São Francisco de Assis, conhecido por sua humildade e amor à criação, é um dos santos mais amados da história da Igreja. Sua vida foi marcada por uma conversão radical e um estilo de vida baseado na pobreza extrema. Hoje, sua história continua a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo que buscam uma relação mais íntima com Deus e com a natureza.
Neste artigo, vamos explorar os principais acontecimentos da vida de São Francisco, seu legado espiritual e o impacto que ele teve na Igreja e no mundo. Continue a leitura para conhecer mais sobre o “Poverello” de Assis, o santo que viveu o Evangelho com autenticidade e alegria.
São Francisco de Assis nasceu entre 1181 e 1182, na Itália. Francesco nasceu em Assis, filho de Pietro di Bernardone e Madonna Pica. No momento de seu nascimento, seu pai estava em viagem de negócios na França. Inicialmente, no batismo, ele foi chamado de Giovanni, mas ao retornar, seu pai decidiu mudar o nome do filho para Francesco, em homenagem à França, que lhe trazia boas lembranças.
Ele abandonou todos os bens materiais para viver em extrema pobreza, seguindo os passos de Cristo de maneira radical. São Francisco fundou a Ordem dos Frades Menores, também conhecida como Franciscanos, e dedicou sua vida à pregação do Evangelho e ao cuidado dos pobres. Sua mensagem de paz, simplicidade e fraternidade universal ecoa até os dias de hoje.
Profundamente asceta, foi também conhecido como “il poverello d´Assissi” ou “o pobre de Assis” pela escolha de despojar-se de todos os bens materiais e levar uma vida mínima, em total harmonia de espírito. Além do seu trabalho espiritual, Francesco, graças ao Cântico das Criaturas, é reconhecido como um dos iniciadores da tradição literária italiana.
O dia de São Francisco de Assis é celebrado anualmente em 4 de outubro. Esta data marca o dia de sua morte, em 1226, e é observada por milhões de fiéis ao redor do mundo, que celebram sua vida e legado de devoção, pobreza e amor à criação.
São Francisco nasceu em uma família abastada, cercado de luxos e privilégios. Seu pai era um próspero comerciante de tecidos, e sua mãe era de origem francesa. Desde jovem, Francisco buscava prazeres mundanos e se preocupava em ganhar prestígio social. A ideia de se dedicar a uma vida de pobreza estava muito distante de seus pensamentos naquela época.
Em 1202, Francisco participou de uma batalha entre Assis e Perugia, lutando ao lado de seus concidadãos. A batalha de Collestrada resultou na derrota de Assis, e Francisco foi capturado pelos inimigos. Ele passou cerca de um ano nas duras prisões de Perugia, onde sofreu consideravelmente.
Já em 1204, após ser resgatado por seu pai e retornar a Assis, Francisco estava profundamente marcado pela experiência do cativeiro e debilitado por uma doença que contraiu durante o período de encarceramento. Depois de um longo período de convalescença, decidiu que partiria para a Apúlia, com o intuito de lutar sob o comando de Walter de Brienne. No entanto, ao chegar em Spoleto, teve uma visão misteriosa que o fez reavaliar sua decisão. Seguindo o chamado interior, Francisco abandonou seus planos de luta e retornou para Assis.
No ano seguinte, 1205, com 24 anos, começou a dar os primeiros passos em direção a sua conversão espiritual. Ele se distanciou dos antigos amigos e do estilo de vida despreocupado que levava, buscando intensificar sua vida de oração.
Um marco importante desse período foi o encontro de Francisco com um leproso, a quem ele não apenas ofereceu ajuda, mas também o beijou, demonstrando um profundo ato de caridade e humildade. Nesse mesmo ano, teve um encontro com o crucifixo na igreja de São Damião, que teve um papel decisivo em sua jornada espiritual. Além disso, fez uma peregrinação a Roma, onde teve sua primeira experiência concreta de pobreza.
Em 1206, Francisco tomou uma decisão radical ao renunciar formalmente aos bens de seu pai, distanciando-se completamente das riquezas que o haviam cercado durante a juventude. Passou a se dedicar à restauração de três pequenas igrejas: San Damiano, San Pietro della Spina e a Porciúncula. Esses atos de restauração foram simbólicos de sua busca por reconstruir sua própria vida espiritual e encontrar um novo propósito.
