Conheça a vida de São Boaventura, grande teólogo, amigo de Santo Tomás de Aquino e autor da biografia mais fiel de São Francisco.
Conheça a vida de São Boaventura, grande teólogo, amigo de Santo Tomás de Aquino e autor da biografia mais fiel de São Francisco.
Conheça a vida de São Boaventura, grande teólogo, amigo de Santo Tomás de Aquino e autor da biografia mais fiel de São Francisco.
“Homem bom, afável, piedoso e misericordioso, repleto de virtudes, amado por Deus e pelos homens(…)”, esse é um elogio anônimo dedicado a São Boaventura. Neste artigo, vamos conhecer sobre a sua vida e como ele foi chamado por Deus a viver a sua santidade.
Descubra a vida e as principais contribuições teológicas deste grande santo, cujo profundo amor a Deus lhe rendeu o título de Doutor Seráfico.
São Boaventura foi um influente teólogo da Igreja durante o século XIII, conhecido por sua profunda espiritualidade e erudição. Nascido em Bagnoregio, na Itália, ingressou na Ordem dos Frades Menores e se destacou rapidamente por sua inteligência e dedicação. Ele serviu como Ministro Geral da Ordem Franciscana, onde promoveu a unidade e a expansão da Ordem.
Além disso, São Boaventura foi conselheiro de reis, como São Luís IX da França, e diretor espiritual de nobres, como Santa Isabel, irmã do rei. Em 1274, participou do Concílio de Lyon, onde suas palavras e ações ajudaram a fortalecer a união entre a Igreja Romana e os gregos. Em reconhecimento à sua contribuição teológica e espiritual, foi proclamado Doutor da Igreja em 1588, recebendo o título de “Doutor Seráfico”.
A festa litúrgica de São Boaventura é celebrada em 15 de julho, data de sua morte, homenageando um homem que, desde sua juventude, dedicou-se a seguir e a ensinar os preceitos evangélicos com humildade e paixão, servindo como um exemplo eterno de fé e sabedoria cristã.
São Boaventura nasceu provavelmente em 1217, com o nome de João de Fidanza, na pequena cidade italiana de Bagnoregio. Sua infância foi marcada por um evento milagroso que moldou sua vida. Quando ainda era criança, ele contraiu uma doença grave e estava à beira da morte. Desesperada, sua mãe recorreu à intercessão de São Francisco de Assis, e a oração foi atendida: ele se recuperou completamente.
Outros escritos, como o livro “Vidas dos Santos”, contam que o próprio São Francisco, ainda vivo, teria curado São Boaventura e o batizado com este nome após dizer a respeito da criança: “Oh, buona ventura!” – que significa “boa sorte”. 1
Crescendo em um ambiente de profunda fé cristã, Boaventura foi desde cedo “companheiro dos santos”. 2 Seus pais, Fiorello e Maria di Ritello, eram conhecidos por sua piedade e devoção a Deus. Nesse lar devoto, ele foi encorajado a buscar o conhecimento e a fé, mostrando desde cedo um intelecto brilhante e uma natural inclinação para a vida espiritual. Essa base sólida na fé e no amor a Deus preparou este grande santo para sua futura missão na Ordem Franciscana.
A juventude de São Boaventura foi marcada por uma busca incessante pelo conhecimento e pela verdade divina. Após obter o diploma de Mestre de Artes, ele se viu diante de uma pergunta crucial: “O que devo fazer da minha vida?”. Fascinado pelo fervor e pela radicalidade evangélica dos Frades Menores, que chegaram a Paris em 1219, ele decidiu ingressar na Ordem Franciscana. 3
A razão dessa escolha é que ele via em São Francisco e no movimento por ele iniciado a própria ação de Deus:
Assim escrevia numa carta endereçada a outro frade: “Confesso diante de Deus que a razão que me fez amar mais a vida do Beato Francisco é que ela se assemelha aos inícios e ao crescimento da Igreja. 3
Por volta de 1243, João de Fidanza vestiu o hábito franciscano e assumiu o nome de Boaventura. Destinado aos estudos teológicos na Universidade de Paris, ele enfrentou cursos rigorosos e exigentes. Contudo, durante esse período, São Boaventura amadureceu sua reflexão pessoal e desenvolveu uma sensibilidade espiritual que marcaria suas futuras obras e sermões.
