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Maria na Bíblia: a devoção dos católicos a Nossa Senhora tem fundamento bíblico?

A devoção mariana tem fundamento bíblico? Descubra como a figura de Maria na Bíblia revela seu papel na história da salvação.

Maria na Bíblia: a devoção dos católicos a Nossa Senhora tem fundamento bíblico?
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Maria na Bíblia: a devoção dos católicos a Nossa Senhora tem fundamento bíblico?

A devoção mariana tem fundamento bíblico? Descubra como a figura de Maria na Bíblia revela seu papel na história da salvação.

Data da Publicação: 28/03/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica
Data da Publicação: 28/03/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação Minha Biblioteca Católica

Muitas vezes, católicos são questionados sobre a base bíblica para a devoção a Nossa Senhora. A verdade, porém, é que Maria não é apenas uma figura presente na vida de Jesus, mas desempenha um papel central no plano de salvação desde o Antigo Testamento até o Apocalipse. A presença de Maria na Bíblia está longe de ser superficial ou acessória. Ela é a Mãe do Salvador, a Nova Eva, a Arca da Aliança, a Rainha-Mãe e muito mais. A devoção à Virgem Santíssima não diminui a centralidade de Cristo, mas exalta a obra de Deus realizada nela. A própria Escritura, longe de negligenciá-la, a proclama “bem-aventurada” e confirma sua missão na história da salvação.

Maria no Antigo Testamento: as prefigurações da Mãe de Deus

Antes de nos aprofundarmos no Novo Testamento e no papel ativo de Maria na vida de Jesus, é importante observar como a figura de Maria é prefigurada no Antigo Testamento. Desde os primeiros livros da Bíblia, Deus revelou de maneira velada e simbólica a missão de Maria, um mistério que se desvelaria mais plenamente com a encarnação do Verbo.

A Nova Eva (Gênesis 3,15)

Em Gênesis 3,15, logo após a queda do homem, Deus promete uma redenção: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Este versículo, conhecido como o “Protoevangelho”, é a primeira promessa de salvação. A mulher mencionada não é outra senão Maria, e a descendência que esmagará a cabeça da serpente é Jesus Cristo, filho de Maria. A Igreja sempre interpretou essa passagem como uma referência à Virgem Maria, que, por sua pureza e obediência, participa ativamente na derrota de Satanás.

A Arca da Aliança (Êxodo 25,10-22 e Lucas 1,39-45)

A Arca da Aliança, no Antigo Testamento, era o receptáculo sagrado onde se guardavam as tábuas da Lei, o maná e o cajado de Aarão — símbolos da presença de Deus. De maneira similar, Maria é a Nova Arca da Aliança, pois em seu ventre ela recebeu o Verbo de Deus, o próprio Filho de Deus encarnado. Quando Isabel, cheia do Espírito Santo, saúda Maria, ela reconhece o que é o maior de todos os presentes: “Donde me vem a honra de que a mãe do meu Senhor me visite?” (Lucas 1,43). Assim como a Arca era o sinal visível da presença de Deus entre o povo, Maria, em sua maternidade divina, se torna o sinal visível da presença de Deus no mundo.

A Rainha-Mãe no Reino de Davi (1Rs 2,19-20)

No Reino de Israel, a mãe do rei era conhecida como a “Rainha-Mãe” (Gebirah), um título de grande honra e influência. Ela não só ocupava uma posição de destaque, mas também tinha um papel ativo de intercessão junto ao rei. Da mesma forma, Maria, mãe do Rei dos Céus, ocupa uma posição única no Reino de Deus. Ela é a Rainha do Céu e da Terra, intercedendo pelos filhos que Jesus conquistou com o seu Sangue.

Maria no Novo Testamento: a Mãe do Salvador

Passando agora ao Novo Testamento, a obra redentora de Deus em Maria se torna ainda mais clara. Ela não é apenas a mãe de Jesus, mas a Mãe de toda a humanidade, conforme Cristo a entrega aos cuidados de João. Seu papel vai além da maternidade biológica; ela é co-participante no plano divino de salvação.

