Entenda o que celebramos na Santa Missa do Sábado de Aleluia, a Vigília Pascal com a liturgia mais bela e importante do ano litúrgico.
Entenda o que celebramos na Santa Missa do Sábado de Aleluia, a Vigília Pascal com a liturgia mais bela e importante do ano litúrgico.
Entenda o que celebramos na Santa Missa do Sábado de Aleluia, a Vigília Pascal com a liturgia mais bela e importante do ano litúrgico.
Na Solene Vigília Pascal, na noite de Sábado, nos unimos como Igreja para, solenemente, rememorarmos e vivermos a Páscoa do Senhor: a passagem da morte para a vida verdadeira. É o dia em que Cristo vence o pecado e a morte, ressuscitando ao terceiro dia. O coração do ano litúrgico, a celebração mais importante para nossa fé, a Vigília mãe de todas as vigílias, com ricos símbolos e uma belíssima liturgia. Nesta noite santa, a Igreja celebra, de modo sacramental mais pleno, a obra da redenção e da perfeita glorificação de Deus, como memória, presença e expectativa.
Na verdade, o nome Sábado de Aleluia é um nome popular, que pode nos confundir sobre a natureza desta liturgia. O Sábado Santo — forma mais correta de se referir a este dia — é o segundo ato do Tríduo Pascal, quando Cristo, morto e sepultado, desce à mansão dos mortos. Do cair do dia da Sexta-feira Santa até as Vésperas do Domingo de Páscoa, impera o silêncio. Nenhuma celebração litúrgica acontece, a não ser as devoções e procissões em nossas ruas e igrejas. O Sábado Santo é o dia em que a Igreja está no sepulcro com o Senhor. Em si, a Solene Vigília Pascal não faz parte da liturgia de Sábado, nem como última ação litúrgica deste dia, e é por isso que o nome popular “Sábado de Aleluia” pode nos confundir. A Solene Vigília Pascal é já a primeira ação litúrgica do Domingo da Ressurreição do Senhor!
Curiosidade: no Sábado Santo, antes da Solene Vigília Pascal, não se celebra nenhum sacramento, a não ser os de cura. Batizados, casamentos, ordenações, crismas… tudo é suspenso neste dia.
A liturgia da Solene Vigília Pascal possui quatro partes essenciais, devendo sempre ser celebrada na noite de sábado para o Domingo da Ressurreição. Este é o motivo de ser chamado de Vigília Pascal pois, como Igreja, permanecemos em Vigília, aguardando a feliz ressurreição de Cristo, no terceiro dia.
Nesta noite há a benção do fogo novo e o acendimento do Círio Pascal (que remonta ao século V no Oriente e IX em Roma); Proclamação da Páscoa do Senhor, que é um hino antiquíssimo e belo, o Exultet; a Liturgia da Palavra, com a narração de toda história da salvação em sete leituras e salmos, junto à Epístola e Evangelho; o Glória e o Aleluia, solenemente entoados; a liturgia batismal, fazendo com que nos associemos à morte e ressurreição de Cristo pelo Batismo; e, enfim, a solene celebração do Santo Sacrifício da Missa.
A liturgia da Vigília Pascal inicia-se fora da Igreja, às escuras, indicando as trevas em que o mudo fica na ausência de Cristo. A única luz que brilha é a de uma fogueira, que será abençoada nesta noite santa. A benção da luz, ou lucernário, indica o Cristo Ressuscitado, que ilumina as trevas.
Após a benção do fogo, o sacerdote abençoa o Círio Pascal, que é uma vela gigante, feita de cera de abelha. Essa vela representa o próprio Cristo, e permanecerá na Igreja nos 50 dias do Tempo Pascal, sendo usada nas celebrações sacramentais como batismo e crisma. É com essa luz que entramos na Igreja, acendendo nossas velas, e iluminando a noite com a luz do Cristo ressuscitado.
O Círio é marcado com alguns símbolos: primeiramente, o sinal da Cruz, símbolo da vitória sobre o pecado e a morte; o alfa e ômega, representam o Cristo como princípio e fim da criação; o ano civil em vigor é inscrito também, indicando que a Cristo pertence o tempo e a eternidade. Além disso, são cravados 5 cravos de incenso no círio, sinais das chagas de Cristo.
O Círio vai à frente, iluminando as trevas, como a coluna luminosa do Antigo Testamento, que abre os caminhos rumo à Terra Prometida.