Dois anos depois, em 1208, no dia 24 de fevereiro, dia de São Matias, depois de ter ouvido um trecho do Evangelho segundo Mateus na Porciúncula, na zona rural de Assis, Francisco sentiu firmemente que devia levar a Palavra de Deus às ruas do mundo. Assim começou a sua pregação, primeiro nos arredores de Assis. Esse momento foi decisivo para amadurecer sua vocação, impulsionando-o a seguir o caminho apostólico. Seu amor pela pobreza tornou-se a marca de sua espiritualidade. Para ele, imitar a vida de Cristo significava renunciar a qualquer forma de luxo ou poder, e viver na simplicidade absoluta.
Em 1209, São Francisco atraiu um grupo de seguidores que, inspirados por sua pregação e exemplo de pobreza, também decidiram adotar o mesmo estilo de vida. Juntos, eles formaram a Ordem dos Frades Menores, popularmente conhecida como Franciscanos. A ordem recebeu a aprovação do Papa Inocêncio III, e sua missão principal era pregar o Evangelho e servir aos pobres.
Regressando de Roma, os frades instalaram-se numa “cabana” perto de Rivotorto, na estrada para Foligno, local escolhido por ser próximo de um hospital de leprosos. Este local, porém, era úmido e insalubre, e os frades tiveram que abandoná-lo no ano seguinte, instalando-se na pequena abadia de Santa Maria dos Anjos, na planície de Tescio, na zona da Porciúncula. Abandonada no meio de um bosque de carvalhos, a abadia foi concedida a Francisco e seus frades pelo Abade da igreja de San Benedetto del Subasio.
Uma das amizades mais significativas da vida de São Francisco foi com Santa Clara de Assis. Esta nova “forma de vida” atraiu também as mulheres: a primeira foi Chiara Scifi, filha de um nobre assisense. Tendo fugido da casa de seu pai na noite do Domingo de Ramos de 28 de março de 1211 (ou 18 de março de 1212), ela chegou em 29 de março de 1211 (ou 19 de março de 1212) a Santa Maria dos Anjos, onde pediu a Francisco que pudesse se juntar a sua ordem, e onde de madrugada recebeu o hábito religioso do santo.
Inspirada por seu exemplo, Clara decidiu seguir seus passos e, com sua ajuda, fundou a Ordem das Clarissas. Assim como Francisco, Clara dedicou sua vida à pobreza, ao serviço aos pobres e à oração.
Francisco a colocou por algum tempo primeiro no mosteiro beneditino de Bastia Umbra, depois no de Assis. Mais tarde, quando outras meninas (incluindo a irmã de Clara, Agnese) seguiram o seu exemplo, fixaram residência na igreja de São Damião e deram início ao que futuramente seriam as Clarissas, entre as quais se destacaram santas como Caterina de Bolonha, Camilla Battista de Varano, Eustochia Calafato. Nos mesmos anos criou o convento de Montecasale, onde instalou uma pequena comunidade de seguidores e onde parava repetidamente nas suas viagens.
Conheça a famosa história de uma refeição compartilhada entre São Francisco e Santa Clara de Assis.
São Francisco de Assis é muito conhecido por seu amor pelos animais e pela natureza. Para ele, a criação era um reflexo direto da beleza e bondade de Deus. Ele chamava todas as criaturas de “irmãos” e “irmãs” e enxergava o mundo natural como um meio de se conectar com o Criador.
Esse amor pela natureza foi tão distinto que São Francisco se tornou o padroeiro dos animais e do meio ambiente. Sua visão de que a criação deve ser tratada com respeito e cuidado continua a inspirar movimentos de ecologia e sustentabilidade.
Entre os diversos relatos que descrevem a vida e os feitos de São Francisco, destaca-se o famoso episódio do lobo de Gubbio, que teria ocorrido nas proximidades da igreja de Santa Maria della Vittorina. A história fala de um grande lobo que aterrorizava os moradores das áreas rurais de Gubbio, onde Francisco costumava pregar. O animal selvagem, faminto e feroz, habitava os bosques próximos à cidade há anos e, segundo relatos da época, frequentemente se aproximava dos muros da cidade em busca de alimento. Desesperados e tomados pelo medo, os moradores recorreram a São Francisco.
