Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora Aparecida… conheça mais sobre estes títulos!
Apesar da diversidade de títulos que a Virgem Maria possui, uma coisa é certa: Ela é a mesma pessoa em todos eles.
E, com o seu cuidado de Mãe, Maria deseja se apresentar ao seu povo de uma forma que todos possam reconhecê-la.
Por isso, em cada aparição que Nossa Senhora faz, sua imagem imprime as características da população local.
Não é por acaso que Nossa Senhora de Guadalupe, a Padroeira da América Latina, possui traços indígenas, por exemplo.
Assim como os títulos originários das aparições, Nossa Senhora também possui diversos outros títulos devocionais, que expressam a doutrina católica e a devoção mariana através os ícones e imagens milagrosos.
O mais importante na devoção à Virgem Maria é saber que precisamos amar Nossa Senhora para amar Nosso Senhor.
Afinal, como dizia São Bernardo, “a vontade de Deus é que recebamos tudo por Maria”.
E tudo inclui a graça de viver o primeiro mandamento da Lei de Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas.
E, para você conhecer e amar ainda mais Nossa Senhora, separamos alguns dos seus principais títulos e sua história.
A devoção possui origem nas aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadette, em 1858, por 18 vezes. Numa das aparições, Nossa Senhora pediu a Bernadette que cavasse no chão da gruta de Lourdes, e de lá jorrou uma fonte de águas milagrosas. Você pode saber mais sobre essa aparição em A história de Nossa Senhora de Lourdes.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora de Lourdes
As aparições de Nossa Senhora de Fátima aos Pastorinhos a 13 de maio de 1917 foram precedidas por três aparições do Anjo de Portugal. Ele preparou as crianças para receberem a mensagem da Virgem, ensinando-as a rezar e pedindo que fizessem penitência.
Quando a Virgem apareceu-lhes a primeira vez, na Cova da Iria, pediu que eles voltassem a esse mesmo lugar durante seis meses seguidos, no dia 13 e naquela mesma hora. Ela insistiu que eles rezassem muitos terços e os convidou a suportar os sofrimentos que Deus os enviasse como um ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido.
Saiba mais em A história de Nossa Senhora de Fátima.
Em 1717, os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso estavam no Rio Paraíba do Sul em busca de peixes pela ocasião da visita de Dom Pedro na região de Garatinguetá, em São Paulo. Sem sucesso na pescaria, eles rogaram à Virgem que os ajudasse.
Ao lançar as redes, eles pescaram a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora e, em seguida, o corpo da imagem. Após isso, ao lançar as redes novamente, os peixes abundaram no rio, ao ponto dos pescadores ficarem receosos de colocá-los todos para o barco, tamanha era a quantidade.
A imagem milagrosa era de Nossa Senhora da Conceição. Pelo ocorrido, foi acrescentado ao seu título “Aparecida”, e Ela tornou-se Rainha e Padroeira do Brasil.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora Aparecida.
O título de Nossa Senhora do Carmo é atribuído à Virgem como padroeira da Ordem dos Carmelitas. O uso do escapulário é fruto de uma promessa de Nossa Senhora do Carmo: “o que com ele morrer, não perecerá no fogo eterno”.
Conheça mais sobre a história de Nossa Senhora do Carmo.
Este título se trata de um dogma mariano. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e Maria é Mãe de Nosso Senhor, logo Maria é Mãe de Deus. Além disso, o título de Mãe de Deus é uma das devoções mais antigas, na época dos primeiros cristãos, de que se tem registro.
Leia mais sobre o Dogma da Maternidade Divina de Maria
A festa da Padroeira da América Latina, Nossa Senhora de Guadalupe, é celebrada no dia 12 de dezembro, dia em que, no ano de 1531, a Virgem Maria pediu a Juan Diego para que fosse à colina recolher rosas e colocar no manto dele, a fim de apresentá-las como prova das aparições ao Arcebispo Dom Juan de Zumárraga. Na festa de Guadalupe também recordamos a mensagem de esperança que a Virgem deu a Juan e a todos que se consagram a Ela — “Não estou aqui, eu que sou tua Mãe?”.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora de Guadalupe.
Esta devoção surgiu a partir das aparições de Maria e da meditação dos fiéis sobre os mistérios do seu Coração materno, unido intimamente ao Coração de Jesus. A festa litúrgica é celebrada no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O Coração Imaculado de Maria é símbolo de sua pureza, amor e dor, especialmente por causa dos pecados do mundo e pela salvação das almas.
Leia mais sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
A devoção surgiu em Paris, em 1830, com as aparições da Virgem Maria a Santa Catarina Labouré. Nossa Senhora pediu que fosse cunhada uma medalha — hoje conhecida como “Medalha Milagrosa” — prometendo grandes graças a quem a usasse com fé.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora das Graças
Esta devoção contempla os sete principais sofrimentos vividos por Maria, desde a profecia de Simeão até o sepultamento de Jesus. É um convite à união com a Mãe Dolorosa que permanece firme aos pés da Cruz.
