Formação

Ofício das Trevas: o que é e como viver essa tradição na Semana Santa

Descubra o Ofício das Trevas: tradição da Semana Santa que une silêncio, símbolos e oração para contemplar a Paixão de Cristo.

Ofício das Trevas: o que é e como viver essa tradição na Semana Santa
Formação

Ofício das Trevas: o que é e como viver essa tradição na Semana Santa

Descubra o Ofício das Trevas: tradição da Semana Santa que une silêncio, símbolos e oração para contemplar a Paixão de Cristo.

Data da Publicação: 16/04/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC
Data da Publicação: 16/04/2025
Tempo de leitura:
Autor: Redação MBC

Poucos momentos na liturgia da Igreja são tão densos de significado, beleza simbólica e profundidade espiritual quanto o Ofício das Trevas. Celebrado na escuridão dos últimos dias do Tríduo Pascal, ele nos convida a uma contemplação silenciosa do sofrimento de Cristo, numa união íntima com sua agonia, morte e sepultura.

Trata-se de uma antiga celebração que une oração, silêncio, salmos e símbolos litúrgicos para nos conduzir ao coração da Paixão do Senhor. Nascido das Matinas e Laudes dos dias santos, esse ofício conserva um caráter solene e penitencial, e carrega consigo séculos de tradição monástica, especialmente vivida em mosteiros beneditinos, cistercienses e cartuxos. É uma joia da Liturgia das Horas que a Igreja guarda com veneração.

O que é o Ofício das Trevas?

O Ofício das Trevas é a celebração solene do Ofício de Leituras (antigas Matinas) e das Laudes durante as madrugadas da Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado Santos. Seu nome deriva da ambientação simbólica: um candelabro triangular com 15 velas  é disposto no presbitério e, a cada salmo rezado, uma vela é apagada. O progressivo escurecimento culmina com a extinção de todas as luzes, deixando a igreja em total escuridão. Apenas uma vela permanece acesa — símbolo de Cristo — e é então escondida atrás do altar.

Esta liturgia é marcada pela espera, pela dor e pelo silêncio. A tradição nos ensina que é na noite escura que Deus mais trabalha em nossa alma. São João da Cruz, mestre da mística cristã, nos fala da “noite escura do espírito”, pela qual o fiel é purificado e unido a Deus. O Ofício das Trevas é a dramatização litúrgica desta noite.

Quando e onde é celebrado?

Historicamente, o Ofício das Trevas era celebrado nas noites que precediam os dias santos: Quarta-feira (para Quinta-feira Santa), Quinta (para Sexta-feira Santa) e Sexta (para o Sábado Santo). Com o passar dos séculos, especialmente a partir da Reforma Tridentina, foi preservado em mosteiros e comunidades religiosas. Hoje, muitas paróquias que valorizam a liturgia tradicional têm redescoberto essa celebração como um tesouro espiritual para a Semana Santa.

Origem e significado do Ofício das Trevas

O Ofício das Trevas tem origem na Liturgia das Horas, mais especificamente nas Matinas e Laudes dos dias santos. Já no século IX há registros da sua prática em mosteiros europeus. A reforma litúrgica de São Pio V, no século XVI, reafirmou sua importância, inserindo seu uso no Breviário Romano e consolidando seu formato simbólico.

O simbolismo das trevas é profundo: a extinção gradual das velas expressa o abandono de Cristo, a fuga dos discípulos, o silêncio de Deus Pai. A última vela, escondida, recorda a morte e o sepultamento de Jesus. E quando tudo parece perdido, a luz volta — discreta, silenciosa — revelando que Cristo permanece vivo, mesmo no túmulo. Como disse São Gregório de Nissa: “Ele entrou no silêncio para que o mundo escutasse novamente a voz da Vida”.

Como é celebrado o Ofício das Trevas?

Tradicionalmente, o Ofício das Trevas compreende a recitação de 15 salmos, intercalados com leituras do Antigo Testamento e dos Profetas, além de responsórios profundos e contemplativos. Após cada salmo, uma vela é apagada. No final, permanece uma única vela acesa, que é então retirada ou escondida.

Em seguida, ocorre o momento do strepitus: um ruído forte, geralmente um estrondo ou batida, que representa o terremoto após a morte de Cristo ou o fechamento de Seu túmulo. Em algumas comunidades, esse momento é vivido com especial intensidade, e o silêncio que se segue é profundo, cortante, quase escatológico.

Embora a forma tradicional utilize o latim e o canto gregoriano, versões adaptadas têm sido celebradas em português, mantendo o espírito da liturgia e promovendo maior participação dos fieis.

O Ofício das Trevas e a espiritualidade da Semana Santa

O Ofício das Trevas é uma das expressões mais tocantes da espiritualidade do Tríduo Pascal. Ele conduz o fiel a um mergulho interior, despertando a alma para a gravidade do pecado, a dor da Paixão e a esperança da Ressurreição. Santo Afonso de Ligório recomendava essa forma de oração como preparação para o Sábado Santo, quando “a Igreja parece estar em vigília diante do sepulcro do Esposo”.

Muitos fieis vivem o Ofício das Trevas como uma vigília no Horto das Oliveiras. Em silêncio, unem-se a Cristo em Sua solidão, experimentando o abandono, a espera, a cruz. O Papa Bento XVI dizia que “o cristianismo nasce do silêncio”, e esse silêncio, vivido à luz do Círio escondido, é fecundo.

Saiba tudo sobre a liturgia e o significado de cada dia da Semana Santa:
Domingo de Ramos
Segunda-feira Santa
Terça-feira Santa
Quarta-feira Santa
Quinta-feira Santa
Sexta-feira Santa
Vigília Pascal
Domingo de Páscoa

O Ofício das Trevas na tradição da Igreja

Papado, santos e ordens religiosas sempre valorizaram esta celebração. São João Paulo II participou do Ofício das Trevas em várias ocasiões, especialmente em encontros com monges. A Ordem de São Bento, os cistercienses e cartuxos preservam fielmente essa liturgia em suas formas mais antigas.

Mesmo em tempos modernos, onde tudo tende ao ruído e à pressa, o Ofício das Trevas ressurge como um remédio espiritual. Ele devolve ao fiel o valor do tempo sagrado, do símbolo, da pausa. Santa Teresa dos Andes dizia que “Deus se revela mais claramente quando tudo se cala” — e é exatamente isso que esta celebração proporciona.

Como participar ou celebrar o Ofício das Trevas?

Para quem deseja viver essa tradição, o primeiro passo é verificar se sua paróquia, comunidade religiosa ou catedral realiza a celebração. Caso não, é possível rezá-lo em casa, com simplicidade: um candelabro com 15 velas, um texto adaptado das Laudes e Matinas, e o coração disponível.

Versões digitais do Ofício das Trevas podem ser encontradas em sites confiáveis como o da CNBB, da Abadia de São Bento ou de apostolados litúrgicos. O mais importante é rezar com recolhimento, respeitando o silêncio, meditando os Salmos e unindo-se à Paixão do Senhor.

Pode-se fazer em família, com as luzes da casa apagadas, deixando que apenas a vela final ilumine o ambiente. O estrondo do strepitus pode ser substituído por uma batida discreta, mas significativa, lembrando que até o silêncio tem som.

Um convite à esperança no silêncio

O Ofício das Trevas não termina em desespero, mas em esperança. A vela escondida reaparece discretamente, sinal de que a morte não venceu. Cristo está vivo, mesmo que os olhos não o vejam. Ele permanece conosco, silencioso, como no tabernáculo.

Esta liturgia ensina a esperar. Ensina a ouvir. Ensina que o sofrimento pode ser fecundo quando vivido com Cristo. Como escreveu São João Paulo II: “Não temais! Abri, antes, escancarai as portas a Cristo!” — até mesmo as portas do silêncio, da dor, do túmulo.

O Ofício das Trevas é um convite a viver a Semana Santa com os olhos da fé, esperando pela manhã da Ressurreição com o coração de quem já viu a luz, mesmo nas trevas.

Confira também o nosso Guia completo para católicos sobre a Páscoa.

Redação MBC

Redação MBC

O maior clube de leitores católicos do Brasil.

Garanta seu box

Poucos momentos na liturgia da Igreja são tão densos de significado, beleza simbólica e profundidade espiritual quanto o Ofício das Trevas. Celebrado na escuridão dos últimos dias do Tríduo Pascal, ele nos convida a uma contemplação silenciosa do sofrimento de Cristo, numa união íntima com sua agonia, morte e sepultura.

Trata-se de uma antiga celebração que une oração, silêncio, salmos e símbolos litúrgicos para nos conduzir ao coração da Paixão do Senhor. Nascido das Matinas e Laudes dos dias santos, esse ofício conserva um caráter solene e penitencial, e carrega consigo séculos de tradição monástica, especialmente vivida em mosteiros beneditinos, cistercienses e cartuxos. É uma joia da Liturgia das Horas que a Igreja guarda com veneração.

O que é o Ofício das Trevas?

O Ofício das Trevas é a celebração solene do Ofício de Leituras (antigas Matinas) e das Laudes durante as madrugadas da Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado Santos. Seu nome deriva da ambientação simbólica: um candelabro triangular com 15 velas  é disposto no presbitério e, a cada salmo rezado, uma vela é apagada. O progressivo escurecimento culmina com a extinção de todas as luzes, deixando a igreja em total escuridão. Apenas uma vela permanece acesa — símbolo de Cristo — e é então escondida atrás do altar.

Esta liturgia é marcada pela espera, pela dor e pelo silêncio. A tradição nos ensina que é na noite escura que Deus mais trabalha em nossa alma. São João da Cruz, mestre da mística cristã, nos fala da “noite escura do espírito”, pela qual o fiel é purificado e unido a Deus. O Ofício das Trevas é a dramatização litúrgica desta noite.

Quando e onde é celebrado?

Historicamente, o Ofício das Trevas era celebrado nas noites que precediam os dias santos: Quarta-feira (para Quinta-feira Santa), Quinta (para Sexta-feira Santa) e Sexta (para o Sábado Santo). Com o passar dos séculos, especialmente a partir da Reforma Tridentina, foi preservado em mosteiros e comunidades religiosas. Hoje, muitas paróquias que valorizam a liturgia tradicional têm redescoberto essa celebração como um tesouro espiritual para a Semana Santa.

Origem e significado do Ofício das Trevas

O Ofício das Trevas tem origem na Liturgia das Horas, mais especificamente nas Matinas e Laudes dos dias santos. Já no século IX há registros da sua prática em mosteiros europeus. A reforma litúrgica de São Pio V, no século XVI, reafirmou sua importância, inserindo seu uso no Breviário Romano e consolidando seu formato simbólico.

O simbolismo das trevas é profundo: a extinção gradual das velas expressa o abandono de Cristo, a fuga dos discípulos, o silêncio de Deus Pai. A última vela, escondida, recorda a morte e o sepultamento de Jesus. E quando tudo parece perdido, a luz volta — discreta, silenciosa — revelando que Cristo permanece vivo, mesmo no túmulo. Como disse São Gregório de Nissa: “Ele entrou no silêncio para que o mundo escutasse novamente a voz da Vida”.

Como é celebrado o Ofício das Trevas?

Tradicionalmente, o Ofício das Trevas compreende a recitação de 15 salmos, intercalados com leituras do Antigo Testamento e dos Profetas, além de responsórios profundos e contemplativos. Após cada salmo, uma vela é apagada. No final, permanece uma única vela acesa, que é então retirada ou escondida.

Em seguida, ocorre o momento do strepitus: um ruído forte, geralmente um estrondo ou batida, que representa o terremoto após a morte de Cristo ou o fechamento de Seu túmulo. Em algumas comunidades, esse momento é vivido com especial intensidade, e o silêncio que se segue é profundo, cortante, quase escatológico.