Ao tomar conhecimento da situação, Francisco decidiu se aventurar na floresta para encontrar o lobo. Com sua habitual serenidade e compaixão, ele conseguiu mediar um acordo: o lobo deixaria de aterrorizar os habitantes de Gubbio, contanto que eles se comprometessem a alimentá-lo todos os dias. A partir desse momento, o lobo tornou-se um visitante pacífico e foi aceito pelos moradores.
O relato nos lembra a extraordinária capacidade de São Francisco de trazer paz até mesmo a situações aparentemente insolúveis, como domar um animal selvagem que outrora representava tanto medo. Um trecho do “Fioretti di San Francesco” descreve:
“No território de Gubbio, apareceu um lobo enorme, terrível e feroz, que não apenas devorava animais, mas também homens; os cidadãos viviam em grande medo, pois o lobo frequentemente se aproximava da cidade. Todos saíam armados quando precisavam deixar a cidade, como se fossem à guerra. (…). Após o acordo com São Francisco, o lobo viveu em Gubbio por dois anos, entrando mansamente de casa em casa, sem fazer mal a ninguém, e sendo gentilmente alimentado pelos moradores. Nenhum cão lhe latia, e quando o lobo morreu de velhice, os habitantes lamentaram sua perda, pois sua presença mansa os lembrava da virtude e santidade de São Francisco.”
Nos últimos anos de sua vida, São Francisco experimentou grande sofrimento físico, mas isso não diminuiu sua alegria e fé em Deus. Em 1224, dois anos antes de sua morte, ele recebeu os estigmas, as marcas das chagas de Cristo crucificado, em seu corpo. Foi o primeiro caso documentado de estigmas na história da Igreja.
Apesar da dor, ele continuou a pregar e a viver de acordo com seus princípios de humildade e pobreza até sua morte, em 3 de outubro de 1226.
Um dos legados mais conhecidos de São Francisco é o Cântico das Criaturas, um hino de louvor à criação, que ele compôs pouco antes de sua morte. O Cântico celebra o sol, a lua, as estrelas, a água, o fogo e até a morte, reconhecendo em cada elemento da natureza uma manifestação da bondade e poder de Deus.
Altíssimo, Onipotente, Bom senhor!
Teus são o louvor, a glória, a honra e a benção.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão sol, que clareia o dia
e que com a sua luz nos ilumina.
Ele é belo e radiante, com grande esplendor;
de ti, Altíssimo. é a imagem.
Louvado sejas meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,
que no céu formaste, claras, preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar
e pelas nuvens, pelo entardecer e por todo o tempo com
que dás sustento às tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, útil e
humilde, preciosa e pura.
Louvado sejas, meu senhor, pelo irmão fogo, com o qual
iluminas a noite. É belo e alegre, vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa, produz frutos diversos.
flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam, pelo teu
amor, e suportam as doenças e tribulações.
Louvai todos e bendizei ao meu Senhor,
dai-lhe graças e servi-o com grande humildade.
Este vídeo mostra uma animação e a interpretação do cântico das criaturas.
O movimento franciscano surgiu no contexto do vasto movimento pauperístico do século XIII, como uma resposta à corrupção dos costumes eclesiásticos da época, marcada pelo envolvimento excessivo com interesses materiais e políticos, especialmente durante a sangrenta Luta pelas Investiduras.
Além disso, a ascensão das cidades-estado ricas trouxe novas desigualdades sociais. Embora uma parte da população tenha se beneficiado com o crescimento das classes mercantis, o “popolo grasso” (a burguesia) começou a ganhar poder em detrimento da antiga nobreza feudal. Ao mesmo tempo, grandes camadas de camponeses mais pobres foram deixadas à margem, o que levou a uma crise no tecido social medieval, algo que certamente impactou Francisco enquanto atuava como mercador.
Os valores centrais da vida de São Francisco e de seus seguidores são a “pobreza”, “obediência” e “castidade”. Após um período de vida solitária, Francisco começou a atrair companheiros que desejavam imitar seu exemplo. Sua humildade e ascetismo o tornaram conhecido como Imitator Christi (Imitador de Cristo). A partir daí, iniciou-se a experiência de fraternidade, onde cada membro era um Imitator Francisci (Imitador de Francisco) e, consequentemente, um imitador de Cristo.
A vida comunitária, conforme a regra de São Francisco, deve seguir três princípios fundamentais:
Fraternidade: Os frades não devem viver sozinhos, mas cuidar uns dos outros com amor e dedicação, estendendo essa mesma atenção a todas as criaturas, humanas ou não, em uma fraternidade universal que reconhece toda a criação como obra de Deus.
