É comum observar em pinturas de santos barrocos e renascentistas a presença dela. Mas você sabe qual é o significado da caveira? Confira!
É comum observar em pinturas de santos barrocos e renascentistas a presença dela. Mas você sabe qual é o significado da caveira? Confira!
Você já viu as caveiras representadas nas obras de arte? As pinturas, se forem sobretudo de períodos mais antigos como o Medievo, a Renascença ou o Barroco, têm as caveiras (ou crânios) como um elemento frequente. E no Barroco as vemos de uma forma mais acentuada, porque sua estrutura estética, seu estilo, provém de um drama profundo – e até exagerado. Mas o que a pintura de uma caveira nos quer dizer nas representações artísticas? Na arte, essas caveiras (ou crânios) são chamadas de vanitates [vaidades, em latim]. Este artigo pretende mostrar o significado da caveira para os católicos e na arte em geral.
Viemos do pó, e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19). Esta é uma certeza de todos os que creem em Cristo: nossa passagem pela Terra antecede um encontro com Cristo na eternidade e na glória de Deus. Nossa vida terrena é passageira. Não adianta abraçarmos as alegrias deste mundo: tudo é vão, se pensarmos na eternidade.
A grande arte ocidental, cujo principal patrocinador foi historicamente a Igreja Católica, absorve esse pensamento e reproduz em suas obras este aviso: “Lembre-se da morte” – memento mori. E como apresentar isso para uma sociedade em franca expansão econômica, tecnológica e marítima? Como apresentar-lhe a morte e ao mesmo tempo um chamado, um convite à conversão?
A arte resolve essa questão ao adotar o símbolo do crânio humano (uma caveira), mesmo que discreto, num canto pouco iluminado do quadro, mas ali presente, fazendo com que o espectador, ante a sua presença na pintura, atente também para a certeza da morte. O mesmo olhar atento para o quadro deve ser dirigido ao cotidiano do espectador. A morte está presente, de algum modo, no meu dia a dia. O que faço para viver e garantir minha eternidade? Minhas ações condizem com a busca da vida eterna? — esse é o principal significado da caveira na arte para os católicos.
Muitos santos foram retratados na arte juntos a uma caveira. O santo é representado realizando alguma ação importante. E o crânio está ali a seu lado, o observando e o acompanhado; mas não o constrange, não o assusta, não o inibe; apenas está presente no quadro, pois compõe o cenário: apenas lembra o personagem central da obra de que é preciso seguir, dar bons frutos e deixar um legado, sem jamais esquecer-se da morte.
A caveira nas obras de arte é um aviso aos vaidosos, aos apegados às glórias deste mundo, onde tudo é passageiro. Observe este exemplo barroco:
A pintura é do ano de 1605, óleo sobre tela, e retrata São Jerônimo escrevendo um de seus livros. O autor do quadro é o mestre do Barroco, Caravaggio. Por que temos a caveira aqui? Quem foi São Jerônimo? Por que ele está representado assim? São Jerônimo nasceu no século IV depois de Cristo. Sua família era muito rica e culta , e o educou desde a primeira infância para as letras. À medida que foi crescendo, aprendeu diferentes línguas. Rico e culto, tudo levaria a crer que Jerônimo optaria pelos holofotes de seu tempo. Mas não; ele larga tudo e segue a Cristo, e dedica a vida a empreender uma novíssima tradução da Bíblia (a Vulgata) que fosse mais fiel ao texto sagrado e levasse a Mensagem de Cristo a um número maior de pessoas. Espreitado pela imagem da morte (a caveira), São Jerônimo despreza as vaidades deste mundo e decide viver pelo Evangelho, servindo a Cristo com sua vocação de escritor e tradutor.
