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Formação

Gula: o que é e como combatê-la?

A gula é um dos sete pecados capitais, que tal saber mais sobre ela? Como ela age? Quais são as virtudes opostas à ela?

Gula: o que é e como combatê-la?
Formação

Gula: o que é e como combatê-la?

A gula é um dos sete pecados capitais, que tal saber mais sobre ela? Como ela age? Quais são as virtudes opostas à ela?

Data da Publicação: 08/08/2023
Tempo de leitura:
Autor: MBC
Data da Publicação: 08/08/2023
Tempo de leitura:
Autor: MBC

A gula é um dos sete pecados capitais, que tal saber mais sobre ela? Como ela age? Quais são as virtudes opostas à ela?


Muitos pecados estão sendo normalizados em nossa sociedade e, consequentemente, as pessoas deixaram de lutar intensamente a fim de vencê-los porque perderam a consciência acerca dos males que eles podem gerar em suas vidas. 

A gula é um pecado que foi normalizado e deixou de ser visto como um mal, mas que, querendo ou não, continua gerando terríveis consequências na vida daqueles que caem nesse vício.

Comer muito, comer antes da hora, comer apressadamente, selecionar a comida sempre para agradar ao paladar. Estas são algumas formas de gula que explicaremos de modo mais específico neste texto. 

Neste artigo, você também compreenderá o que é o pecado da gula, quais são as consequências que ele gera no corpo e na alma daqueles que o cometem e, especialmente, como pode ser combatido.

Os pecados capitais


De  acordo com o Catecismo da Igreja Católica, o pecado é “uma falta contra a razão, a verdade e a reta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens.” 1 

Em outras palavras, nós pecamos todas as vezes que nos apegamos aos bens deste mundo, buscando-os de forma desordenada e como finalidade de nossas vidas. Um exemplo é o apego ao dinheiro, conhecido como pecado da avareza. O problema não é ter dinheiro, mas o grau de importância que se dá a ele, colocando-o em primeiro lugar, acima de Deus e do próximo, sendo capaz até mesmo de cometer atos terríveis, desordenados, a fim de obtê-lo, como por exemplo, através de corrupção ou roubo. 

E o que são os pecados capitais? A Igreja os define assim “porque são geradores doutros pecados e doutros vícios.” 2, A palavra “capital” vem do latim “capitalis”, que significa “relativo à cabeça”. Isso quer dizer que os pecados capitais são cabeças de tantos outros pecados e vícios, são geradores de muitos males em nossas almas, e por isso devem ser combatidos fortemente a fim de evitarmos que uma série de ervas daninhas se espalhem pela nossa vida espiritual.

Os pecados capitais são a soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja e a preguiça. Neste artigo nós iremos discorrer, especialmente, acerca do pecado capital da gula, seus males e consequências, mas você pode ler mais sobre cada um dos pecados capitais no artigo “O que são os Pecados Capitais?” 

O que é a Gula?

Moça comendo muita comida simbolizando a gula.


Significado


A palavra “Gula”, do latim, significa “goela”, “garganta”. Além disso, ela também tem um nome técnico, que os gregos utilizavam: “gastrimargia”, que quer dizer, etimologicamente, “loucura do estômago”. Esse último termo é muito interessante, porque deixa claro o que é o pecado da gula: um verdadeiro descontrole do estômago, ou seja, uma desordem no ato de comer e beber.

Vício capital


A gula é um vício capital, ou seja, é responsável por uma série de outros vícios e dela resultam sérias consequências. Para entendermos melhor de onde nasce o pecado da gula, é preciso recordar que, com o pecado original, surgiram três fontes de pecado, que são a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Interessa-nos compreender mais profundamente o que é a concupiscência da carne, desordem de onde nasce a gula.

A concupiscência da carne é um desejo desordenado que foi inscrito na alma humana após o pecado original. Trata-se da tendência de aproveitar de modo exagerado os prazeres relativos à nossa carne, prazeres estes que estão intimamente ligados à manutenção da nossa vida individual, ou seja, que provém da alimentação, e da nossa vida coletiva, que provém da relação sexual. 