A Anunciação (Lucas 1,26-38) e a Imaculada Conceição

No momento em que o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela seria a mãe do Salvador, ele a saúda com uma frase incomum: “Ave, cheia de graça!” (Lucas 1,28). Essa saudação não é apenas uma formalidade, mas uma indicação de que Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção. Isso fundamenta o dogma da Imaculada Conceição, proclamado pela Igreja em 1854. Maria, “cheia de graça”, foi escolhida por Deus para ser a única criatura humana digna de carregar o Filho de Deus em seu seio.

Leia mais sobre a Solenidade da Anunciação do Senhor.

A Visitação (Lucas 1,39-56) e a Intercessão de Maria

Na visita a Isabel, Maria não só demonstra sua humildade, mas também a sua intercessão. Quando Isabel recebe Maria, ela exulta em espírito, dizendo: “Donde me vem a honra de que a mãe do meu Senhor me visite?” (Lucas 1,43). A reação de Isabel, inspirada pelo Espírito Santo, revela a importância da Mãe do Salvador. Maria, ao visitar Isabel, se torna a intercessora, levando a bênção de Deus aos outros. Este gesto de intercessão é um tema recorrente na vida de Maria, e a Igreja a reconhece como a maior intercessora junto a Deus.

Saiba o que a Igreja celebra na Festa da Visitação de Nossa Senhora.

O nascimento de Jesus (Lucas 2,1-20) e a Virgindade Perpétua de Maria

A virgindade de Maria é um ponto central na doutrina católica. No relato do nascimento de Jesus, encontramos a profecia de Isaías se cumprindo: “A virgem conceberá e dará à luz um filho” (Isaías 7,14). A virgindade de Maria não é apenas um aspecto físico, mas simboliza a pureza e a obediência que ela teve para com Deus. A Tradição da Igreja ensina que Maria permaneceu virgem antes, durante e após o parto de Jesus, mantendo-se assim em total consagração e dedicação à missão que Deus lhe confiou.

Você conhece a oração do Angelus?

A Apresentação no Templo (Lucas 2,22-35) e a Corredenção de Maria

Quando Maria e José levam o menino Jesus ao templo para a purificação, Simeão profetiza sobre o sofrimento de Maria, dizendo-lhe: “Uma espada traspassará tua alma” (Lucas 2,35). Este versículo é uma poderosa referência à participação de Maria nos sofrimentos de Cristo. Ela, que deu à luz o Salvador, também compartilhou os sofrimentos e a cruz de seu Filho. Por isso, a Igreja a reconhece não apenas como Mãe, mas como Corredentora, participando de maneira única do mistério da salvação.

As Bodas de Caná (João 2,1-11) e o papel de Maria na intercessão

Em Caná, Maria intervém junto a Jesus em um momento de necessidade. Ela percebe a falta de vinho e, sem hesitar, intercede. “Eles não têm mais vinho” (João 2,3), ela diz a Jesus. Este ato de intercessão é uma das primeiras manifestações do papel de Maria como mediadora das graças divinas. Ela não só se importa com as necessidades humanas, mas também está sempre disposta a interceder junto a Cristo, como Mãe que olha com compaixão para os filhos da Igreja.

Maria aos pés da Cruz (João 19,25-27) e a Maternidade Espiritual

Na hora da morte de Jesus, Maria está presente aos pés da cruz. Cristo, em um gesto profundo de amor, entrega Maria ao discípulo João, dizendo: “Eis aí tua mãe” (João 19,27). Neste momento, Maria não é apenas mãe de Jesus, mas mãe de todos os cristãos. Ela se torna a Mãe espiritual da Igreja, acompanhando seus filhos na fé e intercedendo por todos nós.

Maria no Apocalipse: a Mulher vestida de sol

imagem de maria na bíblia, com a coroa de 12 estrelas.

O Apocalipse descreve uma visão de uma mulher revestida de sol, com a lua sob os pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. A mulher é frequentemente interpretada pela Igreja como Maria, que, ao ser elevada aos céus, não apenas simboliza a Igreja, mas também sua plena participação na vitória de Cristo sobre o mal. Esta imagem é também a base do dogma da Assunção de Maria, que afirma que Maria, ao final de sua vida terrestre, foi elevada de corpo e alma ao céu.