Leia mais sobre Nossa Senhora das Dores
Invocada como “Auxílio dos Cristãos”, este título mariano foi amplamente promovido por São João Bosco, tornando-se padroeira dos salesianos. A festa litúrgica é celebrada em 24 de maio.
Leia mais sobre Nossa Senhora Auxiliadora
Com raízes na Índia e em Portugal, essa devoção invoca Maria como intercessora especial na cura de doenças e epidemias.
Leia mais sobre Nossa Senhora da Boa Saúde
Celebrada no dia 18 de dezembro, esta invocação recorda o tempo da gestação do Menino Jesus, em clima de alegre expectativa. Também conhecida como “Nossa Senhora da Expectação do Parto”.
Leia mais sobre Nossa Senhora do Ó
Muito venerada em cidades costeiras e ribeirinhas do Brasil, é invocada como protetora das viagens por mar e rio. Sua celebração ocorre em 2 de fevereiro, em sintonia com a festa da Apresentação do Senhor.
Leia mais sobre Nossa Senhora dos Navegantes
Baseada nas revelações à Irmã Amália, no Brasil, em 1930, esta devoção contempla as lágrimas da Virgem pelos pecados da humanidade, com uma profunda mensagem de reparação e confiança.
Leia mais sobre Nossa Senhora das Lágrimas
Celebrada no dia 22 de agosto, esta invocação foi instituída pelo Papa Pio XII e apresenta Maria como Rainha do Céu e da Terra, em união ao reinado de Cristo.
Leia mais sobre Nossa Senhora Rainha
Expressão de fé e resistência do povo negro no Brasil colonial, essa devoção mariana tem raízes na tradição afro-católica e se manifesta em irmandades e festas populares.
Leia mais sobre Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
Aparição aprovada pela Igreja que ocorreu na França, em 1846, com uma forte mensagem de conversão, penitência e reconciliação com Deus.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora de La Salette
Reconhecida oficialmente pela Igreja, essa aparição ocorreu em Ruanda, na década de 1980. Foi um forte chamado à oração e à conversão diante do sofrimento que se aproximava.
Leia mais sobre Nossa Senhora de Kibeho.
Este dogma foi proclamado no Concílio de Éfeso, em 431. Afirma que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois gerou em seu ventre Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Esse título é fundamento de toda a devoção mariana.
Leia mais sobre o Dogma da Maternidade Divina de Maria
A Igreja ensina que Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto de Jesus. Esse dogma expressa a singularidade de sua maternidade e sua total consagração a Deus.
Leia mais sobre a Virgindade Perpétua de Maria
Este dogma, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX, ensina que Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, foi preservada imune de toda mancha do pecado original.
Leia mais sobre o Dogma da Imaculada Conceição
Assunção de Nossa Senhora
Proclamado em 1950 pelo Papa Pio XII, o dogma da Assunção afirma que Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma, ao final de sua vida terrestre.
Leia mais sobre o Dogma da Assunção de Nossa Senhora
Nossa Senhora é a Virgem das virgens, expressão máxima da pureza, desde a concepção até a morte.
A Virgem foi plenamente fiel a Deus. Deu seu “sim” ao anjo Gabriel, e cada passo de sua vida afirmou os planos de Deus – até as dores de Cruz.
Exemplo de humildade sem imitação. A bendita entre as mulheres, que recebeu o Verbo divino em seu seio, será venerada por todas as gerações.
Suas reações nas adversidades e seus atos piedosos na alegria, representam o quão louvável foi sua vida do princípio ao fim.
A Mãe de Deus, que antecipou a vida pública de Cristo com um pedido materno nas bodas de Caná, possui um grande poder porque o Filho nada nega à Sua santa mãe.
Aquela que foi humana e sem mácula conhece toda a fraqueza da nossa condição. Por isso, é a mãe clemente que intercede pelos seus filhos.
Aquela que habitou num só corpo, junto do rebento Divino , possui a prudência e a sabedoria em máximo grau.
A mais santa entre todas as criaturas, escolhida por Deus para ser Mãe do Salvador.
Reconhecida no Concílio de Éfeso, essa invocação proclama a maternidade divina de Maria, Mãe de Jesus Cristo, verdadeiro Deus.
Virgem por excelência, modelo e Rainha de todas as virgens consagradas.
A mulher escolhida por Deus para dar à luz o Messias prometido.
Proclamada por São Paulo VI, é a Mãe espiritual de todos os fiéis e da Igreja nascente.
Intercessora compassiva, cujo olhar materno se volta aos pecadores com ternura.
Repleta da graça divina, torna-se canal por onde fluem as graças de Deus.
Fonte de conforto e confiança, especialmente nos momentos de tribulação.
Imaculada desde a concepção, símbolo da pureza perfeita.
Modelo de castidade vivida com liberdade, alegria e total entrega a Deus.
Virgem antes, durante e depois do parto, segundo a fé da Igreja.
