Entenda a importância da mortificação no nosso caminho de santidade: saiba quais são os tipos de mortificação e como fazer na prática.
A mortificação é parte essencial da vida cristã, pois nos ensina a dominar as paixões e a buscar a santidade de forma genuína. Sem ela, a alma permanece presa às próprias vontades, incapaz de se entregar a Deus. Cristo nos mostrou esse caminho, e os santos o seguiram com generosidade, renunciando a si mesmos para crescer na união com o Senhor.
Neste artigo, veremos o que é a mortificação, como ela foi vivida por Cristo e pelos santos, e de que forma podemos praticá-la em nosso dia a dia. Com base nos ensinamentos de São Josemaria Escrivá, no Caminho, entenderemos que a mortificação, longe de ser um peso, é um meio de viver a liberdade e crescer espiritualmente.
A mortificação é a arte de dizer “não” a si mesmo para dizer “sim” a Deus. Não se trata de um desprezo irracional pelo corpo ou pelos bens terrenos, mas de uma ordenação do desejo, uma disciplina do coração que escolhe a vontade divina acima dos impulsos passageiros. Desde os primeiros séculos do cristianismo, os santos ensinaram que a alma que busca a Deus precisa domar suas inclinações desordenadas, pois “Onde não há mortificação, não há virtude.” 1
Essa renúncia não é uma prisão, mas uma libertação. O homem decaído tende a seguir suas paixões sem freios, e é justamente essa desordem que o escraviza. A mortificação dá ao homem o governo de si mesmo, fazendo com que a razão iluminada pela fé assuma a primazia sobre os impulsos cegos da carne. Não se trata, portanto, de aniquilar os sentidos, mas de submetê-los ao espírito, como um cavaleiro que domina seu cavalo para conduzi-lo com firmeza e segurança ao destino correto.
A renúncia aos caprichos, o controle dos sentidos, o esforço por manter uma postura reta e ordenada na vida cotidiana – tudo isso são formas de mortificação. Pequenos atos que, unidos à cruz de Cristo, tornam-se um caminho seguro de santidade. Pois quem aprende a dizer “não” ao que é desordenado, diz “sim” com mais liberdade e alegria ao que é eterno.
Desde o seu nascimento na pobreza de Belém até a entrega total na Cruz, a vida de Cristo foi marcada pela renúncia e pelo sacrifício. Ele jejuou no deserto, suportou cansaço, fome e incompreensões, e, sobretudo, ofereceu-se pela redenção do mundo.
Os santos seguiram esse mesmo caminho: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” 2 São Francisco de Assis dormia na terra e jejuava com frequência para subjugar suas paixões. São Domingos passou as noites em oração e flagelação, intercedendo pelas almas. Santa Rosa de Lima usava uma coroa com alfinetes sob o véu — isso lhe feria a cabeça, para se lembrar da coroa de espinhos do Senhor. São João Maria Vianney alimentava-se apenas de batatas e dormia pouco para se dedicar ao confessionário.
Esses são apenas alguns exemplos… Eles podem parecer exagerados para nós, mas a mortificação não se baseia apenas nas grandes penitências, ela também se dá nas pequenas renúncias feitas com amor e constância: um sorriso no cansaço, um silêncio diante da ofensa, uma refeição sem exagero, sentar-se com postura na cadeira…
Aquele que costuma contrariar a si mesmo — e à carne — nas coisas pequenas prepara-se para responder generosamente nos momentos difíceis. Assim, Cristo e os santos nos mostram que a mortificação não sufoca a alma, mas a fortalece e a torna livre para amar plenamente.
Conheça a virtude da generosidade e como vivê-la na prática.
Cristo é o modelo supremo de mortificação. Ele não apenas ensinou a renúncia, mas a viveu em cada momento de sua vida. Desde a humildade da manjedoura até a obediência extrema na Cruz: tudo em sua existência foi um ato de entrega. Seu jejum no deserto, suas vigílias em oração, sua paciência diante das ofensas – cada gesto revelou um coração totalmente unido ao Pai.
A Cruz foi o ápice da mortificação de Cristo, mas sua renúncia começou muito antes. Durante trinta anos em Nazaré, Ele viveu na simplicidade, no trabalho silencioso da carpintaria, em obediência aos seus pais. Não buscou reconhecimento, não reivindicou nada para si. Sua vida escondida foi uma mortificação constante, um oferecimento discreto, mas profundo, que preparou seu coração para o sacrifício supremo no Calvário.