A Mulher do Apocalipse (Apocalipse 12,1-17) e a Assunção de Maria

A “Mulher vestida de sol”, com a lua sob seus pés, é Maria. Sua elevação aos céus não é um simples evento de honra, mas é também a garantia de que todos os fiéis, que a seguem e se confiam à sua intercessão, também participarão da glória celestial. A Assunção de Maria foi proclamada como dogma pela Igreja em 1950, pelo Papa Pio XII, confirmando que Maria, após seu fim terreno, foi tomada em corpo e alma para estar com seu Filho na glória eterna.

Os dogmas marianos e sua base bíblica

A Igreja Católica, ao longo dos séculos, proclamou vários dogmas marianos, todos fundamentados na Sagrada Escritura e na Tradição.

A Imaculada Conceição

A Igreja ensina que Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção, e este dogma é profundamente enraizado nas Escrituras. Em Lucas 1,28, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça”, o que implica uma plenitude de santidade desde seu nascimento, sem qualquer mancha do pecado original. Esse reconhecimento de Maria como “cheia de graça” é uma antecipação de sua preservação de qualquer imperfeição. Além disso, em Gênesis 3,15, Deus promete que a descendência da mulher esmagará a cabeça da serpente, um verso que a Igreja interpreta como uma referência profética à Maria, a Mulher nova que, ao conceber o Salvador, é preservada do pecado. Este é um reflexo da graça redentora de Cristo, que, de forma única e singular, preserva Maria do mal.

imaculada conceição de maria na bíblia

Conheça mais sobre o dogma da Imaculada Conceição.

A Maternidade Divina

O dogma da Maternidade Divina de Maria é fundamentado na proclamada verdade de que ela não apenas deu à luz Jesus, mas foi a mãe do Verbo encarnado, o próprio Deus. Em Lucas 1,43, Isabel, cheia do Espírito Santo, exclama: “De onde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?” A expressão “Mãe do meu Senhor” não se refere a um título honorífico, mas reconhece a relação de Maria com o próprio Deus feito homem. A maternidade de Maria não é apenas física, mas espiritual, pois ela se torna a mãe de todos os cristãos ao ser mãe de Cristo. Sua maternidade divina reflete a profundidade de sua união com Deus e seu papel central no plano divino da salvação.

Aprofunde-se no dogma e na festa da Maternidade de Maria, Mãe de Deus.

A Virgindade Perpétua

A Tradição da Igreja ensina que Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do nascimento de Jesus, cumprindo assim a profecia de Isaías 7,14: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho”. Este versículo, que se cumpre de maneira única em Maria, atesta sua virgindade perpétua. Em Mateus 1,23, a citação da profecia de Isaías sobre a virgem que conceberia nos revela a importância de Maria como o canal pela qual o Filho de Deus se fez carne. A virgindade de Maria é uma marca de sua total dedicação a Deus e da pureza com a qual ela acolheu o Verbo divino. O dogma da virgindade perpétua não diminui sua feminilidade ou a importância de sua maternidade, mas exalta a santidade e a plenitude da graça em sua pessoa.

A Assunção de Maria

A Assunção de Maria, proclamada em 1950 pelo Papa Pio XII, ensina que Maria foi elevada ao céu em corpo e alma ao final de sua vida terrestre. Este dogma tem como base bíblica a figura de Maria descrita em Apocalipse 12,1, onde ela aparece como uma mulher “vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas na cabeça”. Esta visão mística é entendida como uma representação de Maria, que, ao ser elevada aos céus, se torna a expressão final da perfeição humana redimida. A Assunção de Maria é a culminação da promessa de que aqueles que permanecem fiéis a Deus participarão de Sua glória eterna. Maria, a primeira entre os redimidos, é levada à plenitude da salvação, sendo um sinal de esperança e confiança para todos os cristãos, pois ela já desfruta da promessa que um dia será a de todos.

Entenda o que a Igreja ensina sobre o dogma da Assunção de Nossa Senhora.

Maria na Bíblia e a devoção católica: por que Ela é a Nossa Mãe?

