Formação

Como a Igreja Católica surgiu?

Entenda como a Igreja Católica surgiu, desde Cristo até Pentecostes, e como permanece viva pela sucessão apostólica.

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Como a Igreja Católica surgiu?

Entenda como a Igreja Católica surgiu, desde Cristo até Pentecostes, e como permanece viva pela sucessão apostólica.

Data da Publicação: 26/12/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 26/12/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Como a Igreja Católica surgiu? Essa pergunta toca o coração da fé cristã, porque nos obriga a olhar para a Igreja não apenas como uma organização histórica, mas como obra de Cristo na história. Ela tem datas, lugares e acontecimentos concretos. Mas tem também um princípio sobrenatural, que não se explica só por processos humanos. Neste artigo, vamos seguir uma linha clara e progressiva, baseada na fé e na história, para compreender como a Igreja nasce em Cristo, se torna visível em Pentecostes e permanece una pela sucessão apostólica.

O que significa dizer que a Igreja foi fundada por Cristo?

Dizer que a Igreja foi fundada por Cristo é afirmar que ela não é fruto de uma decisão posterior dos discípulos, nem de um movimento criado apenas para preservar a memória de Jesus. Cristo quis a Igreja. Ele reuniu um povo, formou uma comunidade e instituiu fundamentos visíveis para que essa comunidade permanecesse no tempo.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Jesus inaugurou o Reino dos céus na terra. A Igreja é o germe e o começo deste Reino. […] Jesus reuniu os discípulos em torno de si. […] Ele instituiu os Doze com Pedro como chefe. […] Com estas ações, Jesus prepara e edifica a sua Igreja.” (CIC, 763–765)

Esse ponto é decisivo. A Igreja não nasce de um consenso humano, mas de uma iniciativa divina. Por isso, quando falamos de origem, falamos ao mesmo tempo de um ato histórico e de uma intenção teológica. O Evangelho não é apenas uma mensagem anunciada. Ele é uma vida comunicada. E a Igreja é o lugar onde essa vida se prolonga no mundo.

A Igreja, desde o início, se compreendeu como continuidade viva da obra de Cristo, e não como construção posterior dos discípulos. Há nela uma consciência constante de identidade, que atravessa os séculos sem se dissolver nas mudanças históricas. Como observa Karl Adam, teólogo alemão, os princípios essenciais do catolicismo aparecem desde o instante em que a Igreja faz sua entrada no mundo, porque foi o próprio Cristo quem insuflou nela o espírito de vida desde o começo 1.

O fundamento teológico: a Igreja Católica surgiu na Encarnação

A Igreja não aparece pronta no momento da Encarnação. Mas é ali que se encontra seu princípio vital. Quando o Verbo assume a humanidade, inaugura-se uma realidade nova no mundo. Cristo não apenas fala sobre salvação. Ele a realiza em sua própria Pessoa, e dessa união de Deus com o homem nasce a possibilidade de um corpo novo, prolongamento da presença do Senhor na história.

Isso esclarece porque a Igreja, para a fé católica, não é uma ideia espiritual sem forma. Ela é uma realidade de comunhão com Cristo. Sem Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não há Corpo de Cristo no sentido pleno. A Igreja existe porque existe Cristo encarnado, e porque essa vida encarnada se comunica, se entrega, se transmite e reúne.

Por isso, é correto dizer que a Igreja tem um início histórico, mas também um fundamento ontológico. Ela não é apenas o que acontece externamente. Ela é uma vida que brota do mistério de Cristo e se torna visível em sinais, sacramentos e comunhão.

A Igreja antes de Pentecostes: realidade já fundada, ainda não manifestada

Antes de Pentecostes, a Igreja já existe, mas ainda não se manifesta plenamente como missão pública universal. Ela existe na intimidade do Cristo com seus discípulos, no ensinamento transmitido, no povo reunido e no fundamento apostólico já instituído. Pentecostes não cria a Igreja do zero. Pentecostes a torna visível, missionária e pública.