Ao chegar na igreja, o sacerdote ou diácono — na ausência deles, algum ministro leigo — solenemente entoa o Exultet, chamado Proclamação da Páscoa do Senhor. É um hino antigo que proclama a alegria pascal para toda a Igreja, fazendo memória da salvação, convidando à alegria, ao júbilo e louvores pela ressurreição de Cristo. É a história de nossa salvação em forma de poema.
Texto latino:
Exultet iam angelica turba caelorum:
exultent divina mysteria:
et pro tanti Regis victoria tuba insonet salutaris.
Gaudeat et tellus tantis irradiata fulgoribus:
et, aeterni Regis splendore illustrata,
totius orbis se sentiat amisisse caliginem.
Laetetur et mater Ecclesia,
tanti luminis adornata fulgoribus:
et magnis populorum vocibus haec aula resultet.
Quapropter astantes vos, fratres carissimi,
ad tam miram huius sancti luminis claritatem,
una mecum, quaeso,
Dei omnipotentis misericordiam invocate.
Ut, qui me non meis meritis
intra Levitarum numerum dignatus est aggregare,
luminis sui claritatem infundens,
cerei huius laudem implere perficiat.
V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.
V. Sursum corda.
R. Habemus ad Dominum.
V. Gratias agamus Domino Deo nostro.
R. Dignum et iustum est.
Vere dignum et iustum est,
invisibilem Deum Patrem omnipotentem
Filiumque eius unigenitum,
Dominum nostrum Iesum Christum,
toto cordis ac mentis affectu et vocis ministerio personare.
Qui pro nobis aeterno Patri Adae debitum solvit,
et veteris piaculi cautionem pio cruore detersit.
Haec sunt enim festa paschalia,
in quibus verus ille Agnus occiditur,
cuius sanguine postes fidelium consecrantur.
Haec nox est,
in qua primum patres nostros, filios Israel
eductos de Aegypto,
Mare Rubrum sicco vestigio transire fecisti.
Haec igitur nox est,
quae peccatorum tenebras columnae illuminatione purgavit.
Haec nox est,
quae hodie per universum mundum in Christo credentes,
a vitiis saeculi et caligine peccatorum segregatos,
reddit gratiae, sociat sanctitati.
Haec nox est,
in qua, destructis vinculis mortis,
Christus ab inferis victor ascendit.
Nihil enim nobis nasci profuit,
nisi redimi profuisset.
O mira circa nos tuae pietatis dignatio!
O inaestimabilis dilectio caritatis:
ut servum redimeres, Filium tradidisti!
O certe necessarium Adae peccatum,
quod Christi morte deletum est!
O felix culpa,
quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem!
O vere beata nox,
quae sola meruit scire tempus et horam,
in qua Christus ab inferis resurrexit!
Haec nox est, de qua scriptum est:
Et nox sicut dies illuminabitur:
et nox illuminatio mea in deliciis meis.
Huius igitur sanctificatio noctis fugat scelera, culpas lavat:
et reddit innocentiam lapsis
et maestis laetitiam.
Fugat odia, concordiam parat
et curvat imperia.
In huius igitur noctis gratia, suscipe, sancte Pater,
laudis huius sacrificium vespertinum,
quod tibi in hac cerei oblatione sollemni,
per ministrorum manus
de operibus apum, sacrosancta reddit Ecclesia.
Sed iam columnae huius praeconia novimus,
quam in honorem Dei rutilans ignis accendit.
Qui, licet sit divisus in partes,
mutuati tamen luminis detrimenta non novit.
Alitur enim liquantibus ceris,
quas in substantiam pretiosae huius lampadis
apis mater eduxit.
O vere beata nox,
in qua terrenis caelestia, humanis divina iunguntur!
Oramus ergo te, Domine,
ut cereus iste in honorem tui nominis consecratus,
ad noctis huius caliginem destruendam,
indeficiens perseveret.
Et in odorem suavitatis acceptus,
supernis luminaribus misceatur.
Flammas eius lucifer matutinus inveniat
Ille, inquam, lucifer, qui nescit occasum
Christus Filius tuus,
qui, regressus ab inferis,
humano generi serenus illuxit,
et vivit et regnat in saecula saeculorum.
Amen.
Texto em português:
Exulte o céu, e os anjos triunfantes, mensageiros de Deus, desçam cantando; façam soar trombetas fulgurantes, A vitória de um Rei anunciando.
