainda jovem, sobreviveu a um atropelamento e, em uma ocasião, quase foi capturado pelo regime. Depois, como papa, sobreviveu a dois atentados, sendo o primeiro deles quase fatal.

    Apenas sua biografia já nos mostra que Deus o havia preparado para lidar com o sofrimento. A Cruz sempre foi a resposta de Karol para cada situação difícil que passava. A cada nova provação, mais uma oportunidade de unir seus sofrimentos ao de Jesus, de completar com sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo (Cl 1, 24). 

    Por isso, São João Paulo II sempre enxergou o sofrimento como um meio de levar sua cruz e uni-la misticamente ao sacrifício redentor. Eis a grande chave para a vida humana: entender que o sacrifício de Nosso Senhor não impede que soframos, mas dá um sentido sobrenatural para nosso sofrimento, e isso foi latente na vida de nosso querido Papa e ao longo de todo o seu pontificado.

    Assim ele nos ensina:

    “(…) as fraquezas de todos os sofrimentos humanos podem ser infundidas com o mesmo poder de Deus manifestado na Cruz de Cristo (…). Nela Deus confirmou seu desejo de agir principalmente por meio do sofrimento (…). Cristo obteve completamente a Redenção até os limites extremos, mas, ao mesmo tempo, não o encerrou (…) toda forma de sofrimento; uma vez recebida nova vida pelo poder dessa Cruz, não deve mais ser a fraqueza do homem, mas a força de Deus.” 3

    Para saber mais sobre os cinco amores de São João Paulo II, assista à nossa live exclusiva no YouTube sobre o assunto.

    Referências

    1. EVERT, Jason. Vida de São João Paulo II. Dois Irmãos/RS: Minha Biblioteca Católica, 2023. p. 161.[]
    2. Papa João Paulo II, L’Osservatore Romano, 41, 8 de outubro de 1997, p. 7.[]
    3. Papa João Paulo II, Salvifici Doloris, pp. 23,24 e 26.[]

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