Isso ajuda a manter duas verdades juntas. A primeira é que a Igreja nasce de Cristo e não do entusiasmo dos seguidores. A segunda é que a Igreja se manifesta no tempo segundo a pedagogia divina. Há um amadurecimento. Há um preparo. Há uma passagem do recolhimento para o anúncio, do círculo de discípulos para a missão universal.

É nesse sentido que o Catecismo fala de uma realização progressiva do desígnio divino. A Igreja é preparada, edificada e manifestada. Não se trata de etapas desconectadas, mas de um único movimento: Cristo forma, Cristo estabelece, o Espírito envia.

Como a Igreja Católica surgiu: a escolha dos Doze Apóstolos

A escolha dos Doze é um dos gestos mais fortes da fundação visível da Igreja. Não é um detalhe organizacional. O número tem sentido bíblico e teológico, porque remete diretamente às doze tribos de Israel. Ao escolher Doze, Cristo indica que está formando o novo Povo de Deus.

Essa escolha também mostra que a Igreja não é apenas uma soma de indivíduos que creem. Ela é um corpo com forma. Cristo chama muitos discípulos, mas institui Doze como fundamento, com uma missão própria ligada ao ensino, ao governo pastoral e à santificação. O Evangelho apresenta esse gesto com sobriedade, mas a tradição sempre reconheceu nele um sinal claro de instituição.

A missão dos Apóstolos na fundação da Igreja

Os Apóstolos não foram apenas testemunhas ocasionais da vida de Jesus. Eles receberam uma missão constitutiva. São Paulo afirma que a Igreja está “edificada sobre o fundamento dos apóstolos” (Ef 2,20). Isso significa que a fé cristã nasce de um testemunho transmitido e guardado, não de uma experiência religiosa isolada.

Cristo confia aos Apóstolos tarefas concretas. Eles são enviados a anunciar o Evangelho, a batizar, a celebrar a Eucaristia, a perdoar os pecados e a conduzir a comunidade. A Igreja nasce, portanto, como realidade espiritual e visível, sustentada por homens enviados com autoridade. Essa estrutura não é uma camada posterior adicionada ao Evangelho. Ela é parte da forma como o próprio Evangelho chega ao mundo.

Quando a Igreja insiste na dimensão apostólica, ela está protegendo algo simples e vital: o cristianismo não se apoia em impressões pessoais sobre Cristo, mas na fé recebida de Cristo por meio daqueles que Ele mesmo enviou.

O papel de Pedro na origem da Igreja Católica

Entre os Apóstolos, Pedro recebe uma missão específica. Quando Jesus diz: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18), não confere a Pedro uma honra isolada, mas uma função a serviço da unidade. Pedro é chamado a ser referência visível de comunhão.

Isso é importante porque a Igreja, desde o início, sabe que a fé precisa permanecer una. A unidade não é apenas um ideal afetivo. Ela é uma exigência do próprio Cristo. E a missão de Pedro preserva essa unidade de modo concreto.

Ao longo dos séculos, a Igreja reconheceu na sucessão de Pedro um sinal de continuidade visível. Cristo permanece a Cabeça. A função petrina não substitui Cristo. Ela serve ao Corpo, protegendo a comunhão para que a fé seja preservada em sua integridade e não se fragmente em leituras parciais.

Você sabe como é escolhido um Papa?

Pentecostes: quando a Igreja Católica surgiu publicamente

Pentecostes é o momento em que a Igreja, já fundada por Cristo, entra plenamente na história como missão pública. Com a descida do Espírito Santo, os Apóstolos recebem luz para compreender o mistério do Senhor e força para anunciá-lo sem medo. Aqueles que antes estavam recolhidos passam a proclamar a fé abertamente.

Pentecostes marca o início da missão visível da Igreja. Ela deixa de ser apenas uma comunidade reunida em torno de Cristo e se torna enviada ao mundo inteiro. O Espírito não altera a essência da Igreja, mas a faz transbordar, como um fogo que passa do altar para a cidade.