Obteve os vários títulos requeridos pela carreira acadêmica, os de “bacharel bíblico” e de “bacharel sentenciário”. Assim Boaventura estudou a fundo a Sagrada Escritura, as Sentenças de Pedro Lombardo, o manual de teologia daquela época e os mais importantes autores de teologia […] 3
Durante seus anos de estudo e ensino na Universidade de Paris, Boaventura enfrentou um período de intensa controvérsia contra as Ordens Mendicantes, especialmente a dos Franciscanos e a dos Dominicanos. Havia uma forte oposição ao direito desses frades de ensinar na universidade, e até mesmo a sua autenticidade como religiosos era questionada. No entanto, mesmo em meio a essa polêmica, Boaventura destacou-se como um defensor fervoroso da sua Ordem.
Desse modo, ele escreveu, em resposta, uma obra chamada “A Perfeição Evangélica”, na qual defendia que os votos de pobreza, castidade e obediência praticados pelos frades eram uma expressão autêntica dos conselhos evangélicos. Além disso, Boaventura demonstrou que a vida franciscana não apenas era válida, mas enriquecia a Igreja com sua fidelidade ao Evangelho.
Ele ajudou a pacificar o conflito por um tempo com sua defesa vigorosa e erudita, e em 1257, foi oficialmente reconhecido como teólogo ao ser nomeado doutor e mestre da Universidade de Paris. No entanto, nesse mesmo ano, ele aceitou a eleição como Ministro-Geral da Ordem dos Frades Menores, o que o obrigou a deixar Paris e se dedicar à liderança da ordem. 3
Quando São Boaventura foi eleito Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores em 1257, ele trouxe um espírito de sabedoria e dedicação à liderança da Ordem. Durante os 17 anos que esteve à frente, ele se empenhou em visitar as províncias, escrever cartas aos irmãos e intervir com firmeza quando necessário para corrigir abusos. Sob sua liderança, a Ordem experimentou um crescimento notável, chegando a ter mais de 30.000 frades espalhados pelo Ocidente, com missões no norte da África, Oriente Médio e até Pequim.
Com esse crescimento veio o desafio de manter a unidade e a fidelidade ao carisma de São Francisco. Diversas interpretações da mensagem do santo ameaçavam a coesão interna. Para enfrentar essa questão, São Boaventura propôs ao Capítulo Geral da Ordem em Narbona, em 1260, um texto que unificava as normas da vida franciscana, promovendo a harmonia e a fidelidade ao espírito original da Ordem.
São Boaventura sabia que as regras por si só não seriam suficientes para garantir a unidade. Ele acreditava que era essencial compartilhar os mesmos ideais e motivações. Com esse objetivo, ele se dedicou com afinco a apresentar o carisma genuíno de São Francisco. Reuniu, desse modo, documentos históricos e relatos daqueles que conheceram Francisco pessoalmente, e a partir desse material, escreveu a “Legenda maior”. Ela também foi redigida em uma versão abreviada chamada “Legenda minor”. Esta biografia se tornou a representação mais fiel da vida e do ensinamentos do santo, sendo oficialmente reconhecida pelo Capítulo Geral dos Frades Menores em 1263 como a biografia oficial de São Francisco.
Assim, Boaventura não apenas consolidou a estrutura organizacional da Ordem, mas também revitalizou seu espírito, assegurando que a visão e os ensinamentos de São Francisco continuassem a guiar e inspirar os frades.
o Capítulo geral dos Frades Menores de 1263, reunindo-se em Pisa, reconheceu na biografia de São Boaventura o retrato mais fiel do Fundador e deste modo ela tornou-se a biografia oficial do Santo. 3
São Boaventura viveu uma vida de profunda dedicação à fé, à erudição e à liderança na Ordem dos Frades Menores. Sua trajetória culminou em 1273, quando o Papa Gregório X o nomeou Bispo e Cardeal de Albano, confiando-lhe a tarefa de preparar o II Concílio Ecumênico de Lião. Esse concílio tinha como objetivo principal restabelecer a comunhão entre as Igrejas latina e grega.
O santo dedicou-se muito à preparação desse evento, mostrando a mesma diligência e sabedoria que caracterizaram toda a sua vida. No entanto, sua saúde começou a deteriorar durante o concílio. Em 15 de julho de 1274, ele faleceu em Lião, deixando uma profunda impressão em todos que o conheciam, além da admiração pela sua santidade e erudição. Os bispos reunidos no concílio demonstraram piedade e respeito por sua pessoa ao sepultá-lo com grande honra durante seu funeral.
