Formação

Fé e razão em Santo Tomás

A fé e razão em Santo Tomás é um dos grandes legados do santo para a Igreja e para toda a humanidade. Confira mais neste artigo!

Fé e razão em Santo Tomás
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Fé e razão em Santo Tomás

A fé e razão em Santo Tomás é um dos grandes legados do santo para a Igreja e para toda a humanidade. Confira mais neste artigo!

Data da Publicação: 14/09/2023
Tempo de leitura:
Autor: St. Paul Center Verbum Libraries
Data da Publicação: 14/09/2023
Tempo de leitura:
Autor: St. Paul Center Verbum Libraries

Na Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino inclui cinco argumentos, ou as famosas cinco vias, respondendo à questão se podemos saber da existência de Deus. Por meio dos cinco argumentos, ou cinco provas, o Doutor Angélico usa a razão humana para concluir o que pela fé já nos foi revelado. É o expoente máximo da fé e razão em Santo Tomás.

O Santo provou a existência de Deus em sua teologia, baseando-se na filosofia aristotélica, usando tanto a fé quanto a razão para dar uma das explicações mais eruditas e compreensíveis das verdades reveladas.

O Papa Leão XIII disse, em sua encíclica Aeterni Patris, que “a razão, levada pelo Doutor Angélico até o píncaro humano, não pode elevar-se a maior altura. E a fé quase não pode esperar que a razão lhe preste mais explicações ou mais argumentos do que aqueles  que lhe forneceu o Doutor Angélico.”

E em um período em que muitos afirmavam que as verdades da fé não se harmonizam com as verdades da ciência, Santo Tomás de Aquino demonstrou o contrário. Ele demonstrou que a ciência revela a Verdade em harmonia com a revelação.

Portanto, as cinco vias de Santo Tomás de Aquino para a existência de Deus são uma das contribuições mais fantásticas e conhecidas. Graças à obra deste santo, todos nós recebemos a capacidade de elevar nossa razão na contemplação do nosso Criador.

Fé e Razão em Santo Tomás: Um grande legado

Desenvolvido por St. Paul Center Verbum Libraries e traduzido pela equipe MBC

Embora o Doutor Angélico desse primazia à revelação, reconheceu uma autonomia própria da razão humana e delimitou claramente as esferas da fé e da razão, mantendo a importância da filosofia e das ciências, mesmo para a teologia. Apesar de uma profunda influência do neoplatonismo, o seu pensamento filosófico, contido em comentários sobre Aristóteles e tratados independentes, é basicamente aristotélico, empírico e realista, ou o que G. K. Chesterton chamou de “senso comum organizado.”

Seguindo a máxima de Aristóteles de que o conhecimento pressupõe uma semelhança essencial entre o conhecedor e a coisa conhecida, e isso porque a natureza humana é tanto corpórea como intelectual, Santo Tomás defendeu que o conhecimento se inicia, necessariamente, pelos sentidos (nihil in intellectu quod non prius fuerit in sensu – Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos).

Esta convicção de que argumentos válidos devem começar com fatos do mundo natural foi o que deu às suas provas da existência de Deus a sua forma característica — um grande sinal da fé e razão em Santo Tomás. Ele enfatizou a noção de conhecimento “científico” baseado nos “primeiros princípios”, que são adquiridos ou pela experiência ou pela educação, e considerados lógicas aristotélicas básicas para uma compreensão de todas as outras disciplinas.

Grandes contribuições de Santo Tomás

Afresco no teto do Museu do Vaticano, com São Tomás de Aquino oferecendo suas obras à Igreja. Fé e razão em Santo Tomás.
Afresco no teto do Museu do Vaticano, com São Tomás de Aquino oferecendo suas obras à Igreja.

A antítese entre potência e ato é também uma constante no pensamento de Santo Tomás. Ele sustentava que a ideia de uma “matéria-prima” ou potência pura, existente sem forma, era contraditória, enquanto que Deus, por outro lado, era “ato puro” (actus purus), no qual toda perfeição era plenamente realizada. Na escala do ser foram criadas coisas, compostas de potência e ato. Sua distinção entre matéria e forma está intimamente relacionada. Enquanto todos os indivíduos de uma espécie têm a mesma forma, a matéria é própria de cada indivíduo. Sua distinção entre essência e existência também é fundamental.