“A concupiscência da carne é o amor desordenado dos prazeres dos sentidos. O prazer não é mau em si, Deus permite-o ordenando-o para um fim superior: o bem honesto. Se liga o prazer a certos atos bons e é para os facilitar e nos atrair, assim, ao cumprimento do dever. 3

Veja que o prazer em si mesmo não é um mal e muito menos um pecado. Afinal, tudo que Deus criou é para o nosso bem e para a nossa alegria eterna. Portanto, o prazer que gozamos na comida, na bebida e no sexo são naturalmente e essencialmente bons. Ocorre que, após o pecado, nasce a concupiscência da carne, uma desordem que leva o ser humano a querer experienciar o prazer a todo custo, dissociando-o de sua finalidade.

Resumidamente, o prazer da comida e bebida é natural e bom. No entanto, quando passamos a buscá-lo acima de tudo e a todo custo, torna-se um pecado chamado gula, que provém da concupiscência da carne, originada do pecado de Adão. Percebam que o desejo de desfrutar constantemente do prazer da comida vai nos tornando escravos de nossos próprios desejos e paixões, o que pode nos levar a perder as rédeas em todas as demais áreas de nossa vida.

Veja também: Soberba — o que é e como combatê-la?

A Gula na Bíblia


No Antigo Testamento e nos mandamentos a gula é tratada como cobiça, ou seja, um desejo de desfrutar dos bens materiais, dos prazeres que eles podem gerar em nós. E a cobiça nos leva pelos caminhos da inveja, faz brotar em nós o ódio por aquele que possui os bens e prazeres que não temos. Também encontramos no Antigo Testamento diversos provérbios que falam sobre a desordem da gula — “Põe uma faca na tua garganta, se tu sentes muito apetite.” 4

Outro episódio do Antigo Testamento que pode ser muito interessante para refletirmos sobre o desejo desordenado de prazer é quando os hebreus haviam saído do Egito e caminhavam no deserto rumo à terra prometida. Deus incrivelmente abriu o Mar Vermelho para que o povo pudesse passar, conduziu-os através de uma coluna de areia que durante a noite tornava-se uma coluna de fogo para aquecer e iluminar o acampamento e deu-lhes o maná que caía do céu todas as manhãs para alimentá-los. 

Mesmo assim, brotou um desejo mesquinho no coração de muitos hebreus. Eles ficaram insatisfeitos com o maná e desejaram quase que desesperadamente saborear uma carne. Deus ficou furioso com o seu povo que cobiçou o prazer e menosprezou a graça que todas as manhãs recebiam d’Ele. 

Foi assim que Deus pediu a Moisés que dissesse ao povo: “O Senhor vos dará carne, e comereis. E comereis não só um dia, nem dois, nem cinco, nem dez, nem vinte, mas durante um mês inteiro, até que ela vos saia pelas narinas e vos cause nojo: porque rejeitastes o Senhor que está no meio de vós e dissestes-lhe chorando: Por que saímos nós do Egito?”. 5

Por fim, também encontramos repetidas vezes no Novo Testamento, especialmente nas cartas de São Paulo, a importância de não vivermos segundo a carne, porque aqueles que vivem assim “não podem agradar a Deus”, 6 e de deixar de seguir as nossas próprias paixões humanas que almejam os prazeres dos bens terrenos, para que vivamos de acordo com a vontade de Deus. São Paulo também diz que é impuro todo aquele que peca contra o seu próprio corpo, ou seja, que busca os prazeres exagerados da comida, bebida e do sexo. 7

Leia também: Inveja — o que é e como combatê-la?

Como combater a Gula?

Santo Tomás de Aquino, um dos doutores da Igreja que escreveu sobre a Gula.
Santo Tomás de Aquino, um dos doutores da Igreja que escreveu sobre a Gula.


Antes de indicarmos o verdadeiro tratamento para o vício capital da gula, vale destacar a classificação das espécies de gula, segundo São Gregório Magno e São Tomás de Aquino. São de cinco formas pelas quais a gula nos tenta, que podem ser relacionadas tanto ao alimento que comemos, quanto à ação de comer.

As duas primeiras espécies de gula são relacionadas ao alimento: a primeira está ligada ao refinamento do alimento, isto é, aos alimentos mais caros, e a segunda ao modo de preparo do alimento, que deve ser meticuloso e de qualidade máxima. Ressalta-se que o problema não está em comer alimentos caros e bem feitos, mas em desejar isso de modo desordenado, constante, comer apenas se corresponder a esses padrões. 