A fama de sua santidade e suas contribuições teológicas logo se espalharam por toda a cristandade. Em 1482, São Boaventura foi canonizado pelo Papa Sisto IV, reconhecendo oficialmente sua santidade e seu impacto duradouro na Igreja.
A devoção a São Boaventura é especialmente forte na Itália, onde ele nasceu, e em outras regiões da Europa onde a Ordem Franciscana tem uma presença histórica significativa. As pessoas o veneram como padroeiro dos teólogos, daqueles que buscam a sabedoria divina e dos estudantes de teologia, devido à sua vida dedicada ao ensino e à erudição
São Boaventura era amigo de outro grande santo, Santo Tomás de Aquino. Certa vez, Santo Tomás perguntou a São Boaventura de onde vinha todo o seu conhecimento, e ele respondeu apontando para o crucifixo. Além disso, em outra ocasião, Santo Tomás encontrou São Boaventura em êxtase enquanto escrevia a biografia de São Francisco
e exclamou, afastando-se da cela: “Deixemos que um santo escreva sobre outro santo”. 4
Assim como Santo Tomás de Aquino, conhecido como o Doutor Angélico, São Boaventura também foi agraciado com o título de Doutor da Igreja. Em 1588, ele foi proclamado Doutor da Igreja, recebendo o título de “Doutor Seráfico”.
Este termo refere-se aos serafins, a ordem mais elevada dos anjos, conhecidos por seu amor ardente e intenso por Deus. Assim, “Doutor Seráfico” sugere que São Boaventura, através de seus escritos e sua vida, refletia um amor e uma devoção profunda a Deus.
Para São Boaventura não há qualquer dúvida: São Francisco de Assis pertencia à ordem seráfica, à ordem suprema, ao coro dos serafins, ou seja: era puro fogo de amor. E assim deveriam ser os franciscanos. 5
As pessoas reconhecem amplamente São Boaventura como um dos teólogos mais influentes da Igreja, e suas contribuições moldaram o pensamento cristão por séculos. Seu trabalho teológico é notável por sua profundidade e clareza, bem como por seu foco cristocêntrico — centralizando sempre Cristo como o eixo de sua reflexão.
Uma das obras mais importantes de Boaventura é a sua Itinerarium Mentis in Deum (A Jornada da Mente para Deus). Nesta obra, ele descreve a ascensão da alma humana em direção a Deus através de etapas de iluminação e contemplação. Para isso, ele combina elementos da filosofia neoplatônica com a teologia cristã e propõe que alcançamos o conhecimento de Deus não apenas pela razão, mas também através da experiência mística e da contemplação espiritual.
São Boaventura também é conhecido por seu comentário sobre as “Sentenças” de Pedro Lombardo, um manual de teologia medieval. Neste comentário, ele aborda questões fundamentais da fé cristã, como a natureza de Deus, a Trindade, a criação, a encarnação de Cristo e a graça. Sua análise é de característica equilibrada, entre a razão e a fé, a qual enfatiza que a teologia deve ser uma busca pelo entendimento que se baseia na revelação divina e na tradição da Igreja.
Outro aspecto importante de seu legado teológico é seu trabalho sobre a Cristologia. São Boaventura escreveu extensivamente sobre o conhecimento de Cristo, destacando a importância da encarnação como o ponto central da história da salvação. Ele argumenta que Cristo é a chave para entender toda a realidade, destacando que Nele se encontra a plenitude da revelação divina.
Além da biografia de São Francisco, já citada acima, São Boaventura também abordou a espiritualidade franciscana em seus escritos, buscando sempre unir a erudição acadêmica com a prática devocional. Os seus sermões e tratados espirituais refletem uma profunda piedade, resultando em uma compreensão íntima do carisma de São Francisco de Assis. Ele defendia que a verdadeira teologia deve levar a uma vida de santidade e a uma conformidade mais plena com Cristo.
Ó São Boaventura, ensina-nos a rezar com a sua oração: “Sede, Senhor, minha única esperança, toda minha confiança, minhas riquezas, meu deleite, meu encanto, minha alegria, minha quietude e tranquilidade, minha paz, minha suavidade, meu perfume, minha doçura, meu pão, meu alimento, meu refúgio, meu auxílio, minha sabedoria, minha partilha, meus bens, meu tesouro”. Amém.