Humildade: Colocar-se abaixo de todos, servindo aos mais pobres para servir a Deus, e libertar-se dos desejos terrenos que afastam o homem do bem e da justiça.
Pobreza: Renunciar à posse de qualquer bem, compartilhando tudo o que é recebido com os irmãos, especialmente com os mais necessitados.
O Papa Francisco tem uma forte ligação com São Francisco de Assis, tanto que escolheu seu nome como Pontífice. Essa conexão reflete o compromisso com o Evangelho, que São Francisco viveu de forma prática, transformando a Palavra de Deus em ações e gestos concretos. Portanto, ao adotar esse nome, o Papa também segue o caminho simples, mas desafiador, da vivência do Evangelho, demonstrando que seu plano pastoral é baseado na mensagem de Cristo.
Em tempos de incerteza e desafios para a Igreja, o renascimento só pode vir da aceitação do Evangelho em sua simplicidade, para que todos possam compreendê-lo, mas também em sua exigência, que muitas vezes causa tensão. A ligação entre São Francisco e o Papa Francisco reside justamente nessa adesão ao Evangelho de forma simples, mas exigente, no cotidiano.1
São Francisco de Assis foi canonizado pelo Papa Gregório IX em 16 de julho de 1228, apenas dois anos após sua morte. Sua vida e exemplo deixaram uma marca indelével na espiritualidade católica, e sua Ordem Franciscana continua a ser uma das mais influentes da Igreja.
Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
Glorioso São Francisco, santo da simplicidade, do amor e da alegria, que no céu contemplais as perfeições infinitas de Deus, lançai sobre nós o vosso olhar cheio de bondade. Socorrei-nos em nossas necessidades espirituais e corporais. Rogai ao nosso Pai e Criador, que nos conceda as graças que pedimos por vossa intercessão, vós que sempre fostes tão amigo d’Ele. E inflamai o nosso coração de amor sempre maior a Deus e aos nossos irmãos, principalmente os mais necessitados.
São Francisco de Assis, rogai por nós. Amém.
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São Francisco de Assis, conhecido por sua humildade e amor à criação, é um dos santos mais amados da história da Igreja. Sua vida foi marcada por uma conversão radical e um estilo de vida baseado na pobreza extrema. Hoje, sua história continua a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo que buscam uma relação mais íntima com Deus e com a natureza.
Neste artigo, vamos explorar os principais acontecimentos da vida de São Francisco, seu legado espiritual e o impacto que ele teve na Igreja e no mundo. Continue a leitura para conhecer mais sobre o “Poverello” de Assis, o santo que viveu o Evangelho com autenticidade e alegria.
São Francisco de Assis nasceu entre 1181 e 1182, na Itália. Francesco nasceu em Assis, filho de Pietro di Bernardone e Madonna Pica. No momento de seu nascimento, seu pai estava em viagem de negócios na França. Inicialmente, no batismo, ele foi chamado de Giovanni, mas ao retornar, seu pai decidiu mudar o nome do filho para Francesco, em homenagem à França, que lhe trazia boas lembranças.
Ele abandonou todos os bens materiais para viver em extrema pobreza, seguindo os passos de Cristo de maneira radical. São Francisco fundou a Ordem dos Frades Menores, também conhecida como Franciscanos, e dedicou sua vida à pregação do Evangelho e ao cuidado dos pobres. Sua mensagem de paz, simplicidade e fraternidade universal ecoa até os dias de hoje.
Profundamente asceta, foi também conhecido como “il poverello d´Assissi” ou “o pobre de Assis” pela escolha de despojar-se de todos os bens materiais e levar uma vida mínima, em total harmonia de espírito. Além do seu trabalho espiritual, Francesco, graças ao Cântico das Criaturas, é reconhecido como um dos iniciadores da tradição literária italiana.
O dia de São Francisco de Assis é celebrado anualmente em 4 de outubro. Esta data marca o dia de sua morte, em 1226, e é observada por milhões de fiéis ao redor do mundo, que celebram sua vida e legado de devoção, pobreza e amor à criação.