Existem muitas obras de arte que se revelam praticamente como sermões. Mesmo que seus títulos não sejam declaradamente católicos, há, nessas obras, muito mais chamado à conversão do que podemos imaginar. Observe o quadro ao lado:
Essa pintura se chama As vaidades da vida humana. Foi feita no ano de 1645 por Harmen Steenwyck. Tem 39 cm x 41 cm, e fica na Galeria Nacional de Londres. A obra é uma natureza morta, mas é diferente das cestas de frutas que vemos por aí. Aqui, a natureza morta é a nossa. O quadro é escuro, mas por ele passa um feixe de luz que ilumina justamente a caveira, o crânio humano retratado na obra. Essa luz representa a condição do eterno, que paira sobre a morte, há esperança! Sobre a mesa também está uma concha vazia. As conchas são lindas, fascinantes naquele tempo eram objeto de colecionador. Mas como podem ser assim? São na verdade vazias, e nossa existência terrena também é. Na mesa há também uma espada japonesa, que representa uma das armas mais hábeis do seu tempo, a qual mesmo assim não é capaz de derrotar a morte. Os livros representam a vaidade do conhecimento: mesmo que a razão seja o que distingue o homem dos outros animais, se não há equilíbrio aqui, a busca pelo conhecimento também se torna uma vaidade, que, no fim de contas, irá embora com a chegada da morte. Há alguns instrumentos musicais na cena da pintura: uma flauta ao lado do crânio simboliza o falo, os prazeres sensuais. A charamela, do lado direito, é um símbolo do romance, do conquistador. Os instrumentos mais alongados representam a figura masculina, e os mais arredondados, como o alaúde acima do crânio, o corpo feminino. Mas nenhum jogo de sedução e prazer sexual supera a morte, que chega para todos nós e mais uma vez temos o significado da caveira em evidência.
Há ainda na pintura uma lâmpada se apagando: se prestarmos bem atenção, veremos apenas um risco de fumaça ali. A lâmpada representa a fragilidade da vida que se esvai. Também há um relógio sobre a mesa, um objeto valioso, que marca o transcurso e a fatuidade das coisas, assim como o nosso tempo de vida na Terra. “Para todas as coisas há um tempo” (Ecl 3,1).
É interessante pensar como a perspectiva da fé católica sobre a passagem do tempo e a vacuidade da vida é mais realista do que a perspectiva pagã. Observe esta obra:
Essa pintura se chama Uma dança para a música do tempo, de Nícolas Poussin, concluída em 1638. As pessoas que dançam representam o trabalho, a riqueza, o prazer e a pobreza. O tempo é o velho pai tocando a música. Perceba um detalhe: As areias do tempo na ampulheta na mão da criança é que marcam a passagem do tempo.
Aqui há mais areia na parte de cima do que na de baixo! A dança ainda há de perdurar por um bom tempo… Essa contagem é retratada com rara beleza, mas falta–lhe a perspectiva da eternidade. É Cristo que preenche esse vazio e coloca sentido em nossa vida, principalmente em nossas ações.
No quadro a seguir, vemos retratada Santa Catarina de Siena, escrevendo uma de suas cartas que tantas conversões inspirou. E o que vemos perto da santa?
Quanta beleza há em poder olhar para a morte e chamá-la de irmã! São Francisco interage com a morte nesta representação abaixo. Não apenas a morte o fita. Aqui, ele a observa e a acolhe, como uma visita que chega esperada e querida:
Memento mori: somos mortais. Se hoje estamos felizes, um dia isso cessará; se estamos tristes, também. Ricos ou pobres, todos terão sua passagem. Olhar para a passagem da vida representada nas obras de arte é um convite para realizarmos ações que perdurem, que deixem bons frutos, e que nos caracterizem como pessoas decididas a sempre olhar para Cristo. Ao encerrar esta leitura, peço ao leitor que faça, por gentileza, uma experiência que irá ajudá-lo a assimilar melhor esse tema: vá até um espelho e observe o formato do seu próprio rosto. Lembre-se das imagens das vanitates aqui reproduzidas, e tenha em mente que o crânio representado nas obras é tudo o que um dia sobrará de nós neste mundo. E que só Cristo jamais passará.
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Você já viu as caveiras representadas nas obras de arte? As pinturas, se forem sobretudo de períodos mais antigos como o Medievo, a Renascença ou o Barroco, têm as caveiras (ou crânios) como um elemento frequente. E no Barroco as vemos de uma forma mais acentuada, porque sua estrutura estética, seu estilo, provém de um drama profundo – e até exagerado. Mas o que a pintura de uma caveira nos quer dizer nas representações artísticas? Na arte, essas caveiras (ou crânios) são chamadas de vanitates [vaidades, em latim]. Este artigo pretende mostrar o significado da caveira para os católicos e na arte em geral.
Viemos do pó, e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19). Esta é uma certeza de todos os que creem em Cristo: nossa passagem pela Terra antecede um encontro com Cristo na eternidade e na glória de Deus. Nossa vida terrena é passageira. Não adianta abraçarmos as alegrias deste mundo: tudo é vão, se pensarmos na eternidade.
A grande arte ocidental, cujo principal patrocinador foi historicamente a Igreja Católica, absorve esse pensamento e reproduz em suas obras este aviso: “Lembre-se da morte” – memento mori. E como apresentar isso para uma sociedade em franca expansão econômica, tecnológica e marítima? Como apresentar-lhe a morte e ao mesmo tempo um chamado, um convite à conversão?
A arte resolve essa questão ao adotar o símbolo do crânio humano (uma caveira), mesmo que discreto, num canto pouco iluminado do quadro, mas ali presente, fazendo com que o espectador, ante a sua presença na pintura, atente também para a certeza da morte. O mesmo olhar atento para o quadro deve ser dirigido ao cotidiano do espectador. A morte está presente, de algum modo, no meu dia a dia. O que faço para viver e garantir minha eternidade? Minhas ações condizem com a busca da vida eterna? — esse é o principal significado da caveira na arte para os católicos.
Muitos santos foram retratados na arte juntos a uma caveira. O santo é representado realizando alguma ação importante. E o crânio está ali a seu lado, o observando e o acompanhado; mas não o constrange, não o assusta, não o inibe; apenas está presente no quadro, pois compõe o cenário: apenas lembra o personagem central da obra de que é preciso seguir, dar bons frutos e deixar um legado, sem jamais esquecer-se da morte.
A caveira nas obras de arte é um aviso aos vaidosos, aos apegados às glórias deste mundo, onde tudo é passageiro. Observe este exemplo barroco:
A pintura é do ano de 1605, óleo sobre tela, e retrata São Jerônimo escrevendo um de seus livros. O autor do quadro é o mestre do Barroco, Caravaggio. Por que temos a caveira aqui? Quem foi São Jerônimo? Por que ele está representado assim? São Jerônimo nasceu no século IV depois de Cristo. Sua família era muito rica e culta , e o educou desde a primeira infância para as letras. À medida que foi crescendo, aprendeu diferentes línguas. Rico e culto, tudo levaria a crer que Jerônimo optaria pelos holofotes de seu tempo. Mas não; ele larga tudo e segue a Cristo, e dedica a vida a empreender uma novíssima tradução da Bíblia (a Vulgata) que fosse mais fiel ao texto sagrado e levasse a Mensagem de Cristo a um número maior de pessoas. Espreitado pela imagem da morte (a caveira), São Jerônimo despreza as vaidades deste mundo e decide viver pelo Evangelho, servindo a Cristo com sua vocação de escritor e tradutor.