São Boaventura, rogai por nós!
O maior clube de leitores católicos do Brasil.
Conheça a vida de São Boaventura, grande teólogo, amigo de Santo Tomás de Aquino e autor da biografia mais fiel de São Francisco.
“Homem bom, afável, piedoso e misericordioso, repleto de virtudes, amado por Deus e pelos homens(…)”, esse é um elogio anônimo dedicado a São Boaventura. Neste artigo, vamos conhecer sobre a sua vida e como ele foi chamado por Deus a viver a sua santidade.
Descubra a vida e as principais contribuições teológicas deste grande santo, cujo profundo amor a Deus lhe rendeu o título de Doutor Seráfico.
São Boaventura foi um influente teólogo da Igreja durante o século XIII, conhecido por sua profunda espiritualidade e erudição. Nascido em Bagnoregio, na Itália, ingressou na Ordem dos Frades Menores e se destacou rapidamente por sua inteligência e dedicação. Ele serviu como Ministro Geral da Ordem Franciscana, onde promoveu a unidade e a expansão da Ordem.
Além disso, São Boaventura foi conselheiro de reis, como São Luís IX da França, e diretor espiritual de nobres, como Santa Isabel, irmã do rei. Em 1274, participou do Concílio de Lyon, onde suas palavras e ações ajudaram a fortalecer a união entre a Igreja Romana e os gregos. Em reconhecimento à sua contribuição teológica e espiritual, foi proclamado Doutor da Igreja em 1588, recebendo o título de “Doutor Seráfico”.
A festa litúrgica de São Boaventura é celebrada em 15 de julho, data de sua morte, homenageando um homem que, desde sua juventude, dedicou-se a seguir e a ensinar os preceitos evangélicos com humildade e paixão, servindo como um exemplo eterno de fé e sabedoria cristã.
São Boaventura nasceu provavelmente em 1217, com o nome de João de Fidanza, na pequena cidade italiana de Bagnoregio. Sua infância foi marcada por um evento milagroso que moldou sua vida. Quando ainda era criança, ele contraiu uma doença grave e estava à beira da morte. Desesperada, sua mãe recorreu à intercessão de São Francisco de Assis, e a oração foi atendida: ele se recuperou completamente.
Outros escritos, como o livro “Vidas dos Santos”, contam que o próprio São Francisco, ainda vivo, teria curado São Boaventura e o batizado com este nome após dizer a respeito da criança: “Oh, buona ventura!” – que significa “boa sorte”. 1
Crescendo em um ambiente de profunda fé cristã, Boaventura foi desde cedo “companheiro dos santos”. 2 Seus pais, Fiorello e Maria di Ritello, eram conhecidos por sua piedade e devoção a Deus. Nesse lar devoto, ele foi encorajado a buscar o conhecimento e a fé, mostrando desde cedo um intelecto brilhante e uma natural inclinação para a vida espiritual. Essa base sólida na fé e no amor a Deus preparou este grande santo para sua futura missão na Ordem Franciscana.
A juventude de São Boaventura foi marcada por uma busca incessante pelo conhecimento e pela verdade divina. Após obter o diploma de Mestre de Artes, ele se viu diante de uma pergunta crucial: “O que devo fazer da minha vida?”. Fascinado pelo fervor e pela radicalidade evangélica dos Frades Menores, que chegaram a Paris em 1219, ele decidiu ingressar na Ordem Franciscana. 3
A razão dessa escolha é que ele via em São Francisco e no movimento por ele iniciado a própria ação de Deus:
Assim escrevia numa carta endereçada a outro frade: “Confesso diante de Deus que a razão que me fez amar mais a vida do Beato Francisco é que ela se assemelha aos inícios e ao crescimento da Igreja. 3
Por volta de 1243, João de Fidanza vestiu o hábito franciscano e assumiu o nome de Boaventura. Destinado aos estudos teológicos na Universidade de Paris, ele enfrentou cursos rigorosos e exigentes. Contudo, durante esse período, São Boaventura amadureceu sua reflexão pessoal e desenvolveu uma sensibilidade espiritual que marcaria suas futuras obras e sermões.