A doutrina sagrada, ou teologia, distinguiu-se da filosofia. O Doutor Angélico declarou-a como sendo uma ciência, na medida em que é um corpo ordenado de conhecimento, ainda que dependa de seus primeiros princípios de um conhecimento superior que ela mesma não pode testar ou provar, ou seja, o conhecimento que Deus tem, no qual o homem tem alguma participação por meio da revelação divina. As verdades fundamentais reveladas por Deus são a Trindade das Pessoas na Divindade e a Encarnação do Verbo como Pessoa de natureza humana nascida da Bem-aventurada Virgem Maria.

No entanto, sobre fé e razão, Santo Tomás defendia que a revelação também era necessária para o conhecimento das verdades, tais como a existência de Deus, os atributos divinos do Criador e da providência, que, de fato, a razão humana não pode atingir sem ajuda, pois sem a revelação tais verdades “seriam conhecidas apenas por poucos, e levaria muito tempo para obter essas verdades, e com muitos erros.”1

Ele tratou a doutrina sagrada como uma única disciplina, numa época em que ela era frequentemente apresentada de forma fragmentada, o que obscurecia sua conexão com a prática de religião; a teologia do ensino de Santo Tomás abarca toda a vida da Igreja, incluindo o culto, a moral e a prática espiritual. Tudo isso é ilustrado em sua grande síntese teológica, a Summa Theologiae, cujas três partes tratam respectivamente de Deus e da Criação, da pessoa humana como um agente moral livre e de Cristo como o caminho do homem para Deus.

A percepção mais marcante de Santo Tomás, segundo Étienne Gilson, é que enquanto todas as criaturas são compostas de uma natureza e de uma existência emprestada, só Deus é um ser subsistente, o ser necessário, o ser necessário que não pode não ser. Vendo Deus como ser subsistente, Santo Tomás resolveu a dicotomia entre imanência e transcendência, estabelecendo a presença íntima de Deus no centro de cada criatura como a causa de seu ser.

Talvez a sua deliberação mais controversa tenha sido que a alma racional é a única forma do corpo humano, na qual Santo Tomás insistiu, apesar da dificuldade causada em explicar a continuidade do corpo morto de Cristo com o seu corpo vivente; uma alegação é que a pessoa humana tem que ser tratada como um todo composto, em vez de uma alma que utiliza um corpo. Ou seja, Santo Tomás identifica a imagem de Deus no ser humano em sua capacidade de conhecer e dirigir a sua própria atividade.

Sua teologia moral é profundamente teológica, tratando primeiro da felicidade como o fim da existência humana e depois com as faculdades e poderes da alma, que podem ser dirigidos pela virtude e guiados pela lei e pela graça, como um meio para este fim. Os primeiros princípios do conhecimento moral (Lei natural) são parte da natureza humana; a “lei” do Evangelho é a graça do Espírito Santo que transforma e eleva (mas não nega) a natureza humana.

Santo Tomás enfatizou o papel da humanidade de Cristo na Encarnação, insistindo em suas emoções humanas e no conhecimento adquirido. Muito mais importante ainda, ele mostrou que a humanidade de Cristo tinha uma relação causal com a obra da redenção. Como cabeça da humanidade redimida, Cristo continua a obra da redenção através dos sacramentos, que são uma extensão da sua humanidade, mediando sua plenitude de graça para seus membros.

Santo Tomás afirmou que todos os sete sacramentos foram instituídos por Cristo, que a Eucaristia era a mais elevada de todos eles (Sacramentum sacramentorum – Sacramento dos sacramentos), e que como a finalidade última do sacramento da Ordem era a Eucaristia, o sacerdócio era a mais alta das ordens, e o episcopado, portanto, não uma ordem separada.

Ele explorou de forma muito original a possibilidade de mergulhar no mais profundo da filosofia aristotélica sobre substância e acidentes para desenvolver uma compreensão sistemática da transubstanciação. A concomitância do Corpo e Sangue de Cristo em ambas espécies eucarísticas proporcionou uma justificação teológica para a comunhão em uma só espécie.

A reação póstuma à sua obra

Vários dos seus ensinamentos foram atacados antes e depois da sua morte, e uma condenação formal por Étienne Tempier, Arcebispo de Paris, só foi evitada pela intervenção da Cúria Romana, em 1277. As proposições condenadas pelo dominicano R. Kilwardby, Arcebispo de Canterbury, em 1277, e pelo seu sucessor, o franciscano J. Pecham, em 1284, pareciam envolver o seu ensino, enquanto teólogos hostis a Santo Tomás tentavam comprometê-lo com  a condenação de Tempier, em 1277, de uma longa lista de proposições aparentemente ensinadas na faculdade de Artes de Paris. 