Trazendo uma passagem do Evangelho 3, São Josemaria escreve no seu livro Caminho: “Se o grão de trigo não morre, permanece infecundo. Não queres ser grão de trigo, morrer pela mortificação e dar espigas bem graúdas?” 4 A mortificação não é um fim em si mesma, mas o caminho para a fecundidade espiritual. Cristo aceitou sofrer não por gosto na dor, mas para gerar vida. Seu sacrifício abriu para nós as portas da salvação.
Se quisermos segui-Lo, devemos aprender a morrer para nós mesmos: renunciar, às vezes, a alguma comodidade, ao orgulho, aos caprichos da vontade. Pequenos atos de mortificação – controlar a língua, aceitar contrariedades, fazer bem o dever de cada dia – unem-nos a Cristo e tornar nossa vida espiritualmente frutífera. Quem foge da mortificação foge da santidade. Mas quem abraça a cruz, ainda que nas pequenas coisas, participa do mistério redentor de Cristo e dá frutos para a vida eterna.
Os santos compreenderam que a mortificação é um caminho seguro para a perfeição. São Francisco de Assis privava-se de todo conforto, vestia-se com humildade e dormia no chão para lembrar-se de sua total dependência de Deus. A vida que ele escolheu era de pobreza extrema e total desprezo de seu corpo e, portanto, de qualquer desejo da carne. Contudo, seu amor à pobreza e aos sacrifícios não era somente desprezo pelo mundo, mas um desejo ardente de se conformar a Cristo.
Santa Teresinha do Menino Jesus, por outro lado, encontrou na mortificação das pequenas coisas um caminho profundo de santidade. Ela decidiu negar-se constantemente: silenciava diante das críticas, sorria quando era contrariada, principalmente para aquelas irmãs com quem era mais difícil de conviver, oferecia cada sacrifício oculto como prova de amor a Deus. Sua “pequena via” nos ensina que a mortificação não se limita ao jejum ou à dor física, mas se manifesta na paciência, na doação, no esquecimento de si.
Outros santos seguiram caminhos semelhantes. São João da Cruz aceitou calúnias sem se defender; Santa Faustina apoiava doenças sem queixas; São Padre Pio privava-se do sono para atender aos penitentes. Tudo isso que estes grandes santos viveram resume-se nestas palavras de São Josemaria: “Nenhum ideal se torna realidade sem sacrifício. — Nega-te a ti mesmo. É tão belo ser vítima!” 5
A mortificação, quando bem compreendida, abrange diferentes dimensões da vida cristã. Não se trata apenas de penitências físicas, mas de um caminho de domínio próprio e de conformidade com a vontade de Deus. Para melhor discernimento, podemos dividi-la em três categorias.
A mortificação externa envolve renúncias físicas e gestos concretos de sacrifícios. O jejum, a disciplina corporal, o controle da alimentação e a renúncia a pequenos prazeres sensoriais são exemplos clássicos.
No entanto, “Procura mortificações que não mortifiquem os outros.” 6, dizia São Josemaria.
Os santos sempre valorizaram essa prática, mas ensinaram que deve ser feita com discrição e moderação, sem afetar os outros. Dormir em uma posição menos confortável, não encostar-se na cadeira ou manter a postura correta, resistir a um capricho alimentar ou suportar o calor ou o frio sem queixas são formas simples, mas eficazes, de crescer no autodomínio.
Mais profunda e exigente, a mortificação interna consiste no controle das paixões, pensamentos e respostas espontâneas. Exige calar-se diante de uma ofensa, suportar contrariedades sem reclamação e cultivar a paciência nas pequenas irritações do dia a dia. Esse tipo de mortificação, muitas vezes invisível, purifica o coração e nos torna mais dóceis à graça divina.
“Essa frase feliz, a piada que não te escapou da boca, o sorriso amável para quem te incomoda, aquele silêncio ante a acusação injusta… Isto, com perseverança, é que é sólida mortificação interior.” 7
A mortificação espiritual manifesta-se na disciplina da vida interior. Inclui negar-se pequenos caprichos, levantar-se pontualmente, manter a fidelidade à oração, mesmo quando não há vontade, e buscar a presença de Deus em meio às ocupações diárias. São pequenos combates cotidianos que fortalecem a alma e tornam o coração mais livre para amar.