Livre de todo pecado desde sua concepção, como afirma o dogma da Imaculada Conceição.
Toda cheia de graça e ternura, atrai o coração dos fiéis ao amor verdadeiro.
Admirável em suas virtudes e na missão sublime que recebeu de Deus.
Aquela que nos orienta com sabedoria e nos ajuda a discernir a vontade de Deus.
Gerou no tempo Aquele por quem todas as coisas foram feitas.
Cooperadora fiel na obra da Redenção, ao dar à luz o Redentor do mundo.
Reflete com pureza e fidelidade a justiça e a santidade de Deus.
Habitada pelo Verbo eterno, Maria é fonte de sabedoria para os que buscam o bem.
Traz alegria verdadeira, pois nos entrega Jesus, fonte da salvação.
Recipiente santo que acolheu o Espírito e trouxe à luz o Filho de Deus.
Morada digna do Altíssimo, imagem do Tabernáculo da Antiga Aliança.
Modelo de entrega plena e vida consagrada ao Senhor.
Flor do Céu, Maria exala perfume de santidade e beleza espiritual.
Símbolo de fortaleza espiritual e proteção contra os inimigos da fé.
Pureza e beleza que se elevam como torre sólida diante do Céu.
Repleta de méritos e dons divinos, digna morada do Salvador.
Carrega em si a Nova Aliança, Jesus Cristo, Verbo Encarnado.
Aquela por quem o Salvador entrou no mundo e por quem os fiéis alcançam a salvação.
Anuncia a luz de Cristo que dissipa as trevas do pecado.
Consola e fortalece os que sofrem no corpo e na alma.
Abrigo seguro para os que se arrependem e buscam a misericórdia.
Consolo dos que deixam sua terra, sua casa e enfrentam incertezas.
Amparo nas tristezas, socorro nos momentos de angústia.
Protetora do povo de Deus nas lutas espirituais de todos os tempos.
Elevada acima dos coros celestiais, guia e intercede junto aos anjos por nós.
Honrada pelos justos do Antigo Testamento, que anunciaram a esperança messiânica.
Ela é o cumprimento das profecias sobre a vinda do Salvador.
Presente no nascimento da Igreja, fortaleceu os primeiros evangelizadores.
Sofreu espiritualmente junto com o Filho na Paixão, modelo de fortaleza.
Honrada por aqueles que defenderam a fé com coragem e fidelidade.
Modelo e Mãe de todos os que se consagram totalmente a Deus.
Mais santa que todos os santos, intercede por toda a Igreja triunfante, militante e padecente.
Celebrada no dogma da Imaculada Conceição, proclamado por Pio IX em 1854.
Elevada ao Céu em corpo e alma, como sinal de esperança para os fiéis.
Distribui graças por meio desta oração contemplativa e poderosa.
Fonte de paz duradoura, que nasce da reconciliação com Deus.
A Nota doutrinal intitulada Mater Populi fidelis foi publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé em 4 de novembro de 2025, aprovada pelo Papa em 7 de outubro de 2025 com o objetivo de responder a inúmeras consultas e propostas que chegaram à Santa Sé nas últimas décadas — sobretudo sobre títulos marianos que se referem à cooperação de Maria na obra da salvação.
O objetivo é esclarecer em que sentido alguns títulos marianos são aceitáveis ou não, à luz da identidade católica, da centralidade de Cristo como único Salvador e Mediador, e do papel da Mãe de Deus como Mãe dos fiéis.
O título Corredentora aparece em alguns autores espirituais para expressar que Maria cooperou livremente com a obra da Redenção, oferecendo seu “sim” à Encarnação e unindo-se ao sacrifício do Filho até a Cruz. No entanto, a Igreja não adota este título na sua linguagem oficial, porque pode sugerir que Maria teria um papel igual ao de Cristo na Redenção — o que seria doutrinariamente incorreto.
A Nota doutrinal é clara:
“É sempre inoportuno o uso do título de Corredentora para definir a cooperação de Maria. Este título corre o risco de obscurecer a única mediação salvífica de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã.”
(Mater Populi fidelis, 22)
O então cardeal Ratzinger já havia afirmado:
“A palavra ‘Corredentora’ obscureceria essa origem [a centralidade de Cristo]. A fórmula ‘Corredentora’ distancia-se em demasia da linguagem da Escritura e da Patrística e, portanto, provoca mal-entendidos.”
(MPF, 19)
A própria Virgem Maria, como recordou o Papa Francisco, jamais reivindicou esse título:
“Ela não pediu para ser uma quase-redentora ou corredentora: não. O Redentor é um só e este título não se duplica.”
(MPF, 21)
A Igreja ensina claramente:
“O único Mediador é Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos”
(1Tm 2,5-6)
E o Concílio Vaticano II explica a cooperação de Maria sempre como secundária e subordinada a Cristo:
“A função materna de Maria para com os homens […] de modo algum obscurece nem diminui esta única mediação de Cristo, mas manifesta a sua eficácia.”