Existem muitas obras de arte que se revelam praticamente como sermões. Mesmo que seus títulos não sejam declaradamente católicos, há, nessas obras, muito mais chamado à conversão do que podemos imaginar. Observe o quadro ao lado:
Essa pintura se chama As vaidades da vida humana. Foi feita no ano de 1645 por Harmen Steenwyck. Tem 39 cm x 41 cm, e fica na Galeria Nacional de Londres. A obra é uma natureza morta, mas é diferente das cestas de frutas que vemos por aí. Aqui, a natureza morta é a nossa. O quadro é escuro, mas por ele passa um feixe de luz que ilumina justamente a caveira, o crânio humano retratado na obra. Essa luz representa a condição do eterno, que paira sobre a morte, há esperança! Sobre a mesa também está uma concha vazia. As conchas são lindas, fascinantes naquele tempo eram objeto de colecionador. Mas como podem ser assim? São na verdade vazias, e nossa existência terrena também é. Na mesa há também uma espada japonesa, que representa uma das armas mais hábeis do seu tempo, a qual mesmo assim não é capaz de derrotar a morte. Os livros representam a vaidade do conhecimento: mesmo que a razão seja o que distingue o homem dos outros animais, se não há equilíbrio aqui, a busca pelo conhecimento também se torna uma vaidade, que, no fim de contas, irá embora com a chegada da morte. Há alguns instrumentos musicais na cena da pintura: uma flauta ao lado do crânio simboliza o falo, os prazeres sensuais. A charamela, do lado direito, é um símbolo do romance, do conquistador. Os instrumentos mais alongados representam a figura masculina, e os mais arredondados, como o alaúde acima do crânio, o corpo feminino. Mas nenhum jogo de sedução e prazer sexual supera a morte, que chega para todos nós e mais uma vez temos o significado da caveira em evidência.
Há ainda na pintura uma lâmpada se apagando: se prestarmos bem atenção, veremos apenas um risco de fumaça ali. A lâmpada representa a fragilidade da vida que se esvai. Também há um relógio sobre a mesa, um objeto valioso, que marca o transcurso e a fatuidade das coisas, assim como o nosso tempo de vida na Terra. “Para todas as coisas há um tempo” (Ecl 3,1).
É interessante pensar como a perspectiva da fé católica sobre a passagem do tempo e a vacuidade da vida é mais realista do que a perspectiva pagã. Observe esta obra:
Essa pintura se chama Uma dança para a música do tempo, de Nícolas Poussin, concluída em 1638. As pessoas que dançam representam o trabalho, a riqueza, o prazer e a pobreza. O tempo é o velho pai tocando a música. Perceba um detalhe: As areias do tempo na ampulheta na mão da criança é que marcam a passagem do tempo.
Aqui há mais areia na parte de cima do que na de baixo! A dança ainda há de perdurar por um bom tempo… Essa contagem é retratada com rara beleza, mas falta–lhe a perspectiva da eternidade. É Cristo que preenche esse vazio e coloca sentido em nossa vida, principalmente em nossas ações.
No quadro a seguir, vemos retratada Santa Catarina de Siena, escrevendo uma de suas cartas que tantas conversões inspirou. E o que vemos perto da santa?
Quanta beleza há em poder olhar para a morte e chamá-la de irmã! São Francisco interage com a morte nesta representação abaixo. Não apenas a morte o fita. Aqui, ele a observa e a acolhe, como uma visita que chega esperada e querida:
Memento mori: somos mortais. Se hoje estamos felizes, um dia isso cessará; se estamos tristes, também. Ricos ou pobres, todos terão sua passagem. Olhar para a passagem da vida representada nas obras de arte é um convite para realizarmos ações que perdurem, que deixem bons frutos, e que nos caracterizem como pessoas decididas a sempre olhar para Cristo. Ao encerrar esta leitura, peço ao leitor que faça, por gentileza, uma experiência que irá ajudá-lo a assimilar melhor esse tema: vá até um espelho e observe o formato do seu próprio rosto. Lembre-se das imagens das vanitates aqui reproduzidas, e tenha em mente que o crânio representado nas obras é tudo o que um dia sobrará de nós neste mundo. E que só Cristo jamais passará.