Vence-te em cada dia desde o primeiro momento, levantando-te pontualmente a uma hora fixa, sem conceder um só minuto à preguiça. 8
Cada tipo de mortificação, bem praticado, conduz à santidade. Como ensinam os santos, o segredo não está em grandes gestos heroicos, mas na perseverança nas pequenas renúncias diárias, feitas por amor a Deus.
Você sabe quem foi São Josemaria Escrivá?
A mortificação, para ser frutuosa, deve ser praticada com equilíbrio e em conformidade com a espiritualidade cristã. Ela não é um fim em si mesma, mas um meio para a santidade. Portanto, deve ser praticada com discernimento e espírito de amor, evitando tanto os exageros quanto a negligência.
A mortificação é necessária para a nossa união com Deus, ela permite que o nosso coração esteja mais leve para se unir a Ele e receber a graça: “Se não te mortificas, nunca serás alma de oração.” 9
No entanto, a mortificação deve ser escolhida com prudência, levando em conta a própria vocação, a saúde e o estado de vida. Nem todas as práticas convêm a todos, a mortificação autêntica não deve ser fruto do orgulho ou de um desejo de protagonismo. Algumas penitências podem ser muito pesadas e levar ao desânimo; outras, por serem escolhidas por mero gosto pessoal, não podem ter valor espiritual.
A direção espiritual e o exame de consciência ajudam a encontrar um caminho de renúncia que seja eficaz e equilibrado. O essencial é que a mortificação nos leve a maior humildade, paciência e caridade.
Leia mais sobre a virtude da humildade.
A mortificação só tem valor quando oferecida com amor a Deus. Se for vivida apenas como um esforço pessoal, sem uma intenção sobrenatural, corre o risco de ser estéril: “Se o grão de trigo não morre, permanece infecundo.” 10 Deve, portanto, ser transformada em oração.
O modo mais perfeito de oferecê-la é uni-la ao sacrifício de Cristo, entregando-a por amor, em favor dos pecados ou pela conversão das almas. Pequenos sacrifícios diários – suportar uma contrariedade, negar-se um capricho, manter o silêncio diante de uma ofensa – podem ser oferecidos com uma breve oração: “Senhor, uno este sacrifício ao Vosso. Aceitei-o por amor a Vós e pela salvação das almas.”
Assim, cada renúncia torna-se um ato de amor, fortalecendo a alma na generosidade e tornando-a mais dócil à vontade de Deus. A mortificação, então, deixa de ser um peso e se transforma em um caminho seguro de união com o Senhor.
A mortificação é um meio indispensável de crescimento espiritual. Ao renunciar às inclinações desordenadas, a alma desapega-se do pecado e se abre à graça. Mortificar-se não é apenas suportar privações, mas modelar o coração segundo Cristo, purificando os desejos e fortalecendo a vontade no bem.
A mortificação bem vivida, purifica o coração e fortalece a vontade, tornando a alma mais dócil à graça divina: “Não digas: essa pessoa me aborrece. Pensa: essa pessoa me santifica.” 11 A respeito deste ponto do Caminho, vale lembrar um fato que aconteceu com Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu isso de forma exemplar.
Entre as religiosas de seu convento, havia uma irmã que era-lhe particularmente difícil. Em vez de evitá-la, Teresinha tratava-a sempre com doçura e sorria para ela, oferecendo esse esforço a Deus. Depois, soube que essa mesma irmã pensava que Teresinha tinha por ela grande afeição. Esse é o fruto da mortificação bem vívida: transforma até os incômodos inevitáveis em ocasião de santificação.
A mortificação nos purifica e nos fortalece, tornando-nos mais semelhantes a Cristo. Ela não nos faz menos humanos, mas forja-nos e nos torna mais generosos, mais pacientes e mais capazes de amar com um coração livre e despojado.
Confira aqui 7 conselhos de São Josemaria Escrivá.
São Francisco de Sales é um doutor da Igreja, considerado um dos maiores autores espirituais da Igreja. Suas obras influenciaram diretamente a espiritualidade de inumeros grandes santos, como São João Bosco, Santa Teresinha, Santa Margarida Alacoque e Santa Joana de Chantal.