São Francisco nasceu em uma família abastada, cercado de luxos e privilégios. Seu pai era um próspero comerciante de tecidos, e sua mãe era de origem francesa. Desde jovem, Francisco buscava prazeres mundanos e se preocupava em ganhar prestígio social. A ideia de se dedicar a uma vida de pobreza estava muito distante de seus pensamentos naquela época.
Em 1202, Francisco participou de uma batalha entre Assis e Perugia, lutando ao lado de seus concidadãos. A batalha de Collestrada resultou na derrota de Assis, e Francisco foi capturado pelos inimigos. Ele passou cerca de um ano nas duras prisões de Perugia, onde sofreu consideravelmente.
Já em 1204, após ser resgatado por seu pai e retornar a Assis, Francisco estava profundamente marcado pela experiência do cativeiro e debilitado por uma doença que contraiu durante o período de encarceramento. Depois de um longo período de convalescença, decidiu que partiria para a Apúlia, com o intuito de lutar sob o comando de Walter de Brienne. No entanto, ao chegar em Spoleto, teve uma visão misteriosa que o fez reavaliar sua decisão. Seguindo o chamado interior, Francisco abandonou seus planos de luta e retornou para Assis.
No ano seguinte, 1205, com 24 anos, começou a dar os primeiros passos em direção a sua conversão espiritual. Ele se distanciou dos antigos amigos e do estilo de vida despreocupado que levava, buscando intensificar sua vida de oração.
Um marco importante desse período foi o encontro de Francisco com um leproso, a quem ele não apenas ofereceu ajuda, mas também o beijou, demonstrando um profundo ato de caridade e humildade. Nesse mesmo ano, teve um encontro com o crucifixo na igreja de São Damião, que teve um papel decisivo em sua jornada espiritual. Além disso, fez uma peregrinação a Roma, onde teve sua primeira experiência concreta de pobreza.
Em 1206, Francisco tomou uma decisão radical ao renunciar formalmente aos bens de seu pai, distanciando-se completamente das riquezas que o haviam cercado durante a juventude. Passou a se dedicar à restauração de três pequenas igrejas: San Damiano, San Pietro della Spina e a Porciúncula. Esses atos de restauração foram simbólicos de sua busca por reconstruir sua própria vida espiritual e encontrar um novo propósito.
Dois anos depois, em 1208, no dia 24 de fevereiro, dia de São Matias, depois de ter ouvido um trecho do Evangelho segundo Mateus na Porciúncula, na zona rural de Assis, Francisco sentiu firmemente que devia levar a Palavra de Deus às ruas do mundo. Assim começou a sua pregação, primeiro nos arredores de Assis. Esse momento foi decisivo para amadurecer sua vocação, impulsionando-o a seguir o caminho apostólico. Seu amor pela pobreza tornou-se a marca de sua espiritualidade. Para ele, imitar a vida de Cristo significava renunciar a qualquer forma de luxo ou poder, e viver na simplicidade absoluta.
Em 1209, São Francisco atraiu um grupo de seguidores que, inspirados por sua pregação e exemplo de pobreza, também decidiram adotar o mesmo estilo de vida. Juntos, eles formaram a Ordem dos Frades Menores, popularmente conhecida como Franciscanos. A ordem recebeu a aprovação do Papa Inocêncio III, e sua missão principal era pregar o Evangelho e servir aos pobres.
Regressando de Roma, os frades instalaram-se numa “cabana” perto de Rivotorto, na estrada para Foligno, local escolhido por ser próximo de um hospital de leprosos. Este local, porém, era úmido e insalubre, e os frades tiveram que abandoná-lo no ano seguinte, instalando-se na pequena abadia de Santa Maria dos Anjos, na planície de Tescio, na zona da Porciúncula. Abandonada no meio de um bosque de carvalhos, a abadia foi concedida a Francisco e seus frades pelo Abade da igreja de San Benedetto del Subasio.
Uma das amizades mais significativas da vida de São Francisco foi com Santa Clara de Assis. Esta nova “forma de vida” atraiu também as mulheres: a primeira foi Chiara Scifi, filha de um nobre assisense. Tendo fugido da casa de seu pai na noite do Domingo de Ramos de 28 de março de 1211 (ou 18 de março de 1212), ela chegou em 29 de março de 1211 (ou 19 de março de 1212) a Santa Maria dos Anjos, onde pediu a Francisco que pudesse se juntar a sua ordem, e onde de madrugada recebeu o hábito religioso do santo.