Alegre-se também a terra amiga, que meia há tantas luzes resplandece; e, vendo dissipar-se a treva antiga, ao som do eterno Rei brilha e se aquece.
Que a Mãe Igreja alegre-se igualmente, erguendo as velas deste fogo novo, e escute, reboando de repente, o júbilo cantado pelo povo.
E vós, que estais aqui, irmãos queridos, em torno desta chama reluzente, erguei os corações e, assim unidos, invoquemos o Deus onipotente.
Ele, que por seus dons na reclama, quis que entre os seus levitas me encontrasse: para cantar a glória desta chama, de sua luz um raio me traspasse!
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Corações ao alto.
– O nosso coração está em Deus.
– Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
– É nosso dever e nossa salvação.
Sim, verdadeiramente é bom e justo Cantar o Pai de todo o coração, e celebrar seu filho Jesus Cristo,
tornado para nós um novo Adão.
Foi ele quem pagou do outro a culpa, quando por nós à morte se entregou: para pagar o antigo documento, na cruz todo o seu sangue derramou.
Pois eis agora a Páscoa, nossa festa, em que o real Cordeiro se imolou: marcando nossas portas, nossas almas, com seu divino sangue nos salvou.
Esta é, Senhor, a noite em que do Egito retirastes os filhos de Israel, transpondo o Mar Vermelho a pé enxuto, rumo a terra onde correm leite e mel.
Ó noite em que a coluna luminosa as trevas do pecado dissipou, e aos que creem no Cristo em toda a terra em novo povo eleito congregou!
Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor: de que nos valeria ter nascido,
se não nos resgatasse em seu amor?
Ó Deus, quão estupenda caridade vemos no vosso gesto fulgurar: Não hesitais em dar o próprio Filho,
para a culpa dos servos resgatar.
Ó pecado de Adão indispensável, pois Cristo o dissolve em seu amor; ó culpa tão feliz, que há merecido
a graça de um tão grande Redentor!
Só tu, noite feliz, soubeste a hora em que o Cristo da morte ressurgia; e é por isso que de ti foi escrito: A noite será luz para o meu dia! Pois esta noite lava todo o crime, liberta o pecador do seus grilhões; dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os corações.
Ó noite de alegria verdadeira, que prostra o Faraó e ergue os Hebreus, que une de novo ao céu a terra inteira, pondo treva humana a luz de Deus.
Na graça desta noite o vosso povo acende um sacrifício de louvor; acolhei, ó Pai Santo, o fogo novo: não perde, ao dividir-se, o seu fulgor.
O círio que acendeu as nossas velas possa esta noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile quando o dia despontar.
Que ele possa agradar-vos como o Filho, que triunfou da morte e vence o mal: Deus, que a todos acende no seu brilho, e um dia voltará, sol triunfal.
Amém.
A segunda parte da liturgia da Vigília Pascal consiste na Liturgia da Palavra. Trata-se de 7 leituras e 7 salmos, além de uma epístola e um Evangelho, que narram toda a história da salvação, até Jesus Cristo. A ideia desta noite é podermos vislumbrar toda a salvação de Israel, até chegar a Nosso Senhor ressuscitado, anunciado pelos profetas e cantado pela Igreja nos salmos. Todas as leituras possuem uma perfeita coerência e ritmo gradativo, começando em Gênesis até chegar nos Evangelhos e cartas paulinas.
As leituras do Antigo Testamento são as seguintes:
Primeira leitura: Gn 1,1-2,2 ou 1,1.26-31a – Viu Deus que tudo o que tinha feito era bom.
Segunda leitura: Gn 22,1-18 ou 1-2.9a.10-13.15-1 O sacrifício de Abraão, nosso pai na fé.
Terceira leitura: Ex 14-15,1 – Os israelitas cruzaram o mar Vermelho.
Quarta leitura: Is 54,5-14 – Com misericórdia eterna te ama o Senhor, teu redentor.
Quinta leitura: Is 55, 1-11 – Vinde a mim, e vivereis; firmarei convosco uma aliança perpétua.
Sexta leitura: Br 3,9-15.32-4,4 – Caminhai na claridade do resplendor do Senhor.
Sétima leitura: Ez 36.16-28 – Derramarei sobre vós uma água pura, e vos darei um coração novo.
Antes das leituras do Novo Testamento, a Igreja entoa, solenemente, o Glória, exultando pela passagem do Antigo para o Novo Testamento. Tocam-se os sinos, acendem-se as velas do altar, e ilumina-se toda a igreja.