A partir de 1278, os capítulos gerais da Ordem Dominicana insistiram que os seus escritos fossem respeitados e defendidos dentro da Ordem. Em 1323, foi canonizado por São João XXII, e a condenação parisiense “na medida em que lhe tocou ou pareceu tocá-lo” foi levantada em 1325. Seu corpo foi trasladado para a igreja dominicana em Toulouse, em 28 de Janeiro de 1369. 

Além do dominicano John Capreolus do século XV, que usou o pensamento de Santo Tomás na sua crítica ao Nominalismo, só no século XVI é que o Tomismo foi reavivado por Tomás Caetano, Silvestre de Ferrara, João de São Tomás, e outros. Na época do Concílio de Trento, a Igreja Católica Romana tinha aceitado a substância dos seus ensinamentos como uma autêntica expressão de doutrina.

Em 1567, São Pio V deu-lhe  o título de  “Doutor da Igreja” e encomendou a primeira edição impressa e completa das suas obras. Após outro período de eclipse, uma nova era para o Tomismo foi inaugurada pelo Pontífice Leão XIII com a encíclica “Aeterni Patris” (Do Pai eterno – 1879), na qual instou a todos os estudantes de teologia o estudo de Santo Tomás de Aquino como modelo de uma filosofia clara e sistemática, capaz de defender a tradição cristã dos ataques contemporâneos.

Em 1880, Santo Tomás foi declarado patrono de todas as universidades católicas e, em 1923, a sua autoridade como professor foi reiterada por Pio XI no Studium Ducem (Studiorum Ducem). O papa Paulo VI, em sua encíclica Lumen Ecclesiae, propôs Santo Tomás como modelo para os teólogos não só pela sua posição doutrinal, mas também pela sua abertura ao mundo da sua época. O período desde o Concílio Vaticano II testemunhou uma reavaliação crítica da neo-escolástica e abriu novas áreas de investigação, principalmente no que se refere ao valor do pensamento de Santo Tomás sobre o desenvolvimento moral.

Assim, a fé e razão em Santo Tomás, como toda a sua obra, é para nós um grande luzeiro.

Saiba mais sobre a vida do Doutor Angélico

Referências

  1. Summa Theol. 1. 1. 1. 1[]
Redação MBC

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Na Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino inclui cinco argumentos, ou as famosas cinco vias, respondendo à questão se podemos saber da existência de Deus. Por meio dos cinco argumentos, ou cinco provas, o Doutor Angélico usa a razão humana para concluir o que pela fé já nos foi revelado. É o expoente máximo da fé e razão em Santo Tomás.

O Santo provou a existência de Deus em sua teologia, baseando-se na filosofia aristotélica, usando tanto a fé quanto a razão para dar uma das explicações mais eruditas e compreensíveis das verdades reveladas.

O Papa Leão XIII disse, em sua encíclica Aeterni Patris, que “a razão, levada pelo Doutor Angélico até o píncaro humano, não pode elevar-se a maior altura. E a fé quase não pode esperar que a razão lhe preste mais explicações ou mais argumentos do que aqueles  que lhe forneceu o Doutor Angélico.”

E em um período em que muitos afirmavam que as verdades da fé não se harmonizam com as verdades da ciência, Santo Tomás de Aquino demonstrou o contrário. Ele demonstrou que a ciência revela a Verdade em harmonia com a revelação.

Portanto, as cinco vias de Santo Tomás de Aquino para a existência de Deus são uma das contribuições mais fantásticas e conhecidas. Graças à obra deste santo, todos nós recebemos a capacidade de elevar nossa razão na contemplação do nosso Criador.

Fé e Razão em Santo Tomás: Um grande legado

Desenvolvido por St. Paul Center Verbum Libraries e traduzido pela equipe MBC

Embora o Doutor Angélico desse primazia à revelação, reconheceu uma autonomia própria da razão humana e delimitou claramente as esferas da fé e da razão, mantendo a importância da filosofia e das ciências, mesmo para a teologia. Apesar de uma profunda influência do neoplatonismo, o seu pensamento filosófico, contido em comentários sobre Aristóteles e tratados independentes, é basicamente aristotélico, empírico e realista, ou o que G. K. Chesterton chamou de “senso comum organizado.”