As três demais espécies de gula são relacionadas à ação própria de comer: há aqueles que comem antes da hora, ou seja, apressam o momento de comer, aqueles que comem muito e, por último, aqueles que comem apressadamente, isto é, sem o mínimo de postura.

E, finalmente, como podemos combater os males da concupiscência da carne em nossas vidas? Através da virtude que contrapõe o desejo exagerado de prazer, a virtude que chamamos de temperança. “A luta contra a concupiscência carnal passa pela purificação do coração e pela prática da temperança.” 8. A virtude da temperança, como o próprio nome diz, é responsável e capaz de temperar a nossa relação com os bens materiais de todas as origens, seja a comida, o sexo ou o dinheiro. Por meio dessa virtude passamos a enxergar os prazeres da matéria como meios para atingir finalidades superiores e infinitamente maiores.

E uma das formas práticas de aplicar a virtude da temperança é através do jejum, por meio do qual rejeitamos a comida e a bebida a fim de nos tornar donos de nossos desejos e não sermos mais submissos a eles.

Existem várias formas de fazermos jejum. A Igreja nos obriga a fazê-lo apenas em alguns dias específicos, mas em nossa jornada espiritual podemos buscá-lo quando surgir a necessidade, ou seja, quando percebermos que estamos fraquejando na concupiscência da carne.

Assim como o jejum, a abstinência de carne todas as sextas-feiras também pode ser um ótimo meio para desenvolvermos o domínio sobre nossa vontade. Além disso, podemos escolher outros tipos de mortificações para aplicarmos em nosso cotidiano, como tomar banho gelado, dormir sem travesseiro e até mesmo comer alimentos que não gostamos. Todas essas práticas nos ajudam a elevar a nossa capacidade de sermos fortes, dominarmos nossos instintos e deixarmos de ser escravos e dependentes das nossas paixões.

Referências

  1. CIC 1849[]
  2. CIC nº1866[]
  3. Ponto 193, A vida espiritual explicada e comentada, Adolph Tanquerey[]
  4. Provérbios 23,2[]
  5. Números 11, 18-20[]
  6. Romanos 8,8[]
  7. 1Cor 6,18-20[]
  8. CIC, 2530[]

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    MBC

    O que você vai encontrar neste artigo?

    A gula é um dos sete pecados capitais, que tal saber mais sobre ela? Como ela age? Quais são as virtudes opostas à ela?


    Muitos pecados estão sendo normalizados em nossa sociedade e, consequentemente, as pessoas deixaram de lutar intensamente a fim de vencê-los porque perderam a consciência acerca dos males que eles podem gerar em suas vidas. 

    A gula é um pecado que foi normalizado e deixou de ser visto como um mal, mas que, querendo ou não, continua gerando terríveis consequências na vida daqueles que caem nesse vício.

    Comer muito, comer antes da hora, comer apressadamente, selecionar a comida sempre para agradar ao paladar. Estas são algumas formas de gula que explicaremos de modo mais específico neste texto. 

    Neste artigo, você também compreenderá o que é o pecado da gula, quais são as consequências que ele gera no corpo e na alma daqueles que o cometem e, especialmente, como pode ser combatido.

    Os pecados capitais


    De  acordo com o Catecismo da Igreja Católica, o pecado é “uma falta contra a razão, a verdade e a reta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens.” 1 

    Em outras palavras, nós pecamos todas as vezes que nos apegamos aos bens deste mundo, buscando-os de forma desordenada e como finalidade de nossas vidas. Um exemplo é o apego ao dinheiro, conhecido como pecado da avareza. O problema não é ter dinheiro, mas o grau de importância que se dá a ele, colocando-o em primeiro lugar, acima de Deus e do próximo, sendo capaz até mesmo de cometer atos terríveis, desordenados, a fim de obtê-lo, como por exemplo, através de corrupção ou roubo. 

    E o que são os pecados capitais? A Igreja os define assim “porque são geradores doutros pecados e doutros vícios.” 2, A palavra “capital” vem do latim “capitalis”, que significa “relativo à cabeça”. Isso quer dizer que os pecados capitais são cabeças de tantos outros pecados e vícios, são geradores de muitos males em nossas almas, e por isso devem ser combatidos fortemente a fim de evitarmos que uma série de ervas daninhas se espalhem pela nossa vida espiritual.

