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Formação

Quaresma: tempo de conversão

Conheça a origem do período da Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.

Quaresma: tempo de conversão
Formação

Quaresma: tempo de conversão

Conheça a origem do período da Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.

Data da Publicação: 24/01/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 24/01/2024
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Conheça a origem do período da Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.

Cada tempo litúrgico da Igreja convida-nos a dirigir nosso olhar para Cristo e para a história da nossa redenção. É fundamental recordar constantemente a presença de Deus em nossas vidas e o imenso amor que Ele nos dedica. No entanto, responder ao chamado divino demanda conhecimento e esforço; embora o desejo de eternidade tenha sido inscrito em nós pelo próprio Deus, o pecado original trouxe desordem, tornando desafiador alinhar esse anseio ao que é bom.

A Quaresma, como tempo de conversão, representa a oportunidade de mudar de rumo. Enquanto o Batismo marca o primeiro momento dessa conversão, o pecado desvia-nos, tornando a conversão um processo contínuo para toda a Igreja, “que contém pecadores no seu seio.” 1 Neste artigo, exploraremos o significado da Quaresma para os católicos, suas raízes bíblicas e as práticas que orientam esse tempo litúrgico.

O que é a Quaresma?

O que é a quaresma para os católicos?

A Igreja, por meio do tempo litúrgico, guia os fiéis pelo caminho de santidade, oferecendo a pedagogia necessária para que o seu coração alcance o céu. Sendo assim, a Quaresma, para os católicos, é um período de quarenta dias de preparação espiritual que antecede a celebração da Páscoa — o ápice da nossa fé. O termo “Quaresma” deriva do latim quadragesima dies, indicando o período de quarenta dias.

Este tempo sagrado é dedicado a práticas de penitência, oração e caridade, possibilitando que os fiéis se aproximem mais de Deus. O ideal é que nos dediquemos neste período a meditar ainda mais sobre a Paixão de Nosso Senhor. Assim, por meio das práticas próprias deste tempo, buscamos a morte do nosso homem velho. Isso quer dizer que lutamos para livrar a nossa alma da desordem, do domínio do pecado. É, em resumo, o tempo oportuno para a conversão.

Você conhece a Páscoa dos Judeus? Entenda a sua relação com a nossa Páscoa.

Qual é a origem da quaresma?

A Quaresma teve seu início por volta do ano 350 d.C., quando a Igreja decidiu prolongar o período de preparação para a Páscoa, originalmente de três dias, que permaneceram como o Tríduo da Semana Santa. Reconhecendo a insuficiência desse curto tempo para a devida preparação, os cristãos estenderam o período para 40 dias, inspirados por eventos significativos nas Sagradas Escrituras associados ao número 40.

O povo hebreu vagou pelo deserto por 40 anos antes de chegar à terra prometida. Nínive fez penitência por 40 dias antes de obter o perdão divino. Tanto Elias quanto Jesus jejuaram por 40 dias, destacando a importância desse período como uma intensa preparação para eventos marcantes na História da Salvação. Assim, a Quaresma se fundamenta na tradição bíblica, sendo um tempo especial de reflexão e conversão.

Quando começa a Quaresma?

A Quaresma começa oficialmente na Quarta-feira de Cinzas, que ocorre 46 dias antes da Páscoa (40 dias de preparação mais os seis domingos). Neste dia, os católicos participam da Santa Missa, e a imposição das cinzas durante a liturgia serve como um sinal visível de humildade e arrependimento. Além disso, este sinal recorda-nos da transitoriedade da vida e da necessidade de voltarmos nossos corações para Deus.

Quando termina a Quaresma?

A Quaresma atinge seu ápice durante a Semana Santa, que começa no Domingo de Ramos e culmina no Domingo de Páscoa. O Tríduo Pascal, que compreende a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira Santa (Paixão do Senhor) e o Sábado Santo (Vigília Pascal), é o coração desse período, enfatizando a paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma conclui-se oficialmente no Sábado Santo, dando lugar à alegria da Páscoa, celebrando a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.