Seguindo a máxima de Aristóteles de que o conhecimento pressupõe uma semelhança essencial entre o conhecedor e a coisa conhecida, e isso porque a natureza humana é tanto corpórea como intelectual, Santo Tomás defendeu que o conhecimento se inicia, necessariamente, pelos sentidos (nihil in intellectu quod non prius fuerit in sensu – Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos).

Esta convicção de que argumentos válidos devem começar com fatos do mundo natural foi o que deu às suas provas da existência de Deus a sua forma característica — um grande sinal da fé e razão em Santo Tomás. Ele enfatizou a noção de conhecimento “científico” baseado nos “primeiros princípios”, que são adquiridos ou pela experiência ou pela educação, e considerados lógicas aristotélicas básicas para uma compreensão de todas as outras disciplinas.

Grandes contribuições de Santo Tomás

Afresco no teto do Museu do Vaticano, com São Tomás de Aquino oferecendo suas obras à Igreja. Fé e razão em Santo Tomás.
Afresco no teto do Museu do Vaticano, com São Tomás de Aquino oferecendo suas obras à Igreja.

A antítese entre potência e ato é também uma constante no pensamento de Santo Tomás. Ele sustentava que a ideia de uma “matéria-prima” ou potência pura, existente sem forma, era contraditória, enquanto que Deus, por outro lado, era “ato puro” (actus purus), no qual toda perfeição era plenamente realizada. Na escala do ser foram criadas coisas, compostas de potência e ato. Sua distinção entre matéria e forma está intimamente relacionada. Enquanto todos os indivíduos de uma espécie têm a mesma forma, a matéria é própria de cada indivíduo. Sua distinção entre essência e existência também é fundamental.

A doutrina sagrada, ou teologia, distinguiu-se da filosofia. O Doutor Angélico declarou-a como sendo uma ciência, na medida em que é um corpo ordenado de conhecimento, ainda que dependa de seus primeiros princípios de um conhecimento superior que ela mesma não pode testar ou provar, ou seja, o conhecimento que Deus tem, no qual o homem tem alguma participação por meio da revelação divina. As verdades fundamentais reveladas por Deus são a Trindade das Pessoas na Divindade e a Encarnação do Verbo como Pessoa de natureza humana nascida da Bem-aventurada Virgem Maria.

No entanto, sobre fé e razão, Santo Tomás defendia que a revelação também era necessária para o conhecimento das verdades, tais como a existência de Deus, os atributos divinos do Criador e da providência, que, de fato, a razão humana não pode atingir sem ajuda, pois sem a revelação tais verdades “seriam conhecidas apenas por poucos, e levaria muito tempo para obter essas verdades, e com muitos erros.”1

Ele tratou a doutrina sagrada como uma única disciplina, numa época em que ela era frequentemente apresentada de forma fragmentada, o que obscurecia sua conexão com a prática de religião; a teologia do ensino de Santo Tomás abarca toda a vida da Igreja, incluindo o culto, a moral e a prática espiritual. Tudo isso é ilustrado em sua grande síntese teológica, a Summa Theologiae, cujas três partes tratam respectivamente de Deus e da Criação, da pessoa humana como um agente moral livre e de Cristo como o caminho do homem para Deus.

A percepção mais marcante de Santo Tomás, segundo Étienne Gilson, é que enquanto todas as criaturas são compostas de uma natureza e de uma existência emprestada, só Deus é um ser subsistente, o ser necessário, o ser necessário que não pode não ser. Vendo Deus como ser subsistente, Santo Tomás resolveu a dicotomia entre imanência e transcendência, estabelecendo a presença íntima de Deus no centro de cada criatura como a causa de seu ser.

Talvez a sua deliberação mais controversa tenha sido que a alma racional é a única forma do corpo humano, na qual Santo Tomás insistiu, apesar da dificuldade causada em explicar a continuidade do corpo morto de Cristo com o seu corpo vivente; uma alegação é que a pessoa humana tem que ser tratada como um todo composto, em vez de uma alma que utiliza um corpo. Ou seja, Santo Tomás identifica a imagem de Deus no ser humano em sua capacidade de conhecer e dirigir a sua própria atividade.

Sua teologia moral é profundamente teológica, tratando primeiro da felicidade como o fim da existência humana e depois com as faculdades e poderes da alma, que podem ser dirigidos pela virtude e guiados pela lei e pela graça, como um meio para este fim. Os primeiros princípios do conhecimento moral (Lei natural) são parte da natureza humana; a “lei” do Evangelho é a graça do Espírito Santo que transforma e eleva (mas não nega) a natureza humana.

Santo Tomás enfatizou o papel da humanidade de Cristo na Encarnação, insistindo em suas emoções humanas e no conhecimento adquirido. Muito mais importante ainda, ele mostrou que a humanidade de Cristo tinha uma relação causal com a obra da redenção. Como cabeça da humanidade redimida, Cristo continua a obra da redenção através dos sacramentos, que são uma extensão da sua humanidade, mediando sua plenitude de graça para seus membros.

Santo Tomás afirmou que todos os sete sacramentos foram instituídos por Cristo, que a Eucaristia era a mais elevada de todos eles (Sacramentum sacramentorum – Sacramento dos sacramentos), e que como a finalidade última do sacramento da Ordem era a Eucaristia, o sacerdócio era a mais alta das ordens, e o episcopado, portanto, não uma ordem separada.

Ele explorou de forma muito original a possibilidade de mergulhar no mais profundo da filosofia aristotélica sobre substância e acidentes para desenvolver uma compreensão sistemática da transubstanciação. A concomitância do Corpo e Sangue de Cristo em ambas espécies eucarísticas proporcionou uma justificação teológica para a comunhão em uma só espécie.

A reação póstuma à sua obra

Vários dos seus ensinamentos foram atacados antes e depois da sua morte, e uma condenação formal por Étienne Tempier, Arcebispo de Paris, só foi evitada pela intervenção da Cúria Romana, em 1277. As proposições condenadas pelo dominicano R. Kilwardby, Arcebispo de Canterbury, em 1277, e pelo seu sucessor, o franciscano J. Pecham, em 1284, pareciam envolver o seu ensino, enquanto teólogos hostis a Santo Tomás tentavam comprometê-lo com  a condenação de Tempier, em 1277, de uma longa lista de proposições aparentemente ensinadas na faculdade de Artes de Paris. 

A partir de 1278, os capítulos gerais da Ordem Dominicana insistiram que os seus escritos fossem respeitados e defendidos dentro da Ordem. Em 1323, foi canonizado por São João XXII, e a condenação parisiense “na medida em que lhe tocou ou pareceu tocá-lo” foi levantada em 1325. Seu corpo foi trasladado para a igreja dominicana em Toulouse, em 28 de Janeiro de 1369. 

Além do dominicano John Capreolus do século XV, que usou o pensamento de Santo Tomás na sua crítica ao Nominalismo, só no século XVI é que o Tomismo foi reavivado por Tomás Caetano, Silvestre de Ferrara, João de São Tomás, e outros. Na época do Concílio de Trento, a Igreja Católica Romana tinha aceitado a substância dos seus ensinamentos como uma autêntica expressão de doutrina.

Em 1567, São Pio V deu-lhe  o título de  “Doutor da Igreja” e encomendou a primeira edição impressa e completa das suas obras. Após outro período de eclipse, uma nova era para o Tomismo foi inaugurada pelo Pontífice Leão XIII com a encíclica “Aeterni Patris” (Do Pai eterno – 1879), na qual instou a todos os estudantes de teologia o estudo de Santo Tomás de Aquino como modelo de uma filosofia clara e sistemática, capaz de defender a tradição cristã dos ataques contemporâneos.

Em 1880, Santo Tomás foi declarado patrono de todas as universidades católicas e, em 1923, a sua autoridade como professor foi reiterada por Pio XI no Studium Ducem (Studiorum Ducem). O papa Paulo VI, em sua encíclica Lumen Ecclesiae, propôs Santo Tomás como modelo para os teólogos não só pela sua posição doutrinal, mas também pela sua abertura ao mundo da sua época. O período desde o Concílio Vaticano II testemunhou uma reavaliação crítica da neo-escolástica e abriu novas áreas de investigação, principalmente no que se refere ao valor do pensamento de Santo Tomás sobre o desenvolvimento moral.

Assim, a fé e razão em Santo Tomás, como toda a sua obra, é para nós um grande luzeiro.

Saiba mais sobre a vida do Doutor Angélico

Referências

  1. Summa Theol. 1. 1. 1. 1[]

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