Nesta obra, você encontra reflexões profundas e conselhos práticos de São Francisco de Sales sobre temas como:
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Entenda a importância da mortificação no nosso caminho de santidade: saiba quais são os tipos de mortificação e como fazer na prática.
A mortificação é parte essencial da vida cristã, pois nos ensina a dominar as paixões e a buscar a santidade de forma genuína. Sem ela, a alma permanece presa às próprias vontades, incapaz de se entregar a Deus. Cristo nos mostrou esse caminho, e os santos o seguiram com generosidade, renunciando a si mesmos para crescer na união com o Senhor.
Neste artigo, veremos o que é a mortificação, como ela foi vivida por Cristo e pelos santos, e de que forma podemos praticá-la em nosso dia a dia. Com base nos ensinamentos de São Josemaria Escrivá, no Caminho, entenderemos que a mortificação, longe de ser um peso, é um meio de viver a liberdade e crescer espiritualmente.
A mortificação é a arte de dizer “não” a si mesmo para dizer “sim” a Deus. Não se trata de um desprezo irracional pelo corpo ou pelos bens terrenos, mas de uma ordenação do desejo, uma disciplina do coração que escolhe a vontade divina acima dos impulsos passageiros. Desde os primeiros séculos do cristianismo, os santos ensinaram que a alma que busca a Deus precisa domar suas inclinações desordenadas, pois “Onde não há mortificação, não há virtude.” 1
Essa renúncia não é uma prisão, mas uma libertação. O homem decaído tende a seguir suas paixões sem freios, e é justamente essa desordem que o escraviza. A mortificação dá ao homem o governo de si mesmo, fazendo com que a razão iluminada pela fé assuma a primazia sobre os impulsos cegos da carne. Não se trata, portanto, de aniquilar os sentidos, mas de submetê-los ao espírito, como um cavaleiro que domina seu cavalo para conduzi-lo com firmeza e segurança ao destino correto.
A renúncia aos caprichos, o controle dos sentidos, o esforço por manter uma postura reta e ordenada na vida cotidiana – tudo isso são formas de mortificação. Pequenos atos que, unidos à cruz de Cristo, tornam-se um caminho seguro de santidade. Pois quem aprende a dizer “não” ao que é desordenado, diz “sim” com mais liberdade e alegria ao que é eterno.
Desde o seu nascimento na pobreza de Belém até a entrega total na Cruz, a vida de Cristo foi marcada pela renúncia e pelo sacrifício. Ele jejuou no deserto, suportou cansaço, fome e incompreensões, e, sobretudo, ofereceu-se pela redenção do mundo.
Os santos seguiram esse mesmo caminho: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” 2 São Francisco de Assis dormia na terra e jejuava com frequência para subjugar suas paixões. São Domingos passou as noites em oração e flagelação, intercedendo pelas almas. Santa Rosa de Lima usava uma coroa com alfinetes sob o véu — isso lhe feria a cabeça, para se lembrar da coroa de espinhos do Senhor. São João Maria Vianney alimentava-se apenas de batatas e dormia pouco para se dedicar ao confessionário.
Esses são apenas alguns exemplos… Eles podem parecer exagerados para nós, mas a mortificação não se baseia apenas nas grandes penitências, ela também se dá nas pequenas renúncias feitas com amor e constância: um sorriso no cansaço, um silêncio diante da ofensa, uma refeição sem exagero, sentar-se com postura na cadeira…
Aquele que costuma contrariar a si mesmo — e à carne — nas coisas pequenas prepara-se para responder generosamente nos momentos difíceis. Assim, Cristo e os santos nos mostram que a mortificação não sufoca a alma, mas a fortalece e a torna livre para amar plenamente.
Conheça a virtude da generosidade e como vivê-la na prática.
Cristo é o modelo supremo de mortificação. Ele não apenas ensinou a renúncia, mas a viveu em cada momento de sua vida. Desde a humildade da manjedoura até a obediência extrema na Cruz: tudo em sua existência foi um ato de entrega. Seu jejum no deserto, suas vigílias em oração, sua paciência diante das ofensas – cada gesto revelou um coração totalmente unido ao Pai.
A Cruz foi o ápice da mortificação de Cristo, mas sua renúncia começou muito antes. Durante trinta anos em Nazaré, Ele viveu na simplicidade, no trabalho silencioso da carpintaria, em obediência aos seus pais. Não buscou reconhecimento, não reivindicou nada para si. Sua vida escondida foi uma mortificação constante, um oferecimento discreto, mas profundo, que preparou seu coração para o sacrifício supremo no Calvário.