(Lumen Gentium, 60)
Por isso, a Igreja prefere expressões como: “colaboradora” ou “associada à obra de Cristo”, mas não “Corredentora”.
Em diversas ocasiões, o Papa Francisco reforçou isso:
“Cristo é o único Redentor. Não há corredentores ao seu lado.”
(Papa Francisco, Audiência, 24 de março de 2021)
Por fim, esclarece a Nota Doutrinal:
“Quando uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie de um significado correto, não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e torna-se inconveniente. Neste caso, não ajuda a exaltar Maria como primeira e máxima colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por nossa salvação, único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra à Mãe.” (MPF, 22)
O título Medianeira é tradicional e pode ser utilizado, desde que se afirme com clareza a única mediação de Cristo. Ele é entendido em sentido subordinado e analógico, como cooperação e intercessão de Maria.
“Diante da clareza da Palavra revelada, requer-se uma especial prudência na aplicação do título ‘Medianeira’ a Maria.”
(MPF, 24)
A mediação de Maria é reconhecida, mas não no mesmo nível de Cristo:
“Em sentido estrito, não podemos falar de outra mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.”
(MPF, 27)
Mesmo ao interceder, Maria não comunica a graça — apenas Deus o faz:
“Nenhuma pessoa humana, nem sequer os apóstolos ou a Santíssima Virgem, pode atuar como dispensadora universal da graça.”
(MPF, 53)
O Concílio Vaticano II ensina:
“O papel de Maria na Igreja não cessa: […] com sua múltipla intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna.”
(Lumen Gentium, 62)
Ao mesmo tempo, o próprio texto define o limite:
“Isto, porém, entende-se de modo que nada tire ou acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, único Mediador.”
(Lumen Gentium, 62)
Ou seja:
Este título é plenamente aceito e oficial. Foi declarado por São Paulo VI durante o Concílio Vaticano II e reafirmado por todos os pontífices desde então.
“Declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja.” (Paulo VI, Discurso, 21 nov. 1964)
A Nota explica:
“Maria é a Mãe do Povo fiel que, ‘movida por uma ternura amorosa, caminha em meio ao seu povo e cuida das suas angústias e vicissitudes’.”
(MPF, 76)
Sua maternidade espiritual está fundamentada na Cruz (Jo 19, 26-27) e confirmada pela Tradição:
“Ela é a Mãe fiel que se tornou ‘Mãe de todos os que creem’ e, ao mesmo tempo, é ‘a Mãe da Igreja evangelizadora’.”
(MPF, 76)
Aqui, Maria recebe uma missão universal: ser Mãe de todos os que pertencem a Cristo.
Este título tradicional se refere à intercessão e à presença espiritual de Maria, sem que ela seja a fonte da graça. A Igreja alerta contra compreensões erradas:
“Certas expressões […] transmitem, efetivamente, outros conteúdos menos aceitáveis. […] Apresenta-se Maria como se ela tivesse um depósito de graça separado de Deus […] ou como uma fonte da qual emana toda graça.”
(MPF, 45)
A função mariana deve ser vista como dispositiva, ou seja, que prepara os corações para a ação de Cristo:
“De diversas maneiras, nos ajuda a dispormo-nos à vida da graça que somente o Senhor pode infundir em nós.”
(MPF, 46)
Maria não é fonte da graça. A fonte é sempre Cristo.
Mas Maria, como Mãe do Salvador, coopera para que recebamos a graça — por sua intercessão e pelo exemplo de fé.
“Esta maternidade de Maria na ordem da graça perdura sem interrupção […]
até a consumação de todos os eleitos.”
(Lumen Gentium, 62)
Portanto:
Ao esclarecer os sentidos e os limites de certos títulos atribuídos à Virgem Maria, a Igreja exerce sua missão de Mãe e Mestra, protegendo a integridade da fé e conduzindo os fiéis a uma devoção mariana segura, centrada em Cristo.
Como afirmou o Cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o documento Mater Populi fidelis tem por objetivo aprofundar os fundamentos da devoção mariana, situando Maria à luz do Mistério de Cristo como único Mediador e Redentor, com fidelidade à identidade católica e sensibilidade ecumênica.
Em nenhum momento o texto corrige ou nega qualquer verdade de fé já afirmada pela Igreja.
Trata-se, antes, de uma orientação prudente e caridosa, que convida os fiéis a evitar expressões ambíguas ou mal compreendidas — não para reduzir o papel de Maria, mas para facilitar a plena comunhão com os irmãos separados, especialmente os que têm dificuldade com certas formulações marianas.
É, portanto, um documento que testemunha o zelo da Igreja pela verdade e pela salvação de todos, exercendo a caridade doutrinal sem comprometer a fé recebida dos Apóstolos.
Leia a Nota Doutrinal na íntegra aqui: Mater Populi fidelis — Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na obra da Salvação.
O maior clube de livros católicos do Brasil.
Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora Aparecida… conheça mais sobre estes títulos!
Apesar da diversidade de títulos que a Virgem Maria possui, uma coisa é certa: Ela é a mesma pessoa em todos eles.
E, com o seu cuidado de Mãe, Maria deseja se apresentar ao seu povo de uma forma que todos possam reconhecê-la.
Por isso, em cada aparição que Nossa Senhora faz, sua imagem imprime as características da população local.
Não é por acaso que Nossa Senhora de Guadalupe, a Padroeira da América Latina, possui traços indígenas, por exemplo.
Assim como os títulos originários das aparições, Nossa Senhora também possui diversos outros títulos devocionais, que expressam a doutrina católica e a devoção mariana através os ícones e imagens milagrosos.
O mais importante na devoção à Virgem Maria é saber que precisamos amar Nossa Senhora para amar Nosso Senhor.
Afinal, como dizia São Bernardo, “a vontade de Deus é que recebamos tudo por Maria”.
E tudo inclui a graça de viver o primeiro mandamento da Lei de Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas.
E, para você conhecer e amar ainda mais Nossa Senhora, separamos alguns dos seus principais títulos e sua história.
A devoção possui origem nas aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadette, em 1858, por 18 vezes. Numa das aparições, Nossa Senhora pediu a Bernadette que cavasse no chão da gruta de Lourdes, e de lá jorrou uma fonte de águas milagrosas. Você pode saber mais sobre essa aparição em A história de Nossa Senhora de Lourdes.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora de Lourdes
As aparições de Nossa Senhora de Fátima aos Pastorinhos a 13 de maio de 1917 foram precedidas por três aparições do Anjo de Portugal. Ele preparou as crianças para receberem a mensagem da Virgem, ensinando-as a rezar e pedindo que fizessem penitência.
Quando a Virgem apareceu-lhes a primeira vez, na Cova da Iria, pediu que eles voltassem a esse mesmo lugar durante seis meses seguidos, no dia 13 e naquela mesma hora. Ela insistiu que eles rezassem muitos terços e os convidou a suportar os sofrimentos que Deus os enviasse como um ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido.
Saiba mais em A história de Nossa Senhora de Fátima.
Em 1717, os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso estavam no Rio Paraíba do Sul em busca de peixes pela ocasião da visita de Dom Pedro na região de Garatinguetá, em São Paulo. Sem sucesso na pescaria, eles rogaram à Virgem que os ajudasse.
Ao lançar as redes, eles pescaram a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora e, em seguida, o corpo da imagem. Após isso, ao lançar as redes novamente, os peixes abundaram no rio, ao ponto dos pescadores ficarem receosos de colocá-los todos para o barco, tamanha era a quantidade.
A imagem milagrosa era de Nossa Senhora da Conceição. Pelo ocorrido, foi acrescentado ao seu título “Aparecida”, e Ela tornou-se Rainha e Padroeira do Brasil.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora Aparecida.
O título de Nossa Senhora do Carmo é atribuído à Virgem como padroeira da Ordem dos Carmelitas. O uso do escapulário é fruto de uma promessa de Nossa Senhora do Carmo: “o que com ele morrer, não perecerá no fogo eterno”.
Conheça mais sobre a história de Nossa Senhora do Carmo.
Este título se trata de um dogma mariano. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e Maria é Mãe de Nosso Senhor, logo Maria é Mãe de Deus. Além disso, o título de Mãe de Deus é uma das devoções mais antigas, na época dos primeiros cristãos, de que se tem registro.
Leia mais sobre o Dogma da Maternidade Divina de Maria
A festa da Padroeira da América Latina, Nossa Senhora de Guadalupe, é celebrada no dia 12 de dezembro, dia em que, no ano de 1531, a Virgem Maria pediu a Juan Diego para que fosse à colina recolher rosas e colocar no manto dele, a fim de apresentá-las como prova das aparições ao Arcebispo Dom Juan de Zumárraga. Na festa de Guadalupe também recordamos a mensagem de esperança que a Virgem deu a Juan e a todos que se consagram a Ela — “Não estou aqui, eu que sou tua Mãe?”.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora de Guadalupe.
Esta devoção surgiu a partir das aparições de Maria e da meditação dos fiéis sobre os mistérios do seu Coração materno, unido intimamente ao Coração de Jesus. A festa litúrgica é celebrada no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O Coração Imaculado de Maria é símbolo de sua pureza, amor e dor, especialmente por causa dos pecados do mundo e pela salvação das almas.
Leia mais sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
A devoção surgiu em Paris, em 1830, com as aparições da Virgem Maria a Santa Catarina Labouré. Nossa Senhora pediu que fosse cunhada uma medalha — hoje conhecida como “Medalha Milagrosa” — prometendo grandes graças a quem a usasse com fé.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora das Graças
Esta devoção contempla os sete principais sofrimentos vividos por Maria, desde a profecia de Simeão até o sepultamento de Jesus. É um convite à união com a Mãe Dolorosa que permanece firme aos pés da Cruz.
