Formação

Homilia da Canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus

Confira a homilia completa do papa Pio XI pela canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus, em 17 de Maio de 1925.

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Homilia da Canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus

Confira a homilia completa do papa Pio XI pela canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus, em 17 de Maio de 1925.

Data da Publicação: 27/09/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 27/09/2023
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

A canonização de Santa Teresinha foi um grande anseio popular. Antes mesmo de declarada beata, já era venerada localmente. A comoção popular foi tanta que a santa foi beatificada em 29 de abril de 1923 e canonizada em 17 de maio de 1925 por Pio XI, apenas 27 anos depois de sua morte.

Confira a homilia de Pio XI pela Canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus, em uma tradução feita por João Medeiros e originalmente disponível no site do Centro Ávlia.

Homilia da Canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus por Pio XI

roferido em Roma a 17 de maio de 1925

“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai de misericórdias e Deus de toda a consolação” (II Coríntios I, 3), que no meio dos inúmeros cuidados do Nosso ministério apostólico, concedeu-Nos a Nós a alegria de inscrever como nossa primeira santa no calendário dos santos, a Virgem que também foi a primeira a ser beatificada por Nós, ao início do Nosso Pontificado. Esta Donzela tornou-se criança na ordem da graça, mas seu espírito de infância estava unido a tal grandeza de alma que, de acordo com as promessas de Cristo, ela merecia ser glorificada diante da Igreja na terra, bem como na Jerusalém Celeste.

Damos graças a Deus também por permitir que Nós, que ocupamos o lugar de Seu Filho Unigênito, com insistência repitamos hoje, desta Cátedra da Verdade e durante esta solene cerimônia, o salutar ensinamento do Divino Mestre. Quando os discípulos perguntaram: “Quem será o maior no Reino dos Céus?”, Ele chamou um menino e, colocando-o no meio deles, pronunciou estas palavras memoráveis: “Em verdade vos digo: se não vos converterdes e vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mateus XVIII, 2).

Teresa, a nova santa, havia aprendido com profundidade este ensinamento do Evangelho, e o havia traduzido em sua vida diária. Além disso, ela ensinou o caminho da infância espiritual pela palavra e pelo exemplo às noviças de seu convento. Ela o expôs claramente em todos os seus escritos, que foram espalhados até os confins do mundo, e que seguramente ninguém leu sem ficar encantado, ou sem lê-los repetidamente com grande prazer e muito proveito. Para esta simples criança, esta flor que desabrochou no jardim murado do Carmelo, não se contentando em acrescentar ao seu nome o do Menino Jesus, exprimiu em si a sua imagem viva, de modo que se pode dizer que quem venera Teresa, honra e louva o Modelo Divino que ela reproduziu em si mesma.

Registro da canonização de Santa Teresinha na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Registro da canonização de Santa Teresinha na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Por esta razão, Nós alimentamos hoje a esperança de ver brotar na alma dos fiéis de Cristo um desejo ardente de levar uma vida de infância espiritual. Esse espírito consiste em pensar e agir sob a influência da virtude igual  uma criança pensa e age na ordem natural. Os pequeninos não são cegados pelo pecado, nem perturbadas pelas paixões, e desfrutam em paz e seguras da posse de sua inocência. Sem culpa de malícia ou fingimento, elas falam e agem como pensam, e mostram-se como realmente são. Assim, Teresa parecia mais angelical do que humana em sua prática da verdade e da justiça, dotada como era da simplicidade de uma criança. A Donzela de Lisieux tinha sempre na memória o convite e as promessas do seu Esposo: “Quem é pequenino, venha a Mim” (Provérbios IX, 4). “Seus filhinhos serão carregados ao colo, e acariciados no regaço. Como uma mãe acaricia o seu filhinho, assim eu vos consolarei” (Isaías LXVI, 12-13).

Assim, consciente de sua própria fragilidade, Teresa abandonou-se confiantemente à Providência Divina e, a valer-se apenas dela, trabalhou para adquirir – à custa de todos os sacrifícios e de uma abdicação total e alegre de sua própria vontade – a perfeita santidade de vida. Destarte, não é de se admirar que em Teresa se cumprisse a palavra de Cristo: “Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus” (Mateus XVIII, 4). Pelas instruções do Catecismo ela bebeu a pura doutrina da Fé; do livro de ouro da Imitação de Cristo ela aprendeu a ascese, e nos escritos de seu Pai São João da Cruz, encontrou sua teologia mística. Acima de tudo, Teresa alimentou seu coração e sua alma com a inspiração da Palavra de Deus, sobre a qual meditava assiduamente, e o Espírito da Verdade ensinou-lhe o que costuma ocultar dos sábios e prudentes e revelar aos pequeninos. Verdadeiramente, Deus a enriqueceu com excepcional sabedoria – segundo o testemunho de Nosso Predecessor Pio X, de venerável memória –, de modo que, com tanto conhecimento das coisas celestiais, a pequena Teresa foi para os outros um luzeiro indicador de um caminho seguro de salvação.