Aqui se entende por que a Igreja é, desde o começo, missionária. Não por estratégia, mas por natureza. Cristo forma um povo para enviá-lo. O Espírito capacita esse povo para anunciá-Lo.

Entenda o que a Igreja celebra na Solenidade de Pentecostes.

A ação do Espírito Santo e a catolicidade da Igreja

O milagre das línguas em Pentecostes revela, desde o início, o caráter universal da Igreja. Pessoas de diferentes povos e culturas compreendem a mesma mensagem. Não porque as diferenças são apagadas, mas porque o Espírito cria unidade sem destruir a diversidade.

Essa catolicidade não é um projeto humano de expansão. É fruto direto da ação do Espírito Santo. A Igreja nasce universal porque o Evangelho é para todos, e porque o Espírito concede à Igreja essa abertura desde o primeiro anúncio. A fé cristã não pertence a um povo particular. Ela é destinada à humanidade inteira.

Essa universalidade também protege a Igreja de se reduzir a uma cultura religiosa local. A Igreja pode ter expressões diversas, ritos diversos, línguas diversas. Mas permanece una na mesma fé, nos mesmos sacramentos e na mesma comunhão.

O significado do termo “católica” desde as origens

A palavra “católica” significa “universal”. Desde muito cedo, ela foi usada para indicar a Igreja que guardava a fé apostólica integral e que era, ao mesmo tempo, aberta a todos os povos. Chamar a Igreja de católica era dizer duas coisas ao mesmo tempo: que ela é para todos e que ela conserva a fé inteira.

O termo não nasce como título ornamental. Ele nasce como descrição. Ele expressa uma realidade: a Igreja é universal por missão e por conteúdo. Universal por missão porque é enviada a todos. Universal por conteúdo porque transmite a totalidade da fé recebida.

Ao longo dos séculos, o uso patrístico do termo reforçou essa compreensão. A catolicidade tornou-se uma marca, não apenas geográfica, mas doutrinal e vital: onde a Igreja permanece na fé dos Apóstolos, ali se reconhece a Igreja Católica.

O que o Magistério ensina sobre como a Igreja Católica surgiu

O Magistério da Igreja ensina de modo constante que a Igreja foi fundada por Cristo, manifestada em Pentecostes e sustentada pela ação contínua do Espírito Santo. A constituição Lumen Gentium apresenta a Igreja como realidade ao mesmo tempo visível e espiritual, humana e divina, porque ela é uma comunhão que aparece na história sem se reduzir à história.

O Catecismo retoma essa mesma linha ao falar de origem, fundação e manifestação. A Igreja não é um remendo religioso que surgiu depois. Ela está inserida no desígnio de Deus e entra no tempo por vontade do próprio Cristo.

Esse ensinamento tem consequência prática. Se a Igreja é obra de Cristo, então a fé não depende do humor de épocas, nem do carisma isolado de líderes, nem da capacidade humana de manter uma instituição em pé. A Igreja permanece porque Deus a sustenta. E permanece na história porque Cristo quis que ela tivesse forma histórica.

Que tal aprender o que cada parte da Oração do Creio significa?

A sucessão apostólica e a continuidade da Igreja Católica

Se a Igreja nasce de Cristo, ela não pode ficar restrita ao tempo de Cristo. Por isso, os Apóstolos não foram apenas fundadores de um momento inaugural. Eles receberam a missão de transmitir. Essa transmissão é o que chamamos de sucessão apostólica.

A sucessão apostólica garante que a Igreja, ao atravessar os séculos, permaneça a mesma Igreja fundada por Cristo. Ela não é apenas uma continuidade administrativa. Ela é continuidade na fé, nos sacramentos e na missão. Por ela, a Igreja atravessa os séculos sem perder sua identidade essencial.