Leia mais sobre Nossa Senhora das Dores
Invocada como “Auxílio dos Cristãos”, este título mariano foi amplamente promovido por São João Bosco, tornando-se padroeira dos salesianos. A festa litúrgica é celebrada em 24 de maio.
Leia mais sobre Nossa Senhora Auxiliadora
Com raízes na Índia e em Portugal, essa devoção invoca Maria como intercessora especial na cura de doenças e epidemias.
Leia mais sobre Nossa Senhora da Boa Saúde
Celebrada no dia 18 de dezembro, esta invocação recorda o tempo da gestação do Menino Jesus, em clima de alegre expectativa. Também conhecida como “Nossa Senhora da Expectação do Parto”.
Leia mais sobre Nossa Senhora do Ó
Muito venerada em cidades costeiras e ribeirinhas do Brasil, é invocada como protetora das viagens por mar e rio. Sua celebração ocorre em 2 de fevereiro, em sintonia com a festa da Apresentação do Senhor.
Leia mais sobre Nossa Senhora dos Navegantes
Baseada nas revelações à Irmã Amália, no Brasil, em 1930, esta devoção contempla as lágrimas da Virgem pelos pecados da humanidade, com uma profunda mensagem de reparação e confiança.
Leia mais sobre Nossa Senhora das Lágrimas
Celebrada no dia 22 de agosto, esta invocação foi instituída pelo Papa Pio XII e apresenta Maria como Rainha do Céu e da Terra, em união ao reinado de Cristo.
Leia mais sobre Nossa Senhora Rainha
Expressão de fé e resistência do povo negro no Brasil colonial, essa devoção mariana tem raízes na tradição afro-católica e se manifesta em irmandades e festas populares.
Leia mais sobre Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
Aparição aprovada pela Igreja que ocorreu na França, em 1846, com uma forte mensagem de conversão, penitência e reconciliação com Deus.
Leia mais sobre a História de Nossa Senhora de La Salette
Reconhecida oficialmente pela Igreja, essa aparição ocorreu em Ruanda, na década de 1980. Foi um forte chamado à oração e à conversão diante do sofrimento que se aproximava.
Leia mais sobre Nossa Senhora de Kibeho.
Este dogma foi proclamado no Concílio de Éfeso, em 431. Afirma que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois gerou em seu ventre Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Esse título é fundamento de toda a devoção mariana.
Leia mais sobre o Dogma da Maternidade Divina de Maria
A Igreja ensina que Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto de Jesus. Esse dogma expressa a singularidade de sua maternidade e sua total consagração a Deus.
Leia mais sobre a Virgindade Perpétua de Maria
Este dogma, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX, ensina que Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, foi preservada imune de toda mancha do pecado original.
Leia mais sobre o Dogma da Imaculada Conceição
Assunção de Nossa Senhora
Proclamado em 1950 pelo Papa Pio XII, o dogma da Assunção afirma que Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma, ao final de sua vida terrestre.
Leia mais sobre o Dogma da Assunção de Nossa Senhora
Nossa Senhora é a Virgem das virgens, expressão máxima da pureza, desde a concepção até a morte.
A Virgem foi plenamente fiel a Deus. Deu seu “sim” ao anjo Gabriel, e cada passo de sua vida afirmou os planos de Deus – até as dores de Cruz.
Exemplo de humildade sem imitação. A bendita entre as mulheres, que recebeu o Verbo divino em seu seio, será venerada por todas as gerações.
Suas reações nas adversidades e seus atos piedosos na alegria, representam o quão louvável foi sua vida do princípio ao fim.
A Mãe de Deus, que antecipou a vida pública de Cristo com um pedido materno nas bodas de Caná, possui um grande poder porque o Filho nada nega à Sua santa mãe.
Aquela que foi humana e sem mácula conhece toda a fraqueza da nossa condição. Por isso, é a mãe clemente que intercede pelos seus filhos.
Aquela que habitou num só corpo, junto do rebento Divino , possui a prudência e a sabedoria em máximo grau.
A mais santa entre todas as criaturas, escolhida por Deus para ser Mãe do Salvador.
Reconhecida no Concílio de Éfeso, essa invocação proclama a maternidade divina de Maria, Mãe de Jesus Cristo, verdadeiro Deus.
Virgem por excelência, modelo e Rainha de todas as virgens consagradas.
A mulher escolhida por Deus para dar à luz o Messias prometido.
Proclamada por São Paulo VI, é a Mãe espiritual de todos os fiéis e da Igreja nascente.
Intercessora compassiva, cujo olhar materno se volta aos pecadores com ternura.
Repleta da graça divina, torna-se canal por onde fluem as graças de Deus.
Fonte de conforto e confiança, especialmente nos momentos de tribulação.
Imaculada desde a concepção, símbolo da pureza perfeita.
Modelo de castidade vivida com liberdade, alegria e total entrega a Deus.