Maria: Mãe Espiritual e modelo de fé

Maria é, sem dúvida, uma figura central na espiritualidade católica, não apenas por seu papel histórico como mãe de Jesus, mas, sobretudo, por sua profunda relação com cada cristão. Ela não é apenas a mãe do Salvador, mas também nossa mãe espiritual, um reflexo da bondade, da graça e da presença maternal de Deus em nossas vidas. No entanto, é comum surgir uma objeção: por que venerar Maria, porque tê-la como Mãe, se o único Mediador entre Deus e os homens é Cristo? A resposta está na própria essência da missão divina de Maria, como escolhida para ser o canal de um mistério insondável.

A Bíblia nos revela que, quando Jesus morre na cruz, Ele olha para João e, com um gesto que transborda de ternura e misericórdia, diz: “Eis aí tua mãe” (João 19,27). Este é o momento em que Jesus nos confia Maria como nossa mãe espiritual. Não se trata de um simples gesto de cuidado filial, mas de um ato profundo de consagração, onde Ele nos oferece a presença de Maria para nos ajudar a compreender o amor de Deus em nossa vida cotidiana. Nesse momento, ela deixa de ser apenas a mãe do Filho de Deus e se torna a mãe da humanidade. O Filho de Deus não poderia ter escolhido um modo mais sublime de nos ensinar o valor da mãe, do acolhimento e da misericórdia.

A presença de Maria na Bíblia não se limita à sua maternidade. Ela está presente em momentos decisivos do ministério de Jesus, desde o início, quando se coloca à disposição para o plano de Deus, até o fim, quando se mantém firme aos pés da cruz, compartilhando as dores de seu Filho. Como mulher de fé, sua resposta ao anjo, em Lucas 1,38, “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, é um exemplo imaculado de confiança incondicional em Deus. Maria nos ensina a entrega plena à vontade divina, mesmo diante do mistério e da dor. Ao aceitá-la como nossa mãe, a Igreja nos chama a seguir sua fé profunda, a sua total confiança em Deus, e a sua total disposição para servir.

Neste vídeo, confira 4 meios para aumentar a sua devoção à Virgem Maria:

Que tal rezar também a Ladainha de Nossa Senhora?

A centralidade de Cristo e o papel de Maria

A devoção a Maria não diminui, de modo algum, a centralidade de Cristo. Pelo contrário, ela a exalta. Maria, em sua humildade, nunca se coloca no lugar de seu Filho, mas é, como descreve o Catecismo da Igreja Católica, “a serva do Senhor”. Ao nos aproximarmos dela, não fazemos isso para desviar nosso olhar de Cristo, mas para aprendermos, através do exemplo de sua vida, a viver de forma mais perfeita o Evangelho de Jesus. A verdade é que, ao olhar para Maria, vemos como ela aponta sempre para Cristo, como um espelho refletindo a luz do Sol da Justiça.

Objeções surgem também quando se fala de sua intercessão. Alguns questionam: “Por que pedir a intercessão de Maria, quando temos acesso direto a Deus através de Jesus?”. A resposta está na própria natureza da Igreja, como Corpo de Cristo. No céu, a comunhão dos santos não é uma separação, mas uma união. Os santos, em sua perfeita união com Deus, participam de Sua obra redentora. Maria, sendo a mais íntima e exemplar discípula de Cristo, tem uma capacidade única de interceder por nós, pois sua intercessão é, antes de tudo, um reflexo do amor materno que ela tem por todos os filhos de Deus. Assim, pedir a intercessão de Maria é como recorrer a uma mãe carinhosa que, mais do que qualquer outra, deseja o bem de seus filhos. Ela nunca nos afasta de Cristo, mas nos aproxima d’Ele com a suavidade de sua presença.

Maria, nossa Mãe espiritual e intercessora

E assim, ao concluirmos este artigo, é impossível não perceber que Maria, a Mãe do Salvador, é também a nossa Mãe. Ela nos guia em nossa jornada espiritual, nos ensina a confiar plenamente no plano de Deus e nos conduz para mais perto de Seu Filho. Como uma mãe que não abandona seus filhos, Maria está conosco, intercedendo por nós, nos acolhendo em nosso sofrimento, e nos apontando sempre para o amor incompreensível de Deus. Na devoção a ela, não buscamos adoração, mas imitação; não buscamos um substituto para Cristo, mas um meio de nos aproximarmos ainda mais do Seu amor. Pois, como o Papa João Paulo II sabiamente disse: “Maria é a estrela que nos guia até Cristo”. E, ao tomarmos Maria como nossa mãe espiritual, nos unimos a Cristo de uma maneira ainda mais profunda, vivendo a fé com o coração aberto à misericórdia de Deus.