Inspirada por seu exemplo, Clara decidiu seguir seus passos e, com sua ajuda, fundou a Ordem das Clarissas. Assim como Francisco, Clara dedicou sua vida à pobreza, ao serviço aos pobres e à oração.
Francisco a colocou por algum tempo primeiro no mosteiro beneditino de Bastia Umbra, depois no de Assis. Mais tarde, quando outras meninas (incluindo a irmã de Clara, Agnese) seguiram o seu exemplo, fixaram residência na igreja de São Damião e deram início ao que futuramente seriam as Clarissas, entre as quais se destacaram santas como Caterina de Bolonha, Camilla Battista de Varano, Eustochia Calafato. Nos mesmos anos criou o convento de Montecasale, onde instalou uma pequena comunidade de seguidores e onde parava repetidamente nas suas viagens.
Conheça a famosa história de uma refeição compartilhada entre São Francisco e Santa Clara de Assis.
São Francisco de Assis é muito conhecido por seu amor pelos animais e pela natureza. Para ele, a criação era um reflexo direto da beleza e bondade de Deus. Ele chamava todas as criaturas de “irmãos” e “irmãs” e enxergava o mundo natural como um meio de se conectar com o Criador.
Esse amor pela natureza foi tão distinto que São Francisco se tornou o padroeiro dos animais e do meio ambiente. Sua visão de que a criação deve ser tratada com respeito e cuidado continua a inspirar movimentos de ecologia e sustentabilidade.
Entre os diversos relatos que descrevem a vida e os feitos de São Francisco, destaca-se o famoso episódio do lobo de Gubbio, que teria ocorrido nas proximidades da igreja de Santa Maria della Vittorina. A história fala de um grande lobo que aterrorizava os moradores das áreas rurais de Gubbio, onde Francisco costumava pregar. O animal selvagem, faminto e feroz, habitava os bosques próximos à cidade há anos e, segundo relatos da época, frequentemente se aproximava dos muros da cidade em busca de alimento. Desesperados e tomados pelo medo, os moradores recorreram a São Francisco.
Ao tomar conhecimento da situação, Francisco decidiu se aventurar na floresta para encontrar o lobo. Com sua habitual serenidade e compaixão, ele conseguiu mediar um acordo: o lobo deixaria de aterrorizar os habitantes de Gubbio, contanto que eles se comprometessem a alimentá-lo todos os dias. A partir desse momento, o lobo tornou-se um visitante pacífico e foi aceito pelos moradores.
O relato nos lembra a extraordinária capacidade de São Francisco de trazer paz até mesmo a situações aparentemente insolúveis, como domar um animal selvagem que outrora representava tanto medo. Um trecho do “Fioretti di San Francesco” descreve:
“No território de Gubbio, apareceu um lobo enorme, terrível e feroz, que não apenas devorava animais, mas também homens; os cidadãos viviam em grande medo, pois o lobo frequentemente se aproximava da cidade. Todos saíam armados quando precisavam deixar a cidade, como se fossem à guerra. (…). Após o acordo com São Francisco, o lobo viveu em Gubbio por dois anos, entrando mansamente de casa em casa, sem fazer mal a ninguém, e sendo gentilmente alimentado pelos moradores. Nenhum cão lhe latia, e quando o lobo morreu de velhice, os habitantes lamentaram sua perda, pois sua presença mansa os lembrava da virtude e santidade de São Francisco.”
Nos últimos anos de sua vida, São Francisco experimentou grande sofrimento físico, mas isso não diminuiu sua alegria e fé em Deus. Em 1224, dois anos antes de sua morte, ele recebeu os estigmas, as marcas das chagas de Cristo crucificado, em seu corpo. Foi o primeiro caso documentado de estigmas na história da Igreja.
Apesar da dor, ele continuou a pregar e a viver de acordo com seus princípios de humildade e pobreza até sua morte, em 3 de outubro de 1226.
Um dos legados mais conhecidos de São Francisco é o Cântico das Criaturas, um hino de louvor à criação, que ele compôs pouco antes de sua morte. O Cântico celebra o sol, a lua, as estrelas, a água, o fogo e até a morte, reconhecendo em cada elemento da natureza uma manifestação da bondade e poder de Deus.
Altíssimo, Onipotente, Bom senhor!
Teus são o louvor, a glória, a honra e a benção.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão sol, que clareia o dia
e que com a sua luz nos ilumina.