Confira como viver bem a Quaresma em 5 dicas práticas.

Onde está a Quaresma na Bíblia?

Embora o termo “Quaresma” não seja explicitamente mencionado na Bíblia, o período de 40 dias em preparação para a Páscoa tem raízes bíblicas.

Antigo Testamento

No Antigo Testamento, encontramos uma prefiguração da Quaresma nos 40 anos que o povo hebreu passou no deserto antes de entrar na terra prometida. Este período simboliza não apenas uma caminhada física, mas também uma jornada espiritual de purificação e preparação.

Os israelitas comeram o maná durante quarenta anos, até a sua chegada a uma terra habi­tada. Comeram o maná até que chegaram aos confins da terra de Canaã. 2

Durante os 40 anos no deserto, o povo hebreu, conforme descrito nos livros de Êxodo e Números, enfrentou desafios marcados por murmurações 3 e desconfiança da liderança de Moisés e das promessas de Deus. 4 Suas queixas resultaram algumas vezes em punições da parte de Deus, a fim de que o povo se convertesse.

Mesmo diante da abundância do maná, a ingratidão persistiu, revelando a importância de fazer penitência e retornar ao Senhor. 5 Essas experiências moldaram a caminhada espiritual do povo, destacando a necessidade constante de confiar em Deus e se reconciliar com Ele.

O profeta Joel, também no Antigo Testamento, faz referência à prática do rasgar o coração e não as vestes como um sinal de arrependimento genuíno

“Rasgai os vossos corações, e não as vossas vestes; voltai ao Senhor vosso Deus…” (Joel 2,13)

Esse gesto simboliza uma transformação interior sincera, enfatizando que a verdadeira penitência vai além de atos exteriores. Assim, no Antigo Testamento, vemos raízes profundas da Quaresma, onde a peregrinação no deserto e o chamado à penitência se tornam lições valiosas para os fiéis que, ao longo dos séculos, seguirão o caminho quaresmal em preparação para a Páscoa.

Novo Testamento

No Novo Testamento, a Quaresma encontra sua expressão máxima na narrativa da tentação de Jesus no deserto. 6 Após seu batismo por João Batista, Jesus retirou-se para o deserto, onde jejuou por 40 dias e 40 noites. Durante esse tempo, Satanás tentou desviá-lo do caminho da obediência ao Pai.

Nessa ocasião, o demônio tenta o Cristo em três ocasiões distintas. Primeiro, instiga Jesus a transformar pedras em pão para satisfazer sua fome. Em seguida, sugere que Ele se lance do ponto mais alto do templo, desafiando a proteção divina. Por fim, oferece a Jesus todos os reinos do mundo em troca de adoração.

Estas tentações representam desafios fundamentais: a busca por poder, a confiança em Deus e a resistência à sedução do mal. No entanto, “Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto.” 7

Essa experiência simboliza a luta espiritual e a renúncia característica da Quaresma. A resistência de Jesus à tentação destaca sua vitória sobre o mal e serve como um modelo para nós durante este tempo. Ao citar as Escrituras em resposta a cada tentação, Cristo revela a importância de uma vida centrada na Palavra de Deus, indicando que a obediência e a confiança nas Escrituras são fundamentais para resistir às tentações.

Assim, no Novo Testamento, encontramos não apenas a origem, mas a exemplificação do propósito da Quaresma na preparação espiritual e na vitória sobre as forças contrárias ao plano divino. Por isso, “Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto.” 8

Jesus sendo tentato no deserto, a expressão máxima da quaresma.

Práticas espirituais durante a Quaresma

A penitência interior do cristão pode se manifestar de diversas maneiras, com ênfase especial em três formas, de acordo com as Escrituras e os Padres da Igreja: o jejum, a oração e a esmola, expressando a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. 9

Jejum

O jejum durante a Quaresma é um ato de renúncia voluntária, fortalecendo a disciplina espiritual. Jejuar não é apenas abster-se de alimentos, mas uma oportunidade para direcionar o foco para Deus, alimentando a nossa alma. Jesus, ao jejuar por 40 dias no deserto, ensina sobre a importância de “adquirir domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração.” 10

Além disso, a oração torna-se mais eficaz quando acompanhada do jejum, pois esta prática contraria a nossa vontade e a educa, contribuindo para fazer morrer o egoísta que há dentro de nós.

Confira aqui tudo o que um católico deve saber sobre a abstinência de carne.

Esmola

Outra prática de caridade durante a Quaresma é a esmola. Ela tem como base o princípio de ajudar os pobres e necessitados; é uma das principais expressões de caridade fraterna e uma prática de justiça que agrada a Deus. 11 No livro de Tobias, lemos que a esmola livra da morte, apaga pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna. 12

Apesar de haver outros tipos de esmola, ela é sobretudo material, podemos dar dinheiro, comida, roupa etc. Ela está ligada ao jejum e à oração — próxima prática da qual falaremos. A esmola requer a renúncia que obtemos pelo jejum e o desapego que vem da entrega a Deus na oração. Além de ajudar o próximo, ela combate o pecado da avareza e fortalece as virtudes teologais.

imagem de alguém dando esmola, uma das práticas da quaresma.

Que tal conhecer o que são as virtudes teologais e como alcançá-las?

Oração

A oração, nosso elo direto com Deus, é uma prática vital na vida cristã. Permanecer habitualmente na presença do Senhor é fundamental. 13. Além de ser nosso guia, a oração eleva a alma a Deus, buscando seu auxílio. 14 Todos os santos, cada um de maneira única, cultivaram uma vida íntima com Deus por meio da oração.

A oração é ainda o alimento da alma, porque assim como o corpo não pode sustentar sem alimento, assim, sem a oração, diz Santo Agostinho, não se pode conservar a vida da alma. Como o corpo, pela comida, assim a alma do homem é conservada pela oração. 15

Imaginar chegar ao céu sem uma vida de oração é inconcebível, pois

quem reza, certamente se salva e quem não reza, certamente será condenado. 16

Conclusão

Por fim, as práticas da oração, da esmola e do jejum na Quaresma formam um elo inseparável, trazendo consigo grande crescimento espiritual. Essas três práticas, quando caminham de mãos dadas, tornam-se armas poderosas, orientando-nos não apenas durante a Quaresma, mas ao longo de toda uma vida rumo à santidade.

Boa coisa é a oração com o jejum, e melhor é a esmola com a justiça do que a riqueza com iniquidade. 17

Que, ao adotarmos essas armas poderosas, nossa vida espiritual seja marcada pela busca contínua da santidade e pela manifestação prática do amor e da generosidade cristã.

Conheça a Hora Santa de Fulton Sheen, uma forma de oração e adoração.

Referências

  1. CIC, 1427[]
  2. Êxodo 16, 35[]
  3. Nm 11, 1-10[]
  4. Nm 14,20-34[]
  5. Nm 21, 4-9[]
  6. Mateus 4, 1-11; Lucas 4, 1-13[]
  7. CIC, 538[]
  8. CIC, 540[]
  9. CIC, 1434[]
  10. CIC, 2043[]
  11. CIC, 2447[]
  12. Tb 12, 9[]
  13. CIC, 2565[]
  14. CIC, 2559[]
  15. S. Afonso Maria de Ligório, A Oração. Tradução: Henrique Barros. — 4.ª ed — Aparecida, SP: Santuário, 1992, p. 21[]
  16. S. Afonso Maria de Ligório, A Oração. Tradução: Henrique Barros. — 4.ª ed — Aparecida, SP: Santuário, 1992, p. 39[]
  17. Tb 12, 8a[]

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    Redação MBC

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    Conheça a origem do período da Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.