Para quem aprende a fé, isso é muito concreto. Quando um bispo ensina a fé da Igreja, ele não está oferecendo uma opinião privada. Ele está exercendo uma missão recebida. A Igreja permanece una porque permanece apostólica.

Papa, cardeais, bispos, padres, diáconos… quem são todas essas figuras? Saiba como funciona a hierarquia da Igreja Católica.

A transmissão da autoridade na Igreja nascente

Já no Novo Testamento é possível perceber que os Apóstolos não pensavam sua missão como algo que terminaria com eles. Eles estabelecem responsáveis, impõem as mãos, organizam a vida das comunidades e garantem que a fé recebida seja guardada e transmitida.

A tradição cristã reconheceu nesse gesto a continuidade do ministério. Por isso a Igreja fala em bispos como sucessores dos Apóstolos. Não porque repitam suas histórias individuais, mas porque recebem sua missão e a exercem para o povo de Deus no mesmo Corpo de Cristo.

É assim que a Igreja evita se tornar uma memória fragmentada. A autoridade transmitida mantém a fé una, protege a pregação e assegura a vida sacramental.

A origem divina da autoridade na Igreja

A autoridade na Igreja não nasce da comunidade como se fosse um mandato puramente humano. Ela tem origem divina. Ela segue uma ordem clara: de Deus para Cristo, de Cristo para os Apóstolos, e destes para seus sucessores. É por isso que a Igreja entende sua estrutura como parte do próprio Evangelho vivido no tempo.

A tradição antiga expressa isso com uma fórmula muito simples, atribuída a Tertuliano: “A Igreja vem dos apóstolos, os apóstolos do Cristo, e o Cristo, de Deus.” Essa frase não pretende esgotar o mistério da Igreja. Ela apenas fixa uma linha: a fé recebida tem origem em Deus e chega ao mundo por mediações instituídas pelo próprio Cristo.

O desenvolvimento histórico da Igreja não acontece como acréscimo artificial, mas como crescimento orgânico de uma vida que já contém, desde o início, seu princípio e sua identidade. Há mudança, há amadurecimento, há expansão, mas não ruptura. Como observa Karl Adam, “a Igreja se desenvolve de modo semelhante a um organismo vivo, no qual tudo o que aparece ao longo do tempo já estava, em germe, presente desde o começo” 2.

Como a Igreja Católica surgiu: analogia do carvalho

A origem e o desenvolvimento da Igreja podem ser compreendidos por meio de uma imagem didática. Um carvalho nasce de uma semente. A semente parece pequena, mas já contém a identidade da árvore. O crescimento acontece no tempo, mas a essência não muda.

Assim também a Igreja. A Encarnação pode ser vista como a semente, porque ali nasce o princípio vital da comunhão. A escolha dos Doze pode ser vista como raízes, porque dá forma e fundamento. Pentecostes pode ser visto como broto, porque a Igreja se manifesta publicamente e se torna missionária. A Igreja atual é a árvore viva, com ramos e frutos em todas as épocas. E a sucessão apostólica é como a seiva, que garante continuidade de vida, não apenas continuidade de nome.

Essa analogia não explica tudo, mas organiza o raciocínio. Ela mostra por que a Igreja pode crescer, atravessar crises e mudar em aspectos acidentais, sem deixar de ser a mesma Igreja fundada por Cristo.

Conclusão: a origem da Igreja Católica é clara e contínua

A Igreja Católica tem uma origem histórico-teológica clara. Ela é fundada por Cristo, preparada e edificada em sua vida e em sua missão, manifestada publicamente em Pentecostes e sustentada no tempo pela sucessão apostólica. Ela é visível porque vive na história. Ela é sobrenatural porque vive da graça. Ela é una porque nasce de uma única Cabeça e permanece na fé recebida.

Compreender como a Igreja surgiu é reconhecer nela a obra de Cristo no tempo. Ao viver a fé, participar dos sacramentos e permanecer em comunhão, o cristão não se liga a uma tradição construída apenas por mãos humanas, mas é inserido numa história que nasce em Cristo, é confiada ao Espírito e permanece viva na Igreja.