E desta participação superabundante na luz e na graça divina, acendeu-se em Teresa uma chama tão ardente de caridade que quase a sobressaltava o corpo até que, no final, esta mesma chama ardorosa de caridade a consumiu. Tanto que, pouco antes de sua morte, Teresinha pôde confessar com franqueza “que nunca havia dado a Deus nada além de amor”.

Evidentemente, foi debaixo da influência daquela ardente caridade que a Donzela de Lisieux tomou a resolução de fazer todas as coisas por amor de Jesus, com o único objetivo de agradá-Lo, de consolar seu Sacratíssimo Coração e de promover a salvação eterna das almas para amar a Cristo perpetuamente. Nós temos a prova de que, ao entrar no Paraíso, ela começou imediatamente, também ali, esta obra entre as almas, quando vemos a mística chuva de rosas que Deus lhe permitiu realizar, e que ainda permite que caia sobre a terra, como ela ingenuamente havia predito.

Portanto, é Nosso sincero desejo, Veneráveis Irmãos e diletos Filhos, que todos os cristãos se tornem dignos de participar desta abundante profusão de graças resultantes da intercessão de Teresinha; e desejamos ainda muito mais ardentemente que todos os cristãos a estudem com diligência para imitá-la, tornando-se eles próprios em criancinhas, pois se não o forem, segundo as palavras do Mestre, serão excluídos do Reino dos Céus.

Se todos seguissem este caminho da infância espiritual, quem não vê o quão facilmente seria realizada a restauração da sociedade humana que Nos propusemos a realizar no início de Nosso Pontificado, e mais especialmente na promulgação deste Ano Jubilar1.

Nós, portanto, adotamos como Nossa aquela oração com a qual a nova Santa Teresa do Menino Jesus encerrou sua inestimável e venerável autobiografia: “Ó Jesus, nós Vos suplicamos que lanceis o Vosso olhar sobre o grande número de almas pequeninas, e que escolhais neste mundo uma legião de pequenas vítimas dignas do Teu amor”. Amém.

Reze a Novena das Rosas de Santa Teresinha.

Referências

  1. O ano de 1925 foi declarado um Ano de Jubileu por Sua Santidade o Papa Pio XI[]
Redação MBC

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A canonização de Santa Teresinha foi um grande anseio popular. Antes mesmo de declarada beata, já era venerada localmente. A comoção popular foi tanta que a santa foi beatificada em 29 de abril de 1923 e canonizada em 17 de maio de 1925 por Pio XI, apenas 27 anos depois de sua morte.

Confira a homilia de Pio XI pela Canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus, em uma tradução feita por João Medeiros e originalmente disponível no site do Centro Ávlia.

Homilia da Canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus por Pio XI

roferido em Roma a 17 de maio de 1925

“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai de misericórdias e Deus de toda a consolação” (II Coríntios I, 3), que no meio dos inúmeros cuidados do Nosso ministério apostólico, concedeu-Nos a Nós a alegria de inscrever como nossa primeira santa no calendário dos santos, a Virgem que também foi a primeira a ser beatificada por Nós, ao início do Nosso Pontificado. Esta Donzela tornou-se criança na ordem da graça, mas seu espírito de infância estava unido a tal grandeza de alma que, de acordo com as promessas de Cristo, ela merecia ser glorificada diante da Igreja na terra, bem como na Jerusalém Celeste.

Damos graças a Deus também por permitir que Nós, que ocupamos o lugar de Seu Filho Unigênito, com insistência repitamos hoje, desta Cátedra da Verdade e durante esta solene cerimônia, o salutar ensinamento do Divino Mestre. Quando os discípulos perguntaram: “Quem será o maior no Reino dos Céus?”, Ele chamou um menino e, colocando-o no meio deles, pronunciou estas palavras memoráveis: “Em verdade vos digo: se não vos converterdes e vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mateus XVIII, 2).

Teresa, a nova santa, havia aprendido com profundidade este ensinamento do Evangelho, e o havia traduzido em sua vida diária. Além disso, ela ensinou o caminho da infância espiritual pela palavra e pelo exemplo às noviças de seu convento. Ela o expôs claramente em todos os seus escritos, que foram espalhados até os confins do mundo, e que seguramente ninguém leu sem ficar encantado, ou sem lê-los repetidamente com grande prazer e muito proveito. Para esta simples criança, esta flor que desabrochou no jardim murado do Carmelo, não se contentando em acrescentar ao seu nome o do Menino Jesus, exprimiu em si a sua imagem viva, de modo que se pode dizer que quem venera Teresa, honra e louva o Modelo Divino que ela reproduziu em si mesma.