Virgem antes, durante e depois do parto, segundo a fé da Igreja.
Livre de todo pecado desde sua concepção, como afirma o dogma da Imaculada Conceição.
Toda cheia de graça e ternura, atrai o coração dos fiéis ao amor verdadeiro.
Admirável em suas virtudes e na missão sublime que recebeu de Deus.
Aquela que nos orienta com sabedoria e nos ajuda a discernir a vontade de Deus.
Gerou no tempo Aquele por quem todas as coisas foram feitas.
Cooperadora fiel na obra da Redenção, ao dar à luz o Redentor do mundo.
Reflete com pureza e fidelidade a justiça e a santidade de Deus.
Habitada pelo Verbo eterno, Maria é fonte de sabedoria para os que buscam o bem.
Traz alegria verdadeira, pois nos entrega Jesus, fonte da salvação.
Recipiente santo que acolheu o Espírito e trouxe à luz o Filho de Deus.
Morada digna do Altíssimo, imagem do Tabernáculo da Antiga Aliança.
Modelo de entrega plena e vida consagrada ao Senhor.
Flor do Céu, Maria exala perfume de santidade e beleza espiritual.
Símbolo de fortaleza espiritual e proteção contra os inimigos da fé.
Pureza e beleza que se elevam como torre sólida diante do Céu.
Repleta de méritos e dons divinos, digna morada do Salvador.
Carrega em si a Nova Aliança, Jesus Cristo, Verbo Encarnado.
Aquela por quem o Salvador entrou no mundo e por quem os fiéis alcançam a salvação.
Anuncia a luz de Cristo que dissipa as trevas do pecado.
Consola e fortalece os que sofrem no corpo e na alma.
Abrigo seguro para os que se arrependem e buscam a misericórdia.
Consolo dos que deixam sua terra, sua casa e enfrentam incertezas.
Amparo nas tristezas, socorro nos momentos de angústia.
Protetora do povo de Deus nas lutas espirituais de todos os tempos.
Elevada acima dos coros celestiais, guia e intercede junto aos anjos por nós.
Honrada pelos justos do Antigo Testamento, que anunciaram a esperança messiânica.
Ela é o cumprimento das profecias sobre a vinda do Salvador.
Presente no nascimento da Igreja, fortaleceu os primeiros evangelizadores.
Sofreu espiritualmente junto com o Filho na Paixão, modelo de fortaleza.
Honrada por aqueles que defenderam a fé com coragem e fidelidade.
Modelo e Mãe de todos os que se consagram totalmente a Deus.
Mais santa que todos os santos, intercede por toda a Igreja triunfante, militante e padecente.
Celebrada no dogma da Imaculada Conceição, proclamado por Pio IX em 1854.
Elevada ao Céu em corpo e alma, como sinal de esperança para os fiéis.
Distribui graças por meio desta oração contemplativa e poderosa.
Fonte de paz duradoura, que nasce da reconciliação com Deus.
A Nota doutrinal intitulada Mater Populi fidelis foi publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé em 4 de novembro de 2025, aprovada pelo Papa em 7 de outubro de 2025 com o objetivo de responder a inúmeras consultas e propostas que chegaram à Santa Sé nas últimas décadas — sobretudo sobre títulos marianos que se referem à cooperação de Maria na obra da salvação.
O objetivo é esclarecer em que sentido alguns títulos marianos são aceitáveis ou não, à luz da identidade católica, da centralidade de Cristo como único Salvador e Mediador, e do papel da Mãe de Deus como Mãe dos fiéis.
O título Corredentora aparece em alguns autores espirituais para expressar que Maria cooperou livremente com a obra da Redenção, oferecendo seu “sim” à Encarnação e unindo-se ao sacrifício do Filho até a Cruz. No entanto, a Igreja não adota este título na sua linguagem oficial, porque pode sugerir que Maria teria um papel igual ao de Cristo na Redenção — o que seria doutrinariamente incorreto.
A Nota doutrinal é clara:
“É sempre inoportuno o uso do título de Corredentora para definir a cooperação de Maria. Este título corre o risco de obscurecer a única mediação salvífica de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã.”
(Mater Populi fidelis, 22)
O então cardeal Ratzinger já havia afirmado:
“A palavra ‘Corredentora’ obscureceria essa origem [a centralidade de Cristo]. A fórmula ‘Corredentora’ distancia-se em demasia da linguagem da Escritura e da Patrística e, portanto, provoca mal-entendidos.”
(MPF, 19)
A própria Virgem Maria, como recordou o Papa Francisco, jamais reivindicou esse título:
“Ela não pediu para ser uma quase-redentora ou corredentora: não. O Redentor é um só e este título não se duplica.”
(MPF, 21)
A Igreja ensina claramente:
“O único Mediador é Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos”
(1Tm 2,5-6)
E o Concílio Vaticano II explica a cooperação de Maria sempre como secundária e subordinada a Cristo:
“A função materna de Maria para com os homens […] de modo algum obscurece nem diminui esta única mediação de Cristo, mas manifesta a sua eficácia.”
(Lumen Gentium, 60)
Por isso, a Igreja prefere expressões como: “colaboradora” ou “associada à obra de Cristo”, mas não “Corredentora”.
Em diversas ocasiões, o Papa Francisco reforçou isso:
“Cristo é o único Redentor. Não há corredentores ao seu lado.”
(Papa Francisco, Audiência, 24 de março de 2021)
Por fim, esclarece a Nota Doutrinal:
“Quando uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie de um significado correto, não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e torna-se inconveniente. Neste caso, não ajuda a exaltar Maria como primeira e máxima colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por nossa salvação, único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra à Mãe.” (MPF, 22)
O título Medianeira é tradicional e pode ser utilizado, desde que se afirme com clareza a única mediação de Cristo. Ele é entendido em sentido subordinado e analógico, como cooperação e intercessão de Maria.
“Diante da clareza da Palavra revelada, requer-se uma especial prudência na aplicação do título ‘Medianeira’ a Maria.”
(MPF, 24)
A mediação de Maria é reconhecida, mas não no mesmo nível de Cristo:
“Em sentido estrito, não podemos falar de outra mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.”
(MPF, 27)
Mesmo ao interceder, Maria não comunica a graça — apenas Deus o faz:
“Nenhuma pessoa humana, nem sequer os apóstolos ou a Santíssima Virgem, pode atuar como dispensadora universal da graça.”
(MPF, 53)
O Concílio Vaticano II ensina:
“O papel de Maria na Igreja não cessa: […] com sua múltipla intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna.”
(Lumen Gentium, 62)
Ao mesmo tempo, o próprio texto define o limite:
“Isto, porém, entende-se de modo que nada tire ou acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, único Mediador.”
(Lumen Gentium, 62)
Ou seja:
Este título é plenamente aceito e oficial. Foi declarado por São Paulo VI durante o Concílio Vaticano II e reafirmado por todos os pontífices desde então.
“Declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja.” (Paulo VI, Discurso, 21 nov. 1964)
A Nota explica:
“Maria é a Mãe do Povo fiel que, ‘movida por uma ternura amorosa, caminha em meio ao seu povo e cuida das suas angústias e vicissitudes’.”
(MPF, 76)
Sua maternidade espiritual está fundamentada na Cruz (Jo 19, 26-27) e confirmada pela Tradição:
“Ela é a Mãe fiel que se tornou ‘Mãe de todos os que creem’ e, ao mesmo tempo, é ‘a Mãe da Igreja evangelizadora’.”
(MPF, 76)
Aqui, Maria recebe uma missão universal: ser Mãe de todos os que pertencem a Cristo.
Este título tradicional se refere à intercessão e à presença espiritual de Maria, sem que ela seja a fonte da graça. A Igreja alerta contra compreensões erradas:
“Certas expressões […] transmitem, efetivamente, outros conteúdos menos aceitáveis. […] Apresenta-se Maria como se ela tivesse um depósito de graça separado de Deus […] ou como uma fonte da qual emana toda graça.”
(MPF, 45)
A função mariana deve ser vista como dispositiva, ou seja, que prepara os corações para a ação de Cristo:
“De diversas maneiras, nos ajuda a dispormo-nos à vida da graça que somente o Senhor pode infundir em nós.”
(MPF, 46)
Maria não é fonte da graça. A fonte é sempre Cristo.
Mas Maria, como Mãe do Salvador, coopera para que recebamos a graça — por sua intercessão e pelo exemplo de fé.
“Esta maternidade de Maria na ordem da graça perdura sem interrupção […]
até a consumação de todos os eleitos.”
(Lumen Gentium, 62)
Portanto:
Ao esclarecer os sentidos e os limites de certos títulos atribuídos à Virgem Maria, a Igreja exerce sua missão de Mãe e Mestra, protegendo a integridade da fé e conduzindo os fiéis a uma devoção mariana segura, centrada em Cristo.
Como afirmou o Cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o documento Mater Populi fidelis tem por objetivo aprofundar os fundamentos da devoção mariana, situando Maria à luz do Mistério de Cristo como único Mediador e Redentor, com fidelidade à identidade católica e sensibilidade ecumênica.
Em nenhum momento o texto corrige ou nega qualquer verdade de fé já afirmada pela Igreja.
Trata-se, antes, de uma orientação prudente e caridosa, que convida os fiéis a evitar expressões ambíguas ou mal compreendidas — não para reduzir o papel de Maria, mas para facilitar a plena comunhão com os irmãos separados, especialmente os que têm dificuldade com certas formulações marianas.
É, portanto, um documento que testemunha o zelo da Igreja pela verdade e pela salvação de todos, exercendo a caridade doutrinal sem comprometer a fé recebida dos Apóstolos.
Leia a Nota Doutrinal na íntegra aqui: Mater Populi fidelis — Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na obra da Salvação.