Trazendo uma passagem do Evangelho 3, São Josemaria escreve no seu livro Caminho: “Se o grão de trigo não morre, permanece infecundo. Não queres ser grão de trigo, morrer pela mortificação e dar espigas bem graúdas?” 4 A mortificação não é um fim em si mesma, mas o caminho para a fecundidade espiritual. Cristo aceitou sofrer não por gosto na dor, mas para gerar vida. Seu sacrifício abriu para nós as portas da salvação.
Se quisermos segui-Lo, devemos aprender a morrer para nós mesmos: renunciar, às vezes, a alguma comodidade, ao orgulho, aos caprichos da vontade. Pequenos atos de mortificação – controlar a língua, aceitar contrariedades, fazer bem o dever de cada dia – unem-nos a Cristo e tornar nossa vida espiritualmente frutífera. Quem foge da mortificação foge da santidade. Mas quem abraça a cruz, ainda que nas pequenas coisas, participa do mistério redentor de Cristo e dá frutos para a vida eterna.
Os santos compreenderam que a mortificação é um caminho seguro para a perfeição. São Francisco de Assis privava-se de todo conforto, vestia-se com humildade e dormia no chão para lembrar-se de sua total dependência de Deus. A vida que ele escolheu era de pobreza extrema e total desprezo de seu corpo e, portanto, de qualquer desejo da carne. Contudo, seu amor à pobreza e aos sacrifícios não era somente desprezo pelo mundo, mas um desejo ardente de se conformar a Cristo.
Santa Teresinha do Menino Jesus, por outro lado, encontrou na mortificação das pequenas coisas um caminho profundo de santidade. Ela decidiu negar-se constantemente: silenciava diante das críticas, sorria quando era contrariada, principalmente para aquelas irmãs com quem era mais difícil de conviver, oferecia cada sacrifício oculto como prova de amor a Deus. Sua “pequena via” nos ensina que a mortificação não se limita ao jejum ou à dor física, mas se manifesta na paciência, na doação, no esquecimento de si.
Outros santos seguiram caminhos semelhantes. São João da Cruz aceitou calúnias sem se defender; Santa Faustina apoiava doenças sem queixas; São Padre Pio privava-se do sono para atender aos penitentes. Tudo isso que estes grandes santos viveram resume-se nestas palavras de São Josemaria: “Nenhum ideal se torna realidade sem sacrifício. — Nega-te a ti mesmo. É tão belo ser vítima!” 5
A mortificação, quando bem compreendida, abrange diferentes dimensões da vida cristã. Não se trata apenas de penitências físicas, mas de um caminho de domínio próprio e de conformidade com a vontade de Deus. Para melhor discernimento, podemos dividi-la em três categorias.
A mortificação externa envolve renúncias físicas e gestos concretos de sacrifícios. O jejum, a disciplina corporal, o controle da alimentação e a renúncia a pequenos prazeres sensoriais são exemplos clássicos.
No entanto, “Procura mortificações que não mortifiquem os outros.” 6, dizia São Josemaria.
Os santos sempre valorizaram essa prática, mas ensinaram que deve ser feita com discrição e moderação, sem afetar os outros. Dormir em uma posição menos confortável, não encostar-se na cadeira ou manter a postura correta, resistir a um capricho alimentar ou suportar o calor ou o frio sem queixas são formas simples, mas eficazes, de crescer no autodomínio.
Mais profunda e exigente, a mortificação interna consiste no controle das paixões, pensamentos e respostas espontâneas. Exige calar-se diante de uma ofensa, suportar contrariedades sem reclamação e cultivar a paciência nas pequenas irritações do dia a dia. Esse tipo de mortificação, muitas vezes invisível, purifica o coração e nos torna mais dóceis à graça divina.
“Essa frase feliz, a piada que não te escapou da boca, o sorriso amável para quem te incomoda, aquele silêncio ante a acusação injusta… Isto, com perseverança, é que é sólida mortificação interior.” 7
A mortificação espiritual manifesta-se na disciplina da vida interior. Inclui negar-se pequenos caprichos, levantar-se pontualmente, manter a fidelidade à oração, mesmo quando não há vontade, e buscar a presença de Deus em meio às ocupações diárias. São pequenos combates cotidianos que fortalecem a alma e tornam o coração mais livre para amar.