Registro da canonização de Santa Teresinha na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Registro da canonização de Santa Teresinha na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Por esta razão, Nós alimentamos hoje a esperança de ver brotar na alma dos fiéis de Cristo um desejo ardente de levar uma vida de infância espiritual. Esse espírito consiste em pensar e agir sob a influência da virtude igual  uma criança pensa e age na ordem natural. Os pequeninos não são cegados pelo pecado, nem perturbadas pelas paixões, e desfrutam em paz e seguras da posse de sua inocência. Sem culpa de malícia ou fingimento, elas falam e agem como pensam, e mostram-se como realmente são. Assim, Teresa parecia mais angelical do que humana em sua prática da verdade e da justiça, dotada como era da simplicidade de uma criança. A Donzela de Lisieux tinha sempre na memória o convite e as promessas do seu Esposo: “Quem é pequenino, venha a Mim” (Provérbios IX, 4). “Seus filhinhos serão carregados ao colo, e acariciados no regaço. Como uma mãe acaricia o seu filhinho, assim eu vos consolarei” (Isaías LXVI, 12-13).

Assim, consciente de sua própria fragilidade, Teresa abandonou-se confiantemente à Providência Divina e, a valer-se apenas dela, trabalhou para adquirir – à custa de todos os sacrifícios e de uma abdicação total e alegre de sua própria vontade – a perfeita santidade de vida. Destarte, não é de se admirar que em Teresa se cumprisse a palavra de Cristo: “Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus” (Mateus XVIII, 4). Pelas instruções do Catecismo ela bebeu a pura doutrina da Fé; do livro de ouro da Imitação de Cristo ela aprendeu a ascese, e nos escritos de seu Pai São João da Cruz, encontrou sua teologia mística. Acima de tudo, Teresa alimentou seu coração e sua alma com a inspiração da Palavra de Deus, sobre a qual meditava assiduamente, e o Espírito da Verdade ensinou-lhe o que costuma ocultar dos sábios e prudentes e revelar aos pequeninos. Verdadeiramente, Deus a enriqueceu com excepcional sabedoria – segundo o testemunho de Nosso Predecessor Pio X, de venerável memória –, de modo que, com tanto conhecimento das coisas celestiais, a pequena Teresa foi para os outros um luzeiro indicador de um caminho seguro de salvação.

E desta participação superabundante na luz e na graça divina, acendeu-se em Teresa uma chama tão ardente de caridade que quase a sobressaltava o corpo até que, no final, esta mesma chama ardorosa de caridade a consumiu. Tanto que, pouco antes de sua morte, Teresinha pôde confessar com franqueza “que nunca havia dado a Deus nada além de amor”.

Evidentemente, foi debaixo da influência daquela ardente caridade que a Donzela de Lisieux tomou a resolução de fazer todas as coisas por amor de Jesus, com o único objetivo de agradá-Lo, de consolar seu Sacratíssimo Coração e de promover a salvação eterna das almas para amar a Cristo perpetuamente. Nós temos a prova de que, ao entrar no Paraíso, ela começou imediatamente, também ali, esta obra entre as almas, quando vemos a mística chuva de rosas que Deus lhe permitiu realizar, e que ainda permite que caia sobre a terra, como ela ingenuamente havia predito.

Portanto, é Nosso sincero desejo, Veneráveis Irmãos e diletos Filhos, que todos os cristãos se tornem dignos de participar desta abundante profusão de graças resultantes da intercessão de Teresinha; e desejamos ainda muito mais ardentemente que todos os cristãos a estudem com diligência para imitá-la, tornando-se eles próprios em criancinhas, pois se não o forem, segundo as palavras do Mestre, serão excluídos do Reino dos Céus.

Se todos seguissem este caminho da infância espiritual, quem não vê o quão facilmente seria realizada a restauração da sociedade humana que Nos propusemos a realizar no início de Nosso Pontificado, e mais especialmente na promulgação deste Ano Jubilar1.

Nós, portanto, adotamos como Nossa aquela oração com a qual a nova Santa Teresa do Menino Jesus encerrou sua inestimável e venerável autobiografia: “Ó Jesus, nós Vos suplicamos que lanceis o Vosso olhar sobre o grande número de almas pequeninas, e que escolhais neste mundo uma legião de pequenas vítimas dignas do Teu amor”. Amém.

Reze a Novena das Rosas de Santa Teresinha.

Referências

  1. O ano de 1925 foi declarado um Ano de Jubileu por Sua Santidade o Papa Pio XI[]

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