Obteve os vários títulos requeridos pela carreira acadêmica, os de “bacharel bíblico” e de “bacharel sentenciário”. Assim Boaventura estudou a fundo a Sagrada Escritura, as Sentenças de Pedro Lombardo, o manual de teologia daquela época e os mais importantes autores de teologia […] 3
Durante seus anos de estudo e ensino na Universidade de Paris, Boaventura enfrentou um período de intensa controvérsia contra as Ordens Mendicantes, especialmente a dos Franciscanos e a dos Dominicanos. Havia uma forte oposição ao direito desses frades de ensinar na universidade, e até mesmo a sua autenticidade como religiosos era questionada. No entanto, mesmo em meio a essa polêmica, Boaventura destacou-se como um defensor fervoroso da sua Ordem.
Desse modo, ele escreveu, em resposta, uma obra chamada “A Perfeição Evangélica”, na qual defendia que os votos de pobreza, castidade e obediência praticados pelos frades eram uma expressão autêntica dos conselhos evangélicos. Além disso, Boaventura demonstrou que a vida franciscana não apenas era válida, mas enriquecia a Igreja com sua fidelidade ao Evangelho.
Ele ajudou a pacificar o conflito por um tempo com sua defesa vigorosa e erudita, e em 1257, foi oficialmente reconhecido como teólogo ao ser nomeado doutor e mestre da Universidade de Paris. No entanto, nesse mesmo ano, ele aceitou a eleição como Ministro-Geral da Ordem dos Frades Menores, o que o obrigou a deixar Paris e se dedicar à liderança da ordem. 3
Quando São Boaventura foi eleito Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores em 1257, ele trouxe um espírito de sabedoria e dedicação à liderança da Ordem. Durante os 17 anos que esteve à frente, ele se empenhou em visitar as províncias, escrever cartas aos irmãos e intervir com firmeza quando necessário para corrigir abusos. Sob sua liderança, a Ordem experimentou um crescimento notável, chegando a ter mais de 30.000 frades espalhados pelo Ocidente, com missões no norte da África, Oriente Médio e até Pequim.
Com esse crescimento veio o desafio de manter a unidade e a fidelidade ao carisma de São Francisco. Diversas interpretações da mensagem do santo ameaçavam a coesão interna. Para enfrentar essa questão, São Boaventura propôs ao Capítulo Geral da Ordem em Narbona, em 1260, um texto que unificava as normas da vida franciscana, promovendo a harmonia e a fidelidade ao espírito original da Ordem.
São Boaventura sabia que as regras por si só não seriam suficientes para garantir a unidade. Ele acreditava que era essencial compartilhar os mesmos ideais e motivações. Com esse objetivo, ele se dedicou com afinco a apresentar o carisma genuíno de São Francisco. Reuniu, desse modo, documentos históricos e relatos daqueles que conheceram Francisco pessoalmente, e a partir desse material, escreveu a “Legenda maior”. Ela também foi redigida em uma versão abreviada chamada “Legenda minor”. Esta biografia se tornou a representação mais fiel da vida e do ensinamentos do santo, sendo oficialmente reconhecida pelo Capítulo Geral dos Frades Menores em 1263 como a biografia oficial de São Francisco.
Assim, Boaventura não apenas consolidou a estrutura organizacional da Ordem, mas também revitalizou seu espírito, assegurando que a visão e os ensinamentos de São Francisco continuassem a guiar e inspirar os frades.
o Capítulo geral dos Frades Menores de 1263, reunindo-se em Pisa, reconheceu na biografia de São Boaventura o retrato mais fiel do Fundador e deste modo ela tornou-se a biografia oficial do Santo. 3
São Boaventura viveu uma vida de profunda dedicação à fé, à erudição e à liderança na Ordem dos Frades Menores. Sua trajetória culminou em 1273, quando o Papa Gregório X o nomeou Bispo e Cardeal de Albano, confiando-lhe a tarefa de preparar o II Concílio Ecumênico de Lião. Esse concílio tinha como objetivo principal restabelecer a comunhão entre as Igrejas latina e grega.
O santo dedicou-se muito à preparação desse evento, mostrando a mesma diligência e sabedoria que caracterizaram toda a sua vida. No entanto, sua saúde começou a deteriorar durante o concílio. Em 15 de julho de 1274, ele faleceu em Lião, deixando uma profunda impressão em todos que o conheciam, além da admiração pela sua santidade e erudição. Os bispos reunidos no concílio demonstraram piedade e respeito por sua pessoa ao sepultá-lo com grande honra durante seu funeral.