Confira também o nosso Guia completo para católicos sobre Nossa Senhora.

Redação Minha Biblioteca Católica

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Muitas vezes, católicos são questionados sobre a base bíblica para a devoção a Nossa Senhora. A verdade, porém, é que Maria não é apenas uma figura presente na vida de Jesus, mas desempenha um papel central no plano de salvação desde o Antigo Testamento até o Apocalipse. A presença de Maria na Bíblia está longe de ser superficial ou acessória. Ela é a Mãe do Salvador, a Nova Eva, a Arca da Aliança, a Rainha-Mãe e muito mais. A devoção à Virgem Santíssima não diminui a centralidade de Cristo, mas exalta a obra de Deus realizada nela. A própria Escritura, longe de negligenciá-la, a proclama “bem-aventurada” e confirma sua missão na história da salvação.

Maria no Antigo Testamento: as prefigurações da Mãe de Deus

Antes de nos aprofundarmos no Novo Testamento e no papel ativo de Maria na vida de Jesus, é importante observar como a figura de Maria é prefigurada no Antigo Testamento. Desde os primeiros livros da Bíblia, Deus revelou de maneira velada e simbólica a missão de Maria, um mistério que se desvelaria mais plenamente com a encarnação do Verbo.

A Nova Eva (Gênesis 3,15)

Em Gênesis 3,15, logo após a queda do homem, Deus promete uma redenção: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Este versículo, conhecido como o “Protoevangelho”, é a primeira promessa de salvação. A mulher mencionada não é outra senão Maria, e a descendência que esmagará a cabeça da serpente é Jesus Cristo, filho de Maria. A Igreja sempre interpretou essa passagem como uma referência à Virgem Maria, que, por sua pureza e obediência, participa ativamente na derrota de Satanás.

A Arca da Aliança (Êxodo 25,10-22 e Lucas 1,39-45)

A Arca da Aliança, no Antigo Testamento, era o receptáculo sagrado onde se guardavam as tábuas da Lei, o maná e o cajado de Aarão — símbolos da presença de Deus. De maneira similar, Maria é a Nova Arca da Aliança, pois em seu ventre ela recebeu o Verbo de Deus, o próprio Filho de Deus encarnado. Quando Isabel, cheia do Espírito Santo, saúda Maria, ela reconhece o que é o maior de todos os presentes: “Donde me vem a honra de que a mãe do meu Senhor me visite?” (Lucas 1,43). Assim como a Arca era o sinal visível da presença de Deus entre o povo, Maria, em sua maternidade divina, se torna o sinal visível da presença de Deus no mundo.

A Rainha-Mãe no Reino de Davi (1Rs 2,19-20)

No Reino de Israel, a mãe do rei era conhecida como a “Rainha-Mãe” (Gebirah), um título de grande honra e influência. Ela não só ocupava uma posição de destaque, mas também tinha um papel ativo de intercessão junto ao rei. Da mesma forma, Maria, mãe do Rei dos Céus, ocupa uma posição única no Reino de Deus. Ela é a Rainha do Céu e da Terra, intercedendo pelos filhos que Jesus conquistou com o seu Sangue.

Maria no Novo Testamento: a Mãe do Salvador

Passando agora ao Novo Testamento, a obra redentora de Deus em Maria se torna ainda mais clara. Ela não é apenas a mãe de Jesus, mas a Mãe de toda a humanidade, conforme Cristo a entrega aos cuidados de João. Seu papel vai além da maternidade biológica; ela é co-participante no plano divino de salvação.

A Anunciação (Lucas 1,26-38) e a Imaculada Conceição

No momento em que o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela seria a mãe do Salvador, ele a saúda com uma frase incomum: “Ave, cheia de graça!” (Lucas 1,28). Essa saudação não é apenas uma formalidade, mas uma indicação de que Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção. Isso fundamenta o dogma da Imaculada Conceição, proclamado pela Igreja em 1854. Maria, “cheia de graça”, foi escolhida por Deus para ser a única criatura humana digna de carregar o Filho de Deus em seu seio.