Vence-te em cada dia desde o primeiro momento, levantando-te pontualmente a uma hora fixa, sem conceder um só minuto à preguiça. 8
Cada tipo de mortificação, bem praticado, conduz à santidade. Como ensinam os santos, o segredo não está em grandes gestos heroicos, mas na perseverança nas pequenas renúncias diárias, feitas por amor a Deus.
Você sabe quem foi São Josemaria Escrivá?
A mortificação, para ser frutuosa, deve ser praticada com equilíbrio e em conformidade com a espiritualidade cristã. Ela não é um fim em si mesma, mas um meio para a santidade. Portanto, deve ser praticada com discernimento e espírito de amor, evitando tanto os exageros quanto a negligência.
A mortificação é necessária para a nossa união com Deus, ela permite que o nosso coração esteja mais leve para se unir a Ele e receber a graça: “Se não te mortificas, nunca serás alma de oração.” 9
No entanto, a mortificação deve ser escolhida com prudência, levando em conta a própria vocação, a saúde e o estado de vida. Nem todas as práticas convêm a todos, a mortificação autêntica não deve ser fruto do orgulho ou de um desejo de protagonismo. Algumas penitências podem ser muito pesadas e levar ao desânimo; outras, por serem escolhidas por mero gosto pessoal, não podem ter valor espiritual.
A direção espiritual e o exame de consciência ajudam a encontrar um caminho de renúncia que seja eficaz e equilibrado. O essencial é que a mortificação nos leve a maior humildade, paciência e caridade.
Leia mais sobre a virtude da humildade.
A mortificação só tem valor quando oferecida com amor a Deus. Se for vivida apenas como um esforço pessoal, sem uma intenção sobrenatural, corre o risco de ser estéril: “Se o grão de trigo não morre, permanece infecundo.” 10 Deve, portanto, ser transformada em oração.
O modo mais perfeito de oferecê-la é uni-la ao sacrifício de Cristo, entregando-a por amor, em favor dos pecados ou pela conversão das almas. Pequenos sacrifícios diários – suportar uma contrariedade, negar-se um capricho, manter o silêncio diante de uma ofensa – podem ser oferecidos com uma breve oração: “Senhor, uno este sacrifício ao Vosso. Aceitei-o por amor a Vós e pela salvação das almas.”
Assim, cada renúncia torna-se um ato de amor, fortalecendo a alma na generosidade e tornando-a mais dócil à vontade de Deus. A mortificação, então, deixa de ser um peso e se transforma em um caminho seguro de união com o Senhor.
A mortificação é um meio indispensável de crescimento espiritual. Ao renunciar às inclinações desordenadas, a alma desapega-se do pecado e se abre à graça. Mortificar-se não é apenas suportar privações, mas modelar o coração segundo Cristo, purificando os desejos e fortalecendo a vontade no bem.
A mortificação bem vivida, purifica o coração e fortalece a vontade, tornando a alma mais dócil à graça divina: “Não digas: essa pessoa me aborrece. Pensa: essa pessoa me santifica.” 11 A respeito deste ponto do Caminho, vale lembrar um fato que aconteceu com Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu isso de forma exemplar.
Entre as religiosas de seu convento, havia uma irmã que era-lhe particularmente difícil. Em vez de evitá-la, Teresinha tratava-a sempre com doçura e sorria para ela, oferecendo esse esforço a Deus. Depois, soube que essa mesma irmã pensava que Teresinha tinha por ela grande afeição. Esse é o fruto da mortificação bem vívida: transforma até os incômodos inevitáveis em ocasião de santificação.
A mortificação nos purifica e nos fortalece, tornando-nos mais semelhantes a Cristo. Ela não nos faz menos humanos, mas forja-nos e nos torna mais generosos, mais pacientes e mais capazes de amar com um coração livre e despojado.
Confira aqui 7 conselhos de São Josemaria Escrivá.
São Francisco de Sales é um doutor da Igreja, considerado um dos maiores autores espirituais da Igreja. Suas obras influenciaram diretamente a espiritualidade de inumeros grandes santos, como São João Bosco, Santa Teresinha, Santa Margarida Alacoque e Santa Joana de Chantal.
Nesta obra, você encontra reflexões profundas e conselhos práticos de São Francisco de Sales sobre temas como:
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