    Cada tempo litúrgico da Igreja convida-nos a dirigir nosso olhar para Cristo e para a história da nossa redenção. É fundamental recordar constantemente a presença de Deus em nossas vidas e o imenso amor que Ele nos dedica. No entanto, responder ao chamado divino demanda conhecimento e esforço; embora o desejo de eternidade tenha sido inscrito em nós pelo próprio Deus, o pecado original trouxe desordem, tornando desafiador alinhar esse anseio ao que é bom.

    A Quaresma, como tempo de conversão, representa a oportunidade de mudar de rumo. Enquanto o Batismo marca o primeiro momento dessa conversão, o pecado desvia-nos, tornando a conversão um processo contínuo para toda a Igreja, “que contém pecadores no seu seio.” 1 Neste artigo, exploraremos o significado da Quaresma para os católicos, suas raízes bíblicas e as práticas que orientam esse tempo litúrgico.

    O que é a Quaresma?

    O que é a quaresma para os católicos?

    A Igreja, por meio do tempo litúrgico, guia os fiéis pelo caminho de santidade, oferecendo a pedagogia necessária para que o seu coração alcance o céu. Sendo assim, a Quaresma, para os católicos, é um período de quarenta dias de preparação espiritual que antecede a celebração da Páscoa — o ápice da nossa fé. O termo “Quaresma” deriva do latim quadragesima dies, indicando o período de quarenta dias.

    Este tempo sagrado é dedicado a práticas de penitência, oração e caridade, possibilitando que os fiéis se aproximem mais de Deus. O ideal é que nos dediquemos neste período a meditar ainda mais sobre a Paixão de Nosso Senhor. Assim, por meio das práticas próprias deste tempo, buscamos a morte do nosso homem velho. Isso quer dizer que lutamos para livrar a nossa alma da desordem, do domínio do pecado. É, em resumo, o tempo oportuno para a conversão.

    Você conhece a Páscoa dos Judeus? Entenda a sua relação com a nossa Páscoa.

    Qual é a origem da quaresma?

    A Quaresma teve seu início por volta do ano 350 d.C., quando a Igreja decidiu prolongar o período de preparação para a Páscoa, originalmente de três dias, que permaneceram como o Tríduo da Semana Santa. Reconhecendo a insuficiência desse curto tempo para a devida preparação, os cristãos estenderam o período para 40 dias, inspirados por eventos significativos nas Sagradas Escrituras associados ao número 40.

    O povo hebreu vagou pelo deserto por 40 anos antes de chegar à terra prometida. Nínive fez penitência por 40 dias antes de obter o perdão divino. Tanto Elias quanto Jesus jejuaram por 40 dias, destacando a importância desse período como uma intensa preparação para eventos marcantes na História da Salvação. Assim, a Quaresma se fundamenta na tradição bíblica, sendo um tempo especial de reflexão e conversão.

    Quando começa a Quaresma?

    A Quaresma começa oficialmente na Quarta-feira de Cinzas, que ocorre 46 dias antes da Páscoa (40 dias de preparação mais os seis domingos). Neste dia, os católicos participam da Santa Missa, e a imposição das cinzas durante a liturgia serve como um sinal visível de humildade e arrependimento. Além disso, este sinal recorda-nos da transitoriedade da vida e da necessidade de voltarmos nossos corações para Deus.

    Quando termina a Quaresma?

    A Quaresma atinge seu ápice durante a Semana Santa, que começa no Domingo de Ramos e culmina no Domingo de Páscoa. O Tríduo Pascal, que compreende a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira Santa (Paixão do Senhor) e o Sábado Santo (Vigília Pascal), é o coração desse período, enfatizando a paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma conclui-se oficialmente no Sábado Santo, dando lugar à alegria da Páscoa, celebrando a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.