Lê-se, então, a epístola de São Paulo aos Romanos, que testemunha a ressurreição de Cristo na Igreja. 1. Uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre.
O aleluia, silenciado durante toda a Quaresma, é entoado solenemente pela Igreja, que rejubila-se com o anúncio da Páscoa. Proclama-se, enfim, o Evangelho da Ressurreição, que é tirado dos sinóticos de acordo com o Ano litúrgico, sendo: Ano A: Mt 28.1-10 – Ressuscitou e vos precede em Galileia; Ano B: Mc 16, 1-17 – Jesus de Nazaré, o que foi crucificado, ressuscitou; e Ano C: Lc 24.1-12 – Porque buscam entre os mortos ao que está vivo.
A beleza da Liturgia da Palavra, por mais que seja longa nesta noite, está precisamente na narração da história da salvação. É a recapitulação de tudo através do Cristo Ressuscitado. Porém, por questões pastorais, pode-se diminuir a quantidade de leituras para quatro. Ainda assim, obrigatoriamente, deve-se ler as seguintes, dentre as quatro leituras escolhidas (além do Evangelho): Ex 14-15,1 e Rm 6,3-11.
Como foi abordado acima, esta liturgia não figura o último ato litúrgico do dia de Sábado Santo. Popularmente chamamos de Sábado de Aleluia, o que pode nos confundir acerca do caráter desta liturgia. Na verdade, a Vigília Pascal é o primeiro ato solene do Domingo da Ressurreição, onde celebramos a ressurreição de Cristo ao terceiro dia.
Para o calendário judeu, as vésperas do dia seguinte já pertencem àquele dia. Dessa forma, sábado à noite já é oficialmente domingo. Ademais, celebramos uma verdadeira Vigília. Por isso, recomenda-se que esta liturgia seja celebrada o mais tarde possível. Nos primórdios do cristianismo, ela avançava madrugada adentro, até a manhã da Páscoa, manhã da ressurreição, onde Cristo, nossa luz, ressurge da morte.
Nesta noite, celebramos uma liturgia verdadeiramente batismal. É a liturgia por excelência para se realizar todos os batizados da Igreja. Desde o princípio, os catecúmenos, após 40 dias de um árduo caminho, eram batizados, associando suas vidas à morte e ressurreição de Cristo, integrando-se à Igreja na noite da Páscoa.
Mesmo que com o tempo se tenha perdido esse caráter de batizar os catecúmenos nesta noite santa, trata-se, também, de uma renovação das promessas batismais de todos os fieis. Pode-se abençoar a água batismal que será usada nos batizados de todo o ano, ou, ao menos, abençoar a água que servirá para aspergir os fieis durante a liturgia. Em todo caso, os batizados todos renovam seu batismo, renunciando ao pecado e ao demônio e professando a fé batismal.
A Eucaristia, quarta parte da liturgia da Vigília Pascal, é o ápice da celebração. Por ela, tendo perpassado vários aspectos que nos inseriram no mistério da Páscoa do Senhor, somos convidados a participar, verdadeiramente, pelo Corpo e Sangue do Cristo ressuscitado, de sua vida gloriosa. É a Eucaristia mais importante do ano.
A Páscoa do Senhor Jesus é de tamanha magnitude que não se celebra somente em um dia. A oitava da Páscoa são os primeiros oito dias do Tempo Pascal em que se celebra, verdadeiramente, a cada dia, a Páscoa do Senhor como um único dia.
Ainda que não seja preceito ir à missa todos os dias desta semana, convém celebrar ao máximo este evento tão grandioso. A alegria da ressurreição é tamanha que a Igreja não se contém e se rejubila vários dias consecutivos, celebrando de forma solene, a ressurreição de Cristo.
Para saber mais, leia também o artigo específico sobre a Oitava de Páscoa.
Pode-se perceber, desde já, que essa liturgia possui diversos aspectos essenciais para nossa espiritualidade católica. Não é à toa que é chamada de Mãe de todas as Vigílias. É a Liturgia mais importante de todo o ano litúrgico. É desta noite santa que surgem todas as solenidades que celebramos. É essa noite que dá sentido a todos os domingos e todas as liturgias eucarísticas.
Por isso, é justo e necessário que, como batizados, saibamos o que estamos celebrando na Solene Vigília Pascal, a fim de vivermos, com mais autenticidade, este mistério.
Este é o dia em que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e n’Ele exultemos. Aleluia! Feliz Páscoa!