  1. A Essência do Catolicismo, p. 9[]
  2. A Essência do Catolicismo, p. 8[]
Redação MBC

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O maior clube de livros católicos do Brasil.

Como a Igreja Católica surgiu? Essa pergunta toca o coração da fé cristã, porque nos obriga a olhar para a Igreja não apenas como uma organização histórica, mas como obra de Cristo na história. Ela tem datas, lugares e acontecimentos concretos. Mas tem também um princípio sobrenatural, que não se explica só por processos humanos. Neste artigo, vamos seguir uma linha clara e progressiva, baseada na fé e na história, para compreender como a Igreja nasce em Cristo, se torna visível em Pentecostes e permanece una pela sucessão apostólica.

O que significa dizer que a Igreja foi fundada por Cristo?

Dizer que a Igreja foi fundada por Cristo é afirmar que ela não é fruto de uma decisão posterior dos discípulos, nem de um movimento criado apenas para preservar a memória de Jesus. Cristo quis a Igreja. Ele reuniu um povo, formou uma comunidade e instituiu fundamentos visíveis para que essa comunidade permanecesse no tempo.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Jesus inaugurou o Reino dos céus na terra. A Igreja é o germe e o começo deste Reino. […] Jesus reuniu os discípulos em torno de si. […] Ele instituiu os Doze com Pedro como chefe. […] Com estas ações, Jesus prepara e edifica a sua Igreja.” (CIC, 763–765)

Esse ponto é decisivo. A Igreja não nasce de um consenso humano, mas de uma iniciativa divina. Por isso, quando falamos de origem, falamos ao mesmo tempo de um ato histórico e de uma intenção teológica. O Evangelho não é apenas uma mensagem anunciada. Ele é uma vida comunicada. E a Igreja é o lugar onde essa vida se prolonga no mundo.

A Igreja, desde o início, se compreendeu como continuidade viva da obra de Cristo, e não como construção posterior dos discípulos. Há nela uma consciência constante de identidade, que atravessa os séculos sem se dissolver nas mudanças históricas. Como observa Karl Adam, teólogo alemão, os princípios essenciais do catolicismo aparecem desde o instante em que a Igreja faz sua entrada no mundo, porque foi o próprio Cristo quem insuflou nela o espírito de vida desde o começo 1.

O fundamento teológico: a Igreja Católica surgiu na Encarnação

A Igreja não aparece pronta no momento da Encarnação. Mas é ali que se encontra seu princípio vital. Quando o Verbo assume a humanidade, inaugura-se uma realidade nova no mundo. Cristo não apenas fala sobre salvação. Ele a realiza em sua própria Pessoa, e dessa união de Deus com o homem nasce a possibilidade de um corpo novo, prolongamento da presença do Senhor na história.

Isso esclarece porque a Igreja, para a fé católica, não é uma ideia espiritual sem forma. Ela é uma realidade de comunhão com Cristo. Sem Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não há Corpo de Cristo no sentido pleno. A Igreja existe porque existe Cristo encarnado, e porque essa vida encarnada se comunica, se entrega, se transmite e reúne.

Por isso, é correto dizer que a Igreja tem um início histórico, mas também um fundamento ontológico. Ela não é apenas o que acontece externamente. Ela é uma vida que brota do mistério de Cristo e se torna visível em sinais, sacramentos e comunhão.

A Igreja antes de Pentecostes: realidade já fundada, ainda não manifestada

Antes de Pentecostes, a Igreja já existe, mas ainda não se manifesta plenamente como missão pública universal. Ela existe na intimidade do Cristo com seus discípulos, no ensinamento transmitido, no povo reunido e no fundamento apostólico já instituído. Pentecostes não cria a Igreja do zero. Pentecostes a torna visível, missionária e pública.