    Confira como viver bem a Quaresma em 5 dicas práticas.

    Onde está a Quaresma na Bíblia?

    Embora o termo “Quaresma” não seja explicitamente mencionado na Bíblia, o período de 40 dias em preparação para a Páscoa tem raízes bíblicas.

    Antigo Testamento

    No Antigo Testamento, encontramos uma prefiguração da Quaresma nos 40 anos que o povo hebreu passou no deserto antes de entrar na terra prometida. Este período simboliza não apenas uma caminhada física, mas também uma jornada espiritual de purificação e preparação.

    Os israelitas comeram o maná durante quarenta anos, até a sua chegada a uma terra habi­tada. Comeram o maná até que chegaram aos confins da terra de Canaã. 2

    Durante os 40 anos no deserto, o povo hebreu, conforme descrito nos livros de Êxodo e Números, enfrentou desafios marcados por murmurações 3 e desconfiança da liderança de Moisés e das promessas de Deus. 4 Suas queixas resultaram algumas vezes em punições da parte de Deus, a fim de que o povo se convertesse.

    Mesmo diante da abundância do maná, a ingratidão persistiu, revelando a importância de fazer penitência e retornar ao Senhor. 5 Essas experiências moldaram a caminhada espiritual do povo, destacando a necessidade constante de confiar em Deus e se reconciliar com Ele.

    O profeta Joel, também no Antigo Testamento, faz referência à prática do rasgar o coração e não as vestes como um sinal de arrependimento genuíno

    “Rasgai os vossos corações, e não as vossas vestes; voltai ao Senhor vosso Deus…” (Joel 2,13)

    Esse gesto simboliza uma transformação interior sincera, enfatizando que a verdadeira penitência vai além de atos exteriores. Assim, no Antigo Testamento, vemos raízes profundas da Quaresma, onde a peregrinação no deserto e o chamado à penitência se tornam lições valiosas para os fiéis que, ao longo dos séculos, seguirão o caminho quaresmal em preparação para a Páscoa.

    Novo Testamento

    No Novo Testamento, a Quaresma encontra sua expressão máxima na narrativa da tentação de Jesus no deserto. 6 Após seu batismo por João Batista, Jesus retirou-se para o deserto, onde jejuou por 40 dias e 40 noites. Durante esse tempo, Satanás tentou desviá-lo do caminho da obediência ao Pai.

    Nessa ocasião, o demônio tenta o Cristo em três ocasiões distintas. Primeiro, instiga Jesus a transformar pedras em pão para satisfazer sua fome. Em seguida, sugere que Ele se lance do ponto mais alto do templo, desafiando a proteção divina. Por fim, oferece a Jesus todos os reinos do mundo em troca de adoração.

    Estas tentações representam desafios fundamentais: a busca por poder, a confiança em Deus e a resistência à sedução do mal. No entanto, “Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto.” 7

    Essa experiência simboliza a luta espiritual e a renúncia característica da Quaresma. A resistência de Jesus à tentação destaca sua vitória sobre o mal e serve como um modelo para nós durante este tempo. Ao citar as Escrituras em resposta a cada tentação, Cristo revela a importância de uma vida centrada na Palavra de Deus, indicando que a obediência e a confiança nas Escrituras são fundamentais para resistir às tentações.

    Assim, no Novo Testamento, encontramos não apenas a origem, mas a exemplificação do propósito da Quaresma na preparação espiritual e na vitória sobre as forças contrárias ao plano divino. Por isso, “Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto.” 8

    Jesus sendo tentato no deserto, a expressão máxima da quaresma.