Por fim, deixamos abaixo uma meditação guiada para esta noite:
O maior clube de leitores católicos do Brasil.
Entenda o que celebramos na Santa Missa do Sábado de Aleluia, a Vigília Pascal com a liturgia mais bela e importante do ano litúrgico.
Na Solene Vigília Pascal, na noite de Sábado, nos unimos como Igreja para, solenemente, rememorarmos e vivermos a Páscoa do Senhor: a passagem da morte para a vida verdadeira. É o dia em que Cristo vence o pecado e a morte, ressuscitando ao terceiro dia. O coração do ano litúrgico, a celebração mais importante para nossa fé, a Vigília mãe de todas as vigílias, com ricos símbolos e uma belíssima liturgia. Nesta noite santa, a Igreja celebra, de modo sacramental mais pleno, a obra da redenção e da perfeita glorificação de Deus, como memória, presença e expectativa.
Na verdade, o nome Sábado de Aleluia é um nome popular, que pode nos confundir sobre a natureza desta liturgia. O Sábado Santo — forma mais correta de se referir a este dia — é o segundo ato do Tríduo Pascal, quando Cristo, morto e sepultado, desce à mansão dos mortos. Do cair do dia da Sexta-feira Santa até as Vésperas do Domingo de Páscoa, impera o silêncio. Nenhuma celebração litúrgica acontece, a não ser as devoções e procissões em nossas ruas e igrejas. O Sábado Santo é o dia em que a Igreja está no sepulcro com o Senhor. Em si, a Solene Vigília Pascal não faz parte da liturgia de Sábado, nem como última ação litúrgica deste dia, e é por isso que o nome popular “Sábado de Aleluia” pode nos confundir. A Solene Vigília Pascal é já a primeira ação litúrgica do Domingo da Ressurreição do Senhor!
Curiosidade: no Sábado Santo, antes da Solene Vigília Pascal, não se celebra nenhum sacramento, a não ser os de cura. Batizados, casamentos, ordenações, crismas… tudo é suspenso neste dia.
A liturgia da Solene Vigília Pascal possui quatro partes essenciais, devendo sempre ser celebrada na noite de sábado para o Domingo da Ressurreição. Este é o motivo de ser chamado de Vigília Pascal pois, como Igreja, permanecemos em Vigília, aguardando a feliz ressurreição de Cristo, no terceiro dia.
Nesta noite há a benção do fogo novo e o acendimento do Círio Pascal (que remonta ao século V no Oriente e IX em Roma); Proclamação da Páscoa do Senhor, que é um hino antiquíssimo e belo, o Exultet; a Liturgia da Palavra, com a narração de toda história da salvação em sete leituras e salmos, junto à Epístola e Evangelho; o Glória e o Aleluia, solenemente entoados; a liturgia batismal, fazendo com que nos associemos à morte e ressurreição de Cristo pelo Batismo; e, enfim, a solene celebração do Santo Sacrifício da Missa.
A liturgia da Vigília Pascal inicia-se fora da Igreja, às escuras, indicando as trevas em que o mudo fica na ausência de Cristo. A única luz que brilha é a de uma fogueira, que será abençoada nesta noite santa. A benção da luz, ou lucernário, indica o Cristo Ressuscitado, que ilumina as trevas.
Após a benção do fogo, o sacerdote abençoa o Círio Pascal, que é uma vela gigante, feita de cera de abelha. Essa vela representa o próprio Cristo, e permanecerá na Igreja nos 50 dias do Tempo Pascal, sendo usada nas celebrações sacramentais como batismo e crisma. É com essa luz que entramos na Igreja, acendendo nossas velas, e iluminando a noite com a luz do Cristo ressuscitado.
O Círio é marcado com alguns símbolos: primeiramente, o sinal da Cruz, símbolo da vitória sobre o pecado e a morte; o alfa e ômega, representam o Cristo como princípio e fim da criação; o ano civil em vigor é inscrito também, indicando que a Cristo pertence o tempo e a eternidade. Além disso, são cravados 5 cravos de incenso no círio, sinais das chagas de Cristo.
O Círio vai à frente, iluminando as trevas, como a coluna luminosa do Antigo Testamento, que abre os caminhos rumo à Terra Prometida.