A fama de sua santidade e suas contribuições teológicas logo se espalharam por toda a cristandade. Em 1482, São Boaventura foi canonizado pelo Papa Sisto IV, reconhecendo oficialmente sua santidade e seu impacto duradouro na Igreja.
A devoção a São Boaventura é especialmente forte na Itália, onde ele nasceu, e em outras regiões da Europa onde a Ordem Franciscana tem uma presença histórica significativa. As pessoas o veneram como padroeiro dos teólogos, daqueles que buscam a sabedoria divina e dos estudantes de teologia, devido à sua vida dedicada ao ensino e à erudição
São Boaventura era amigo de outro grande santo, Santo Tomás de Aquino. Certa vez, Santo Tomás perguntou a São Boaventura de onde vinha todo o seu conhecimento, e ele respondeu apontando para o crucifixo. Além disso, em outra ocasião, Santo Tomás encontrou São Boaventura em êxtase enquanto escrevia a biografia de São Francisco
e exclamou, afastando-se da cela: “Deixemos que um santo escreva sobre outro santo”. 4
Assim como Santo Tomás de Aquino, conhecido como o Doutor Angélico, São Boaventura também foi agraciado com o título de Doutor da Igreja. Em 1588, ele foi proclamado Doutor da Igreja, recebendo o título de “Doutor Seráfico”.
Este termo refere-se aos serafins, a ordem mais elevada dos anjos, conhecidos por seu amor ardente e intenso por Deus. Assim, “Doutor Seráfico” sugere que São Boaventura, através de seus escritos e sua vida, refletia um amor e uma devoção profunda a Deus.
Para São Boaventura não há qualquer dúvida: São Francisco de Assis pertencia à ordem seráfica, à ordem suprema, ao coro dos serafins, ou seja: era puro fogo de amor. E assim deveriam ser os franciscanos. 5
As pessoas reconhecem amplamente São Boaventura como um dos teólogos mais influentes da Igreja, e suas contribuições moldaram o pensamento cristão por séculos. Seu trabalho teológico é notável por sua profundidade e clareza, bem como por seu foco cristocêntrico — centralizando sempre Cristo como o eixo de sua reflexão.
Uma das obras mais importantes de Boaventura é a sua Itinerarium Mentis in Deum (A Jornada da Mente para Deus). Nesta obra, ele descreve a ascensão da alma humana em direção a Deus através de etapas de iluminação e contemplação. Para isso, ele combina elementos da filosofia neoplatônica com a teologia cristã e propõe que alcançamos o conhecimento de Deus não apenas pela razão, mas também através da experiência mística e da contemplação espiritual.
São Boaventura também é conhecido por seu comentário sobre as “Sentenças” de Pedro Lombardo, um manual de teologia medieval. Neste comentário, ele aborda questões fundamentais da fé cristã, como a natureza de Deus, a Trindade, a criação, a encarnação de Cristo e a graça. Sua análise é de característica equilibrada, entre a razão e a fé, a qual enfatiza que a teologia deve ser uma busca pelo entendimento que se baseia na revelação divina e na tradição da Igreja.
Outro aspecto importante de seu legado teológico é seu trabalho sobre a Cristologia. São Boaventura escreveu extensivamente sobre o conhecimento de Cristo, destacando a importância da encarnação como o ponto central da história da salvação. Ele argumenta que Cristo é a chave para entender toda a realidade, destacando que Nele se encontra a plenitude da revelação divina.
Além da biografia de São Francisco, já citada acima, São Boaventura também abordou a espiritualidade franciscana em seus escritos, buscando sempre unir a erudição acadêmica com a prática devocional. Os seus sermões e tratados espirituais refletem uma profunda piedade, resultando em uma compreensão íntima do carisma de São Francisco de Assis. Ele defendia que a verdadeira teologia deve levar a uma vida de santidade e a uma conformidade mais plena com Cristo.
Ó São Boaventura, ensina-nos a rezar com a sua oração: “Sede, Senhor, minha única esperança, toda minha confiança, minhas riquezas, meu deleite, meu encanto, minha alegria, minha quietude e tranquilidade, minha paz, minha suavidade, meu perfume, minha doçura, meu pão, meu alimento, meu refúgio, meu auxílio, minha sabedoria, minha partilha, meus bens, meu tesouro”. Amém.
São Boaventura, rogai por nós!