    Práticas espirituais durante a Quaresma

    A penitência interior do cristão pode se manifestar de diversas maneiras, com ênfase especial em três formas, de acordo com as Escrituras e os Padres da Igreja: o jejum, a oração e a esmola, expressando a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. 9

    Jejum

    O jejum durante a Quaresma é um ato de renúncia voluntária, fortalecendo a disciplina espiritual. Jejuar não é apenas abster-se de alimentos, mas uma oportunidade para direcionar o foco para Deus, alimentando a nossa alma. Jesus, ao jejuar por 40 dias no deserto, ensina sobre a importância de “adquirir domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração.” 10

    Além disso, a oração torna-se mais eficaz quando acompanhada do jejum, pois esta prática contraria a nossa vontade e a educa, contribuindo para fazer morrer o egoísta que há dentro de nós.

    Confira aqui tudo o que um católico deve saber sobre a abstinência de carne.

    Esmola

    Outra prática de caridade durante a Quaresma é a esmola. Ela tem como base o princípio de ajudar os pobres e necessitados; é uma das principais expressões de caridade fraterna e uma prática de justiça que agrada a Deus. 11 No livro de Tobias, lemos que a esmola livra da morte, apaga pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna. 12

    Apesar de haver outros tipos de esmola, ela é sobretudo material, podemos dar dinheiro, comida, roupa etc. Ela está ligada ao jejum e à oração — próxima prática da qual falaremos. A esmola requer a renúncia que obtemos pelo jejum e o desapego que vem da entrega a Deus na oração. Além de ajudar o próximo, ela combate o pecado da avareza e fortalece as virtudes teologais.

    imagem de alguém dando esmola, uma das práticas da quaresma.

    Que tal conhecer o que são as virtudes teologais e como alcançá-las?

    Oração

    A oração, nosso elo direto com Deus, é uma prática vital na vida cristã. Permanecer habitualmente na presença do Senhor é fundamental. 13. Além de ser nosso guia, a oração eleva a alma a Deus, buscando seu auxílio. 14 Todos os santos, cada um de maneira única, cultivaram uma vida íntima com Deus por meio da oração.

    A oração é ainda o alimento da alma, porque assim como o corpo não pode sustentar sem alimento, assim, sem a oração, diz Santo Agostinho, não se pode conservar a vida da alma. Como o corpo, pela comida, assim a alma do homem é conservada pela oração. 15

    Imaginar chegar ao céu sem uma vida de oração é inconcebível, pois

    quem reza, certamente se salva e quem não reza, certamente será condenado. 16

    Conclusão

    Por fim, as práticas da oração, da esmola e do jejum na Quaresma formam um elo inseparável, trazendo consigo grande crescimento espiritual. Essas três práticas, quando caminham de mãos dadas, tornam-se armas poderosas, orientando-nos não apenas durante a Quaresma, mas ao longo de toda uma vida rumo à santidade.

    Boa coisa é a oração com o jejum, e melhor é a esmola com a justiça do que a riqueza com iniquidade. 17

    Que, ao adotarmos essas armas poderosas, nossa vida espiritual seja marcada pela busca contínua da santidade e pela manifestação prática do amor e da generosidade cristã.

    Conheça a Hora Santa de Fulton Sheen, uma forma de oração e adoração.

    Referências

    1. CIC, 1427[]
    2. Êxodo 16, 35[]
    3. Nm 11, 1-10[]
    4. Nm 14,20-34[]
    5. Nm 21, 4-9[]
    6. Mateus 4, 1-11; Lucas 4, 1-13[]
    7. CIC, 538[]
    8. CIC, 540[]
    9. CIC, 1434[]
    10. CIC, 2043[]
    11. CIC, 2447[]
    12. Tb 12, 9[]
    13. CIC, 2565[]
    14. CIC, 2559[]
    15. S. Afonso Maria de Ligório, A Oração. Tradução: Henrique Barros. — 4.ª ed — Aparecida, SP: Santuário, 1992, p. 21[]
    16. S. Afonso Maria de Ligório, A Oração. Tradução: Henrique Barros. — 4.ª ed — Aparecida, SP: Santuário, 1992, p. 39[]
    17. Tb 12, 8a[]

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