Ao chegar na igreja, o sacerdote ou diácono — na ausência deles, algum ministro leigo — solenemente entoa o Exultet, chamado Proclamação da Páscoa do Senhor. É um hino antigo que proclama a alegria pascal para toda a Igreja, fazendo memória da salvação, convidando à alegria, ao júbilo e louvores pela ressurreição de Cristo. É a história de nossa salvação em forma de poema.
Texto latino:
Exultet iam angelica turba caelorum:
exultent divina mysteria:
et pro tanti Regis victoria tuba insonet salutaris.
Gaudeat et tellus tantis irradiata fulgoribus:
et, aeterni Regis splendore illustrata,
totius orbis se sentiat amisisse caliginem.
Laetetur et mater Ecclesia,
tanti luminis adornata fulgoribus:
et magnis populorum vocibus haec aula resultet.
Quapropter astantes vos, fratres carissimi,
ad tam miram huius sancti luminis claritatem,
una mecum, quaeso,
Dei omnipotentis misericordiam invocate.
Ut, qui me non meis meritis
intra Levitarum numerum dignatus est aggregare,
luminis sui claritatem infundens,
cerei huius laudem implere perficiat.
V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.
V. Sursum corda.
R. Habemus ad Dominum.
V. Gratias agamus Domino Deo nostro.
R. Dignum et iustum est.
Vere dignum et iustum est,
invisibilem Deum Patrem omnipotentem
Filiumque eius unigenitum,
Dominum nostrum Iesum Christum,
toto cordis ac mentis affectu et vocis ministerio personare.
Qui pro nobis aeterno Patri Adae debitum solvit,
et veteris piaculi cautionem pio cruore detersit.
Haec sunt enim festa paschalia,
in quibus verus ille Agnus occiditur,
cuius sanguine postes fidelium consecrantur.
Haec nox est,
in qua primum patres nostros, filios Israel
eductos de Aegypto,
Mare Rubrum sicco vestigio transire fecisti.
Haec igitur nox est,
quae peccatorum tenebras columnae illuminatione purgavit.
Haec nox est,
quae hodie per universum mundum in Christo credentes,
a vitiis saeculi et caligine peccatorum segregatos,
reddit gratiae, sociat sanctitati.
Haec nox est,
in qua, destructis vinculis mortis,
Christus ab inferis victor ascendit.
Nihil enim nobis nasci profuit,
nisi redimi profuisset.
O mira circa nos tuae pietatis dignatio!
O inaestimabilis dilectio caritatis:
ut servum redimeres, Filium tradidisti!
O certe necessarium Adae peccatum,
quod Christi morte deletum est!
O felix culpa,
quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem!
O vere beata nox,
quae sola meruit scire tempus et horam,
in qua Christus ab inferis resurrexit!
Haec nox est, de qua scriptum est:
Et nox sicut dies illuminabitur:
et nox illuminatio mea in deliciis meis.
Huius igitur sanctificatio noctis fugat scelera, culpas lavat:
et reddit innocentiam lapsis
et maestis laetitiam.
Fugat odia, concordiam parat
et curvat imperia.
In huius igitur noctis gratia, suscipe, sancte Pater,
laudis huius sacrificium vespertinum,
quod tibi in hac cerei oblatione sollemni,
per ministrorum manus
de operibus apum, sacrosancta reddit Ecclesia.
Sed iam columnae huius praeconia novimus,
quam in honorem Dei rutilans ignis accendit.
Qui, licet sit divisus in partes,
mutuati tamen luminis detrimenta non novit.
Alitur enim liquantibus ceris,
quas in substantiam pretiosae huius lampadis
apis mater eduxit.
O vere beata nox,
in qua terrenis caelestia, humanis divina iunguntur!
Oramus ergo te, Domine,
ut cereus iste in honorem tui nominis consecratus,
ad noctis huius caliginem destruendam,
indeficiens perseveret.
Et in odorem suavitatis acceptus,
supernis luminaribus misceatur.
Flammas eius lucifer matutinus inveniat
Ille, inquam, lucifer, qui nescit occasum
Christus Filius tuus,
qui, regressus ab inferis,
humano generi serenus illuxit,
et vivit et regnat in saecula saeculorum.
Amen.
Texto em português:
Exulte o céu, e os anjos triunfantes, mensageiros de Deus, desçam cantando; façam soar trombetas fulgurantes, A vitória de um Rei anunciando.
Alegre-se também a terra amiga, que meia há tantas luzes resplandece; e, vendo dissipar-se a treva antiga, ao som do eterno Rei brilha e se aquece.