Isso ajuda a manter duas verdades juntas. A primeira é que a Igreja nasce de Cristo e não do entusiasmo dos seguidores. A segunda é que a Igreja se manifesta no tempo segundo a pedagogia divina. Há um amadurecimento. Há um preparo. Há uma passagem do recolhimento para o anúncio, do círculo de discípulos para a missão universal.

É nesse sentido que o Catecismo fala de uma realização progressiva do desígnio divino. A Igreja é preparada, edificada e manifestada. Não se trata de etapas desconectadas, mas de um único movimento: Cristo forma, Cristo estabelece, o Espírito envia.

Como a Igreja Católica surgiu: a escolha dos Doze Apóstolos

A escolha dos Doze é um dos gestos mais fortes da fundação visível da Igreja. Não é um detalhe organizacional. O número tem sentido bíblico e teológico, porque remete diretamente às doze tribos de Israel. Ao escolher Doze, Cristo indica que está formando o novo Povo de Deus.

Essa escolha também mostra que a Igreja não é apenas uma soma de indivíduos que creem. Ela é um corpo com forma. Cristo chama muitos discípulos, mas institui Doze como fundamento, com uma missão própria ligada ao ensino, ao governo pastoral e à santificação. O Evangelho apresenta esse gesto com sobriedade, mas a tradição sempre reconheceu nele um sinal claro de instituição.

A missão dos Apóstolos na fundação da Igreja

Os Apóstolos não foram apenas testemunhas ocasionais da vida de Jesus. Eles receberam uma missão constitutiva. São Paulo afirma que a Igreja está “edificada sobre o fundamento dos apóstolos” (Ef 2,20). Isso significa que a fé cristã nasce de um testemunho transmitido e guardado, não de uma experiência religiosa isolada.

Cristo confia aos Apóstolos tarefas concretas. Eles são enviados a anunciar o Evangelho, a batizar, a celebrar a Eucaristia, a perdoar os pecados e a conduzir a comunidade. A Igreja nasce, portanto, como realidade espiritual e visível, sustentada por homens enviados com autoridade. Essa estrutura não é uma camada posterior adicionada ao Evangelho. Ela é parte da forma como o próprio Evangelho chega ao mundo.

Quando a Igreja insiste na dimensão apostólica, ela está protegendo algo simples e vital: o cristianismo não se apoia em impressões pessoais sobre Cristo, mas na fé recebida de Cristo por meio daqueles que Ele mesmo enviou.

O papel de Pedro na origem da Igreja Católica

Entre os Apóstolos, Pedro recebe uma missão específica. Quando Jesus diz: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18), não confere a Pedro uma honra isolada, mas uma função a serviço da unidade. Pedro é chamado a ser referência visível de comunhão.

Isso é importante porque a Igreja, desde o início, sabe que a fé precisa permanecer una. A unidade não é apenas um ideal afetivo. Ela é uma exigência do próprio Cristo. E a missão de Pedro preserva essa unidade de modo concreto.

Ao longo dos séculos, a Igreja reconheceu na sucessão de Pedro um sinal de continuidade visível. Cristo permanece a Cabeça. A função petrina não substitui Cristo. Ela serve ao Corpo, protegendo a comunhão para que a fé seja preservada em sua integridade e não se fragmente em leituras parciais.

Você sabe como é escolhido um Papa?

Pentecostes: quando a Igreja Católica surgiu publicamente

Pentecostes é o momento em que a Igreja, já fundada por Cristo, entra plenamente na história como missão pública. Com a descida do Espírito Santo, os Apóstolos recebem luz para compreender o mistério do Senhor e força para anunciá-lo sem medo. Aqueles que antes estavam recolhidos passam a proclamar a fé abertamente.

Pentecostes marca o início da missão visível da Igreja. Ela deixa de ser apenas uma comunidade reunida em torno de Cristo e se torna enviada ao mundo inteiro. O Espírito não altera a essência da Igreja, mas a faz transbordar, como um fogo que passa do altar para a cidade.

Aqui se entende por que a Igreja é, desde o começo, missionária. Não por estratégia, mas por natureza. Cristo forma um povo para enviá-lo. O Espírito capacita esse povo para anunciá-Lo.

Entenda o que a Igreja celebra na Solenidade de Pentecostes.

A ação do Espírito Santo e a catolicidade da Igreja

O milagre das línguas em Pentecostes revela, desde o início, o caráter universal da Igreja. Pessoas de diferentes povos e culturas compreendem a mesma mensagem. Não porque as diferenças são apagadas, mas porque o Espírito cria unidade sem destruir a diversidade.

Essa catolicidade não é um projeto humano de expansão. É fruto direto da ação do Espírito Santo. A Igreja nasce universal porque o Evangelho é para todos, e porque o Espírito concede à Igreja essa abertura desde o primeiro anúncio. A fé cristã não pertence a um povo particular. Ela é destinada à humanidade inteira.

Essa universalidade também protege a Igreja de se reduzir a uma cultura religiosa local. A Igreja pode ter expressões diversas, ritos diversos, línguas diversas. Mas permanece una na mesma fé, nos mesmos sacramentos e na mesma comunhão.

O significado do termo “católica” desde as origens

A palavra “católica” significa “universal”. Desde muito cedo, ela foi usada para indicar a Igreja que guardava a fé apostólica integral e que era, ao mesmo tempo, aberta a todos os povos. Chamar a Igreja de católica era dizer duas coisas ao mesmo tempo: que ela é para todos e que ela conserva a fé inteira.

O termo não nasce como título ornamental. Ele nasce como descrição. Ele expressa uma realidade: a Igreja é universal por missão e por conteúdo. Universal por missão porque é enviada a todos. Universal por conteúdo porque transmite a totalidade da fé recebida.

Ao longo dos séculos, o uso patrístico do termo reforçou essa compreensão. A catolicidade tornou-se uma marca, não apenas geográfica, mas doutrinal e vital: onde a Igreja permanece na fé dos Apóstolos, ali se reconhece a Igreja Católica.

O que o Magistério ensina sobre como a Igreja Católica surgiu

O Magistério da Igreja ensina de modo constante que a Igreja foi fundada por Cristo, manifestada em Pentecostes e sustentada pela ação contínua do Espírito Santo. A constituição Lumen Gentium apresenta a Igreja como realidade ao mesmo tempo visível e espiritual, humana e divina, porque ela é uma comunhão que aparece na história sem se reduzir à história.

O Catecismo retoma essa mesma linha ao falar de origem, fundação e manifestação. A Igreja não é um remendo religioso que surgiu depois. Ela está inserida no desígnio de Deus e entra no tempo por vontade do próprio Cristo.

Esse ensinamento tem consequência prática. Se a Igreja é obra de Cristo, então a fé não depende do humor de épocas, nem do carisma isolado de líderes, nem da capacidade humana de manter uma instituição em pé. A Igreja permanece porque Deus a sustenta. E permanece na história porque Cristo quis que ela tivesse forma histórica.

Que tal aprender o que cada parte da Oração do Creio significa?

A sucessão apostólica e a continuidade da Igreja Católica

Se a Igreja nasce de Cristo, ela não pode ficar restrita ao tempo de Cristo. Por isso, os Apóstolos não foram apenas fundadores de um momento inaugural. Eles receberam a missão de transmitir. Essa transmissão é o que chamamos de sucessão apostólica.

A sucessão apostólica garante que a Igreja, ao atravessar os séculos, permaneça a mesma Igreja fundada por Cristo. Ela não é apenas uma continuidade administrativa. Ela é continuidade na fé, nos sacramentos e na missão. Por ela, a Igreja atravessa os séculos sem perder sua identidade essencial.

Para quem aprende a fé, isso é muito concreto. Quando um bispo ensina a fé da Igreja, ele não está oferecendo uma opinião privada. Ele está exercendo uma missão recebida. A Igreja permanece una porque permanece apostólica.

Papa, cardeais, bispos, padres, diáconos… quem são todas essas figuras? Saiba como funciona a hierarquia da Igreja Católica.

A transmissão da autoridade na Igreja nascente

Já no Novo Testamento é possível perceber que os Apóstolos não pensavam sua missão como algo que terminaria com eles. Eles estabelecem responsáveis, impõem as mãos, organizam a vida das comunidades e garantem que a fé recebida seja guardada e transmitida.

A tradição cristã reconheceu nesse gesto a continuidade do ministério. Por isso a Igreja fala em bispos como sucessores dos Apóstolos. Não porque repitam suas histórias individuais, mas porque recebem sua missão e a exercem para o povo de Deus no mesmo Corpo de Cristo.

É assim que a Igreja evita se tornar uma memória fragmentada. A autoridade transmitida mantém a fé una, protege a pregação e assegura a vida sacramental.

A origem divina da autoridade na Igreja

A autoridade na Igreja não nasce da comunidade como se fosse um mandato puramente humano. Ela tem origem divina. Ela segue uma ordem clara: de Deus para Cristo, de Cristo para os Apóstolos, e destes para seus sucessores. É por isso que a Igreja entende sua estrutura como parte do próprio Evangelho vivido no tempo.

A tradição antiga expressa isso com uma fórmula muito simples, atribuída a Tertuliano: “A Igreja vem dos apóstolos, os apóstolos do Cristo, e o Cristo, de Deus.” Essa frase não pretende esgotar o mistério da Igreja. Ela apenas fixa uma linha: a fé recebida tem origem em Deus e chega ao mundo por mediações instituídas pelo próprio Cristo.

O desenvolvimento histórico da Igreja não acontece como acréscimo artificial, mas como crescimento orgânico de uma vida que já contém, desde o início, seu princípio e sua identidade. Há mudança, há amadurecimento, há expansão, mas não ruptura. Como observa Karl Adam, “a Igreja se desenvolve de modo semelhante a um organismo vivo, no qual tudo o que aparece ao longo do tempo já estava, em germe, presente desde o começo” 2.

Como a Igreja Católica surgiu: analogia do carvalho

A origem e o desenvolvimento da Igreja podem ser compreendidos por meio de uma imagem didática. Um carvalho nasce de uma semente. A semente parece pequena, mas já contém a identidade da árvore. O crescimento acontece no tempo, mas a essência não muda.

Assim também a Igreja. A Encarnação pode ser vista como a semente, porque ali nasce o princípio vital da comunhão. A escolha dos Doze pode ser vista como raízes, porque dá forma e fundamento. Pentecostes pode ser visto como broto, porque a Igreja se manifesta publicamente e se torna missionária. A Igreja atual é a árvore viva, com ramos e frutos em todas as épocas. E a sucessão apostólica é como a seiva, que garante continuidade de vida, não apenas continuidade de nome.

Essa analogia não explica tudo, mas organiza o raciocínio. Ela mostra por que a Igreja pode crescer, atravessar crises e mudar em aspectos acidentais, sem deixar de ser a mesma Igreja fundada por Cristo.

Conclusão: a origem da Igreja Católica é clara e contínua

A Igreja Católica tem uma origem histórico-teológica clara. Ela é fundada por Cristo, preparada e edificada em sua vida e em sua missão, manifestada publicamente em Pentecostes e sustentada no tempo pela sucessão apostólica. Ela é visível porque vive na história. Ela é sobrenatural porque vive da graça. Ela é una porque nasce de uma única Cabeça e permanece na fé recebida.

Compreender como a Igreja surgiu é reconhecer nela a obra de Cristo no tempo. Ao viver a fé, participar dos sacramentos e permanecer em comunhão, o cristão não se liga a uma tradição construída apenas por mãos humanas, mas é inserido numa história que nasce em Cristo, é confiada ao Espírito e permanece viva na Igreja.

  1. A Essência do Catolicismo, p. 9[]
  2. A Essência do Catolicismo, p. 8[]

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