    Os pecados capitais são a soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja e a preguiça. Neste artigo nós iremos discorrer, especialmente, acerca do pecado capital da gula, seus males e consequências, mas você pode ler mais sobre cada um dos pecados capitais no artigo “O que são os Pecados Capitais?” 

    O que é a Gula?

    Moça comendo muita comida simbolizando a gula.


    Significado


    A palavra “Gula”, do latim, significa “goela”, “garganta”. Além disso, ela também tem um nome técnico, que os gregos utilizavam: “gastrimargia”, que quer dizer, etimologicamente, “loucura do estômago”. Esse último termo é muito interessante, porque deixa claro o que é o pecado da gula: um verdadeiro descontrole do estômago, ou seja, uma desordem no ato de comer e beber.

    Vício capital


    A gula é um vício capital, ou seja, é responsável por uma série de outros vícios e dela resultam sérias consequências. Para entendermos melhor de onde nasce o pecado da gula, é preciso recordar que, com o pecado original, surgiram três fontes de pecado, que são a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Interessa-nos compreender mais profundamente o que é a concupiscência da carne, desordem de onde nasce a gula.

    A concupiscência da carne é um desejo desordenado que foi inscrito na alma humana após o pecado original. Trata-se da tendência de aproveitar de modo exagerado os prazeres relativos à nossa carne, prazeres estes que estão intimamente ligados à manutenção da nossa vida individual, ou seja, que provém da alimentação, e da nossa vida coletiva, que provém da relação sexual. 

    “A concupiscência da carne é o amor desordenado dos prazeres dos sentidos. O prazer não é mau em si, Deus permite-o ordenando-o para um fim superior: o bem honesto. Se liga o prazer a certos atos bons e é para os facilitar e nos atrair, assim, ao cumprimento do dever. 3

    Veja que o prazer em si mesmo não é um mal e muito menos um pecado. Afinal, tudo que Deus criou é para o nosso bem e para a nossa alegria eterna. Portanto, o prazer que gozamos na comida, na bebida e no sexo são naturalmente e essencialmente bons. Ocorre que, após o pecado, nasce a concupiscência da carne, uma desordem que leva o ser humano a querer experienciar o prazer a todo custo, dissociando-o de sua finalidade.

    Resumidamente, o prazer da comida e bebida é natural e bom. No entanto, quando passamos a buscá-lo acima de tudo e a todo custo, torna-se um pecado chamado gula, que provém da concupiscência da carne, originada do pecado de Adão. Percebam que o desejo de desfrutar constantemente do prazer da comida vai nos tornando escravos de nossos próprios desejos e paixões, o que pode nos levar a perder as rédeas em todas as demais áreas de nossa vida.

    Veja também: Soberba — o que é e como combatê-la?

    A Gula na Bíblia


    No Antigo Testamento e nos mandamentos a gula é tratada como cobiça, ou seja, um desejo de desfrutar dos bens materiais, dos prazeres que eles podem gerar em nós. E a cobiça nos leva pelos caminhos da inveja, faz brotar em nós o ódio por aquele que possui os bens e prazeres que não temos. Também encontramos no Antigo Testamento diversos provérbios que falam sobre a desordem da gula — “Põe uma faca na tua garganta, se tu sentes muito apetite.” 4

    Outro episódio do Antigo Testamento que pode ser muito interessante para refletirmos sobre o desejo desordenado de prazer é quando os hebreus haviam saído do Egito e caminhavam no deserto rumo à terra prometida. Deus incrivelmente abriu o Mar Vermelho para que o povo pudesse passar, conduziu-os através de uma coluna de areia que durante a noite tornava-se uma coluna de fogo para aquecer e iluminar o acampamento e deu-lhes o maná que caía do céu todas as manhãs para alimentá-los. 

    Mesmo assim, brotou um desejo mesquinho no coração de muitos hebreus. Eles ficaram insatisfeitos com o maná e desejaram quase que desesperadamente saborear uma carne. Deus ficou furioso com o seu povo que cobiçou o prazer e menosprezou a graça que todas as manhãs recebiam d’Ele. 