Embora a forma tradicional utilize o latim e o canto gregoriano, versões adaptadas têm sido celebradas em português, mantendo o espírito da liturgia e promovendo maior participação dos fieis.

O Ofício das Trevas e a espiritualidade da Semana Santa

O Ofício das Trevas é uma das expressões mais tocantes da espiritualidade do Tríduo Pascal. Ele conduz o fiel a um mergulho interior, despertando a alma para a gravidade do pecado, a dor da Paixão e a esperança da Ressurreição. Santo Afonso de Ligório recomendava essa forma de oração como preparação para o Sábado Santo, quando “a Igreja parece estar em vigília diante do sepulcro do Esposo”.

Muitos fieis vivem o Ofício das Trevas como uma vigília no Horto das Oliveiras. Em silêncio, unem-se a Cristo em Sua solidão, experimentando o abandono, a espera, a cruz. O Papa Bento XVI dizia que “o cristianismo nasce do silêncio”, e esse silêncio, vivido à luz do Círio escondido, é fecundo.

Saiba tudo sobre a liturgia e o significado de cada dia da Semana Santa:
Domingo de Ramos
Segunda-feira Santa
Terça-feira Santa
Quarta-feira Santa
Quinta-feira Santa
Sexta-feira Santa
Vigília Pascal
Domingo de Páscoa

O Ofício das Trevas na tradição da Igreja

Papado, santos e ordens religiosas sempre valorizaram esta celebração. São João Paulo II participou do Ofício das Trevas em várias ocasiões, especialmente em encontros com monges. A Ordem de São Bento, os cistercienses e cartuxos preservam fielmente essa liturgia em suas formas mais antigas.

Mesmo em tempos modernos, onde tudo tende ao ruído e à pressa, o Ofício das Trevas ressurge como um remédio espiritual. Ele devolve ao fiel o valor do tempo sagrado, do símbolo, da pausa. Santa Teresa dos Andes dizia que “Deus se revela mais claramente quando tudo se cala” — e é exatamente isso que esta celebração proporciona.

Como participar ou celebrar o Ofício das Trevas?

Para quem deseja viver essa tradição, o primeiro passo é verificar se sua paróquia, comunidade religiosa ou catedral realiza a celebração. Caso não, é possível rezá-lo em casa, com simplicidade: um candelabro com 15 velas, um texto adaptado das Laudes e Matinas, e o coração disponível.

Versões digitais do Ofício das Trevas podem ser encontradas em sites confiáveis como o da CNBB, da Abadia de São Bento ou de apostolados litúrgicos. O mais importante é rezar com recolhimento, respeitando o silêncio, meditando os Salmos e unindo-se à Paixão do Senhor.

Pode-se fazer em família, com as luzes da casa apagadas, deixando que apenas a vela final ilumine o ambiente. O estrondo do strepitus pode ser substituído por uma batida discreta, mas significativa, lembrando que até o silêncio tem som.

Um convite à esperança no silêncio

O Ofício das Trevas não termina em desespero, mas em esperança. A vela escondida reaparece discretamente, sinal de que a morte não venceu. Cristo está vivo, mesmo que os olhos não o vejam. Ele permanece conosco, silencioso, como no tabernáculo.

Esta liturgia ensina a esperar. Ensina a ouvir. Ensina que o sofrimento pode ser fecundo quando vivido com Cristo. Como escreveu São João Paulo II: “Não temais! Abri, antes, escancarai as portas a Cristo!” — até mesmo as portas do silêncio, da dor, do túmulo.

O Ofício das Trevas é um convite a viver a Semana Santa com os olhos da fé, esperando pela manhã da Ressurreição com o coração de quem já viu a luz, mesmo nas trevas.

Confira também o nosso Guia completo para católicos sobre a Páscoa.

Cadastre-se para receber nossos conteúdos exclusivos e fique por dentro de todas as novidades!

Insira seu nome e e-mail para receber atualizações da MBC.
Selecione os conteúdos que mais te interessam e fique por dentro de todas as novidades!

Ao clicar em quero assinar você declara aceita receber conteúdos em seu email e concorda com a nossa política de privacidade.