Leia mais sobre a Solenidade da Anunciação do Senhor.

A Visitação (Lucas 1,39-56) e a Intercessão de Maria

Na visita a Isabel, Maria não só demonstra sua humildade, mas também a sua intercessão. Quando Isabel recebe Maria, ela exulta em espírito, dizendo: “Donde me vem a honra de que a mãe do meu Senhor me visite?” (Lucas 1,43). A reação de Isabel, inspirada pelo Espírito Santo, revela a importância da Mãe do Salvador. Maria, ao visitar Isabel, se torna a intercessora, levando a bênção de Deus aos outros. Este gesto de intercessão é um tema recorrente na vida de Maria, e a Igreja a reconhece como a maior intercessora junto a Deus.

Saiba o que a Igreja celebra na Festa da Visitação de Nossa Senhora.

O nascimento de Jesus (Lucas 2,1-20) e a Virgindade Perpétua de Maria

A virgindade de Maria é um ponto central na doutrina católica. No relato do nascimento de Jesus, encontramos a profecia de Isaías se cumprindo: “A virgem conceberá e dará à luz um filho” (Isaías 7,14). A virgindade de Maria não é apenas um aspecto físico, mas simboliza a pureza e a obediência que ela teve para com Deus. A Tradição da Igreja ensina que Maria permaneceu virgem antes, durante e após o parto de Jesus, mantendo-se assim em total consagração e dedicação à missão que Deus lhe confiou.

Você conhece a oração do Angelus?

A Apresentação no Templo (Lucas 2,22-35) e a Corredenção de Maria

Quando Maria e José levam o menino Jesus ao templo para a purificação, Simeão profetiza sobre o sofrimento de Maria, dizendo-lhe: “Uma espada traspassará tua alma” (Lucas 2,35). Este versículo é uma poderosa referência à participação de Maria nos sofrimentos de Cristo. Ela, que deu à luz o Salvador, também compartilhou os sofrimentos e a cruz de seu Filho. Por isso, a Igreja a reconhece não apenas como Mãe, mas como Corredentora, participando de maneira única do mistério da salvação.

As Bodas de Caná (João 2,1-11) e o papel de Maria na intercessão

Em Caná, Maria intervém junto a Jesus em um momento de necessidade. Ela percebe a falta de vinho e, sem hesitar, intercede. “Eles não têm mais vinho” (João 2,3), ela diz a Jesus. Este ato de intercessão é uma das primeiras manifestações do papel de Maria como mediadora das graças divinas. Ela não só se importa com as necessidades humanas, mas também está sempre disposta a interceder junto a Cristo, como Mãe que olha com compaixão para os filhos da Igreja.

Maria aos pés da Cruz (João 19,25-27) e a Maternidade Espiritual

Na hora da morte de Jesus, Maria está presente aos pés da cruz. Cristo, em um gesto profundo de amor, entrega Maria ao discípulo João, dizendo: “Eis aí tua mãe” (João 19,27). Neste momento, Maria não é apenas mãe de Jesus, mas mãe de todos os cristãos. Ela se torna a Mãe espiritual da Igreja, acompanhando seus filhos na fé e intercedendo por todos nós.

Maria no Apocalipse: a Mulher vestida de sol

imagem de maria na bíblia, com a coroa de 12 estrelas.

O Apocalipse descreve uma visão de uma mulher revestida de sol, com a lua sob os pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. A mulher é frequentemente interpretada pela Igreja como Maria, que, ao ser elevada aos céus, não apenas simboliza a Igreja, mas também sua plena participação na vitória de Cristo sobre o mal. Esta imagem é também a base do dogma da Assunção de Maria, que afirma que Maria, ao final de sua vida terrestre, foi elevada de corpo e alma ao céu.

A Mulher do Apocalipse (Apocalipse 12,1-17) e a Assunção de Maria

A “Mulher vestida de sol”, com a lua sob seus pés, é Maria. Sua elevação aos céus não é um simples evento de honra, mas é também a garantia de que todos os fiéis, que a seguem e se confiam à sua intercessão, também participarão da glória celestial. A Assunção de Maria foi proclamada como dogma pela Igreja em 1950, pelo Papa Pio XII, confirmando que Maria, após seu fim terreno, foi tomada em corpo e alma para estar com seu Filho na glória eterna.