    Foi assim que Deus pediu a Moisés que dissesse ao povo: “O Senhor vos dará carne, e comereis. E comereis não só um dia, nem dois, nem cinco, nem dez, nem vinte, mas durante um mês inteiro, até que ela vos saia pelas narinas e vos cause nojo: porque rejeitastes o Senhor que está no meio de vós e dissestes-lhe chorando: Por que saímos nós do Egito?”. 5

    Por fim, também encontramos repetidas vezes no Novo Testamento, especialmente nas cartas de São Paulo, a importância de não vivermos segundo a carne, porque aqueles que vivem assim “não podem agradar a Deus”, 6 e de deixar de seguir as nossas próprias paixões humanas que almejam os prazeres dos bens terrenos, para que vivamos de acordo com a vontade de Deus. São Paulo também diz que é impuro todo aquele que peca contra o seu próprio corpo, ou seja, que busca os prazeres exagerados da comida, bebida e do sexo. 7

    Leia também: Inveja — o que é e como combatê-la?

    Como combater a Gula?

    Santo Tomás de Aquino, um dos doutores da Igreja que escreveu sobre a Gula.
    Santo Tomás de Aquino, um dos doutores da Igreja que escreveu sobre a Gula.


    Antes de indicarmos o verdadeiro tratamento para o vício capital da gula, vale destacar a classificação das espécies de gula, segundo São Gregório Magno e São Tomás de Aquino. São de cinco formas pelas quais a gula nos tenta, que podem ser relacionadas tanto ao alimento que comemos, quanto à ação de comer.

    As duas primeiras espécies de gula são relacionadas ao alimento: a primeira está ligada ao refinamento do alimento, isto é, aos alimentos mais caros, e a segunda ao modo de preparo do alimento, que deve ser meticuloso e de qualidade máxima. Ressalta-se que o problema não está em comer alimentos caros e bem feitos, mas em desejar isso de modo desordenado, constante, comer apenas se corresponder a esses padrões. 

    As três demais espécies de gula são relacionadas à ação própria de comer: há aqueles que comem antes da hora, ou seja, apressam o momento de comer, aqueles que comem muito e, por último, aqueles que comem apressadamente, isto é, sem o mínimo de postura.

    E, finalmente, como podemos combater os males da concupiscência da carne em nossas vidas? Através da virtude que contrapõe o desejo exagerado de prazer, a virtude que chamamos de temperança. “A luta contra a concupiscência carnal passa pela purificação do coração e pela prática da temperança.” 8. A virtude da temperança, como o próprio nome diz, é responsável e capaz de temperar a nossa relação com os bens materiais de todas as origens, seja a comida, o sexo ou o dinheiro. Por meio dessa virtude passamos a enxergar os prazeres da matéria como meios para atingir finalidades superiores e infinitamente maiores.

    E uma das formas práticas de aplicar a virtude da temperança é através do jejum, por meio do qual rejeitamos a comida e a bebida a fim de nos tornar donos de nossos desejos e não sermos mais submissos a eles.

    Existem várias formas de fazermos jejum. A Igreja nos obriga a fazê-lo apenas em alguns dias específicos, mas em nossa jornada espiritual podemos buscá-lo quando surgir a necessidade, ou seja, quando percebermos que estamos fraquejando na concupiscência da carne.

    Assim como o jejum, a abstinência de carne todas as sextas-feiras também pode ser um ótimo meio para desenvolvermos o domínio sobre nossa vontade. Além disso, podemos escolher outros tipos de mortificações para aplicarmos em nosso cotidiano, como tomar banho gelado, dormir sem travesseiro e até mesmo comer alimentos que não gostamos. Todas essas práticas nos ajudam a elevar a nossa capacidade de sermos fortes, dominarmos nossos instintos e deixarmos de ser escravos e dependentes das nossas paixões.

    Referências

    1. CIC 1849[]
    2. CIC nº1866[]
    3. Ponto 193, A vida espiritual explicada e comentada, Adolph Tanquerey[]
    4. Provérbios 23,2[]
    5. Números 11, 18-20[]
    6. Romanos 8,8[]
    7. 1Cor 6,18-20[]
    8. CIC, 2530[]

    MBC

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