Ele é belo e radiante, com grande esplendor;
de ti, Altíssimo. é a imagem.
Louvado sejas meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,
que no céu formaste, claras, preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar
e pelas nuvens, pelo entardecer e por todo o tempo com
que dás sustento às tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, útil e
humilde, preciosa e pura.
Louvado sejas, meu senhor, pelo irmão fogo, com o qual
iluminas a noite. É belo e alegre, vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa, produz frutos diversos.
flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam, pelo teu
amor, e suportam as doenças e tribulações.
Louvai todos e bendizei ao meu Senhor,
dai-lhe graças e servi-o com grande humildade.
Este vídeo mostra uma animação e a interpretação do cântico das criaturas.
O movimento franciscano surgiu no contexto do vasto movimento pauperístico do século XIII, como uma resposta à corrupção dos costumes eclesiásticos da época, marcada pelo envolvimento excessivo com interesses materiais e políticos, especialmente durante a sangrenta Luta pelas Investiduras.
Além disso, a ascensão das cidades-estado ricas trouxe novas desigualdades sociais. Embora uma parte da população tenha se beneficiado com o crescimento das classes mercantis, o “popolo grasso” (a burguesia) começou a ganhar poder em detrimento da antiga nobreza feudal. Ao mesmo tempo, grandes camadas de camponeses mais pobres foram deixadas à margem, o que levou a uma crise no tecido social medieval, algo que certamente impactou Francisco enquanto atuava como mercador.
Os valores centrais da vida de São Francisco e de seus seguidores são a “pobreza”, “obediência” e “castidade”. Após um período de vida solitária, Francisco começou a atrair companheiros que desejavam imitar seu exemplo. Sua humildade e ascetismo o tornaram conhecido como Imitator Christi (Imitador de Cristo). A partir daí, iniciou-se a experiência de fraternidade, onde cada membro era um Imitator Francisci (Imitador de Francisco) e, consequentemente, um imitador de Cristo.
A vida comunitária, conforme a regra de São Francisco, deve seguir três princípios fundamentais:
Fraternidade: Os frades não devem viver sozinhos, mas cuidar uns dos outros com amor e dedicação, estendendo essa mesma atenção a todas as criaturas, humanas ou não, em uma fraternidade universal que reconhece toda a criação como obra de Deus.
Humildade: Colocar-se abaixo de todos, servindo aos mais pobres para servir a Deus, e libertar-se dos desejos terrenos que afastam o homem do bem e da justiça.
Pobreza: Renunciar à posse de qualquer bem, compartilhando tudo o que é recebido com os irmãos, especialmente com os mais necessitados.
O Papa Francisco tem uma forte ligação com São Francisco de Assis, tanto que escolheu seu nome como Pontífice. Essa conexão reflete o compromisso com o Evangelho, que São Francisco viveu de forma prática, transformando a Palavra de Deus em ações e gestos concretos. Portanto, ao adotar esse nome, o Papa também segue o caminho simples, mas desafiador, da vivência do Evangelho, demonstrando que seu plano pastoral é baseado na mensagem de Cristo.
Em tempos de incerteza e desafios para a Igreja, o renascimento só pode vir da aceitação do Evangelho em sua simplicidade, para que todos possam compreendê-lo, mas também em sua exigência, que muitas vezes causa tensão. A ligação entre São Francisco e o Papa Francisco reside justamente nessa adesão ao Evangelho de forma simples, mas exigente, no cotidiano.1
São Francisco de Assis foi canonizado pelo Papa Gregório IX em 16 de julho de 1228, apenas dois anos após sua morte. Sua vida e exemplo deixaram uma marca indelével na espiritualidade católica, e sua Ordem Franciscana continua a ser uma das mais influentes da Igreja.
Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
Glorioso São Francisco, santo da simplicidade, do amor e da alegria, que no céu contemplais as perfeições infinitas de Deus, lançai sobre nós o vosso olhar cheio de bondade. Socorrei-nos em nossas necessidades espirituais e corporais. Rogai ao nosso Pai e Criador, que nos conceda as graças que pedimos por vossa intercessão, vós que sempre fostes tão amigo d’Ele. E inflamai o nosso coração de amor sempre maior a Deus e aos nossos irmãos, principalmente os mais necessitados.
São Francisco de Assis, rogai por nós. Amém.