Que a Mãe Igreja alegre-se igualmente, erguendo as velas deste fogo novo, e escute, reboando de repente, o júbilo cantado pelo povo.
E vós, que estais aqui, irmãos queridos, em torno desta chama reluzente, erguei os corações e, assim unidos, invoquemos o Deus onipotente.
Ele, que por seus dons na reclama, quis que entre os seus levitas me encontrasse: para cantar a glória desta chama, de sua luz um raio me traspasse!
– O Senhor esteja convosco.
– Ele está no meio de nós.
– Corações ao alto.
– O nosso coração está em Deus.
– Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
– É nosso dever e nossa salvação.
Sim, verdadeiramente é bom e justo Cantar o Pai de todo o coração, e celebrar seu filho Jesus Cristo,
tornado para nós um novo Adão.
Foi ele quem pagou do outro a culpa, quando por nós à morte se entregou: para pagar o antigo documento, na cruz todo o seu sangue derramou.
Pois eis agora a Páscoa, nossa festa, em que o real Cordeiro se imolou: marcando nossas portas, nossas almas, com seu divino sangue nos salvou.
Esta é, Senhor, a noite em que do Egito retirastes os filhos de Israel, transpondo o Mar Vermelho a pé enxuto, rumo a terra onde correm leite e mel.
Ó noite em que a coluna luminosa as trevas do pecado dissipou, e aos que creem no Cristo em toda a terra em novo povo eleito congregou!
Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor: de que nos valeria ter nascido,
se não nos resgatasse em seu amor?
Ó Deus, quão estupenda caridade vemos no vosso gesto fulgurar: Não hesitais em dar o próprio Filho,
para a culpa dos servos resgatar.
Ó pecado de Adão indispensável, pois Cristo o dissolve em seu amor; ó culpa tão feliz, que há merecido
a graça de um tão grande Redentor!
Só tu, noite feliz, soubeste a hora em que o Cristo da morte ressurgia; e é por isso que de ti foi escrito: A noite será luz para o meu dia! Pois esta noite lava todo o crime, liberta o pecador do seus grilhões; dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os corações.
Ó noite de alegria verdadeira, que prostra o Faraó e ergue os Hebreus, que une de novo ao céu a terra inteira, pondo treva humana a luz de Deus.
Na graça desta noite o vosso povo acende um sacrifício de louvor; acolhei, ó Pai Santo, o fogo novo: não perde, ao dividir-se, o seu fulgor.
O círio que acendeu as nossas velas possa esta noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile quando o dia despontar.
Que ele possa agradar-vos como o Filho, que triunfou da morte e vence o mal: Deus, que a todos acende no seu brilho, e um dia voltará, sol triunfal.
Amém.
A segunda parte da liturgia da Vigília Pascal consiste na Liturgia da Palavra. Trata-se de 7 leituras e 7 salmos, além de uma epístola e um Evangelho, que narram toda a história da salvação, até Jesus Cristo. A ideia desta noite é podermos vislumbrar toda a salvação de Israel, até chegar a Nosso Senhor ressuscitado, anunciado pelos profetas e cantado pela Igreja nos salmos. Todas as leituras possuem uma perfeita coerência e ritmo gradativo, começando em Gênesis até chegar nos Evangelhos e cartas paulinas.
As leituras do Antigo Testamento são as seguintes:
Primeira leitura: Gn 1,1-2,2 ou 1,1.26-31a – Viu Deus que tudo o que tinha feito era bom.
Segunda leitura: Gn 22,1-18 ou 1-2.9a.10-13.15-1 O sacrifício de Abraão, nosso pai na fé.
Terceira leitura: Ex 14-15,1 – Os israelitas cruzaram o mar Vermelho.
Quarta leitura: Is 54,5-14 – Com misericórdia eterna te ama o Senhor, teu redentor.
Quinta leitura: Is 55, 1-11 – Vinde a mim, e vivereis; firmarei convosco uma aliança perpétua.
Sexta leitura: Br 3,9-15.32-4,4 – Caminhai na claridade do resplendor do Senhor.
Sétima leitura: Ez 36.16-28 – Derramarei sobre vós uma água pura, e vos darei um coração novo.
Antes das leituras do Novo Testamento, a Igreja entoa, solenemente, o Glória, exultando pela passagem do Antigo para o Novo Testamento. Tocam-se os sinos, acendem-se as velas do altar, e ilumina-se toda a igreja.
Lê-se, então, a epístola de São Paulo aos Romanos, que testemunha a ressurreição de Cristo na Igreja. 1. Uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre.