Os dogmas marianos e sua base bíblica

A Igreja Católica, ao longo dos séculos, proclamou vários dogmas marianos, todos fundamentados na Sagrada Escritura e na Tradição.

A Imaculada Conceição

A Igreja ensina que Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção, e este dogma é profundamente enraizado nas Escrituras. Em Lucas 1,28, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça”, o que implica uma plenitude de santidade desde seu nascimento, sem qualquer mancha do pecado original. Esse reconhecimento de Maria como “cheia de graça” é uma antecipação de sua preservação de qualquer imperfeição. Além disso, em Gênesis 3,15, Deus promete que a descendência da mulher esmagará a cabeça da serpente, um verso que a Igreja interpreta como uma referência profética à Maria, a Mulher nova que, ao conceber o Salvador, é preservada do pecado. Este é um reflexo da graça redentora de Cristo, que, de forma única e singular, preserva Maria do mal.

imaculada conceição de maria na bíblia

Conheça mais sobre o dogma da Imaculada Conceição.

A Maternidade Divina

O dogma da Maternidade Divina de Maria é fundamentado na proclamada verdade de que ela não apenas deu à luz Jesus, mas foi a mãe do Verbo encarnado, o próprio Deus. Em Lucas 1,43, Isabel, cheia do Espírito Santo, exclama: “De onde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?” A expressão “Mãe do meu Senhor” não se refere a um título honorífico, mas reconhece a relação de Maria com o próprio Deus feito homem. A maternidade de Maria não é apenas física, mas espiritual, pois ela se torna a mãe de todos os cristãos ao ser mãe de Cristo. Sua maternidade divina reflete a profundidade de sua união com Deus e seu papel central no plano divino da salvação.

Aprofunde-se no dogma e na festa da Maternidade de Maria, Mãe de Deus.

A Virgindade Perpétua

A Tradição da Igreja ensina que Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do nascimento de Jesus, cumprindo assim a profecia de Isaías 7,14: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho”. Este versículo, que se cumpre de maneira única em Maria, atesta sua virgindade perpétua. Em Mateus 1,23, a citação da profecia de Isaías sobre a virgem que conceberia nos revela a importância de Maria como o canal pela qual o Filho de Deus se fez carne. A virgindade de Maria é uma marca de sua total dedicação a Deus e da pureza com a qual ela acolheu o Verbo divino. O dogma da virgindade perpétua não diminui sua feminilidade ou a importância de sua maternidade, mas exalta a santidade e a plenitude da graça em sua pessoa.

A Assunção de Maria

A Assunção de Maria, proclamada em 1950 pelo Papa Pio XII, ensina que Maria foi elevada ao céu em corpo e alma ao final de sua vida terrestre. Este dogma tem como base bíblica a figura de Maria descrita em Apocalipse 12,1, onde ela aparece como uma mulher “vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas na cabeça”. Esta visão mística é entendida como uma representação de Maria, que, ao ser elevada aos céus, se torna a expressão final da perfeição humana redimida. A Assunção de Maria é a culminação da promessa de que aqueles que permanecem fiéis a Deus participarão de Sua glória eterna. Maria, a primeira entre os redimidos, é levada à plenitude da salvação, sendo um sinal de esperança e confiança para todos os cristãos, pois ela já desfruta da promessa que um dia será a de todos.

Entenda o que a Igreja ensina sobre o dogma da Assunção de Nossa Senhora.

Maria na Bíblia e a devoção católica: por que Ela é a Nossa Mãe?

Maria: Mãe Espiritual e modelo de fé

Maria é, sem dúvida, uma figura central na espiritualidade católica, não apenas por seu papel histórico como mãe de Jesus, mas, sobretudo, por sua profunda relação com cada cristão. Ela não é apenas a mãe do Salvador, mas também nossa mãe espiritual, um reflexo da bondade, da graça e da presença maternal de Deus em nossas vidas. No entanto, é comum surgir uma objeção: por que venerar Maria, porque tê-la como Mãe, se o único Mediador entre Deus e os homens é Cristo? A resposta está na própria essência da missão divina de Maria, como escolhida para ser o canal de um mistério insondável.

A Bíblia nos revela que, quando Jesus morre na cruz, Ele olha para João e, com um gesto que transborda de ternura e misericórdia, diz: “Eis aí tua mãe” (João 19,27). Este é o momento em que Jesus nos confia Maria como nossa mãe espiritual. Não se trata de um simples gesto de cuidado filial, mas de um ato profundo de consagração, onde Ele nos oferece a presença de Maria para nos ajudar a compreender o amor de Deus em nossa vida cotidiana. Nesse momento, ela deixa de ser apenas a mãe do Filho de Deus e se torna a mãe da humanidade. O Filho de Deus não poderia ter escolhido um modo mais sublime de nos ensinar o valor da mãe, do acolhimento e da misericórdia.

A presença de Maria na Bíblia não se limita à sua maternidade. Ela está presente em momentos decisivos do ministério de Jesus, desde o início, quando se coloca à disposição para o plano de Deus, até o fim, quando se mantém firme aos pés da cruz, compartilhando as dores de seu Filho. Como mulher de fé, sua resposta ao anjo, em Lucas 1,38, “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, é um exemplo imaculado de confiança incondicional em Deus. Maria nos ensina a entrega plena à vontade divina, mesmo diante do mistério e da dor. Ao aceitá-la como nossa mãe, a Igreja nos chama a seguir sua fé profunda, a sua total confiança em Deus, e a sua total disposição para servir.

Neste vídeo, confira 4 meios para aumentar a sua devoção à Virgem Maria:

Que tal rezar também a Ladainha de Nossa Senhora?

A centralidade de Cristo e o papel de Maria

A devoção a Maria não diminui, de modo algum, a centralidade de Cristo. Pelo contrário, ela a exalta. Maria, em sua humildade, nunca se coloca no lugar de seu Filho, mas é, como descreve o Catecismo da Igreja Católica, “a serva do Senhor”. Ao nos aproximarmos dela, não fazemos isso para desviar nosso olhar de Cristo, mas para aprendermos, através do exemplo de sua vida, a viver de forma mais perfeita o Evangelho de Jesus. A verdade é que, ao olhar para Maria, vemos como ela aponta sempre para Cristo, como um espelho refletindo a luz do Sol da Justiça.

Objeções surgem também quando se fala de sua intercessão. Alguns questionam: “Por que pedir a intercessão de Maria, quando temos acesso direto a Deus através de Jesus?”. A resposta está na própria natureza da Igreja, como Corpo de Cristo. No céu, a comunhão dos santos não é uma separação, mas uma união. Os santos, em sua perfeita união com Deus, participam de Sua obra redentora. Maria, sendo a mais íntima e exemplar discípula de Cristo, tem uma capacidade única de interceder por nós, pois sua intercessão é, antes de tudo, um reflexo do amor materno que ela tem por todos os filhos de Deus. Assim, pedir a intercessão de Maria é como recorrer a uma mãe carinhosa que, mais do que qualquer outra, deseja o bem de seus filhos. Ela nunca nos afasta de Cristo, mas nos aproxima d’Ele com a suavidade de sua presença.

Maria, nossa Mãe espiritual e intercessora

E assim, ao concluirmos este artigo, é impossível não perceber que Maria, a Mãe do Salvador, é também a nossa Mãe. Ela nos guia em nossa jornada espiritual, nos ensina a confiar plenamente no plano de Deus e nos conduz para mais perto de Seu Filho. Como uma mãe que não abandona seus filhos, Maria está conosco, intercedendo por nós, nos acolhendo em nosso sofrimento, e nos apontando sempre para o amor incompreensível de Deus. Na devoção a ela, não buscamos adoração, mas imitação; não buscamos um substituto para Cristo, mas um meio de nos aproximarmos ainda mais do Seu amor. Pois, como o Papa João Paulo II sabiamente disse: “Maria é a estrela que nos guia até Cristo”. E, ao tomarmos Maria como nossa mãe espiritual, nos unimos a Cristo de uma maneira ainda mais profunda, vivendo a fé com o coração aberto à misericórdia de Deus.

Confira também o nosso Guia completo para católicos sobre Nossa Senhora.

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