O aleluia, silenciado durante toda a Quaresma, é entoado solenemente pela Igreja, que rejubila-se com o anúncio da Páscoa. Proclama-se, enfim, o Evangelho da Ressurreição, que é tirado dos sinóticos de acordo com o Ano litúrgico, sendo: Ano A: Mt 28.1-10 – Ressuscitou e vos precede em Galileia; Ano B: Mc 16, 1-17 – Jesus de Nazaré, o que foi crucificado, ressuscitou; e Ano C: Lc 24.1-12 – Porque buscam entre os mortos ao que está vivo.
A beleza da Liturgia da Palavra, por mais que seja longa nesta noite, está precisamente na narração da história da salvação. É a recapitulação de tudo através do Cristo Ressuscitado. Porém, por questões pastorais, pode-se diminuir a quantidade de leituras para quatro. Ainda assim, obrigatoriamente, deve-se ler as seguintes, dentre as quatro leituras escolhidas (além do Evangelho): Ex 14-15,1 e Rm 6,3-11.
Como foi abordado acima, esta liturgia não figura o último ato litúrgico do dia de Sábado Santo. Popularmente chamamos de Sábado de Aleluia, o que pode nos confundir acerca do caráter desta liturgia. Na verdade, a Vigília Pascal é o primeiro ato solene do Domingo da Ressurreição, onde celebramos a ressurreição de Cristo ao terceiro dia.
Para o calendário judeu, as vésperas do dia seguinte já pertencem àquele dia. Dessa forma, sábado à noite já é oficialmente domingo. Ademais, celebramos uma verdadeira Vigília. Por isso, recomenda-se que esta liturgia seja celebrada o mais tarde possível. Nos primórdios do cristianismo, ela avançava madrugada adentro, até a manhã da Páscoa, manhã da ressurreição, onde Cristo, nossa luz, ressurge da morte.
Nesta noite, celebramos uma liturgia verdadeiramente batismal. É a liturgia por excelência para se realizar todos os batizados da Igreja. Desde o princípio, os catecúmenos, após 40 dias de um árduo caminho, eram batizados, associando suas vidas à morte e ressurreição de Cristo, integrando-se à Igreja na noite da Páscoa.
Mesmo que com o tempo se tenha perdido esse caráter de batizar os catecúmenos nesta noite santa, trata-se, também, de uma renovação das promessas batismais de todos os fieis. Pode-se abençoar a água batismal que será usada nos batizados de todo o ano, ou, ao menos, abençoar a água que servirá para aspergir os fieis durante a liturgia. Em todo caso, os batizados todos renovam seu batismo, renunciando ao pecado e ao demônio e professando a fé batismal.
A Eucaristia, quarta parte da liturgia da Vigília Pascal, é o ápice da celebração. Por ela, tendo perpassado vários aspectos que nos inseriram no mistério da Páscoa do Senhor, somos convidados a participar, verdadeiramente, pelo Corpo e Sangue do Cristo ressuscitado, de sua vida gloriosa. É a Eucaristia mais importante do ano.
A Páscoa do Senhor Jesus é de tamanha magnitude que não se celebra somente em um dia. A oitava da Páscoa são os primeiros oito dias do Tempo Pascal em que se celebra, verdadeiramente, a cada dia, a Páscoa do Senhor como um único dia.
Ainda que não seja preceito ir à missa todos os dias desta semana, convém celebrar ao máximo este evento tão grandioso. A alegria da ressurreição é tamanha que a Igreja não se contém e se rejubila vários dias consecutivos, celebrando de forma solene, a ressurreição de Cristo.
Para saber mais, leia também o artigo específico sobre a Oitava de Páscoa.
Pode-se perceber, desde já, que essa liturgia possui diversos aspectos essenciais para nossa espiritualidade católica. Não é à toa que é chamada de Mãe de todas as Vigílias. É a Liturgia mais importante de todo o ano litúrgico. É desta noite santa que surgem todas as solenidades que celebramos. É essa noite que dá sentido a todos os domingos e todas as liturgias eucarísticas.
Por isso, é justo e necessário que, como batizados, saibamos o que estamos celebrando na Solene Vigília Pascal, a fim de vivermos, com mais autenticidade, este mistério.
Este é o dia em que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e n’Ele exultemos. Aleluia! Feliz Páscoa!
Por fim, deixamos abaixo uma meditação guiada para esta noite: